A participação no lucro nas empresas capitalistas obviamente levaria à quebra dos empreendimentos atuais e não permitiria que o capitalista obtivesse sua renda com a exploração do trabalho alheio. O que ocorre nessas empresas de maior porte é a devolução ao trabalhador de uma pequena parte da renda explorada de seu trabalho.
Assim como as vias públicas, os meios de produção não devem ser de propriedade de uma pessoa ou grupo. Garantir que o produto do trabalho de uma pessoa não seja apropriado por um terceiro é a única forma de garantimos a liberdade de trabalho. Enquanto existirem pessoas ou grupos tomando o controle dos meios de produção, as liberdades fundamentais não estarão sendo respeitadas.
Ukranian, as coisas não são tão simples assim. Vejamos por quê:
Primeiro temos que definir o que é "exploração do trabalho". A definição que eu uso é a seguinte:
exploração do trabalho ocorre quando o trabalhador fica para si com menos produtos do que o tanto que produziria sozinho, com seus próprios meios, no mesmo período de tempo.
Por exemplo: Se um trabalhador, com suas próprias ferramentas manuais, conseguir produzir 5 sapatos por dia, mas o salário por dia que ele recebe em uma indústria na qual ele trabalha produzindo sapatos só der para comprar 3 sapatos, ele está sendo explorado. Se o salário diário der para comprar 5 sapatos, ele não está sendo explorado, e se der para compar 6 ou mais sapatos, ele está se beneficiando.
Diante desta definição, geralmente só ocorre exploração do trabalho em atividades primárias com pouquíssimo uso de tecnologia, pois aí praticamente toda a produção se deve unicamente à mão-de-obra humana ( corte de cana para usinas, colheita de laranjas, etc) ou então em épocas ou lugares em que não há leis trabalhistas fortes, o que permitem aos patrões pagar os menores salários possíveis por hora trabalhada aos trabalhadores, salário esse tão baixo que o trabalhador consegue comprar bem menos produtos do que os que poderia produzir sozinho (Inglaterra do século XVIII e XIX por exemplo. Por sinal, a época de Marx).
Fora desses casos, em países industrializados com leis trabalhistas fortes, a grande maioria dos trabalhadores consegue adquirir por hora, através do salário que recebem, muito mais produtos do que conseguiriam produzir sozinhos por seus próprios meios. Um exemplo:
1- Vamos supor que um trabalhador "não-explorado" trabalhando sozinho com suas próprias ferramentas produz por dia 5 sapatos, ficando todos com ele.
2- Já um trabalhador "explorado", trabalhando em uma indústria de sapatos, produz por dia 50 sapatos. Vamos supor que o salário que ele recebe dê para comprar 10 sapatos (levando-se em conta que o preço dos sapatos diminui por causa da maior produção). Nesse caso, ele foi "expropriado" em 80% de sua produção!
Pergunto: qual desses trabalhadores você preferia ser, o "livre" ou o "explorado"?
A razão de tudo isso é que, em quase todas as atividades atuais, não é a mão-de-obra humana toda ou a principal responsável pela produção de um bem, mas os meios-de-produção, sejam estes materiais ou intelectuais (know-how, contatos, etc). As profissões liberais talvez sejam as únicas que dependem quase que inteiramente da mão-de-obra humana, mas mesmo assim estão pouco a pouco dependendo de outras empresas ou instituições para conseguirem "produzir" adequadamente (obtendo mais clientes, por exemplo).
A conclusão é que atualmente na maioria dos casos o trabalhador não é explorado, mas se beneficia com o emprego assalariado em indústrias ou outras instituições. Lucros para o patrão não implicam necessariamente em prejuízos para o trabalhador: ambos podem se beneficiar, o que constitui a grande maioria dos casos atualmente nos países industrializados.
Aí você pergunta: "tudo bem, mas de qualquer modo o lucro do patrão não é indevido? Não deveriam os meios-de-produção serem públicos? Não seria melhor assim?"
A resposta é: como os meios-de produção são produzidos? De onde vem o dinheiro para sua produção?
Esse dinheiro geralmente vem de poupanças, ou seja, dinheiro que poderia ser usado para adquirir bens de consumo por algumas pessoas são utilizados para comprarem ou produzirem esses bens. Mesmo que a maioria dos investimentos atuais provenham de lucros que são reinvestidos, isso não muda o fato de que os grandes e pequenos empreendimentos (os que mais empregam) e o início dos empreendimentos que atualmente são grandes foram levados a cabo com o dinheiro poupado por uma ou algumas pessoas, dinheiro esse que elas obtiveram com o seu trabalho: ao invés de consumirem, elas pouparam o dinheiro e investiram em algum bem de capital (seja máquina, consultório, comprando mercadorias para revender, etc). Com esse investimento, novas oportunidades de produção surgem e novas pessoas são empregadas e na grande maioria das vezes beneficiadas. Vou tentar explicar melhor o processo.
1- No início, havia uma pessoa A e uma pessoa B.
2- A pessoa A tinha um emprego (oportunidade de usar sua força de trabalho para produzir), a B também (ela produzia sozinha um produto X e vendia).
3- A pessoa A começa a poupar, ou seja, se abster de gastar parte do dinheiro em bens de consumo, e guardá-lo.
4- Com o dinheiro poupado, ela compra uma máquina que produz o produto X com muita rapidez e eficiência. Contrata a pessoa B para trabalhar com esa máquina, ficando com parte da produção.
5- Com isso, a pessoa A se beneficia, pois agora ganha muito mais do que antes.
6- A pessoa B também se beneficia, pois agora ela fica com mais produtos X do que conseguiria produzir sozinha.
Apesar do exemplo ser simplificado e meio idealizado, ele serve para mostrar que novas oportunidades de emprego são criadas e mais pessoas são beneficiadas devido a investimentos feitos por pessoas como a pessoa A, ou seja, a atitude da pessoa A beneficia a outras pessoas além dela mesma.
O que Ukranian defende pode ser resumido na seguinte pergunta: o Estado deve impedir que pessoas com a pessoa A comprem meios-de-produção com suas poupanças e/ou empreguem outras pessoas? A economia seria mais eficiente e os benefícios seriam maiores assim, com a proibição do investimento feito pelas pessoas e o monopólio da propriedade dos meios-de- produção pelo Estado?
Depois eu vejo isso.