Os assuntos tratados nos jornais e revistas muitas vezes tem boa qualidade e tem grandes nomes da área acadêmica. Esta é a discussão sadia e produtiva da área que contribui para a sua divulgação. O que digo é que uma área é tratada como científica e a outra de maneira diversa. É muito mais fácil uma publicação selecionar textos e reportagens de acordo com a sua ideologia do que os textos tradicionais de ciência. Esses são geralmente neutros.
Mas em nada isso impede que se publiquem textos de divulgação. Há publicações variadas, com diferentes ideologias, cada autor que publique na que julgar mais adequada.
E se uma área é tratada como científica e a outra não, é por quê ciência é independente de ideologia, de posicionamento político. Como você mesmo colocou não é isso que ocorre com as "ciências sociais".
As diversas ideologias que embasam as diferentes ramificações teóricas nas ciências humanas devem ser considerados válidos e respeitados de forma democrática. A não concordância com uma ideologia significa que temos outra, que também pode ser vista como errada. Esse texto tem uma visão de esquerda, e tem que ser considerado assim, como uma crítica ao capitalismo proposta na área de ensino da matemática. Essa é a complexidade existente, e por isso se fala de relativismo nas áreas de humanas. Algo impensável na análise da natureza, que é muito mais objetiva, pois não somos sujeitos dessa análise.
A matemática
é (e seu ensino responsável deveria ser) isenta(o) de ideologia.
Mas a questão que quis levantar não é nem a ideológica. Coloquei essa tese em particular por que estava mais fácil de encontrar, mas a intenção era apresentar exemplos de produção de parte das "ciências humanas" que, além de vazios, mal deixam os muros do instituto onde são gerados e defendidos. Como esperar que o público dê valor a algo desprovido de sentido? Principalmente se o público nem tem acesso a esse algo para que possa avaliá-lo.
Aqui fica o contraste dessas ciências, pois uma depende da divulgação perante o público e a outra depende do domínio político das instituições de poder para a prática de seus ideais teóricos. Com isso vale mais o emprego de técnicas publicitárias eleitorais, com a informação daquilo que se acredita ser positivo e que tem melhor aceitação pelo público, que nesse caso se tornam eleitores. O PT tem seus grandes intelectuais, o PSDB teve o próprio ex-presidente como um grande nome na área sociológica.
A prática de políticas econômicas e sociais são feita pelo governo através do poder político. Por isso existe um distanciamento das ciências para a prática, embora muitas vezes estejam relacionados com a teoria influenciando a prática, como os grandes nomes do banco central, que cuidam das bases econômicas do país. O STJ também é compostos por magistrados renomados na área jurídica.
Mas agora você mudou de assunto... se a questão é o valor das "ciências sociais" em geral (ou seja não apenas de uma ou outra corrente delas) perante o público, como vínhamos discutindo até agora, em que isso depende do domínio político das instituições? As "ciências sociais" podem divulgar suas teorias ao grande público independente da ideologia no poder, para isso há a liberdade de expressão. E se elas pretendem ter o valor que atribuem a si mesmas reconhecido pelo grande público, é isso mesmo que devem fazer.
A aplicação prática de determinados "ideais teóricos"(?), só pode influir na avaliação pelo público do valor das "ciências" que os estudam se for dado ao público conhecimento da aplicação e de seus resultados, ou seja, divulgando-os.
Isso me lembra o trabalho do Eduardo Giannetti, esse novo livro dele é perfeito nesse sentido, de expandir os conceitos da economia para além da questão monetária, do dinheiro. Apesar de não ter lido vi alguns vídeos dele sobre o livro.
Mas não vejo nesse sentido de divulgação, pois as ciências naturais, como a física, a biologia e a química, tem a sua reputação e qualidade pelos seus avanços conseguidos. Penso ser necessário muita divulgação científica ainda, de maneira geral.
Antes de tudo, suponho que você esteja falando de "O valor do amanhã". Li o livro e gostei muito. Aliás, se você gostou, sugiro um outro livro chamado "Freakonomics" que também procura expandir o âmbito da análise econômica.
E mais, considero esses dois livros bons exemplos do que venho falando aqui: Um gerou um quadro do fantástico, outro uma coluna num jornal americano. Ou seja, ao divulgarem esses assuntos para os leigos de forma acessível, ao mostrarem que a economia é um assunto muito interessante e válido ambos os autores geraram interesse, valorização e debates em sua área.
O valor dado às ciências naturais deve-se sim ao desenvolvimento técnico com o qual o público tem contato, mas também ao fato de que esses avanços são trazidos à público, divulgados, explicados (não tão bem quanto deveriam, porém). Do contrário, como se explica o interesse em áreas quase que puramente teóricas e altamente especulativas como quântica, cosmologia, genética... (entre outras)?
Não é isso que vejo, o que não quer dizer que não esteja acontecendo. Quer dizer apenas que falta aos "cientistas sociais" descer de suas torres de marfim e mostrar ao público leigo o que estão fazendo, e como estão fazendo, de forma acessível. Como fizeram físicos, biólogos, astrônomos, matemáticos, químicos, médicos (e até alguns economistas) entre outros.
Concordo que haja essa necessidade, mas penso ser de uma maneira geral, pois a ciência ainda tão tem o seu devido reconhecimento, diante de todos os avanços já obtidos.
Sim, sem dúvida a divulgação científica ainda precisa melhorar muito, e ainda mais, a educação científica precisa melhorar enormemente (assim como a educação nas humanidades).
Mas, se como você falou, as ciências naturais gozam de algum prestígio a mais que as "ciências sociais" é em parte por que pelo menos alguns de seus cientistas pararam de choramingar da falta de interesse nas ciências naturais, deram a cara pra bater e foram conquistar o interesse do público. As "ciências sociais" só tem a ganhar se fizerem o mesmo.
O método científico como é apresentado privilegia apenas ciências naturais, devido a ênfase na experimentação laboratorial e a replicabilidade dos fenômenos. É uma metodologia excludente que toma como ciência apenas alguns ramos do conhecimento. Embora o empirismo nas ciências sociais seja buscado através de pesquisas de campo.
Ciência não é aquilo que se diz "científico" ou que reivindica esse status, é o que segue o método científico.
Se as "ciências sociais" querem ser reconhecidas como tal (e parte delas até pode ser), que sugiram uma definição ampliada ao método sem que isso acarrete em perda de objetividade e rigor (e acho muito improvável que isso aconteça). Caso contrário, contentem-se com o fato de que parte delas não é científica como definido pelo método. Isso não faz delas piores ou menos úteis do que as ciências de fato, apenas diferentes (e cabe as elas informar disso o público se quiserem ter seu valor reconhecido, independentemente de seu status epistemológico). Arte não é ciência, mas também não é ruim, nem inútil e tem seu valor reconhecido por muitos.