Hugo, poderia explicar EM QUÊ ou COMO o Princípio da Incerteza viola o Princípio da Identidade e da não-contradição.
Como dizia Jack o estripador: vamos por partes.
O princípio da não contradição afirma que: "A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma relação, não-A".
O princípio da identidade diz: "A é A" ou "O que é, é".
Perfeito.
Pois bem, na Teoria Quântica (microcosmos) a coisa não é bem assim. Quando se faz experimentos sugerem que o elétron atua como ONDA em determinada observação e como PARTÍCULA em outra. Ora, isso reflete uma dupla identidade: o elétron é ONDA e PARTÍCULA. Neste caso o princípio da identidade cai por terra.
Hummmm... Você cometeu um equívoco muito comum aliás.
O princípio da identidade afirma que se algo é A, será A ou outras frases equivalentes. No caso do elétron, se ele é onda, então ele é onda; e se ele é partícula, então ele é partícula. Você colocou "onda" e "partícula" como se fossem coisas contraditórias. Sendo mais específico: você colocou onda como se fosse igual a "não-partícula", e partícula como se fosse igual a "não-onda", o que não é verdade. Não há nada de contraditório no elétron ou na luz ser ("ser" no sentido de "ter comportamento de") onda e partícula ao mesmo tempo da mesma forma que não é contraditório um carro ser preto e branco ao mesmo tempo. Seria contraditório (violando o princípio) se o elétron fosse onda e não-onda ao mesmo tempo, ou partícula e não-partícula, assim como um carro ser preto e não-preto ou branco e não-branco. Além disso, os aspectos "onda" e "partícula" do elétron aparecem, se não me engano, em circunstâncias diferentes de observação. Em suma, onda e partícula não são contraditórios, da mesma forma que preto e branco. Contraditório é onda e não-onda, partícula e não-partícula, preto e não-preto, branco e não-branco.
Convém lembrar que a lógica não é uma lei física, como a lei da gravidade ou a da conservação de energia. Ela é tão somente um princípio da LINGUAGEM que trata da sintaxe das frases para evitar que coisas sejam ditas e desditas ao mesmo tempo. O fato da energia luminosa só poder ser enviada em "pacotes", inclusive a luz, faz ela ter um comportamento "semelhante a partículas" e o elétron não poder ter a posição e o momento determinados ao mesmo tempo com a mesma precisão, faz com que sua descrição matemática seja como uma "região probabilística" e o torne "semelhante a uma onda". Nada disso é contraditório. Aquela coisa que chamamos elétron pode ser descrito igualmente pelas palavras "onda" e "partícula", que não são contraditórias. É uma questão de falta de termos ou analogias apropriadas, como o Angelo Melo disse.
A Teoria Quântica e os fatos quÂnticos "suportam a noção de que a situação real de um elétron não observado possui uma realidade radicalmente diferente daqueles que foram observados" (Andreeta, 2004).
Essa idéia é baseada, se não me engano, em interpretações filosófico-ontológicas da MQ, e não puramente em fatos e experimentos técnicos. A própria gramática da frase já mostra isso.
Podem ser feitas várias interpretações e especulações ontológicas diferentes em cima dos mesmos fatos técnicos. Quanto ao resto eu já comentei.
Quando se faz o experimento da dupla fenda - a bilocação e materialização dos elétrons - o elétron é atirado em uma parede com duas fendas e ele se materializa no fundo desta parede de forma duplicada, isto é, o elétron passa ao mesmo tempo pelas duas fendas. Neste caso o princípio da não contradição cai por terra.
Novamente a questão da linguagem: EM QUÊ é contraditório o elétron passar ao mesmo tempo por duas fendas? Ele também não tem comportamento de onda? É contraditório uma onda se "difundir" por duas fendas ao mesmo tempo, como a luz?
Contraditório seria se o elétron passasse e não-passasse ao mesmo tempo pelas fendas (seja lá o que isso for).
Em resumo a Teoria Quântica afirma que tudo isso depende da observação do indivíduo. Para Werner Heisenberg " a nossa realidade é meramente semi-real e adquire o status de uma realidade completa somente durante o ato da observação" (Andreeta, 2004).
Essa frase de Heisenberg é tão-somente parte da Interpretação de Copenhaguen, que é uma interpretação filosófico-ontológica da MQ. Ela não é nenhuma conclusão de experimentos como os livros de divulgação parecem dar a entender. Ela também gera contradições (como o caso do "gato de Schrodinger"), e existem interpretações não-subjetivistas da MQ, se não me engano.
Ângelo Melo, gostaria que você citasse links que descrevessem a "parte técnica" da MQ, sem as especulações ontológicas, se possível. Eu não consegui encontrar nada bom sobre isso ainda. Obrigado.