(acredito que o post todo é de autoria do Res Cogitans)(retirado de Tábula Rasa de Steven Pinker.)
[...]o senso moral é repleto de peculiaridades e propenso a erros sistemáticos- ilusões morais, digamos assim-, exatamente como nossas outras faculdades.
Ponderemos sobre a seguinte história:
Júlia e Marcos são irmãos. Estão viajando juntos pela França durante as férias de verão da universidade. Certa noite, a sós em uma barraca perto da praia, decidem que seria interessante e divertido se tentassem fazer amor. No mínimo, seria uma nova experiência para cada um deles. Júlia já estava tomando pílula, mas Marcos ainda assim usou camisinha, só para garantir. Os 2 sentem prazer naquele ato, mas decidem não repeti-lo. Mantêm aquela noite como um segredo especial, o que os faz sentir-se ainda mais próximos um do outro. Qual sua opinião: o que eles fizeram foi errado?
O psicólogo Jonathan e seus colegas apresentaram esssa história a muitas pessoas. a maioria declara prontamente que o que júlia e Marcos fizeram é errado, e depois fica procurando razões para justificar por quê. Mencionam os perigos na endogamia, mas são lembrados que usaram duas formas de contracepção. Aventam que Júlia e Marcos sairiam emocionalmente magoados, mas a história deixa claro que isso não acontece. Arriscam que aquele ato ofenderia a comunidade, mas depois lembram que foi manido em segredo. Argumentam que aquilo poderia interferir em futuros relacionamentos, mas reconhecem que Júlia e Marcos concordam em não repetir o ato. Por fim, muitos dos entrevistados admitem: "Não sei, não consigo explicar, só sei que é errado". Haidt designa esta situação como "perplexidade moral", e a evoca juntamente com outros cenários desagradáveis mas sem vítimas:
[...]
O cachorro de uma família é morto por um carro na frente de casa. a família ouviu dizer que carne de cachorro é deliciosa, por isso cortam o corpo do cão em pedaços e o comem cozido no jantar.
Um homem vai ao supermercado uma vez por semana e compra uma galinha morta. Mas, antes de cozinhar a galinha, tem relação sexual com ela. Depois cozinha e come.
Muitos filósofos morais diriam que não há nada errado nesses atos, pois atos privados entre adultos de comum acordo e que não prejudiquem outros seres sensíveis não são imorais. [...]As pessoas tem sentimentos viscerais que que lhes dão convicções morais intensas, e se esforçam para racionalizar estas convicções em vista do fato. Essas convicções podem ter pouca relação com julgamentos morais que o indivíduo poderia justificar para outras pessoas com base em seus efeitos sobre a felicidade ou o sofrimento. Em vez disso, surgem de organização neurobiológica e evolutiva dos órgãos que chamamos de emoções morais.