Autor Tópico: Mortalidade e sentido da vida (era: Avó Crente, o que você faria?)  (Lida 8849 vezes)

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Offline Galthaar

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Mortalidade e sentido da vida (era: Avó Crente, o que você faria?)
« Resposta #25 Online: 14 de Maio de 2007, 13:32:39 »
O medo da morte é a essência de todo o ser, o motivo pelo qual hoje ele ainda sobrevive, não há do que se envergonhar nele, exceto talvez, o impulso que ele gera para a ilusão. A busca pela imortalidade é apenas a consequência deste medo genético, é a luta incessante do homem para que sua consciência não se apague.

Quem não se importa com a morte ou a deseja; ou pensa que haverá algo depois, ou sofre demais para querer viver. Este tipo de pensamento não tem nenhuma chance de ser propagado como regra, pois contraria a simples lógica evolutiva. O anseio e o futuro do homem é a imortalidade e a multiplicação.

Me expliquem por favor, o que há de horrível nisso?

Citação de: Amon
Morrer significa aniquilar o passado, o presente e o futuro.

Não, não é isso; morrer é parar de existir ativamente, mas não nega o passado nem o presente - pelo contrário, o põe em perspectiva e torna cada momento único e insubstituível.

E o futuro continua recebendo a herança de nossos atos, decisões e exemplos.  Nós morremos, mas nossa herança perdura.

Citar
Deixar de existir para todo o sempre, o sumir da consciência não tem nenhum lado bom.

Não concordo.  É parar de cometer os mesmos erros e sentir os mesmos remorsos e arrependimentos de sempre.  É também parar de sofrer com doenças e limitações que não podem ser corrigidos.

Morrer nega o passado e o presente apenas no seu ponto de vista, o que é muito, pois não terá consciência deles; obviamente que os outros terão, mas isto não trará nenhum benefício para o seu ego, pois ele já não existirá.
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

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« Resposta #26 Online: 14 de Maio de 2007, 13:35:12 »
Acredito que as crianças amadurecem e perdem suas aspirações, ou porque viram que o caminho era muito difícil ou que elas cedem à ambição.

Concordo.  Esse, na minha opinião, é o erro que muitos cometem ao tentar analisar a religião.  Ela não deveria ter grandes preocupações com "outras vidas"; o nosso material de trabalho é esta aqui que comprovadamente existe.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

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« Resposta #27 Online: 14 de Maio de 2007, 13:35:20 »
Bem, eu ia dizer que eu morrer agora seria horrível, mas, no fundo, não faz diferença para nós depois de mortos, não é mesmo? Isso não  é horrível; é uma fase. Uma fase que eu não pretendo passar tão cedo, mas é uma fase.

Offline Galthaar

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« Resposta #28 Online: 14 de Maio de 2007, 13:38:39 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

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« Resposta #29 Online: 14 de Maio de 2007, 13:40:13 »
Bem, eu ia dizer que eu morrer agora seria horrível, mas, no fundo, não faz diferença para nós depois de mortos, não é mesmo? Isso não  é horrível; é uma fase. Uma fase que eu não pretendo passar tão cedo, mas é uma fase.
Exato, não faz diferença, mas pensar em como é depois de morto nos assusta, parar de existir é algo quase inconcebível em nossa mente, é só pensar em dormir, mas sem sonhar nem acordar.
"Afirmar que "Deus fez isso" não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação."
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Mortalidade e sentido da vida (era: Avó Crente, o que você faria?)
« Resposta #30 Online: 14 de Maio de 2007, 13:40:58 »
Quanto horror.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

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« Resposta #31 Online: 14 de Maio de 2007, 13:41:20 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Não o subproduto e sim a razão de todo medo, eu tenho medo somente disso e pensar que é inevitável é muito ruim.
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« Resposta #32 Online: 14 de Maio de 2007, 13:43:49 »

Correto, está gravado na própria essência do ser: "Deixar de existir é ruim". Não que seja ruim, pois simplesmente não se encaixa na percepção, mas de outra forma, não haveria o próprio ser.
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« Resposta #33 Online: 14 de Maio de 2007, 13:45:18 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Talvez. Eu já me sinto aliviado sabendo que ela cessará um dia.

Exato, não faz diferença, mas pensar em como é depois de morto nos assusta, parar de existir é algo quase inconcebível em nossa mente, é só pensar em dormir, mas sem sonhar nem acordar.
Bem, como imaginar sua consciência num lugar onde ela não existe? Lembra de como era antes de você nascer? Então, é igual.

Offline Galthaar

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« Resposta #34 Online: 14 de Maio de 2007, 13:46:25 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Não o subproduto e sim a razão de todo medo, eu tenho medo somente disso e pensar que é inevitável é muito ruim.

O subproduto não é o medo da morte, e sim o medo do fim da consciência após ela.
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Mortalidade e sentido da vida (era: Avó Crente, o que você faria?)
« Resposta #35 Online: 14 de Maio de 2007, 13:49:29 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Não o subproduto e sim a razão de todo medo, eu tenho medo somente disso e pensar que é inevitável é muito ruim.

O subproduto não é o medo da morte, e sim o medo do fim da consciência após ela.
A morte é algo certo, eu entendo assim, o fim de minha consciência é meu medo e a morte é o meio ao qual chegarei a esse ponto.

ahahah
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« Resposta #36 Online: 14 de Maio de 2007, 13:54:50 »
Outro produto da evolução: a morte é muito mais aceitável para quem já teve filhos que não dependem mais de si, não se importando tanto com o seu fim, até mesmo com o objetivo de dar espaço a prole.
Citação de: Daniboy


[quote author=Galthaar link=topic=11514.25.html#msg205926 date=1179161185

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Não o subproduto e sim a razão de todo medo, eu tenho medo somente disso e pensar que é inevitável é muito ruim.

O subproduto não é o medo da morte, e sim o medo do fim da consciência após ela.
A morte é algo certo, eu entendo assim, o fim de minha consciência é meu medo e a morte é o meio ao qual chegarei a esse ponto.

ahahah
[/quote]

O que eu quero dizer como subproduto não é qual é o medo mais forte, e sim, qual originou o outro.
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« Resposta #37 Online: 14 de Maio de 2007, 13:56:58 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Galthaar, esse argumento evolucionário para o medo da morte esbarra num problema: a premissa da evolução não é a preservação
do indivíduo, mas dos genes. Por exemplo, em termos evolutivos seria indiferente se um indivíduo, após ver seus descendentes crescidos, de repente sentisse um impulso suicida. Também esbarra no fato do auto-sacrifício: pessoas que se sacrificam para que
seus descendentes possam sobreviver.

Se formos analisar a questão da morte, existem muitos outros fatores além do fim da experiência subjetiva que podem despertar
temor. Por exemplo, a sensação de impotência diante da morte (seria diferente se pudéssemos escolher precisamente o momento
de morrer). A sensação de injustiça, ao vermos um criminoso (Pinochet, por exemplo) "escapar" da punição ao morrer. A decadência
física, a sensação de futilidade em muitos casos (Virginia Tech - o assassino não era um monstro transcendente, não ameaçou a
humanidade como um todo, era apenas um maluco qualquer). Ou seja, o fim da consciência é apenas um (1) elemento de um processo
complexo.

Esse elemento, francamente, não me causa temor algum...

 
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« Resposta #38 Online: 14 de Maio de 2007, 14:00:56 »
Citação de: Amon
Morrer significa aniquilar o passado, o presente e o futuro. Deixar de existir para todo o sempre, o sumir da consciência não tem nenhum lado bom.
Citação de: Daniboy
Acertou na mosca, esse é exatamente minha linha de pensamento, somente faria sentido para quem não almeja nada e odeia a vida,
Penso que é uma questão pessoal, mas mesmo assim, é bom lembrarmos que houve um tempo em nenhum de nós ainda existia. Vocês por
acaso lamentam esse fato? Claro, podemos saber como as outras pessoas viviam antes de termos existido, mas, num sentido bem profundo,
isso não é o mesmo que estar lá. Não vou dizer que já não senti medo de morrer (deixando de lado os instantes de risco imediato), mas
esse medo era mais relacionado ao temor de não deixar nenhum "rastro" para as gerações futuras, não ao medo de estar morto. Hoje já não
tenho esse medo (talvez a situação mude depois que eu tiver filhos). E podem acreditar, estou bem longe de odiar a vida :).


Aliás, mesmo os religiosos talvez possam concordar que, de certa forma, todas as crianças morrem: já vi várias crianças
cheias de sonhos de aventura e realizações se tornarem adultos medíocres e mesquinhos.  :?

Eu até lamento não ter presenciado fatos passados ao meu nascimento, mas eu não existia. Uma vez que passo a existir, a idéia de ter futuro é o que importa. Quanto a deixar rastros para  as gerações futuras, pra mim isso não me interessa em absolutamente nada, eu quero é estar vivo, só isso.
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« Resposta #39 Online: 14 de Maio de 2007, 14:03:40 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Galthaar, esse argumento evolucionário para o medo da morte esbarra num problema: a premissa da evolução não é a preservação
do indivíduo, mas dos genes. Por exemplo, em termos evolutivos seria indiferente se um indivíduo, após ver seus descendentes crescidos, de repente sentisse um impulso suicida. Também esbarra no fato do auto-sacrifício: pessoas que se sacrificam para que
seus descendentes possam sobreviver.

Se formos analisar a questão da morte, existem muitos outros fatores além do fim da experiência subjetiva que podem despertar
temor. Por exemplo, a sensação de impotência diante da morte (seria diferente se pudéssemos escolher precisamente o momento
de morrer). A sensação de injustiça, ao vermos um criminoso (Pinochet, por exemplo) "escapar" da punição ao morrer. A decadência
física, a sensação de futilidade em muitos casos (Virginia Tech - o assassino não era um monstro transcendente, não ameaçou a
humanidade como um todo, era apenas um maluco qualquer). Ou seja, o fim da consciência é apenas um (1) elemento de um processo
complexo.

Esse elemento, francamente, não me causa temor algum…

 

Exato, a evolução consiste na propagação dos genes.

Sempre que a morte de alguém ajudar a propagar seus próprios genes, ela parecerá satisfatória, o que não invalida a condição de que o medo da morte é a essência do ser.

Para que o indivíduo propague seus genes, deve primeiro possuir o interesse de sobreviver, correto?
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Mortalidade e sentido da vida (era: Avó Crente, o que você faria?)
« Resposta #40 Online: 14 de Maio de 2007, 14:04:17 »
  Ainda mais porque, já que é mesmo inevitável, não vale a pena cultivar ojeriza à morte.

Escreveu pouco e disse tudo . Exatamente a minha opinião .

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« Resposta #41 Online: 14 de Maio de 2007, 14:06:12 »
Me expliquem por favor, o que há de horrível nisso?

Citação de: Amon
Morrer significa aniquilar o passado, o presente e o futuro.

Não, não é isso; morrer é parar de existir ativamente, mas não nega o passado nem o presente - pelo contrário, o põe em perspectiva e torna cada momento único e insubstituível.

E o futuro continua recebendo a herança de nossos atos, decisões e exemplos.  Nós morremos, mas nossa herança perdura.

Citar
Deixar de existir para todo o sempre, o sumir da consciência não tem nenhum lado bom.

Não concordo.  É parar de cometer os mesmos erros e sentir os mesmos remorsos e arrependimentos de sempre.  É também parar de sofrer com doenças e limitações que não podem ser corrigidos.

Sinceramente? Até acho importante deixar minha herança para as geraçõs futuras mas acho incomparavelmente melhor estar vivo com estas novas gerações. Minha herança é inútil pra mim depois de morto, o que importa é estar vivo e deixar o seu legado ao mesmo tempo. Os momentos são únicos e insubstituíveis sim, mas é muito melhor ter novos momentos do que nunca mais tê-los. E não me serve de nada esta hipervalorização dos meus momentos únicos depois de morto, o que importa é estar vivo para relembrá-los e viver novos momentos.

Prefiro milhões de vezes continuar vivendo, comentendo erros e tendo momentos de sofrimento (como toda vida é) ao simplesmente não existir. Não há nenhuma característica interessante ou compensatória das que você citou.

Este estar "vivo" como um legado não é nem passível de comparação com estar vivo de fato.
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« Resposta #42 Online: 14 de Maio de 2007, 14:09:42 »
Discordo, a morte é inevitável agora, no futuro pode não ser. O medo da morte não precisa ser cultivado, ele sempre existirá em entidades conscientes autoreplicadoras, caso não gere um benefício para a replicação.
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« Resposta #43 Online: 14 de Maio de 2007, 14:10:27 »

Um subproduto do medo da morte para um ser consciente não seria o medo do fim da própria consciência? A consciência não deseja extinguir-se nem mesmo após a morte, este é o motivo pelo qual a fé em uma pós-existência persiste.
Galthaar, esse argumento evolucionário para o medo da morte esbarra num problema: a premissa da evolução não é a preservação
do indivíduo, mas dos genes. Por exemplo, em termos evolutivos seria indiferente se um indivíduo, após ver seus descendentes crescidos, de repente sentisse um impulso suicida. Também esbarra no fato do auto-sacrifício: pessoas que se sacrificam para que
seus descendentes possam sobreviver.

Se formos analisar a questão da morte, existem muitos outros fatores além do fim da experiência subjetiva que podem despertar
temor. Por exemplo, a sensação de impotência diante da morte (seria diferente se pudéssemos escolher precisamente o momento
de morrer). A sensação de injustiça, ao vermos um criminoso (Pinochet, por exemplo) "escapar" da punição ao morrer. A decadência
física, a sensação de futilidade em muitos casos (Virginia Tech - o assassino não era um monstro transcendente, não ameaçou a
humanidade como um todo, era apenas um maluco qualquer). Ou seja, o fim da consciência é apenas um (1) elemento de um processo
complexo.

Esse elemento, francamente, não me causa temor algum…

 

Exato, a evolução consiste na propagação dos genes.

Sempre que a morte de alguém ajudar a propagar seus próprios genes, ela parecerá satisfatória, o que não invalida a condição de que o medo da morte é a essência do ser.

Para que o indivíduo propague seus genes, deve primeiro possuir o interesse de sobreviver, correto?

E quem se importa com os genes??? O que me importa é a manutenção da minha consciência. Quem sabe um dia alguem consiga brecar o envelhecimento. Se fosse bilionário, usaria quase todo dinheiro para este fim.
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« Resposta #44 Online: 14 de Maio de 2007, 14:12:47 »
Quem se importa com os genes? A evolução.

Mas concordo absolutamente com você quanto a não se importar com eles. Também prefiro a manutenção da consciência; entender um processo não significa querer participar dele.

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« Resposta #45 Online: 14 de Maio de 2007, 14:15:10 »
Amon: e quem disse que, mesmo vivendo, você seria "o mesmo"? Você é a mesma pessoa hoje que ontem? Ou que a de 20 anos atrás?
Quando eu lembro como eu era aos, digamos, 10 anos de idade, sinto que existem alguns elementos em comum entre esse garoto e eu,
mas também enormes diferenças. Talvez a própria idéia de um EU que permanece seja uma ilusão...


[momento metafísico - é eu também tenho direito :hihi:]
Pessoalmente, acredito que a idéia de um tempo que "flui" é uma ilusão:
todos os momentos existem, num sentido bem concreto. Em vez de pensar no
indivíduo como um corpo que nasce, evolui no tempo, e morre, prefiro ficar com
a imagem de uma espécie de escultura, feita de tempo e espaço, eterna.
[momento off]
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« Resposta #46 Online: 14 de Maio de 2007, 14:22:12 »
Amon: e quem disse que, mesmo vivendo, você seria "o mesmo"? Você é a mesma pessoa hoje que ontem? Ou que a de 20 anos atrás?
Quando eu lembro como eu era aos, digamos, 10 anos de idade, sinto que existem alguns elementos em comum entre esse garoto e eu,
mas também enormes diferenças. Talvez a própria idéia de um EU que permanece seja uma ilusão…


[momento metafísico - é eu também tenho direito :hihi:]
Pessoalmente, acredito que a idéia de um tempo que "flui" é uma ilusão:
todos os momentos existem, num sentido bem concreto. Em vez de pensar no
indivíduo como um corpo que nasce, evolui no tempo, e morre, prefiro ficar com
a imagem de uma espécie de escultura, feita de tempo e espaço, eterna.
[momento off]

É o mesmo produto da evolução da consciência. O que não me importa, então, é o fim deste processo. Eu quero que ele continue, que este EU continue no seu processo de evolução da consciência. O que importa é esta percepção do EU, por mais que a gente vá cada vez mais adotando novos conceitos e se "alterando", mas ainda sou eu. A noção do EU é que importa, de eestar no controle de mim mesmo e me auto-alterando como convém.
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« Resposta #47 Online: 14 de Maio de 2007, 14:23:46 »
Quem se importa com os genes? A evolução.

Mas concordo absolutamente com você quanto a não se importar com eles. Também prefiro a manutenção da consciência; entender um processo não significa querer participar dele.



A evolução sim, embora inconscientemente. Mas como eu tenho consciência posso argumentar: "primeiro EU depois ela". rs.
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« Resposta #48 Online: 14 de Maio de 2007, 14:24:45 »
Não encarem isto como ataque "ad hominem", apenas para efeitos de estudo de opiniões relativas ao medo da morte de acordo com a idade e prole.

Vou começar:

Tenho 24 anos, nenhum filho e possuo um medo muito grande da morte.

Por favor, participem, penso ser interessante.
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« Resposta #49 Online: 14 de Maio de 2007, 14:26:11 »
Não encarem isto como ataque "ad hominem", apenas para efeitos de estudo de opiniões relativas ao medo da morte de acordo com a idade e prole.

Vou começar:

Tenho 24 anos, nenhum filho e possuo um medo muito grande da morte.

Por favor, participem, penso ser interessante.

Igual você mas tenho 22 anos.
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

 

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