A questão é, na verdade, porque tantos professores de história tem uma visão de mundo tão
maniqueísta e simplória?*
*Não estou aqui pondo em dúvida a importância histórica de certas idéias marxistas ou mesmo sua
validade. O problema é quando essas idéias são distorcidas e simplificadas até se tornarem um arremedo
bizarro do original.
É MUITO DIFÍCIL transportar o que a gente aprende na academia pra molecada. Ver o que acontece com a História Nova: apesar de ser uma tentativa de fazer uma história total, ela é aplicada (QUANDO é aplicada) como uma "história temática": história dos meios de comunicação, da culinária, história dos meios de transporte, etc. E aí que que acontece?, os alunos começam a pensar que uma coisa necessariamente sucede a outra, perdem a noção de HISTORICIDADE que era o que devia estar acontecendo e o ensino fica mais POSITIVISTA e PROVA o PROGRESSO mais do que o ensino de antigamente.
É assim, penso eu, porque ainda não tá desenvolvido o MÉTODO pra ensinar a história dos novos objetos e novas abordagens hehe. O fato é que história saiu de moda, história era aquela coisa que se ensinava antigamente junto com latim e direito civil e tal, aí o mundo muda e a pessoa bem educada não é mais aquela que sabe essas coisas, mas aquela que aprende química e cálculo integral, e a coisa acaba sem coerência. Não tem um método pro ensino de história, que eu saiba, pelo menos, que atenda às demandas da sociedade pós moderna - uia!
Quanto aos índios e negros, eu tenho uma resposta legal

Primeiro que não é verdade que índio não fosse sujeito a trabalho compulsório: os aldeamentos dos jeusítas aqui na América Portuguesa não serviam só pra cristianização, mas também pra arregimentação de mão de obra, que era cedida para as obras quando eram requisitadas (e, ao que parece, cedidas mediante pagamento, que ia pros bolsos dos padres). Aldeamento foi, aliás, tentativa de impedir que eles voltassem pras suas aldeias e "esquecessem" os ensinamentos. O que era um problema muito sério e até Manoel da Nóbrega, salvo engano, escrevia montes reclamando, "a gente investe neles e aí eles voltam pra casa e voltam a fazer as superstições deles e estragam tudo", coitado.
No XVI, ainda, houve uma disputa muito séria em relação ao status dos índios: se eram gente ou não, se podiam ser escravizados ou não. Ele foi travado, principalmente, por duas pessoas: o Las Casas, que era padre e veio pra Hispaniola (salvo engano) e ganhou haciendas e tudo o mais, e um doutor europeu que chamava Sepulveda. Eles trocavam cartas e a coisa pegava fogo. No fim, o alto escalão da Igreja decidiu que os índios "eram gente" e deviam ser cristianizados e civilizados como qualquer outro povo bárbaro (mais ou menos, né, estou simpliuficando).
E, isso tudo posto e mais ou menos decidido, há que lembrar que Portugal não tinha só a América: tinha MONTES de postos de comércio na África, e na África tinha MONTES de guerra entre os nativose MONTES de prisioneiros de guerra, e eles lá dando sopa e havendo tamanha precisão de mão de obra na América.... aí enfim juntou a fome com a vontade de comer, como dizem, e os negros foram trazidos pra cá pra trabalharem nos engenhos de cana.
É mais ou menos isso. Peço desculpas pela alta vulgarização, mas eu é que não vou ficar falando de corrente historiográfica no meio do feriado. Quem quiser que tenha a bondade e PROBLEMATIZE
