Orações de estranhos não ajudam em recuperação de pacientes, diz estudo
Benedict Carey
Do New York Times
NOVA YORK. Preces feitas por estranhos não exercem efeito na recuperação de pacientes que passaram por cirurgia cardíaca, afirma um estudo. E pacientes que sabiam que eram alvo de orações tiveram uma taxa maior de complicações pós-operatórias, como arritmia, talvez devido à expectativa que elas causaram, disseram pesquisadores.
Por ser uma das pesquisas científicas mais rigorosas sobre a relação entre oração e cura, o estudo começou há quase uma década e envolveu mais de 1.800 pacientes.
A questão é controvertida entre pesquisadores. Os que propõem as pesquisas dizem que a oração é talvez a resposta mais profundamente humana à doença e que pode amenizar o sofrimento. Céticos argumentam que estudar o poder da oração é perda de dinheiro.
O novo estudo foi planejado para cobrir falhas dos anteriores e deve ser publicado na próxima semana na “American Heart Journal”.
Os autores do estudo, organizado pelo cardiologista Herbert Benson, diretor do Instituto Médico Mente/Corpo, perto de Boston, disse que a pesquisa não é a palavra final sobre os efeitos da chamada prece intercessora. Mas levanta questões, como se pacientes devem saber que estão rezando por eles.
— Uma conclusão é que o fato de saber ou não sobre a oração deve ser mais estudado — disse o cardiologista Charles Bethea, co-autor do estudo.
Dean Marek, capelão da Clínica Mayo, em Minnesota, e que também participou da pesquisa, disse que ela não fala sobre o poder da oração pessoal e de familiares e amigos.
— Ouvem-se toneladas de histórias sobre o poder da oração. E não duvido delas.
Ansiedade pode ter causado problemas pós-operatórios
Os pesquisadores monitoraram 1.802 pacientes que passaram por cirurgia de ponte coronariana. Eles foram divididos em três grupos, dois dos quais receberam orações. Metade dos pacientes alvos das preces soube delas. A outra metade soube que poderia ou não haver preces por eles.
Os pesquisadores pediram a membros de três comunidades religiosas que rezassem pelos pacientes, mencionando o primeiro nome deles e as iniciais dos sobrenomes.
Ao analisar as complicações nos 30 dias após a operação, os pesquisadores não encontraram diferenças entre os pacientes que receberam orações e os que não receberam.
Mas o estudo mostrou que um número significativamente mais alto de pacientes que sabiam das orações — 59% — sofreu complicações, comparados a 51% entre aqueles que não tinham certeza. Os autores deixaram em aberto a possibilidade de que seja coincidência, mas disseram que saber das orações de estranhos pode causar em alguns pacientes ansiedade.
— Isso pode tê-los deixado inseguros, pensando se estavam tão doentes ao ponto de chamarem pessoas para rezar por eles — disse Bethea.
http://oglobo.globo.com/jornal/ciencia/246666093.asp