A questão que quero frisar é: quando uma consciência é clonada, esperamos naturalmente que haja uma "continuidade" consciente entre o original e a cópia
Quando você diz continuidade mental. Você quer dizer que a mente clonada fará exatamente o que você faria, certo? Ou seja, se você estivesse nomomento onde o clone está, no lugar onde ele está, pensaria a mesma coisa que ele, pois vocês compartilham uma mente igual. Mas daí vem a questão, se o seu clone continuasse vivendo em um ambiente diferente do seu, com o passar do tempo, ele seria uma pessoa com a mente quase igual a sua, mas iria diferir em algumas coisas.
Mas aí vem uma outra questão: Se estivesse de frente você e seu clone mental e você morresse naquele momento, a sua consciência se apagaria ou você experimenteria uma sensação de "continuidade" através de seu clone, como se você não tivesse morrido, mas ainda vivo "encarnado" em seu clone? (ou alguma outra alternativa que não pensei?)
Hum... ótima questão. Embora materialista e meio mesquinha, além de simples, a resposta me paresse ser que será o fim para você. Não há nenhuma relação entre a consciência clone, ele é uma cópia de seu "eu", mas vocês possuem existências diferentes (e se ele ser criado em um ambiente diferente do seu, terão vidas diferentes), portanto, sua existência acaba quano o seu córtex morre. O dele continua, o dele está vivo e funcionando, não vejo razões para alguma relação entre as duas consiências. Se as suas células nervosas morrem, acabou.
Não exatamente. O que quis dizer com continuidade mental foi sobre a sensação experimentada por alguém qundo dorme, por exemplo, e acorda no outro dia. Ela sente que continua existindo, o seu "eu" está intacto, entendeu?
No caso de um transplante de consciência, que sensação a pessoa (a consciência) transplantada teria? Pura e simplesmente ela teria a sensação de ter dormido com um corpo e acordado com outro (acho que você provavelmente concorda com isso), ou seja, o que forma o eu não é o corpo, o nosso corpo é um mero apêndice ou instrumento. O que forma o eu é a configuração cerebral do sujeito em um determinado momento, concorda?
No caso do simples transplante, ou seja, quando a consciência é "recortada" de um corpo para outro, aparentemente não vemos problema nenhum em concluir que aquela consciência terá uma sensação de continuidade, ela sente que continua existindo em outro corpo. O problema surge se a consciência for "copiada". Nesse caso, quem terá a sensação de continuidade? Se você admitir que a consciência é uma configuração neural, então terá de admitir que os dois terão esta sensação: o original e o clone. Cada um achará que é o "eu" verdadeiro e que todas as suas lembranças realmente ocorreram com ele. Então neste caso, haverá dois "eus"? Sabemos que depois da clonagem cada um passará a ter experiências diferentes, mas isso não impede que cada um se sinta como o "eu original". Então?
Agora imagine que um deles morra (tanto faz se o clone ou o "original"), então a consciência do que morreu se apagará, ou seja, ele deixará de existir? Ou ele terá aquela sensação de "continuidade" e de que ainda existe devido ao fato da consciência do outro ser na prática a mesma consciência dele. Se não vemos problema em admitir que experimentaríamos uma sensação de continuidade, de que continuamos existindo, se nossa consciência for transplantada, então porque veríamos problema em admitir que também teríamos esta sensação de "ainda existir" se morréssemos continuando o nosso clone de consciência ainda vivo?
Se acharmos que não, ou seja, se acharmos que no caso da clonagem de consciência "cada um seria cada um", e portanto, somente o original teria a sensação de que "ainda existe" (por quê?) e consequentemente acharmos que se o original morresse, apagasse e não experimentaria a sensação de que "ainda existe" (parece ser essa a opinião dada por Fernando), então isso implicaria que a sensação de "existência" não seria determinada apenas pela configuração neuronal do cérebro, pois se fosse, poderia ser "copiada". Então isso daria margem a admissão de que a consciência é algo independente da simples configuração neuronal do cérebro (já que não poderia ser copiada, ou seja, transferível) e sim algo como uma "alma".