O ateísmo não exige uma conduta moral nem ética em particular. Um ateu é apenas aquele que acredita não existir deuses, ou, por definição estrita, aquele que não acredita num deus teísta.
O teísmo, pelo contrário, em geral exige uma
lei deontológica e uma autoridade moral absoluta -- Deus -- e na maioria das vezes têm líderes como intermediários. Um grupo religioso em particular tem as suas regras estabelecidas que não podem ser questionadas, e normalmente dizem que se baseiam num livro sagrado.
Muitas vezes discute-se confrontando uma religião em particular com uma ideia generalizada de ateísmo, chegando a
preconceitos. Assim um teísta discute sobre a sua crença em particular, que muitas vezes não é clara por também dizer que os
outros religiões teístas serem falsas, e ainda generaliza o ateísmo limitando num caso particular de ideologia, como o comunismo (e duvido que conheçam a história do marxismo). São as imensas vezes que isso acontece. O mais justo seria confrontar o teísmo em geral com o ateísmo em geral, ou permitir que um teísta e um ateu defendam as suas ideias em particular.
Um
utilitário, pela natureza da sua filosofia (contrária à existência de uma lei deontológica), é um descrente. Os epicuristas diziam que o bem era o prazer moderado, os utilitaristas extendem-no para o maior número. Francis Hutcheson disse que "a melhor acção é a que obtém a maior felicidade em maior número". É uma ideia bela pela sua simplicidade. Já mostrei alguns exemplos sobre a vantagem utilitária no "post"
../forum/topic=8602.0.html#msg142897 .
-- Liberdade John Stuart Mill foi um dos primeiros utilitários, e também o primeiro a escrever um livro que defendia a
igualdade das mulheres, que tem o título "A Sujeição das Mulheres". Sobre a liberdade ele diz:
a única consequência que a humanidade tem garantida, individual ou colectivamente, ao interferir com a liberdade de acção de qualquer um dos membros, é a protecção individual
Esta é uma vantagem moral que em geral não é permitida nas religiões com os seus dogmas. Existem excepções, como no hinduísmo, conhecido pela sua tolerância e interesse pelas crenças alheias.
Se assumirmos que um cristão é
obrigado a seguir os preceitos bíblicos, então concluo que é contra a liberdade que é expressa por John Stuart Mill, Voltaire e muitos outros descrentes. É sabido que a Bíblia diz que os descrentes serão torturados eternamente numa fornalha ardente, onde "haverá pranto e ranger de dentes".
É dito, através de uma parábola, que
somos obrigados a aceitar o reinado de Deus, e aqueles que não o fizerem serão mortos diante dele. Para quem relaciona as atitudes de Estaline com o ateísmo, este verso mostra quão semelhante é a atitude de Deus ou Jesus. É mostrada uma atitude anti-democrática.
E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.
-- Lc 19:27
Na Bíblia há versos que apelam a morte dos descrentes, forçando as suas crenças particulares.
E de que todo aquele que não buscasse ao Senhor Deus de Israel, morresse; assim o menor como o maior, tanto o homem como a mulher. E juraram ao Senhor, em alta voz, com júbilo e com trombetas e buzinas.
-- 2 Crónicas 15:12-13
E há versos que dizem que aqueles que
não obedecem a um líder reliogioso, ou profetas, são mortos.
Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti, tão-somente que o Senhor teu Deus seja contigo, como foi com Moisés. Todo o homem, que for rebelde às tuas ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, morrerá. Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.
-- Jos 1:17, 18.
O homem, pois, que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse homem morrerá; e tirarás o mal de Israel
-- Deu 17:12-13
É perigosíssimo quando alguém diz que tem uma autoridade dada por Deus, permitindo ditaduras que não são questionadas.
Quem pode questionar o poder dado por Deus, a autoridade moral absoluta?
Portanto, escrevo estas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor, segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição.
-- 2 Cor 13:10
Por haver uma entidade que tem essa autoridade, seja terrena ou transcendental,
pode-se justificar qualquer abuso. É, pela sua própria natureza, um impecilho para a liberdade individual, para a liberdade de expressão, para a liberdade religiosa e para a própria democracia. Depois da Revolução Francesa, o Papa escreveu "O Sílabo dos Erros", com uma enumeração de erros (segundo ele) da democracia e razão moderna, e foi proposta a doutrina da infabilidade do Papa em 1864. Eis dois erros condenado pelo tal Papa:
15. Cada homem é livre de abraçar e professar a religião que, guiado pela luz da razão, ele considere verdadeira...
24. A Igreja não tem o poder de usar a força, nem tem qualquer poder secular, directo ou indirecto...
Estas são ideias laicas, provenientes de descrentes, de ateus, que o Papa condenou.
Como disse uma autoridade que é justicada em nome de Deus é sempre perigosa. Este era um meio para justificar as barbaridades de governantes, desculpar os seus erros e dar poder ao clero sobre o governante e povo.
Investido de uma similitude, [o Imperador] dirige o seu olhar para cima e pratica o seu domínio terreno de acordo com o original divino, sentindo força pela sua conformidade com a monarquia de Deus. (...) E certamente a monarquia transcende em muito qualquer outra constituição ou forma de governo: pois a igualdade democrática de poder, que é o seu oposto, é mais bem descrita como anarquia ou desordem.
-- Extracto de Eusébio
-- Igualdade Já referi que John Stuart Mill defendeu a igualdade das mulheres. A publicação das suas ideias utilitárias permitiram que a sociedade permitisse admitir a igualdade feminina. Quanto à Bíblia, desde os primeiros capítulos do Génesis, dá a entender que a
mulher é inferior ao homem. Paulo diz muitas vezes, nas suas cartas, que Jesus é a cabeça do homem e que o homem é a cabeça da mulher.
Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
-- Ef 5:22-24
O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.
-- 1Co 11:7-9
Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu.
-- 1Cor 11:3-6
Martinho Lutero, nos seus "Sermões", escreveu:
O domínio fica com o marido, e a mulher é obrigada a obedecer-lhe através do comando de Deus
No Antigo Testamento são mostradas
injustiças às mulheres (que eram era consideradas propriedades dos homens), como Deu 22:20-21, Deu:1-4 e Nu 5:11-30. Essas injustiças, e diferenças em relação ao homem, podiam determinar a
morte da mulher pelo apedrejamento.
-- Desobediência No "post" que eu tinha referido --
../forum/topic=8602.0.html#msg142897 -- mostrei a importância da desobediência civil. Henry Thoreau escreveu o livro "Desobediência Civil", com críticas à
escravatura e guerra dos EUA com o México. Mahatma Gandi e Martin Luther King aplicaram a desobediência civil, e a recusa de jovens participarem na
guerra do Vietname e os
protestos públicos permitiram que a guerra acabasse mais rapidamente. Peter Singer defendeu a
desobediência civil através da sua filosofia utilitária, e ele é um utilitário muito importante na concepção ética moderna.
Quanto àqueles que acreditam haver autoridades absolutas, nada podem fazer. Já mostrei uma citação de John Rawls no "post" que mencionei.
A Bíblia afirma que as
autoridades superiores existem por desejo divino, e que por isso são inquestionáveis. Diz que devemos obedecer mesmo nas maiores injustiças.
TODA a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal. Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.
-- Rom 13:1-7
Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus.
-- 1Col 2:22-24
Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; Quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos
-- 1Pe 2:13-15
Penso que o motivo dessa obediência às "autoridades superiores" tinha muito haver com a situação dos cristãos nos seus primórdios, em especial durante o reinado de Nero. Eles não estavam a situação favorável e assim mostravam obedientes e que não eram assim tão maus, como fazem as seitas actuais. É por isso que o
Imperador Constantino mostrou-se tão interessado no Cristianismo, e todos sabemos o que aconteceu depois quando o Cristianimo obteve poder e influência, estando no pico na Idade Média, dividindo em forças com a Reforma e diminuindo com a demonstração inegável do progresso científico.
Além disso, essa atitude permite justificar uma
hierarquia nas comunidades religiosas, com personalidades cujas ordens não devem ser questionadas. Já referi sobre isso quando falei sobre a liberdade, e Paulo nas suas cartas era mestre nisso, com a sua autoridade investida por Deus.
-- Justificacionismo Karl Popper inventou esse termo termo para designar as atitudes daqueles que tentam
justificar os suas crenças, apesar de demonstrarem resultados nefastos. Ele defendia que se usasse o espírito científico em todas as actividades para melhorar o bem-estar da Humanidade. Já referi isso no "post"
../forum/topic=8602.0.html#msg142897 .
A Bíblia está recheada de comportamentos horrendos que são justificados de qualquer maneira pelos crentes. A definição de ateu não está limitada, como no cristianismo, na
aceitação incondicional a uma autoridade. Karl Popper aderiu ao marxismo, e deixou essa ideologia ao verificar os abusos encontrados, passando a criticá-lo veemente e construindo a sua filosofia de
sociedade aberta. Como podemos justificar:
- a
mentira para proteger a féE de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?
-- Tg 2:24 (
vide Jos 2:4-6; 6:17)
Então saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim.
-- 1Re 22:21-22
- a
matança em nome de DeusMaldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulosamente; e maldito aquele que retem a sua espada do sangue.
-- Jer 48:10
E Moisés disse-lhes: Deixastes viver todas as mulheres? Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o Senhor no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do Senhor. Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós.
-- 31:15-18
E enviou-te o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles. Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mau aos olhos do Senhor?
-- 1Sam 15:18-22
Como é que se defende essas atitudes? Como se aceita, como se justifica? É porque os outros eram os maus, os infiéis? É porque foi Deus que ordenou? Foi o Deus que fez os cegos, os surdos e os mudos? Aquele que impele a fazer o mal, que introduz o seu espírito mal no corpo?
E disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor?
-- Ex 4:11
DEPOIS disse o Senhor a Moisés: Vai a Faraó, porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus servos, para fazer estes meus sinais no meio deles
-- Ex 10:1
E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor.
-- Sam 16:14
Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
-- Jó 2:10
E depois de tudo isto o Senhor o feriu nas suas entranhas com uma enfermidade incurável.
-- 2Cro 21:18
Estamos tão habituados a ouvir as estórias violentas, que não vemos como são imorais. Abraão foi justo porque não rejeitou o seu filho como sacrifício. É justo que pessoas e animais no mundo inteiro sejam varridos com um dilúvio. Fez-se justiça ao matar um homem na cruz. Muito bonito!
Por exemplo, para o
paradoxo de Epicuro surgem desculpas como a teodiceia, que Deus é inefável e o livre arbítrio. Todas elas são horríveis, tendo em conta em omnipotência de Deus. O mal existe para aperfeiçoarmos o bem? Dizer que Deus é bom é diferente de dizer que uma pessoa é boa? Pelo livre arbítro, foi permitido que se escolhesse o mal? Se Deus é perfeito, apesar dessas imperfeições, então está muito mal comparado com os seres humanos.
Eis que a minha filha virgem e a concubina dele vô-las tirarei fora; humilhai-as a elas, e fazei delas o que parecer bem aos vossos olhos; porém a este homem não façais essa loucura. Porém aqueles homens não o quiseram ouvir; então aquele homem pegou da sua concubina, e lha tirou para fora; e eles a conheceram e abusaram dela toda a noite até pela manhã, e, subindo a alva, a deixaram.
-- Jz 19:24-29
(
vide Ge 19:18)
Aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto.
-- este é Jz 11:29-40; ver Jz 11:29-40 (que é demasiado longo para por aqui)
Notem a
linguagem e descrição gráfica usadas...
E Eúde entrou numa sala de verão, que o rei tinha só para si, onde estava sentado, e disse: Tenho, para dizer-te, uma palavra de Deus. E levantou-se da cadeira. Então Eúde estendeu a sua mão esquerda, e tirou a espada de sobre sua coxa direita, e lha cravou no ventre, De tal maneira que entrou até o cabo após a lâmina, e a gordura encerrou a lâmina (porque não tirou a espada do ventre); e saiu-lhe o excremento.
-- Jz 3:20-22
Então Jael, mulher de Heber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e chegou-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra, estando ele, porém, num profundo sono, e já muito cansado; e assim morreu. E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro, e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem que buscas. E foi a ela, e eis que Sísera jazia morto, com a estaca na fonte. Assim Deus naquele dia sujeitou a Jabim, rei de Canaã, diante dos filhos de Israel.
-- Jz 4:21-23
Porém Rabsaqué lhes disse: Porventura mandou-me meu senhor somente a teu senhor e a ti, para falar estas palavras e não antes aos homens, que estão sentados em cima do muro, para que juntamente convosco comam o seu excremento e bebam a sua urina?
-- 2Re 18:27
Podia ficar vários dias a escrever uma lista enorme de cenas horríveis que se aceitam na Bíblia. Ficamos chocados, mas há quem procure justificar o injustificável. Descrentes mudaram a ética da sociedade, melhorando o bem-estar das pessoas. Já dei exemplos.
Menciono agora
Bertrand Russell, que durante 15 anos esteve numa campanha contra o fabrico de armas. Mesmo aos 90 anos, esteve entre chefes de Estado durante a crise de mísseis cubanos.
-- Auxílio aos desfavorecidos Peter Singer defendeu, pelo utilitarismo, que temos obrigação moral de ajudar o países pobres. Carl Sagan no seu livro "Cosmos", escreve no último capítulo "Quem pode salvar a Terra?":
Se tivermos de sobreviver, a nossa lealdade tem de se alargar até incluir toda a comunidade humana, o inteiro planeta terra. Muitos daqueles que dirigem as nações considerarão esta ideia desagradável. Irão recear a perda de poder. Ouviremos muita coisa sobre traição e a desleadade. Os Estados ricos terão de partilhar a sua riqueza com os estados pobres. Mas a escolha, como uma vez disse H. G. Wells num outro contexto, é o Universo ou nada.
E há quem diga que é preciso fazer publicidade ao ateísmo enquanto se auxilia os mais desfavorecidos, como fazem certas instituições religiosas. Mas os bispos em países católicos da África
proíbem o uso de preservativo. E até a Madre Teresa de Calcutá não foi assim tão santa, sendo
julgada em tribunal por desviar fundos, para além de muitas barbaridades que mantinham as pessoas na miséria.
Quem ajuda realmente os pobres são pessoas como o actual nobel da paz, que inventou o micro-crédito. Em vez de dar peixe, ensinou a pescar. Eu, por exemplo, acho que devia haver instituições que recebessem pessoas com problemas, que os alimentasse, lavasse, vestisse, desse uma formação e permitisse que tivesse um emprego. Isso sim seria auxiliar.
-- Conclusões Podia dizer muito mais, mas deixarei para uma próxima vez. Com este longo texto tenho o objectivo de desmascarar os preconceitos contra o ateísmo e mostrar que aqueles que os fomentam não estão em boa posição para tal.
O ateísmo
per si é
amoral. Só diz respeito quanto à crença de Deus. Mas ateus desenvolveram filosofias éticas, como o utilitarismo, e são essas que devem ser discutidas enquanto se fala sobre ética.
A ética de um teísta é em geral deontológica, admitindo uma autoridade moral e jurídica absolutas, e podemos, como fiz, mostrar os erros através dos seus
livros sagrados, que são ditos serem a fonte da palavra dos seus deuses.
Um ateu pode dizer o que define o bem, como os utilitaristas, e assim, com a experiência e razão, aprenderem o que produz mais bem. Como sabemos, mentir, roubar, matar e quebrar promessas são más, e sabemos por
experiência e simpatia.
Alguns teístas têm o hábito de fazer menção a
comunistas, dizendo que os seus comportamentos devem-se ao ateísmo. Mas, com esse único exemplo, esquecem-se que o
teísmo é muito mais numerosa em violência, nas suas numerosas denominações, e que tiveram muito
mais oportunidades em fazer governos baseados nas suas crenças. E ainda há violência, seja em países teocráticos como no seio das congregações, isolando-se e escondendo crimes como a pedofilia, que são contadas nos
noticiários -- mas tudo está bem, porque devemos respeitar as crenças...
Podem alegar que não são cristãos verdadeiros, mas então eu posso cometer a mesma falácia dizendo que os comunistas não são ateus verdadeiros. Se querem uma discussão justa, comparem casos particulares com casos particulares. Pois então eu digo, comparem com o
budismo, o utilitarismo e o laicismo. Imensos ateus, no seu
humanismo secular, ajudaram para o bem-estar da Humanidade, recebendo até prémios por isso. A sociedade mudou, e a ética mudou graças a descrentes, mas os
crentes apoderam-se dessa ética e fazem a sua bandeira como se tivesse origem na sua religião em particular. Foram utilitaristas que permitiram ideias como igualdade das mulhereres, os direitos dos animais e a liberdade religiosa e de expressão. A Constituição Americana foi elaborada por utilitaristas, descrentes, e as pequenas religiões oprimidas pela religião dominante fugiram para a América.
A religião teísta, nos países laicos, parece tolerante por causa do
laicismo, que impede os abusos do passado. Os religiosos liberais, como os designados católicos não-praticantes, são o que são graças ao laicismo. Tirem a trela à religião e a besta solta-se, como no passado e nos países teocráticos.
Os países teocráticos actuais são o espelho do cristianismo no passado, e já dei exemplos da Bíblia que permitem comparar com os muçulmanos desses países.
Cristãos dizem que praticam o bem, não por medo, mas por puro amor e alegria, e não desminto. Aliás, acredito que possa assim ser em muitos casos, apesar das ameaças do Inferno e apelo à Salvação.
Mas o que impede de os ateus não fazerem pelo mesmo? Já dei vários exemplos que sem Deus, Inferno nem Salvação os ateus podem ser tão bons que ajudam a Humanidade. Nós podemos nem sequer ter medo da morte, como Epicuro, que para ele a morte não é nada -- quando existimos, a morte não existe; quando morremos, não existimos.
Já escrevi demasiado.
Pergunto-me se vou receber resposta daqueles que não nunca me responderam. Direi assim tanta coisa que não pode ser desmentida? Eu não creio, pois sou ateu céptico, por isso espero pelas respostas.