Gosto do Fonseca principalmente por causa da temática das sua histórias. Nesse sentido é um escritor atual que toca em questões como violência e sexo. As personagens do Fonseca são extremamente individualistas flanando num mundo sem referências morais; tomando decisões ditadas exclusivamente pelas suas consciências o certo e o errado se tornam escolha pessoal e de consequências imprevisíveis.
Há muito kitch nos seus livros. Mas o retrato que tece dos centros urbanos é sensacional. Nas grandes cidades, em oposição às pequenas, os homens se tornam despersonalizados. A impessoalidade somada ao sucesso pessoal dá uma sensação de desvinculamento - o homem age como se o único parâmetro fosse ele mesmo. Por isso as personagens matam, copulam desenfreadamente, traem, não assumem compromissos, a não ser ser com seus sentimentos que perseguem com um hedonismo ao mesmo tempo idílico e atroz.
A alta literatura brasileira quase sempre foi rural, exceto Machado - mas para ele o homem é sempre o mesmo quer em Paris ou no Alaska. Graciliano Ramos desenvolve suas histórias no sertão ou nas cidades períferica a ele. Guimarães Rosa usa o sertão profundo assim como João Cabral. Decerto eles viam o Brasil como uma gigante província e o urbanismo do Brasil não representava o verdadeiro. Nesse sentido, a mudança de eixo do campo para as cidades foi algo renovador, pois quem lê literatura nacional vai se cansar do tema campo se repetindo.
Pessoalmente, gostei muito de Agosto - há um retrato histórico da época de Getúlio, do maniqueísmo em torno do seu nome. Além de ser a luta de uma persongem ética, insanamente ética, movendo-se num mundo de degradação moral. O caso Morel põe narrativas sobre narrativas e discute vários aspectos da arte e da realidade social brasileira. Os contos são o ponto forte de Fonseca. Buraco na parede eu gostei demais - amor e perversão, pureza e instinto assassino retratados com grande delicadeza.