Vito, tentei fazer o mais fiel possível.
Entrevistador: Como você trabalha sua espiritualidade uma vez que trabalha com tantos pacientes em estado terminal? E a segunda é: é verdade que você é ateu?
(A platéia ri ao fundo)
Dr. Drauzio: Perguntas leves, né? Que ninguém… (risos).
Olha! Eu acho que essa questão religiosa… sou muito fatalista em relação a isso. Eu acho que existe um tipo de… de cérebro mesmo, né? Cérebro no sentido geral mesmo: entendimento da vida e das coisas – que é racional.
São pessoas que querem entender tudo que se passa e entender porquê. Curiosidade de ir fundo em cada termo, aí vem o:
“Por que aconteceu assim? Ah! Foi por isso. E isso aqui: por quê? E mais: por quê?” E quando você faz isso… pessoas que tem esse tipo de informação dificilmente são religiosas, porque a religião implica em você acreditar, em você aceitar fatos sem nenhuma explicação.
“Por quê que eu devo fazer assim? Ah! Porque Jesus morreu na cruz. Pronto!” Aí tem gente que aceita isso, mas outros não:
“Tudo bem, Jesus morreu na cruz, mas eu tenho que fazer isso por quê? Qual é a razão que me leva, que tem que me levar a fazer isso?” Eu acho que essa é a diferença fundamental entre os dois tipos de visão. E são mundos que não se comunicam. Não tem nenhuma comunicação, porque para quem é religioso é impossível aceitar a vida de uma forma racional, absolutamente racional. E ao contrário, para quem tem uma formação… um cérebro que funciona de uma forma materialista – que fica procurando na matéria as explicações todas – ele não consegue entender os argumentos religiosos.
O que acontece freqüentemente é que você quando tem um pensamento materialista, você é obrigado a aceitar o pensamento religioso. Seja qual for, você tem que respeitar nos outros a outra forma de ver a vida. Porque a ciência não é a única forma de ver o Universo. O pensamento religioso é outra forma.
"Você não precisa provar nada. Você acredita que Jesus morreu na cruz e você faz as coisas por causa disso." E é tão respeitável quanto no pensamento científico.
Agora quando você tem uma formação materialista e chega uma pessoa para você e diz:
“eu sou católico, acho que vou passar uma temporada no purgatório e depois vou para o céu.” Você fala: tudo bem! Se você acha que é assim, tá bom! Então vem outro e diz:
“eu sou protestante, na meu ramo não se acredita que tem purgatório, quando eu morrer vou para o céu direto.” Você fala: tá bom! Aí vem o outro e diz:
“olha, eu sou espírita, numa outra geração eu fui imperador numa ilha grega… - porque ninguém foi escravo, né? Impressionante (a platéia ri ao fundo)
–
imperador numa ilha grega!” E você olha e fala: tudo bem! Se você acha que foi imperador, tá bom! Se para você tá bom assim, tá bom! Aí perguntam:
“e você?” Eu digo: não, não tenho formação, não sou religioso.
“Como não tem?!?!” Sabe, os religiosos são muito violentos com aqueles que não são religiosos. Essa é a realidade, especialmente com os cientistas. Os cientistas, às vezes, são religiosos, mas os religiosos, todas as vezes que assumiram o poder na história mandaram matar os cientistas. Porque quando você diz que não é religioso, as pessoas te olham como se você fosse imoral. Como se você não tivesse respeito pela vida. Como se você fizesse mal para os outros.
Por que não existe esse respeito dos religiosos com relação aos materialistas? Por que não? Se eu tenho que respeitar as pessoas que acreditam nas coisas que as vezes me parecem completamente sem sentido - por quê que eles não podem aceitar que existe um mundo que não faz sentido para eles? Por quê que tem que ter esse autoritarismo, essa violência contra os que não pensam da mesma forma? Eu as vezes recebo e-mail de pessoas dizendo:
"eu tinha o senhor em boa conta, achava que o senhor fazia coisa para ajudar os outros. Eu soube que o senhor não acredita em deus." Você vira um criminoso!
(A Platéia ri ao fundo).