Huxley, o modo como penso é o seguinte: com uma economia mais liberal, menos serviços prestados pelo estado, e, em conseqüência muito menos impostos, o poder aquisitivo da população subiria consideravelmente. Inclusive para comprar a cesta básica que você citou. Não seria só o salário do cidadão desqualificado que iria cair (se este tiver a sorte de ter um emprego). As suas despesas também.
Se você admite que o salário mínimo pode ficar "acima do nível de mercado", você está dizendo implicitamente que a curva de demanda por trabalho da função do equilíbrio do mercado de trabalho é "negativamente inclinada", tal como ocorre numa mercadoria normal.Porque você acha que uma mercadoria comumente fica mais barata quando seu custo de produção diminui (choque de oferta favorável)? Isso não é uma conclusão minha, nem "malabarismo retórico" como argumentaram anteriormente.É uma conclusão matemática do modelo de mercado de trabalho dos monetaristas e neoricardianos.Eles admitem que a medida que a produção fica próximo do nível de pleno emprego, a produtividade marginal de cada trabalhador fica menor (o que faz a curva de demanda se inclinar negativamente) e este efeito não pode ser desprezado nem no longo prazo.Se a variável "flexibilização trabalhista" se alterar e as demais permanecerem constantes (ceteris paribus), então há queda no salário real.
E se não houvesse esse efeito da produtividade marginal decrescente?Neste caso, uma flexibilização trabalhista não traria qualquer queda no salário real no longo prazo econômico (LP descreve o que ocorre na economia em aproximadamente 10 anos) ,porque teríamos "retornos constantes do trabalho".Mas aí não haveria como o salário real ficar "acima do nível de mercado".Não estou com paciência para explicar de novo porque isso ocorreria, mas posso garantir que neste modelo, o preço da "mercadoria trabalho" depende apenas das decisões de formação de preço dos capitalistas.
Você diz que o trabalhador desqualificado provavelmente ganharia um salário bem abaixo do preço da cesta básica, e o que temos agora? O empregador reluta em contratá-lo porque seu serviço não vale o salário mínimo. E se o contrata, acaba por não contratar outros.
Eu nem citei o Brasil especificamente.Eu falei em PAÍS SUBDENSEVOLVIDO E POBRE.Por exemplo, para praticamente qualquer país da África subsaariana, existe um salário mínimo (regulado ou "implícito) que desestimularia o emprego formal e empurraria o trabalhador de baixa escolaridade para o subemprego, que é a mesma coisa que desemprego.Desemprego involutário em país subdesenvolvido e com baixa renda por habitante, existe INDEPENDENTEMENTE de haver ou não mercado de trabalho flexível.
Outra coisa.O salário mínimo que fica “acima do nível de mercado” é o SALÁRIO NOMINAL, não o salário real.Os capitalistas, de fato, CONTROLAM O SALÁRIO REAL!Como já disse antes:
"Quando falamos em 'salário', o que importa é o nível de salário real.Salário real é o quociente do nível de salário nominal (W) pelo nível geral de preços (P).No médio e longo prazo macroeconômico, o salário real depende APENAS das decisões de formação de preço dos capitalistas."
Claro, os capitalistas podem repassar o efeito do salário mínimo nominal "artificialmente elevado" para os preços e os trabalhadores nada podem fazer contra isso, nem mesmo iniciar uma corrida de indexação "salário-preço-salário-preço-etc.".Como os empregadores sabem que existe um Banco Central "casca grossa" com a inflação, eles preferem tomar a seguinte atitude: aumentam o desemprego, fator que corrói o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais, para fazerem estes "engolirem" o salário real de equilíbrio.
Veja que eu estou admitindo que encargos trabalhistas podem contribuir para a taxa de desemprego, mas acho que sei porque vocês não querem admitir que este desemprego ocorre por causa de um fenômeno muito parecido com o que Marx chamou de "estratégia do exército industrial de reserva".Afinal, aquele esquerdista burro e que "fundou" o comunismo, sempre deveria está enganado.
Não consegui entender a sua suposta refutação dada anteriormente, aliás, todo o seu post anterior está bem complicado de compreender. Sobre o argumento do salário também ser um preço, e, portanto, ser prejudicial a sua regulação pelo governo, tal qual a regulação do preço de um produto qualquer.
Na teoria,é muito bonito dizer que uma desregulamentação nos "preços" do trabalho aumentaria sua quantidade ofertada.Na prática, deve-se pensar nos efeitos disso sobre a distribuição de renda e como isso afeta o consumo agregado (e consequentemente, a demanda agregada e o nível de produção).Como já disse no meu primeiro post deste tópico, é totalmente possível um corte nos salários não gerar apenas redução dos salários de forma proporcional a queda de preços.Poderia gerar também "efeito multiplicador da renda" as avessas (o ciclo "redução no consumo-redução na demanda agregada e no emprego-redução do consumo-redução na demanda agregada e no emprego-etc.").É só ver os dois argumentos de Keynes que citei.
Eu sou a favor que a negociação de muitos aspectos dos contratos de trabalho sejam transferidos da Justiça do Trabalho para a negociação entre empresas e sindicatos.Quanto a "flexibilizar a legislação trabalhista"(um eufemismo para outro termo: redução da influência dos fatores institucionais que afetam positivamente o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais), eu também sou a favor desde que seja adotado as seguintes condições:
1-Que se mostre um estudo econométrico aplicado a economia brasileira evidenciando que o efeito de uma variação dos salários nominais sobre o consumo é estatisticamente insignificante (coisa que o economista Robert Solow fez com sucesso, num estudo aplicado a economia americana).
2-Que se faça uma reforma sindical que aumente e universalise a capacidade de mobilização e organização dos sindicatos (algo parecido com o que foi sugerido aqui:
www.econ.puc-rio.br/gfranco/Agenda%20Perdida.pdf ) para fortalecê-los nas situações de "negociações para baixo".
Quanto a condição 1, esse estudo do Banco Mundial citado pelo HSette já me deixou desanimado.
E o que temos agora no Brasil? Milhões na informalidade e nos subempregos.
Como já disse antes, desemprego involutário em país subdesenvolvido e com baixa renda por habitante, existe INDEPENDENTEMENTE de haver ou não mercado de trabalho flexível.
E não tem nada a ver com fundamentalismo de qualquer coisa. Do meu ponto de vista, poderia dizer que você é o fundamentalista do intervencionismo.
Bem, eu me referi assim a esse Rodrigo Constantino porque lembrei de um artigo em que ele dizia que o Estado é a "maior máquina geradora de desigualdade".Para mim, alguém que considera o "Estado" como sinônimo de "aquilo que atrasa o desenvolvimento" é fundamentalista.O Estado mais liberal do mundo em termos econômicos está nesta situação em igualdade de renda:
Ordem/País/Índice/10% mais ricos
a 10% mais pobres/20% mais ricos
a 20% mais pobres/Referência
ano
84 Hong Kong 43.4 17.8 9.7 1996
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_igualdade_de_riquezaEstados Unidos está na posição 74, enquanto os escandinavos (a Noruega está apenas na posição 30 no Heritage e no ranking de distribuição de renda está em sexto) e outros adeptos ricos do Welfare State lideram o ranking.
E eu não sou fundamentalista de intervencionismo, porque acredito em mercados mais do que você pensa.Só acho que os países devem alterar ciclos de reformas liberais com ciclos de redistribuição de renda.Para países que nunca ou quase nunca fizeram a segunda coisa, como o Brasil, não é válido adiar o crescimento econômico com justiça social.