Achei muito fraquinho esse artigo do Gleiser. Ele descaracteriza os argumentos de Dawkins e cia. para
botar panos quentes no conflito entre fé e razão. Ainda não li esses livros recentes sobre ateísmo, mas
baseado em outros textos disponíveis, os pontos básicos de Dawkins e outros se referem a aspectos éticos,
filosóficos e científicos e, na minha não tão humilde opinião, podem ser resumidos como:
(a) A posição especial dada pela sociedade à fé religiosa não é merecida e, muitas vezes, é danosa à própria
sociedade.
(b) O teísmo envolve a hipótese de seres sobrenaturais que interferem no universo. Portanto, as ações desses seres
podem ser investigadas no âmbito da ciência.
(c) Até hoje não foi encontrada evidência alguma da ação desses seres sobrenatural no universo.
(d) Na ausência de evidência concreta, os teístas apresentam argumentos não-falseáveis para a existência de
seres sobrenatural. Portanto, não existem motivos lógicos para se levar tais argumentos à sério.
(e) Com base nos ítens (b) a (d), um cientista que suponha que a existência de um deus seja necessária ao
universo está agindo de forma intelectualmente desonesta.
(f) A religião e a espiritualidade são fenômenos da mente, passíveis de serem investigados pela ciência.
(g) A religião organizada sempre esteve mais preocupada em manter o status quo do que em promover o progesso
da humanidade.
(h) Qualquer benefício trazido pelas religiões é ofuscado pelo mal causado pelos crentes em nome da religião.
Pessoalmente, concordo inteiramente com os pontos (a) até (f), e concordo em parte com os dois últimos ítens.
O Marcelo Gleiser parece ter problemas com o item (e). Mas vejam que ele não surge de uma imposição. É apenas
a consequência lógica do uso do método científico. O cientista religioso pode até acreditar em deuses, da mesma
forma como ele pode torcer pelo Botafogo. Mas ele não pode dizer que existem motivos concretos que o levam
a essa crença (da mesma forma que torcer pelo Botafogo não é algo subjacente à estrutura do universo.) É uma
simples escolha pessoal.
Francamente, eu esperava mais do Gleiser do que um Argumentum ad Populum ridículo como este:
A atitude belicosa e intolerante do cientista britânico só causa mais intolerância e confusão. Seu grande erro é negar a necessidade que a maioria absoluta das pessoas tem de associar uma dimensão espiritual às suas vidas.
Muitas pessoas também têm necessidade de status, de sexo, de aventura, de amor, etc. Não são muitas as pessoas
que colocam esses objetivos em um plano transcendental e declaram guerra a quem possui objetivos ligeiramente
diferentes. Em entrevistas, Dawkins deixa claro que é contra o Teísmo. Ele diz que não se importa se alguem
acredita em um deus que é impessoal e indiferente.