Identidade não tem raça, Adriano, isso é uma ilusão. Um bebê sueco criado no japão seria
culturamente japonês. Se ele for tratado como um gaijin por seus pares isso não o tornará menos
japonês.
Agora me responda uma coisa: no caso específico desse jornalista. Ele tem amigos, gosta
de ler certos livros, ouvir certas músicas, ir a certos lugarers, ver certos filmes, etc. De repente,
ele resolve "abraçar uma identidade racial". O que ele vai fazer? Vai deixar de gostar dos filmes do
Martin Scorcese para gostar dos do Spike Lee? Deixar de gostar de Rachmanioff e Grieg para só
escutar Miles Davies e Ray Charles? Isso não faz sentido! Pensamento não tem cor. Essas divisões são, além de racistas, artificiais.
Mas não é raça, é algo cultural mesmo, o uso de etnia pode ser mais entendido nesse sentido. No seu exemplo do bebê sueco ele iria defender a cultura japonesa com afinco, devido a sua criação.
Exato! Mas esse é o meu ponto: não existe identidade racial. O que existe é identidade cultural. O jornalista
que citei não tem nada de africano nele. Tenho certeza que ele foi criado em um subúrbio de classe média
americana, comendo torta de maçã, celebrando o Halloween e Ação de Graças. É ridículo e estúpido da parte
dele achar que tem a
obrigação de "abraçar uma identidade racial", da mesma forma que o tal bebê
sueco achar que deve "abraçar" sua identidade nórdica. Isso lembra várias discussões que tive com uma
ex-namorada (canadense, negra, filha de jamaicanos) sobre o significado de "African-american".
Eu disse a ela que ela não tinha nada de africano, exceto os genes [1]. Ela não se vestia como os africanos,
não conhecia as músicas da África, não seguia ou conhecia as religiões da África, não conhecia as lendas, o
folclore, a história nem a arte da África. Sua era a típica cultura de classe média norte-americana, com
alguma influência da Jamaica (portanto, ela é mais precisamente, Jamaican-american, como sua amiga
Sarah Wong - advinha a etnia dela?

)
Assumir a identidade negra seria dar valor para uma cultura que é abandonada, deixada de lado pela sociedade.
Como citei anteriormente, o que me enojou e enoja, é a crença na obrigação de se identificar como negro
ou branco. Não me importo se ele resolve valorizar a "cultura negra" (ver [1]) ou espanhola ou armênia, da
mesma forma que não acho surpreendente que existam japoneses loucos por mulatas e escolas de samba.
[1] Sem falar de outro aspecto: não existe uma "cultura africana", existe uma cultura Banto, Xhosa, Etíope,
Masai, Zulu, etc. E os fazendeiros faziam o máximo para tentar erradicar as diferenças culturais dos seus
escravos. Na verdade, e isso deixei claro para ela, considero Mais racista se referir a um negro como
african-american do que simplesmente Black.