E eu não disse diferente disso mais adiante. O que disse é que olhando certas características isoladas do comunismo não se pode dizer que elas sejam malignas.
Gabriel, a característica que define o regime comunista é simplesmente a negação do direito à propriedade privada dos meios de produção. O capitalismo consiste nessa permissão. Mas como toda a propriedade privada pode vir a ser usada como meio de produção, acaba que o comunismo é uma restrição de liberdade de uso de toda e qualquer propriedade privada, e aqui podemos incluir o próprio corpo e a própria mente. Isso já é suficiente para classificar o comunismo como um regime de escravos, o que torna o capitalismo inerentemente mais moral.
Qualquer justificativa que se dê para essa proibição comunista
não consiste numa característica do mesmo, mas simplesmente de um artifício propagandístico. Aliás, propaganda é o único ponto onde o comunismo se mostra bastante competente, além, é claro, da sua propriedade intrínseca de subtrair toda a liberdade das pessoas.
É importante não misturar justificativas com características. Abominações humanas como Lenin tinham as melhores justicativas para as suas ações tirânicas (e também é importante não confundir boas justificativas com boas intenções, coisa que ogros genocidas como ele não tinham um pingo). Às justificativas consistiam em ardis esquematizados para ganhar apoio das massas, ardis montados pelas máquinas de propagandas e nada mais eram do castelos no ar, construídos de modo a ludibriar as massas de manobra e o grosso da "intelectualidade" fecal (como o próprio Lênin os tratava, diga-se de passagem, com bastante correção). Realmente, é difícil distingüir a produção mental do resultado dos processos escatológicos, quando tratamos de "intelectuais comunistas"[sic].
Não exatamente. O capitalismo real não é tão meritocrático assim pois existe pistolão, existe herança e as pessoas não nascem e crescem com igualdade de oportunidades. Tentar todo mundo pode, já para conseguir não existem chances iguais para pessoas diferentes que se empenham com a mesma determinação. Eu acho que uma das mais importantes funções do Estado é equilibrar um pouco a balança em favor dos que têm menos facilidades.
Outro erro induzido bastante comum.
O capitalismo premia a meritocracia, mas isso não impede as pessoas de não as praticarem. Mas como sabemos, empresas que não se preocuparem em ter os melhores trabalhando por lá, com a maior eficiência possível, serão engolidas pela concorrência, assim como países que priveligiarem politicagens em detrimento da administração racional e estratégica.
O direito à herança é conseqüência direta do direito à propriedade privada, e não deve ser questionado. Até porque um herdeiro incompetente simplesmente desperdiçará sua herança, num sistema capitalista.
Chances iguais é outra mentira sistematicamente divulgada. O que deve haver é liberdade para se aproveitar e se criar chances. Agora é impossível qualquer realidade que equalize as chances para todos, até porque estas dependem de tantas variáveis aleatórias ou desconhecidas que qualquer tentativa de controle é inerte. Talvez, se falássemos de oportunidades mínimas, como freqüentar escolas de qualidade, e ter acesso aos ítens necessários para o desenvolvimento saudável e para o proveito das oportunidades que surgem, estaríamos tratando de um tema mais realista. Agora equalizar as chances exigiria poder absoluto sobre a realidade, e se alguém o detivesse, esse alguém seria Deus.
O cerceamento dos direitos individuais é mais uma conseqüência adversa do que um objetivo do comunismo. Tampouco a liberdade é um objetivo do capitalismo, o objetivo do capitalismo é o lucro. A liberdade é o objetivo da democracia, que por acaso se dá muito bem com o capitalismo, embora seja possível praticar capitalismo sem praticar democracia.
Aí está, você está com uma compreensão errada dos termos.
Cerceamento das liberdades é mais do que um objetivo do comunismo, é a sua condição necessária. A funcionalidade (ainda que precária) do mesmo depende desse escravismo.
Já o capitalismo alcança maior explendor na medida que maiores liberdades forem concedidas, embora sempre valha a máxima, aparentemente paradoxal, "sem leis, não há liberdade".