Nota: Este "post" é em resposta a alguns "posts" de "EuAteu" no tópico "
Ateísmo:Constrangimento científico", mas achei ser mais relevante nesta área.
Respondendo:
1) Você acredita que a Terra tem 6 mil anos de idade? Não. Seis mil anos é a trajetória do homem na terra. Inclusive no livro O Código da Bíblia afirma que a Terra tem quase 15 bilhões de anos, o que eu também acredito.
2) Você acredita na Bíblia como um relato histórico factual exato, ou como uma alegoria? Um relato histórico factual exato. Pode ser verificado, dentre outras publicações, nos livros Evidências Que Exigem um Veredicto I e II e também Ele Andou Entre Nós, sobre Jesus Cristo.
3) Você acredita que a Bíblia é infalível e coerente consigo mesma? Com certeza. Se for estudada coerentemente será validada em todas as áreas da ciência.
Pelo que você diz dá a entender que os teus alegados conhecimentos científicos baseiam-se em
literatura de propaganda religiosa. Eu tenho alguns livros assim de Testemunhas de Jeová, que li, e sei como isso é. Até têm num livro citações deturpadas de dois livros que tenho ("Cosmos", de Carl Sagan, e "Origens das Espécies", de Charles Darwin). Também conheço alguns argumentos para os dias com manhãs e noites passarem a ter milhões de anos. Eu
sou leitor dessa literatura em papel, oferecida por crentes na esperança que me convertesse. Podemos discutir sobre isso noutro tópico.
Como vejo este problema de fontes de leitura, vou responder à seguinte mensagem que enviaste com referências aos livros "Origem das Espécies" e "A Vida na Terra" (de David Attenborough).
O que facilita a vida dos espécimes, permitindo-o sobreviver procriar, não é a mesma coisa que falar que tal espécime é melhor adaptado ao ambiente? Ora, o melhor adaptado não é o mais fraco ou menos evoluído. A tal da 'seleção natural' quer colocar palavras bonitas e de efeito na TE mas contradiz a si mesma. Onde estão todos os fósseis das espécies atuais juntamente com suas supostas evoluções? Quem definiu que tal fóssil pertenceria a um suposto animal que atualmente evoluiu para outro? O propósito da Ciência pode não ser chegar a Deus, mas algumas de suas explicações sobre a natureza parecem piada. E mau contada.
Nota: as citações seguintes são do livro "Origem das Espécies" que possuo.
Existe uma técnica na Inteligência Artificial, chamada
Programação Genética, e é baseada na selecção natural. Também vi num documentário algo sobre um programa informático para ajudar na descrição de testemunhas, que é baseado na selecção natural. E dão resultado.
No capítulo IV do livro "Origem das Espécies" tem o título "A selecção natural ou a persistência do mais apto".
Dei o nome de selecção natural ou de persistência do mais apto à conservação das disferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas.
Muitos escritores têm compreendido mal, ou criticado mal, este termo de selecção natural. Uns têm mesmo imaginado que a selecção traz a variabilidade, visto que envolve somente a conservação das variações acidentalmente produzidas, quando são vantajosas ao indivíduo nas condições de existência em que se encontra colocado. Ninguém protesta contra os agricultores, quando falam dos poderosos efeitos da selecção efectuada pelo homem; ora, neste caso, é indispensável que a natureza a princípio diferenças individuais que o homem escolhe para um fim determinado.
Pode-se dizer-se, metaforicamente, que a selecção natural procura, a cada instante e em todo o mundo, as variações mais ligeiras; repele as que são nocivas, conserva e acumula as que são úteis; trabalha em silêncio, insensivelmente, por toda a parte e sempre, desde que a ocasião se apresente para melhorar todos os seres organizados relativamente às suas condições de existência orgânicas e inorgânicas.
Saliento que o que define uma melhoria está relacionado com as "
condições de existência orgânicas e inorgânicas". Por exemplo, podemos admitir que um mamute tivesse adaptado as condições que havia nessa altura, mas um elefante está mais adaptado para as condições actuais.
No livro são mostrados vários exemplos de
selecção artificial, nomeadamente no primeiro capítulo ("Variação no estado doméstico"). Ele dá exemplo com cavalos, cães, pombos, gado, galinhas. São também descritas observações de seres vivos no estado selvagem e experiências feitas por Darwin e terceiros.
Quando eu era criança vivi numa casa com capoeira e currais. Assisti um cena, quando um porco derrubou a porta do curral, enquanto estava eu a colher minhocas. Já vi pintos mortos por formigas no ovo. Já depenei galinhas e assisti a matança de animais para comer. Os meus pais confirmaram certas situações observadas por Darwin, como pintos que não saem da casca por terem bico pequeno ou a casca ser dura e galinhas que não chocavam ovos.
Não dizes quais são as "palavras bonitas" da selecção natural e como a Teoria da Evolução "contradiz a si mesma". Na "Origem das Espécies" há d
escrições que não são bonitas, pelo contrário, horrendas, principalmente no capítulo "Instinto".
observou um novo cuco, ainda cego, e tendo a custo força para levantar a cabeça, a acaminho de expulsar do ninho os seus irmão adpotivos. O observador colocou uma destas aves no ninho e o cuco lançou-a fora. Como se terá produzido este estranho e idioso instinto?
Pierre Huber foi ainda o primeiro a observar que uma outra espécie, a Formica sanguinea, se utiliza de escravos.
As Formigas sanguinea matavam sem piedade as suas pequenas adversárias e levavam os cadáveres para o ninho, que se encontrava a uns trinta metros de distância; mas não puderam apoderar-se das ninfas para as tornarem escravas. Desterrei então, num outro formigueiro, algumas ninfas da Formiga fusca, e coloquei-as no chão junto do lugar do combate: foram logo agarradas e levadas pelas assaltantes, que julgaram provavelmente ter alcançado a vitória na última peleja.
Podemos nós, por exemplo, considerar como perfeito o aguilhão da abelha, que ela não pode, sob pena de perder as vísceras, retirar da ferida que faz a certos inimigos, porque este aguilhão é dentado, disposição que causa necessariamente a morte do insecto?
Onde estão as "palavras bonitas"? Uma pessoa tem o direito de dizer o que acha como as coisas deviam ser (normativo), mas não podemos fingir que as coisas não acontecem e deve dito como as coisas são (descritivo). Maquievel, por exemplo, é mal visto pelo simples facto de fazer um relato descritivo da política. E estas são as criações, se existe mesmo um Criador -- até mesmo no Antigo Testamento, nomeadamento no Êxodo e talvez no Deuteronômio (estou apenas usando a memória) é dito que Deus é a origem do mal, do cego, do surdo, do mudo e ainda no livro de Samuel (acho que é esse) introduz espíritos maus em Saul. As coisas não são como queremos. Não são bonitas nem perfeitas. Darwin cita Helmholtz:
O que temos descoberto de inexacto e de imperfeito na máquina óptica e na produção da imagem sobre a retina não é nada comparativamente com as fantasias que encontramos no domínio da sensação. Pareceria que a natureza tivera prazer em acumular as contradições para tirar o fundamento à teoria de uma harmonia entre mundo interiores e exteriores.
Não indicas exemplos de contradições da Teoria da Evolução, por isso não posso fazer um debate directo sobre as tuas palavras. E é esse o problema: como
colocas proposições superficiais, teria de abranger muito e tentar perceber o que queres dizer. Mas agora cito Darwin que explica a razão de não estarmos atolados de fósseis até aos joelhos e de
não haver muitos fósseis de seres intermédios. Começo com referências as espécies e variedades que desapareceram recentemente, mesmo na época de Darwin.
Alphonse de Condolle faz notar com que rapidez desapareceu por vezes uma espécie alpina comum.
A variedade intermediária, habitando um região restrita, é, por consequência, muito menos numerosa
(depois é feiro referência ao género
Ballanus, observado por Darwin, trabalhos enviados por M. Watson, Dr. Asa Gray e M. Wollaston e exemplos sobre cabras em montanhas, planaltos e locais intermédios)
Já vimos, com efeito, que todas as formas numericamente fracas correm mais risco de ser extreminadas do que as que compreendem numerosos indivíduos
animais apresentando as primeiras conformações graduais e transitórias deviam raramente sobreviver até à nossa época, porque teriam de desaparecer diante dos seus sucessores que a selecção natural tornou gradualmente mais perfeitos
A probabilidade de descobrir, no estado fóssil, as espécies representantes das diferentes transições de conformação, é pois menor, porque existiram em menor número que as espécies tendo uma conformação completamente desenvolvida.
mas, em virtude de causas que temos indicado, a variedade intermediária é ordinariamente menos numerosa que as suas formas que liga, por consequência, estas duas últimas, no decorrer de novas modificações favorecidas pelo número considerável de indivíduos que contêm, têm grandes vantagens sobre a variedade intermediária menos numerosa e tendem ordinariamente a eliminá-la e a exterminá-la.
A extinção de espécies e variedades intermediárias são observadas hoje em dia, até no gado. Esta é uma consequência da selecção natural. É também consensual que
é raro formar um fóssil, sendo necessário condições muito específicas e essas são difíceis em solo seco e fundos oceânicos. Mas podemos ver os extremos nos registos fósseis. Não vemos uma cauda a diminuir em cada milímetro, mas vemos em cada valor variável. Nos livros sobre a Teoria da Evolução por vezes mostram o exemplo de fósseis de
ascendentes de cavalos, que vão crescendo de tamanho e a destacam a estrutura óssea das patas, com o casco a unir-se e aumentando e dois orgãos, o que me parecem dois ossos, a diminuirem de tamanho até desaparecerem. Há tantos exemplos que se encontram em livros, documentários e até na Web.
para empregar as expressões de Milne Edwards, a natureza é pródiga em variedades, mas avara em inovações.
Exemplos de fósseis dão uma sensação distante, mas
exemplos de seres que vivem actualmente encurta esta distância. Hoje usa-se
DNA como meio para descobrir a relação entre espécies, na árvore geneológica das espécies. Nós
compartilhamos informação genética de várias espécies, e até o nosso encéfalo é uma mistura de heranças. Mas na época de Darwin já faziam o estudo do
desenvolvimento do embrião.
O embrião, não sendo afectado por estas variações, representa-nos o estado passado da espécie
Podemos assim, e é uma conclusão que tiro da interessante descrição que Owen fez destas partes, compreender o facto estranho de que tudo o que bebemos e que comemos deve passar adiante do orifício da traqueia, com risco de cair nos pulmões, apesar do notável aparelho que permite a oclusão da glote. Nos vertebrados superiores, as guelras desaparecem completamente; contudo, no embrão fendas laterais do pescoço e a espécie de botoeira feita pelas artérias indicam ainda a posição primitiva.
Landois, por exemplo, demonstrou que as asas dos insectos tiveram por origem a traqueia
Até existem, como disse, hoje em dia espécies que mostram diferenças em gradações. Dou apenas um exemplo dado por Darwin, mas no livro existem mais (como, por memória, formigas, demonstrado por M. F. Smith, peixes, cães, pombos, patos, abelhas, e até em comportamentos de ursos, albatrozes e gansos).
Tomemos a família dos esquilos; observamos nela uma gradação insensível desde os animais cuja cauda é apenas ligeiramente achatada, e outros, assim como faz observar sir J. Richardson, cuja parte posterior do corpo é apenas ligeiramente dilatada, com a pele dos flancos um pouco desenvolvida, até aos que se chamam Esquilos volantes.
Lembrei-me agora daquilo que dizem da perfeição das células das colmeias.
Entre as células tão perfeitas da abelha, e a célula eminentemente simples do zangão, acham-se, com grau intermediário, as células da Melípona doméstica do México, que foram cuidadosamente descritas or Pierre Huber.
O livro "A Vida na Terra", de David Attenborough, é um excelente livro para ver exemplos de
seres vivos que existem hoje com diferenças gradativas. Começa por falar sobre o
Grand Canyon e nas camadas geológicas. Depois fala sobre a vida, enumerando imensos casos, por ordem evolutiva, começando por falar no DNA. Não vou fazer citações do livro, até porque os textos são longos, mas vou apenas dar alguns exemplos de notas que tirei sobre animais que vivem actualmente.
O
dipnóico é um peixe que se enterra na lama, com um furo de cerca de 2cm de diâmetro. Respira levando o ar a
duas bolsas internas revestidas de vasos sanguíneos, por baixo das guelras: é um pulmão rudimentar.
O
Eusthenopteron (extinto) era um peixe com pulmões, e um
canal que liga as narinas ao céu da boca, como os vertebrados terrestres.
O
axalote é uma salamandra com
brânquias, mas perde-as e passa a ter pulmões.
O
tritão tem um cauda parecida com os peixes, tal como a salamandra e outros anfíbios do género. Tem patas curtas e finas e move-se flexionando lateralmente o corpo, quase como os peixes. Tem
pulmões simples e insufientes, precisando de manter-se húmido.
Agora sobre os mamíferos...
O
ornitorrinco tem uma
cloaca (abertura única para as excreções e reprodução) como os répteis. Tem um bico, diferente das aves, maleável de pele ressequida. Tem pregas cutâneas que tapam os ouvidos e olhos, quando está na água (os crocodilos também, e vejo o mesmo nos olhos dos gatos).
Não tem capacidade endotérmica (ao contrário daquilo que associa aos mamíferos), tendo temperatura baixa e muito variável, como os répteis. Os ovos são quase esféricos, com casca mole, como nos répteis -- aliás, no início eram confundidos com ovos de répteis, mas foi encontrada uma fêmea morta a tiro com um ovo no interior. As fêmeas têm glândulas semelhantes às sudoríperas que produzem leite, mas
não têm mamilos (ou tetas).
O
equidna tem uma cloaca e não possui endotermia. É ovíparo, conservando os ovos numa bolsa no ventre, em vez de num ninho. O leite é exsudado do ventre.
O
opossum tem uma cloaca. Os embriões não são maiores que abelhas, e os filhotes viajam até à bolsa materma. Se mais de treze filhotes chegam à bolsa, onde estão as tetas, os restantes morrem de fome.
Quero também dar exemplo de um animal extinto: o
terapsídeo (um réptil). Os
dimetrodontes,
estegossauros e o
pelicossauros tinham estruturas que podiam servir para absorver calor, o que podia indicar um desenvolvimento no sentido da endotermia. Os terapsídeos atingiam 1 metro de comprimento, altura própria para desenvolver endotermia (ao contrário dos dinossauros gigantes) e há uma hipótese de ter tido pelo. Para ter essa capacidade endotérmica, deve-se comer mais e para isso deve-se acelerar os processos digestivos. Os dentes são uma evidência para isso.
(Encontrei um "site" de interesse para o assunto:
http://www.geocities.com/arturpermiano/ )
Finalmente, termino com uma menção à distribuição geológica. Os
marsupiais existem em especial número na Autrália, e lá há imensas espécies únicas. Na Nova Zelândia e Austrália há casos únicos de aves não voadoras, como o
kiwi, e havia aves gigantescas, como a
moa (acho que as únicas que existem actualmente são as avestruzes e as emas). Também existiram na América e ilhas isoladas, como a
diatryma, o
aepyornis e
phoroshacos. Mas as aves voadoras disseminam em todo o mundo variando, como as suas pulgas.
Para falar de Ciência leio livros de cientistas, leio sobre as suas observações e experiências. É um erro limitar-me a livros não científicos que falam de assuntos científicos, por segunda mão, pensando assim ter fundamentos científicos.
Tive de ler livros, não pequenas fracções. Não uso manuais com métodos para criticar observações realizadas por terceiro, mas que os próprios não fazem. Sublinho e faço notas para poder posteriormente encontrar partes relevantes em determinado assunto (é uma técnica de informática chamada codificação). Ontem tive de pesquisar em livros com cerca de 500 e 800 páginas para escrever este "post". Escrevi ontem citações e notas em três folhas A4 para não ter de folhear novamente os livros e para estruturar o pensamento. Eu fiz o trabalho de casa para este "post", não ando a ler livros dedicados crítica de papa-feita. Vê-se as limitações quando comparamos com o que falam sobre temas formais, como a Matemática. Há certos assuntos onde todos têm opiniões sem qualquer tipo de experiência e informação e ainda pensam ser especialistas na área, como fazem também em Informática (mesmo que não sabem nem desenvolver um programa simples).
Se o "EuAteu" tem respostas para contribuir ao debate, fico contente.