O ateísmo como uma religião oficial do estado matou tanto quanto o cristianismo.
Só que o cristianismo não teve a indústria moderna da guerra em seu poder ... se tivesse sei não hein ... imagine nas cruzadas ou na reforma com tanques, armas químicas e até nucleares ...
Se de alguma forma tentam associar os massacres de regimes comunistas ao seu caráter ateu (eu acho exagerado), o mesmo poderia se tentar associar os estimados em mais de 10 ou 15 milhões (li isso em algum lugar) de ameríndios mortos desde Colombo pelas nações cristãs européias (tb acho exagerado).
Eu acho que a tendência psicológica natural do ser humano de autoritarismo, punição rigorosa, até genocídio dos inimigos e diferentes é o fator determinante. Muitas crianças são más por natureza, o aprendizado social é que corrige um pouco.
O fato dos estados totalitários tipo soviéticos terem sido tão assassinos não se deveu ao seu ateísmo , mas ao totalitarismo , à concepção de que existe uma forma única e correta de organização da sociedade ( seja em base étnica , como no nazismo , seja em classe social , como no estalinismo) que faz com que os que não se enquadrem no padrão sejam considerados inimigos e , portanto , passíveis de eliminação. O totalitarismo , seja no molde nazista , seja no molde estalinista , se caracteriza por uma racionalização assassina e impiedosa , onde os seres humanos só existem enquanto membros dos grupos previamente considerados como "naturais" constituintes da sociedade. Assim os não-proletários eram inimigos e passíveis de eliminação apenas por não serem membros de um determinado grupo social , independente de qualquer ato que tenham praticado ( na URSS , especialmente no período estalinista , ser familiar de um condenado tornava-se um estigma que tinha que ser apagado com frequentes reafirmações de lealdade ao regime e rompimento com o condenado , mas mesmo assim persistia a desconfiança).
Já eu gostei do vídeo 1 quanto ele descreve a União Soviética como capitalismo de estado, se adequando ao conceito dos teóricos marxistas mais atuais. E filtrando o despudorado fanatismo de direita do vídeo, este contém muita informação útil. Gostei de todos.
Os teóricos marxistas atuais defendem a tese de que a extinta URSS e seus (então) países satélites da Cortina de Ferro praticavam um "capitalismo de estado" e não o marxismo por pura ideologia, pois considerar isto factível é o mesmo que aceitar a frase dos teístas cristãos quando eles dizem: "Ahh, o indivíduo X, que é um assassino, não é cristão porque ele não agiu como Cristo".
Na verdade Geo a concepção da URSS ( e demais países "socialistas") serem um "capitalismo de Estado " remonta há quase 70 anos
A grande questão que surgiu após a consolidação da URSS ( mas que já era levantada dedes a Revolução de Outubro) era qual a natureza do regime lá instalado.
Para o establishment soviético ( e todos os PCs) a URSS era socialista porém ela em nada se adequava às (poucas) indicações que Marx avançara quanto às características de uma sociedade socialista: o Estado em lugar de deperecer se reforçava , os trabalhadores não detinham o poder político direto nem tinham canais autnomos de atuação ( tudo se dava através de um partido único), a liberdade individual era reduzida e não aumentada. A resposta que os teóricos soviéticos davam á estes questionamentos era que os que questionavam se baseavam em pura teoria e o que havia no bloco soviético era o "socialismo realmente existente" ( o fato de que os questionamento se baseavam no própio Marx era convenientemente esqucido...).
No campo do marxismo não soviético ( que frequentemente também era anti-soviético) surgiram dois modelos explicativos para a situação real da URSS não corresponder ao que se esperava de um país socialista ( ambos negando o caráter socialista da URSS) : o modelo de
"Estado Operário Burocraticamente Degenerado" , formulado por Trotsky após 1933 e desenvolvido por outros teóricos como Ernest Mandel e o modelo de "Capitalismo de Estado" que surge na também na década de 30 ( mas com maior divulgação na a partir dos 50) , tendo como proponente Anton Ciliga , Anton Pannekoek e , dentro do trotskismo , Tony Cliff.
O argumento de Trotsky é que a URSS é um Estado Operário , onde a lei de valor do capitalismo não mais é válida ( não existe a mais-valia) , porém o poder político foi usurpado por uma casta ( e não classe social) burocrática em virtude do atraso econômico e do isolamento da revolução ; como tarefa propõe a luta por uma revolução política em que a burocracia seja retirada do poder e este retorne aos trabalhadores através de organismos de classe livres ( sovietes).
O argumento do Capitalismo de Estado sustenta que , embora o Estado tenha assumido o controle da economia , a sua casta dirigente se tornou uma nova classe dirigente controlando e se apropiando da mais-valia dos trabalhadores; esta nova classe age através do Estado que atua como instrumento de uma relação capitalista com os trabalhadores , oprimindo-os e dominando-os.
O modelo de Capitalismo de Estado foi reforçado após o desmantelamento da URSS ( daí alguns outros teóricos marxistas o terem adotado) em virtude do fato de que não houve mudanças significativas das classes dirigentes da economia ( e da política) entre a era soviética e pós-soviética; os dirigentes de empresas estatais nas diversas repúblicas rapidamente se mantiveram no comando da nova economia capitalista , esta transição pouco traumática em comparação com o ocorrido na Revolução de Outubro é invocada como demonstração de que o que houve foi um rearranjo entre formas de capitalismo e não uma restauração capitalista.
Interessante é que em todas as discussões sobre a natureza do regime soviético entre seus críticos nenhum se atentou para a conclusão pessimista de suas análises: se mesmo partidos e indivíduos conscientemente dedicados a realizar uma revolução socialista só conseguiram criar Estados operários degenerados ou Estados de capitalismo estatal a própia concepção de revolução de Marx é que está em cheque.