Merseault é a expressão do homem absurdo: ele não está mais em concordância com o mundo. Ele se transforma nesse estrangeiro ao longo do livro. A experiência da morte da mãe, que não faz sentido; a expressão do hábito, que tudo é uma questão de hábito; a contingência de nossas ações e de nós mesmo; a condenação; as contradições do mundo; tudo... Esse sentimento de absurdo (que é aquele sentimento de vazio que está sendo tratado em outro tópico) é expressão do conflito entre a vontade do homem por um sentido e a impossibilidade de apreendelo: o absurdo vem desse conflito. O niilismo e a indiferença são só as consequências. Camus não nega a vida - tanto que argumenta no "O Mito de Sísifo": mesmo ela não tendo sentido, mesmo ela sendo um trabalho de Sísifo, devemos vivê-la ao invés de nos suicidarmo-nos -, embora pareça tomar uma postura bem indiferente sobre ela.
Acho que Merseault, no "O Estrangeiro", veio do mesmo jeito que Antoine Roquentin, no "A Naúsea": como expressão do sentimento de absurdo, do estrangeirismo, sem colocar uma solução para ele, assim como Roquentin vem como a contingência de Sartre. Mas Camus não resolve o problema no "O Estrangeiro", o problema do absurdo só é resolvido no "O Mito de Sísifo" e no "O Homem Revoltado", por isso, quem sabe, essa imagem de se afastar da vida.