Macabro, você supõe que todo conhecimento é empírico. Eu discordo completamente.
E não seria assim? Explique-se melhor.
Claro que não! Muito do conhecimento humano não é empírico: a lógica, a matemática etc.
"2+2=4"
" 'Todo A é B. Todo B é C. Logo todo A é C' consiste em um silogismo válido".
Essas proposições são verdadeiras mas não tratam de coisa alguma capitável pelos nossos sentidos. Os números e suas propriedade, assim como a validade de um silogismo, não tem cor, sabor, cheiro ou textura. Portanto, não são empíricos.
Eu me expressei mal. O que eu quero dizer é que todo conhecimento é empírico ou baseado em fatos empíricos. "Capisco"?
Você sabe que "2+2=4" porque isso é uma lei geral de fatos empíricos: a adição de duas bananas mais duas bananas é igual a quatro bananas. O mesmo vale para quaisquer outras coisas: carros, maças, mesas, pessoas. Portanto, "2+2=4" é uma lei geral baseada em fatos empíricos.
Errado! Completamente errado! Acompanhe meu raciocínio:
Você olha as folhas de uma árvore e pode descrever este estado-de-coisas assim:
"Aqui há 1000 folhas verdes".
"Aqui há uma folhagem verde".
"Aqui há 10^12 átomos organizados de forma tal que refletem a luz na freqüencia 520–570 nm".
O mesmo estado-de-coisas está sendo descrito por meio de conceitos distintos e por números distintos que variam em função dos conceitos. Isto ilustra que, enquanto cor é algo que subjaz às coisas, o número não, mas que é algo que se aplica a elas quando se projeta um conceito sobre elas.
O fato é que quando temos uma experiência visual, não é a informação que entre pelos nossos olhos. O que entra é a luz. Nós que criamos intelectualmente a informação com base em pressupotos intelectuais.
Muitas culturas aborígenes são incapazes de contar acima de três. Você sugere que isto seja uma deficiência no aparelho visual deles? E muitas culturas civilizadas não conheciam o número zero. Eles tinham muma espécie de cegueira que os impedia de aperceber que existe um número que se aplica à cardinalidade do conjunto vazio?
Eu posso fazer uma lista imensa de entidades que não provêm da experiência:
* Ponto, tal como definido por Euclides, "aquilo que não tem partes"
* Infinito
* Uma figura geométrica de n dimensões, tal que n>3
* Uma figura geométrica de volume finito, mas de superfície infinita
* A irracionalidade da raiz de 2
* Incompletude da Matemática
* Raiz par de um número negativo
* O número 0
Leve em consideração o seguinte:
*Pode-se conceber qualquer coisa contraditória ao nosso conhecimento empírico: corvos brancos, universos com leis da física divergentes das conhecidas, que o dia tem 25 horas, linhas de história alternativas etc. Contudo, não é possível conceber que a união de duas duplas forme um quinteto, ou que numa superfície plana, dada uma reta r e um ponto P fora desta reta, não passe apenas uma única reta (distinta) por P que seja paralela a r.
Quanto ao silogismo... também é baseado em fatos empíricos. Aliás, as 3 leis gerais da lógica clássica são empíricas. Por exemplo: você sabe que "A é A" por que observando desde seu nascimento as coisas e acontecimentos que o rodeavam, você percebeu que todas as coisas eram iguais e elas mesmas.
Desde que eu nasci meus sentidos perebem ilusões. As vezes uma coisa parece estar em dois lugares ao mesmo tempo, ou parece ir de um lugar para outro sem percorrer uma trajetória que passe por estes lugares. Segundo Kant, o que me permite reconhecer estes fenômenos como ilusões é o conhecimento a priori da natureza do espaço e tempo. Ou seja, segundo Kant, eu sei que dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo ou que um corpo não está em dois lugares ao mesmo tempo a priori, e isto organiza a minha experiência.