Mas o que você está afirmando é que sem propriedade privada não há liberdade. Nesse caso as pessoas que vivem em condição de miséria total no capitalismo também são escravizadas.
Eu disse que a
proibição da propriedade privada é uma determinação escravista.
Por mais pobre que seja um indivíduo num sistema capitalista ele ainda é livre para trabalhar ou não para a sua própria propriedade privada ou para a de outros. É claro que uma existência plenamente miserável coloca muitos empecilhos, mas ainda sim, inerentemente ele possui Liberdade.
Você se confunde se pensa que eu sou a favor da existência da miséria absoluta. Não sou mesmo. Para mim, esta é uma coisa brutal. Mas ainda considero mais brutal do que a existência desta, as formas de combatê-la que se valham da premissa de estabelecer uma igualdade que reduz todos (exceto alguns burocratas) à indigência dos primeiros, matando centenas de milhões nesse processo.
Sou veemente contra qualquer combate a desigualdade social, pois qualquer um que tenha como prioridade o combate à desigualdade, e não à miséria, tem seus interesses motivados principalmente pelo sentimento de inveja da prosperidade alheia. Deve-se buscar reduzir a miséria fazendo crescer às riquezas e dando liberdade para que todos aproveitem desse crescimento individualmente e pelo próprio esforço. E é óbvio que nesse processo devemos brutalizar criminosos e corruptos, sanar gastos públicos, privatizar empresas estatais perdulárias e reduzir o Estado ao seu tamanho mínimo, de forma que assim seja mais eficiente prestando seus serviços à população, diminuir a carga tributária para níveis de sobriedade, ao mesmo tempo combater a sonegação, honrar os contratos assinados com credores e devedores, oferecer boas condições para novos e velhos empreendedores realizarem seus projetos, e isso se reflete numa burocracia reduzida e em encargos trabalhistas menos opressivos para com relação ao empregador, educar a população para uma mentalidade de mercado, zelar pelas instituições familiares e pelas tradições que agregam os valores e a identidade de um povo, honrar nossos soldados e nossas forças armadas, tratando-os com dignidade e respeito que merecem, investir e permitir o investimento em tecnologia, abandonar práticas assistenciais/populistas que ao longo dos anos só prejudicaram o país.
Eu não considero isso justo. Mesmo que pais que batalharam para poder dar o melhor a seus filhos mereçam ter acesso a melhores escolas, quem acaba de nascer não pode ser punido pela falta de mérito de seus ancestrais tendo nenhuma escola ou escolas que não lhe darão oportunidade de lutar por um futuro melhor para os seus próprios filhos.
Eu acho que uma família que organizou-se para o nascimento de uma criança tem o direito de conceder a mesma tudo aquilo que achar que deve. Assim como uma família que não se organizou também. A diferença é entre as possibilidades da primeira e da segunda família.
Crianças podem não ter culpa por pais fracassados ou irresponsáveis, mas acho que essa é uma culpa que esses pais devem carregar, o fato de sua irresponsabilidade ou seu fracasso pessoal ter atrapalhado as possibilidades de seus filhos, e que sirva de aprendizado para quem quer que se compadeça da situação.
É claro que essa criança deve ter seu acesso garantido ao mínimo necessário para que com o próprio esforço ela venha a prosperar (se assim quiser), mas não devemos tirar dos pais que se planejaram muito bem sua família o direito que eles tem dar uma boa vida para seus filhos em virtude do erro e da irresponsabilidade de outros pais.
Como eu disse, eu não discordo de um sistema de ensino básico público (não necessariamente estatal, pois devemos temer qualquer tipo de monopólio estatal, principalmente o da educação), aliado a uma rede de bibliotecas (porque quem realmente quer crescer não vai esperar que sua turma chegue ao seu nível, vai estar sempre dois ou três ou vinte passos à frente) que ofereçam a possibilidade dessas crianças desprivilegiadas crescerem intelectual e moralmente para competirem nos níveis mais altos.
Mas mesmo o mais fraco ensino que impute na mente dessas crianças o espírito de luta pela Liberdade e busca da prosperidade por meio do esforço e do mérito (e da ética) já terá um êxito enorme, muito maior do que o mais sofisticado ensino de física e biologia quando aliado às esperanças vãs de socialismos utópicos e paternalismos estatais desestimulantes, coisa que nosso modelo educacional sistematicamente se esforça em transmitir para as crianças (exceto pela parte da física e da biologia).
Não discordo dessa afirmação, mas discordo da recíproca de que seria certo que alguém que não conquistou um patrimônio não tenha direito de dar uma formação a seus filhos.
A pessoa só tem direito de dar aquilo que possui ou que pode possuir. A questão é o quanto o Estado deve dar para aquela criança para que ela seja livre o suficiente para buscar a sua própria prosperidade em níveis competitivos.
O Estado não deve dar o mesmo que é dado para crianças ricas. Isso seria incoerente, impraticável e injusto (para aqueles que planejaram). Deve dar as ferramentas mais básicas que sirvam para acordar a semente do espírito do capitalismo contida em cada alma, pois uma vez que esta esteja desperta, o céu é o limite. Estimular o crescimento próprio e o uso das próprias pernas, dar a vara e ensinar a pescar, e nunca dar o peixe, tirando dos que já sabem fazer, mas precisam alimentar suas famílias e guardar para os dias difíceis. Funcionar como um incentivador, gerando novas levas de libertos e futuros incentivadores, num processo retro-alimentativo de crescimento material e principalmente moral e espiritual.
Eu não dou tanta importância quanto você, aparentemente.
Considero a dignidade das bases familiares um dos principais pilares para a formação de caráter. É o primeiro contato humano e o mais íntimo e intenso que uma pessoa terá durante a sua vida, e valorizá-lo para mim é uma questão primordial.
O problema não é com os incompetentes, é com os igualmente competentes que não têm oportunidade. Para mim em uma meritocracia plena os mais competentes são mais bem recompensados do que os menos competentes, mas o volume inicial de riqueza desquilibra as coisas. Não estou falando que devamos proibir a herança, isso para mim seria uma violência, entretanto não podemos chamar de meritocrático um sistema que as admite. Por isso creio que o estado não pode se abster totalmente de "tirar dos ricos para dar aos pobres" na forma de impostos quando isso tiver como objetivo facilitar a ascensão social. Note que não estou falando de assistencialismo barato que somente escraviza os mais pobres tornando-os dependentes de esmola oficial, estou falando de educaçaõ e capacitação profissional.
A meritocracia emerge espontaneamente da concorrência. Ela não deve ser imposta, pois não existe um critério claro para definir méritos maiores e menores do que os êxitos em situações locais e variáveis.
Um sistema que gire em torno da competitividade vai buscar os melhores para ocupar os maiores e mais importantes cargos, contudo isso pode não impedir a prática de politicagens e de apadrinhamentos, que são processos anti-meritocráticos. Contudo, o apadrinhamento em empresas privadas só causa danos a uma única estrutura: ela própria. Desde que estejamos num sistema de livre concorrência, qualquer um que se abster de buscar eficiência total está apto a ser sobrepujado pela manada logo atrás, e portanto podemos deixar que o próprio sistema se encarregue de puni-los.
Quanto a educação e capacitação profissional, estamos de pleno acordo, estes devem ser itens de acesso a qualquer que mostrar interesse e capacidade, e nos níveis mais básicos, é um direito das pessoas exigir que o Estado desenvolva nelas esse interesse e desperte suas capacidades (quando existirem, pois outro erro é achar que não existem vagabundos e idiotas naturais, que nasceram com a única finalidade de serem perdedores, casarem com outros perdedores e produzirem novas levas de perdedores).
Não sou a favor de todas as oportunidades a todas as pessoas pobres sem distingüir suas capacidades. As mais talentosas deveriam receber mais, as não tão talentosas receberiam menos e as sem nenhum talento receberiam só a educação suficiente para encontrar o emprego mais modesto. Mas eu penso que ninguém deve ficar sem educação.
Aliás, acho que a universalização da educação é de interesse dos ricos também, pois quanto menos incompetentes que não prestam para nada, menos criminosos também.
Eu não acho que a educação seja um dever, mas sim um direito. Quem não quiser, que não se eduque, ou que se eduque da maneira alternativa que lhe for mais conveniente.
Se o garoto quiser passar o dia inteiro jogando futebol e mãe do garoto não se preocupar, que nem matricule seu filho. Deixe a vaga para alguém mais interessado.
O que se deve é garantir que os interessados tenham acesso, e de preferência, tenham seus interesses ainda mais despertos e suas capacidades ainda mais ampliadas, isso independente da sua classe social de origem. E que isso se reflita em motivação para que essas pessoas, independentes da boa vontade do Estado, busquem para si próprias aquilo que consideram melhor, e que disponham das ferramentas necessárias nessa busca, mesmo que a tarefa seja árdua. E não perder tempo com quem escolheu a posição de perdedor, ou que naturalmente pertence a ela e não tem interesse algum de sair.
O pobre deve ter os mesmos direitos fundamentais que o rico e ter a chance de batalhar por um futuro melhor é um deles. Acontece que esses direitos os ricos podem comprar com dinheiro, os pobres não podem. Em nome do equilíbrio social eu acho que o Estado deve sim intervir pela meritocracia
Não, os direitos fundamentais não devem ser aqueles obtidos pelo patrimônio, mas sim pela condição de cidadão. E nestes devem estar as ferramentas para permitir o crescimento próprio dos pobres, assim como para permitir o crescimento dos ricos também.
Se o pobre vai precisar de mais esforço por ter saído de trás na corrida, que isso se acrescente no seu mérito (e as pessoas reconhecem um
self-made man), e que esses valores sejam passados para seus filhos, com o bastão sempre na frente, nunca atrás.
Miséria não seria também escravidão?
Miséria só é escravidão quando não existe nenhuma possibilidade de escapar dela. Nesse sentido a miséria comunista é um estado perene, e portanto configura escravidão, enquanto a miséria capitalista, ainda que dificulte muito as coisas, não aniquilou o espírito de liberdade que alimenta o desejo pelo crescimento.
Sou de centro e sou pragmático, o que me interessa é o que funciona. Não me incomodo em pinçar características que me agradem à direita e à esquerda.
A questão é: como pragmático você se interessa pelo que se sabe que funciona. A cartilha esquerdista em 100% (veja bem, não é 98%, nem 99,9%, é 100% mesmo) dos casos se mostrou no mínimo ineficiente, e no máximo um erro brutal que levou ao genocídio de centenas de milhões de seres humanos. Por que diabos as pessoas ainda acreditam nessa velha fórmula e ainda se consideram pragmáticos?
Até concordo que o esquerdismo tem um quê de sedutor, é aparentemente justo (apenas muito superficialmente), é muitas vezes símbolo de um inconformismo altruísta (embora se saiba que as coisas não são bem assim), tem ideais que lembram um paraíso de igualdade e fraternidade e líderes carismáticos que sabem muito bem falar o que o povo quer ouvir (ainda que sejam absurdos estapafúrdios). Mas penso que para um ser racional, algo que se mostra errado 100% das vezes sequer deve ser cogitada sua repetição, e não estou nem entrando no mérito do sistema oposto ser moralmente muito superior (o que também é um fato óbvio), estou apenas no âmbito da prática mesmo. Para um pragmático puro, que se abstêm de um julgamento moral mais profundo e que se ocupa apenas de resultados, não há sequer o que se discutir. O pragmático deve ser o liberal mais ferrenho, perdendo apenas para o liberal moralista, que compreende a superioridade moral do capitalismo sobre qualquer outra forma de regime econômico, além de perceber sua superioridade prática em rigorosamente 100% dos casos.