Autor Tópico: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?  (Lida 15308 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Online: 05 de Outubro de 2007, 14:01:40 »

Sidney Poitier, o da frente, segurando uma estatueta.

Citando o artigo "one drop rule" da wikipédia, que por sua vez cita um jornalista do Washington post, falando sobre a percepção racial no Brasil:

  • In December, 2002 the Washington Post ran a story on the one drop theory. In the reporter's opinion: "Someone with Sidney Poitier's deep chocolate complexion would be considered white if his hair were straight and he made a living in a profession. That might not seem so odd, Brazilians say, when you consider that the fair-complexioned actresses Rashida Jones of the television show "Boston Public" and Lena Horne are identified as black in the United States."

Enquanto eu acho que essas atrizes dificilmente fossem mesmo ser consideradas negras por aqui*, como são nos EUA, acho estranhíssimo, ridículo, que o Poitier fosse ser considerado branco por aqui, por esses ou quaisquer outros critérios. Só se fosse michael-jacksonizado. Inversamente, pessoas brancas e de cabelo crespo que são pobres não são consideradas negras, se é que tem algum sentido mencionar isso. Há uma discussão em torno disso na página de discussão do artigo, na WP.


* Se bem que depende. Noto uma leve tendência à assimilação dessa coisa de "abraçar a cultura/raça negra" oriunda do rap/hip-hop e movimentos negros americanos, então não me espantaria se alguém com algum antepassado não muito recente, avô ou avó negra(o) apenas, talvez se considerasse/colocasse como negro (em vez de mestiço/"multi-étnico") independentemente da cor da pele não depor muito favoravelmente à essa asserção.

Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #1 Online: 05 de Outubro de 2007, 15:54:10 »
Será que a comissão de pureza racial da UnB ia considerar a Rashida Jones negra?
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Alan Watts

Offline Alegra

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #2 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:00:44 »
Esta coisa é estranha mesmo.
Aqui na Europa (e acho que nos EUA também) são considerados negros quem não for europeu ou descendente de europeu com "misturas" noutras partes do mundo.
Incluindo mesmo pessoas muito morenas de cabelo liso como os indígenas americanos.

Acho uma bobeira porque não dá para avaliar isso só pela cor da pele. Ninguém sabe, quando olha para um branco de traços finos, se ele tem ou não alguma antiga ascendência negra...

 :?

« Última modificação: 05 de Outubro de 2007, 16:07:22 por Alegra »
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Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #3 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:10:08 »
Como raça é algo que não tem base científica, penso que nesse ponto os brasileiros estão mais
certos mesmo.

Sei que nos EUA a coisa vai além disso. Lembro de ter lido um artigo de um jornalista americano
que era filho de pai branco e mãe negra (ou vice-versa, não lembro). No artigo ele afirma que
finalmente havia decidido "abraçar" sua identidade negra, depois de sofrer por muito tempo uma
espécie de "crise de identidade racial".
E eu pensei (enojado): cumequié?! Porque (a) ele se sentiu na obrigação de
"escolher" uma identidade? (b) Que diabos de identidade racial é essa? Por acaso um negro é
essencialmente um ser humano diferente de um branco? E que história é essa de que uma certa
percentagem de genes de um certo grupo humano definir sua "identidade racial"? (c) E se ele
tivesse "escolhido ser branco", será que ele teria coragem de escrever um artigo sobre isso?
(d) E porque ele teve de escolher entre branco e negro? Se se trata de uma divisão arbitrária, porque
não escolher uma identidade azul ou verde com bolinhas amarelas?
Como eu disse, enojante. :nojo:
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Alan Watts

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #4 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:17:40 »
A identidade racial está mais dentro do conceito de etnia, que é relativo a aparência e a costumes, como nas revistas específicas. São várias características em comum.

Se é fácil ficar arrumando situações intermediárias e de difícil distinção num país miscigenado, também é muito fácil encontrar características de certas etnias, principalmente culturais.

Isso me lembra aqueles argumentos criacionistas de tentarem ver as falhas do evolucionismo ao invés de ver o que existe de fato sobre o assunto.
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Offline Alegra

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #5 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:22:56 »
Quer dizer...no fundo ele renegou o lado branco então.
Não dá para um mestiço optar só em ser uma coisa ou outra! Isso é estupidez!


Pobre raça humana... Isso de divisão de raças é também uma estupidez, se os primeiros humanos surgiram na África então somos todos negros no fundo!
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Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #6 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:28:19 »
Identidade não tem raça, Adriano, isso é uma ilusão. Um bebê sueco criado no japão seria
culturamente japonês. Se ele for tratado como um gaijin por seus pares isso não o tornará menos
japonês.

Agora me responda uma coisa: no caso específico desse jornalista. Ele tem amigos, gosta
de ler certos livros, ouvir certas músicas, ir a certos lugarers, ver certos filmes, etc. De repente,
ele resolve "abraçar uma identidade racial". O que ele vai fazer? Vai deixar de gostar dos filmes do
Martin Scorcese para gostar dos do Spike Lee? Deixar de gostar de Rachmanioff e Grieg para só
escutar Miles Davies e Ray Charles? Isso não faz sentido! Pensamento não tem cor. Essas divisões são, além de racistas, artificiais.
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Alan Watts


Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #8 Online: 05 de Outubro de 2007, 16:45:24 »
Eu acho engraçado isso da regra de "uma gota" valer só para tornar a descendência negra e não branca. Me lembrei do supremacista branco negro do David Chapelle :D

Nigh†mare

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #9 Online: 05 de Outubro de 2007, 17:24:57 »
Caramba, quando eu olho gente eu vejo gente (se bem que, olhando grande muitidões despersonalizadas o que eu vejo mesmo são peixes fazendo glub-glub), mas, no convívio social, no trabalho, nas festas, eu só vejo pessoas, só percebo que são negros, ou brancos, ou nipônicos, ou o que seja, quando alguém afirma que o são; a muito custo eu descrevo alguém pela etnia.

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #10 Online: 05 de Outubro de 2007, 19:38:37 »
Identidade não tem raça, Adriano, isso é uma ilusão. Um bebê sueco criado no japão seria
culturamente japonês. Se ele for tratado como um gaijin por seus pares isso não o tornará menos
japonês.

Agora me responda uma coisa: no caso específico desse jornalista. Ele tem amigos, gosta
de ler certos livros, ouvir certas músicas, ir a certos lugarers, ver certos filmes, etc. De repente,
ele resolve "abraçar uma identidade racial". O que ele vai fazer? Vai deixar de gostar dos filmes do
Martin Scorcese para gostar dos do Spike Lee? Deixar de gostar de Rachmanioff e Grieg para só
escutar Miles Davies e Ray Charles? Isso não faz sentido! Pensamento não tem cor. Essas divisões são, além de racistas, artificiais.

Mas não é raça, é algo cultural mesmo, o uso de etnia pode ser mais entendido nesse sentido. No seu exemplo do bebê sueco ele iria defender a cultura japonesa com afinco, devido a sua criação.

Assumir a identidade negra seria dar valor para uma cultura que é abandonada, deixada de lado pela sociedade. O fato é considerar uma cultura dominante e outra mais a margem. Dar valor a essa que está a margem não necessita abandonar a dominante, alias nem tem como. É assim que eu entendo, são pessoas que buscam dar valor a certa cultura negligenciada.
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Offline Worf

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #11 Online: 05 de Outubro de 2007, 20:49:47 »
Vou dar valor à cultura dos botocudos. Será que consigo vaga na UnB? É só colocar um píres nos meus lábios...

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #12 Online: 05 de Outubro de 2007, 21:28:35 »
Cultura não é conseguir vaga. Se buscar entender a cultura afro vai entender melhor o motivo das cotas.
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Offline Pregador

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #13 Online: 05 de Outubro de 2007, 21:48:24 »
Cultura não é conseguir vaga. Se buscar entender a cultura afro vai entender melhor o motivo das cotas.

Quanto mais você entender e estudar mais repugnância vai sentir sobre estas ações afirmativas...
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Worf

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #14 Online: 05 de Outubro de 2007, 22:02:00 »
Cultura não é conseguir vaga. Se buscar entender a cultura afro vai entender melhor o motivo das cotas.
Meu pai é negro, serve? Minha mãe descende de índios e portugueses. Preciso buscar entender a "cultura" deles pra conseguir uma vaga na UnB? Ou pra justificar a existência das cotas?

Offline BetinhOzinhO

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #15 Online: 05 de Outubro de 2007, 23:10:29 »
Eu achava que "branco" BRANCO mesmo, do jeito que os americanos dizem, era gente CAUCASÓIDE! Não tem aquela divisão, caucasóides, negróides, mongolóides (horrível isso!!!), etc? Então, o "branco brasileiro" era simplesmente o mestiço de pele clara, pra mim, ou de pele menos escura e cabelo liso. Eu sou considerado um rapaz "branquinho" mas sei que não sou CAUCASÓIDE, sou um mestiço de pele clara e cabelo mais ou menos, o fato da minha pele ser clara não muda o fato de que é só eu me olhar no espelho pra ver meus genes negróides no formato do meu crânio e nas minhas feições entre o nariz e a base do pescoço, eu tenho um pescoço com pomo de adão proeminente e parte traseira curvada pra "dentro", além do crânio um pouco mais longo do que eu gostaria, com uma leve proeminência atrás, são traços bem típicos de muitos negros baianos, imagino que sejam da etnia africana traficada pra cá, não sei o nome.

Eu: http://www.agitoshow.com.br/foto/photos/madonna_forever/madonna_forever_000023.jpg

Eu sempre tive muita dificuldade de aceitar todos os meus traços negros, eu QUERIA MUITO ser "branco"... no sentido de ser mais propriamente caucasóide, ser mais fisicamente próximo das pessoas brancas do que eu sou, mas de uns tempos pra cá aprendi a me aceitar melhor. Eu sempre achei que homens brancos propriamente caucasóides eram mesmo os mais bonitos, felizes, bem-sucedidos, interessantes e populares: cabelos lisos, traços brancos sem aparentar miscigenação, PARTE DE TRÁS DO CRÂNIO SEM PROEMINÊNCIAS, etc, mas depois eu me toquei: que jeio há???? Esses não são os tipos de coisas que plásticas mudam!!

Hoje em dia posso dizer que GOSTO de ser MESTIÇO: misturar é gostoso!! Até meus gostos e opiniões são "mestiços" e que sejam assim. Mas não sou hipócrita a ponto de dizer que não sou grato por ser um mestiço de pele clara: ter a pele escura fecha muuuuuuuuuuuuuuitas portas no Brasil e ter a pele clara abre muuuuuuuuuuuuitas portas em Salvador. Eu não sou forte o suficiente pra passar incólume por eventuais discriminações raciais, já basta ser gay.
O GOOGLE NÃO É SEU AMIGO! HAHAHAHHOHOHOHO! http://www.google-watch.org/

Offline Dr. Manhattan

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #16 Online: 06 de Outubro de 2007, 10:50:04 »
Identidade não tem raça, Adriano, isso é uma ilusão. Um bebê sueco criado no japão seria
culturamente japonês. Se ele for tratado como um gaijin por seus pares isso não o tornará menos
japonês.

Agora me responda uma coisa: no caso específico desse jornalista. Ele tem amigos, gosta
de ler certos livros, ouvir certas músicas, ir a certos lugarers, ver certos filmes, etc. De repente,
ele resolve "abraçar uma identidade racial". O que ele vai fazer? Vai deixar de gostar dos filmes do
Martin Scorcese para gostar dos do Spike Lee? Deixar de gostar de Rachmanioff e Grieg para só
escutar Miles Davies e Ray Charles? Isso não faz sentido! Pensamento não tem cor. Essas divisões são, além de racistas, artificiais.

Mas não é raça, é algo cultural mesmo, o uso de etnia pode ser mais entendido nesse sentido. No seu exemplo do bebê sueco ele iria defender a cultura japonesa com afinco, devido a sua criação.
Exato! Mas esse é o meu ponto: não existe identidade racial. O que existe é identidade cultural. O jornalista
que citei não tem nada de africano nele. Tenho certeza que ele foi criado em um subúrbio de classe média
americana, comendo torta de maçã, celebrando o Halloween e Ação de Graças. É ridículo e estúpido da parte
dele achar que tem a obrigação de "abraçar uma identidade racial", da mesma forma que o tal bebê
sueco achar que deve "abraçar" sua identidade nórdica. Isso lembra várias discussões que tive com uma
ex-namorada (canadense, negra, filha de jamaicanos) sobre o significado de "African-american".
Eu disse a ela que ela não tinha nada de africano, exceto os genes [1]. Ela não se vestia como os africanos,
não conhecia as músicas da África, não seguia ou conhecia as religiões da África, não conhecia as lendas, o
folclore, a história nem a arte da África. Sua era a típica cultura de classe média norte-americana, com
alguma influência da Jamaica (portanto, ela é mais precisamente, Jamaican-american, como sua amiga
Sarah Wong - advinha a etnia dela? :) )

Assumir a identidade negra seria dar valor para uma cultura que é abandonada, deixada de lado pela sociedade.
Como citei anteriormente, o que me enojou e enoja, é a crença na obrigação de se identificar como negro
ou branco. Não me importo se ele resolve valorizar a "cultura negra" (ver [1]) ou espanhola ou armênia, da
mesma forma que não acho surpreendente que existam japoneses loucos por mulatas e escolas de samba.

[1] Sem falar de outro aspecto: não existe uma "cultura africana", existe uma cultura Banto, Xhosa, Etíope,
Masai, Zulu, etc. E os fazendeiros faziam o máximo para tentar erradicar as diferenças culturais dos seus
escravos. Na verdade, e isso deixei claro para ela, considero Mais racista se referir a um negro como
african-american do que simplesmente Black.
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Alan Watts

Offline Dbohr

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #17 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:19:13 »
Eu não acredito em distinções de raça. Eu acredito em distinções culturais. Concordo integralmente com o que o Manhattan afirmou. Admito que eu e ele tenhamos um referencial privilegiado, mas isso não invalida a colocação.

Isso posto, sei perfeitamente bem que o negro é discriminado simplesmente por ser negro. Isso está lentamente mudando, mas ainda acontece um bocado, especialmente se o negro for pobre.

Sou simpático à idéia de cotas sócio-econômicas (i.e., não raciais) e sou mais simpático ainda ao investimento pesado na educação de base pública, gratuita e de qualidade. Os números divulgados sobre a performance dos cotistas parece ser bastante positivo - e acredito que o contato com outras classes sociais pode ser bastante positivo. Admito livremente que não sei qual foi a metodologia usada, e portanto, que os resultados podem não corresponder à realidade. Mas eu quero crer que o estudo foi isento.

Offline Adriano

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #18 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:19:52 »
Cultura não é conseguir vaga. Se buscar entender a cultura afro vai entender melhor o motivo das cotas.

Quanto mais você entender e estudar mais repugnância vai sentir sobre estas ações afirmativas...
Eu estou estudando e estou achando muito interessante, apaixonante. Mas bem diferente do comentário eu procuro ver em termos de sociedade e não de um privilégio pessoal apenas.

Cultura não é conseguir vaga. Se buscar entender a cultura afro vai entender melhor o motivo das cotas.
Meu pai é negro, serve? Minha mãe descende de índios e portugueses. Preciso buscar entender a "cultura" deles pra conseguir uma vaga na UnB? Ou pra justificar a existência das cotas?
Pra justificar as cotas sim, pois só é possível entender num contexto social mais amplo. Já a sua análise de conseguir uma vaga na UnB é de um pondo de vista individual. Está buscando ver o que é o melhor apenas com base no momento presente e para si apenas. Essa é a impressão que tenho com a frase "será que eu consigo vaga na UnB?"

Identidade não tem raça, Adriano, isso é uma ilusão. Um bebê sueco criado no japão seria
culturamente japonês. Se ele for tratado como um gaijin por seus pares isso não o tornará menos
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ele resolve "abraçar uma identidade racial". O que ele vai fazer? Vai deixar de gostar dos filmes do
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escutar Miles Davies e Ray Charles? Isso não faz sentido! Pensamento não tem cor. Essas divisões são, além de racistas, artificiais.

Mas não é raça, é algo cultural mesmo, o uso de etnia pode ser mais entendido nesse sentido. No seu exemplo do bebê sueco ele iria defender a cultura japonesa com afinco, devido a sua criação.
Exato! Mas esse é o meu ponto: não existe identidade racial. O que existe é identidade cultural. O jornalista
que citei não tem nada de africano nele. Tenho certeza que ele foi criado em um subúrbio de classe média
americana, comendo torta de maçã, celebrando o Halloween e Ação de Graças. É ridículo e estúpido da parte
dele achar que tem a obrigação de "abraçar uma identidade racial", da mesma forma que o tal bebê
sueco achar que deve "abraçar" sua identidade nórdica. Isso lembra várias discussões que tive com uma
ex-namorada (canadense, negra, filha de jamaicanos) sobre o significado de "African-american".
Eu disse a ela que ela não tinha nada de africano, exceto os genes [1]. Ela não se vestia como os africanos,
não conhecia as músicas da África, não seguia ou conhecia as religiões da África, não conhecia as lendas, o
folclore, a história nem a arte da África. Sua era a típica cultura de classe média norte-americana, com
alguma influência da Jamaica (portanto, ela é mais precisamente, Jamaican-american, como sua amiga
Sarah Wong - advinha a etnia dela? :) )
O conceito de etnia, que são chamados no Brasil como raça, não é apenas cultural nos costumes e tradições. É buscado relacionar os traços físicos de uma determinada comunidade. Por exemplo os cabelos crespos dos negros que são bem característicos. São traços em comum e estão sendo mais valorizados do que ser simplesmente tratado como cabelo "ruim", como já foi.

Nada impede dessas pessoas de origem diferente, com traços físicos diferente, que poder ser discriminadas culturalmente, mesmo que não sejam socialmente mas devido a diferença física mais marcante, procurem suas origens e venham dar valor a uma cultura delas, a respeito desses traços físicos. E valorizar um cultura não é desvalorizar outra. Uma contribui para a outra formando uma cultura mais ampla a de uma país ou a cultura humana.

Assumir a identidade negra seria dar valor para uma cultura que é abandonada, deixada de lado pela sociedade.
Como citei anteriormente, o que me enojou e enoja, é a crença na obrigação de se identificar como negro
ou branco. Não me importo se ele resolve valorizar a "cultura negra" (ver [1]) ou espanhola ou armênia, da
mesma forma que não acho surpreendente que existam japoneses loucos por mulatas e escolas de samba.
Não vejo obrigação nenhuma nessas questões. Considero que é uma alternativa muito criativa para vencer a discriminação social, buscando fortalecer uma cultura étnica.

Engraçado que para fazer piadinha todo mundo reconhece a existência de estereótipos étnicos. Como podemos ser a favor do humor então nesses casos? Se as diferenças existem temos é que respeita-las e admira-las.
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Offline Alegra

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #19 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:38:16 »
Hoje em dia posso dizer que GOSTO de ser MESTIÇO: misturar é gostoso!! Até meus gostos e opiniões são "mestiços" e que sejam assim. Mas não sou hipócrita a ponto de dizer que não sou grato por ser um mestiço de pele clara: ter a pele escura fecha muuuuuuuuuuuuuuitas portas no Brasil e ter a pele clara abre muuuuuuuuuuuuitas portas em Salvador. Eu não sou forte o suficiente pra passar incólume por eventuais discriminações raciais, já basta ser gay.

 :ok: Concordo contigo.  Ter a pele clara facilita MUITO mesmo! E não é só aí no Brasil não!

Eu sou misturada também tenho a pele muito branca e o cabelo bem escuro e dá um jeitão aqui em Portugal, mas adoro mais ainda quando um racista está a meu lado num lugar qualquer aqui e começa a falar disparates tipo "esses pretos deviam voltar para o país deles" ou "os pretos são preguiçosos" ou coisa pior  achando que eu sou portuguesa, e quando eu abro a boca com meu sotaque brazuca e os chamo de racistas é ótimo ver a cara deles!!!  :lol:

Só não entendo uma coisa: se os portugueses e espanhóis têm ascendência árabe e os árabes aqui são considerados pretos, então porque tanto preconceito com a miscigenação??   :?



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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #20 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:41:51 »
Caramba, quando eu olho gente eu vejo gente (se bem que, olhando grande muitidões despersonalizadas o que eu vejo mesmo são peixes fazendo glub-glub), mas, no convívio social, no trabalho, nas festas, eu só vejo pessoas, só percebo que são negros, ou brancos, ou nipônicos, ou o que seja, quando alguém afirma que o são; a muito custo eu descrevo alguém pela etnia.

O que é um pouco por tabu até. Geralmente as pessoas não tem receio em descrever que alguém, branco, tem cabelo preto, castanho, loiro ou ruivo; que tem uma altura mais alta ou mais baixa. Quando a coisa fica "mais" racial, aí parece que há um receio em ser ofensivo/racista.

Mas esses rótulos raciais surgem de qualquer forma, independentemente das pessoas verem outras pessoas e não raças (da mesma forma como vêem pessoas e não altos, médios ou baixos, não necessariamente considerando qualquer um "menos gente" que outro), e eventualmente discussões sobre racismo em si.
 
E daí surgem discussões sobre a "dominância branca" em alguns meios. É comum dizerem que há muito mais brancos que negros na tv brasileira; se o critério de "branco" no Brasil é qualquer um que não for um "negro puro", podendo até o Chuck Berry (pelo cabelo alisado) ser "branco", então isso seria uma afirmação extremamente falaciosa.

Mas pela nossa capacidade de percepção não é bem assim, não é apenas uma relativa desproporção de "negros puros", mas de diversos graus de miscigenação. O que por outro lado também não evidencia necessariamente racismo, de qualquer forma, já que a desproporção deve ser de pessoas de origem mais pobre de modo geral.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #21 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:48:21 »
Citar
PARTE DE TRÁS DO CRÂNIO SEM PROEMINÊNCIAS, etc, mas depois eu me toquei: que jeio há???? Esses não são os tipos de coisas que plásticas mudam!!
Isso, pelo que eu sei, não é exatamente racial, é mais característica de sexo. Os crânios masculinos são todos meio acidentados, e os femininos mais arredondados, e ouvi dizer que até mais lisos, em vez de ásperos. Fiquei feliz em saber disso recentemente, achava que eu tinha tomado um monte de tombos dos quais nem me lembrava, mas é mero produto hormonal normal... :D

Offline Alegra

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #22 Online: 06 de Outubro de 2007, 11:55:55 »
Citar
PARTE DE TRÁS DO CRÂNIO SEM PROEMINÊNCIAS, etc, mas depois eu me toquei: que jeio há???? Esses não são os tipos de coisas que plásticas mudam!!
Isso, pelo que eu sei, não é exatamente racial, é mais característica de sexo. Os crânios masculinos são todos meio acidentados, e os femininos mais arredondados, e ouvi dizer que até mais lisos, em vez de ásperos. Fiquei feliz em saber disso recentemente, achava que eu tinha tomado um monte de tombos dos quais nem me lembrava, mas é mero produto hormonal normal... :D

Uhn...eu acho que é racial sim. Reconheço logo um homem de países do leste europeu aqui, eles têm a parte de trás da cabeça achatada. É engraçado isso.

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #23 Online: 06 de Outubro de 2007, 12:10:58 »
Caramba, quando eu olho gente eu vejo gente (se bem que, olhando grande muitidões despersonalizadas o que eu vejo mesmo são peixes fazendo glub-glub), mas, no convívio social, no trabalho, nas festas, eu só vejo pessoas, só percebo que são negros, ou brancos, ou nipônicos, ou o que seja, quando alguém afirma que o são; a muito custo eu descrevo alguém pela etnia.
O que é um pouco por tabu até. Geralmente as pessoas não tem receio em descrever que alguém, branco, tem cabelo preto, castanho, loiro ou ruivo; que tem uma altura mais alta ou mais baixa. Quando a coisa fica "mais" racial, aí parece que há um receio em ser ofensivo/racista.

Mas esses rótulos raciais surgem de qualquer forma, independentemente das pessoas verem outras pessoas e não raças (da mesma forma como vêem pessoas e não altos, médios ou baixos, não necessariamente considerando qualquer um "menos gente" que outro), e eventualmente discussões sobre racismo em si.
 
E daí surgem discussões sobre a "dominância branca" em alguns meios. É comum dizerem que há muito mais brancos que negros na tv brasileira; se o critério de "branco" no Brasil é qualquer um que não for um "negro puro", podendo até o Chuck Berry (pelo cabelo alisado) ser "branco", então isso seria uma afirmação extremamente falaciosa.

Mas pela nossa capacidade de percepção não é bem assim, não é apenas uma relativa desproporção de "negros puros", mas de diversos graus de miscigenação. O que por outro lado também não evidencia necessariamente racismo, de qualquer forma, já que a desproporção deve ser de pessoas de origem mais pobre de modo geral.
Não é por tabu que eu custo a descrever alguém pela etnia; pelo contrário; é porque eu demoro a perceber que existem etnias; a cor da pele é a última coisa que costumo notar. Vou dar um exemplo: lá no meu estágio só havia uma pessoa negra trabalhando (eu custei a perceber o "contraste"); quando alguém procurava por ela, eu descrevia como sendo bonita, de estatura média e com cabelos compridos; não raro, eu dizia "está usando uma blusa na cor X"; certo é que eu poderia dizer "é negra" e, aí, não haveria como a pessoa não identificar; mas a cor de pele, quando noto, se noto, é a última coisa que noto em alguém, não por tabu, mas por, sei lá, "programação visual".

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Sidney Poitier, se tivesse cabelo "liso", seria branco, no Brasil?
« Resposta #24 Online: 06 de Outubro de 2007, 12:23:16 »
Como raça é algo que não tem base científica, penso que nesse ponto os brasileiros estão mais
certos mesmo.
Eu acho que estão mais certos até no quesito biológico da questão, independentemente das raças terem validade taxonômica ou não... que coisa doida é essa da miscigenação "valer" mais para um lado que para outro? Acho que é oriundo da escravidão, uma forma de se poder escravizar mais gente do que seria possível. Se um mestiço 50% fosse considerado como tal, teria que ser apenas "meio escravo", seja lá o que for que isso representasse para os donos... já se é determinado que filho de escravo é escravo e pronto, se tem muito mais escravos do que se teria de outra forma, ao ponto de terem chegado a ter escravos brancos de olhos azuis e cabelos retos... o que de certa forma, tristemente, parece ter tido papel importante na abolição.

 

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