É como uma corrida. Se um grupo de pessoas fica preso, atrasado na largada, e depois podem finalmente largar, não é esperado que alcancem os que saíram na frente se fossem iguais, apenas se fossem muito mais rápidos, para compensar a desvantagem inicial.
E por verificar que em todas as corridas um grupo fica preso que foi decidido ajustar as condições da largada. A universidade é apenas uma preparação para a grande corrida no mercado de trabalho. Neste todos tem que estar em iguais condições.
"Ficar preso na largada", foi uma analogia ao entrave da prosperidade econômica dos negros, pela escravidão. Acabando a escravidão, eles finalmente puderam largar.
Simplesmente não tem como esperar que alcançassem as pessoas/famílias que nunca tinham sido escravizadas, que puderam ter e guardar patrimônio e renda, e em alguns casos, até mesmo renda provenienete de trabalho escravo.
A menos, é claro, que fossem superiores em desempenho. Enquanto que os brancos apenas avançassem "N metros por segundo", os negros avançassem muito mais velozmente. Só se consegue ganhar uma corrida largando depois que todos já deram três voltas, se você tem um porsche e os outros carros são uns fusquinhas. Se são carros iguais, os que saíram atrás tendem a chegar por último mesmo.
O ideal democrático anterior, mais ultrapassado, previa uma igualdade maior com a declaração dos direitos. Então era esperado que com a liberdade todos conseguissem igualdade de acordo com seus méritos. Já que a sociedade não é uma disputa para ver quem são os melhores, quem está na frente.
É claro que não é uma competição exatamente como uma corrida.
Mas não se pode ser hiper-reducionista como se as pessoas tivessem sido todas criadas ex-nihilo com iguais condições, sem ter herdado condições das gerações anteriores.
Só por essa herança, das "colocações", já se tem disparidades que não são produto de uma "opressão" invisível de grupos contra outros grupos.
Se a conclusão é que esse nivelamento "devia" ocorrer por igualdade de capacidades biológicas, então a homogeneidade econômica, de modo geral, não apenas as correlações racias, deveria ser muito maior. Mas se tem na verdade variação sócio-econômica que não tem correlação racial (isso é, diferentes faixas de renda e de patrimônio mesmo entre brancos e entre negros, em vez de serem todos iguais dentro da mesma "raça"), não podendo ser explicada por racismo ou algum tipo de opressão, nem por variações biológicas. É autonomia da economia, tanto das famílias quanto de regiões.
Eu queria ver um estudo sobre isso, sobre como os negros numa sociedade não racista (ou simplesmente, um grupo de pessoas, que começasse "de baixo", para todos os efeitos é a mesma coisa), poderiam ter tido uma motilidade sócio-econômica muito maior do que a que os negros tiveram após a escravidão, nesse período de tempo. Isso é, sem leis objetivando favorecer aos pobres em geral. Eu não imagino que seja esperado.
Uma observação interessante, é que o racismo nos EUA é provavelmente muito maior que no Brasil. Não tenho certeza dos números, vou simplesmente tentar lembrar, mas faço a ressalva de que não sei se é isso mesmo: por volta de 1920 haviam nos EUA acho que 4 milhões de pessoas da KKK*. O que para a população da época era uma fatia mais considerável do que esse mesmo número hoje.
Lá também os programas de eugenia foram um tanto diferentes daqueles daqui, especificamente raciais, enquanto, pelo pouco que li, aqui em alguns casos ao menos, não havia tanto a idéia de causas raciais, mas por causa do lamarckismo, o mais importante eram coisas como alcoolismo, criminalidade e etc. O movimento integralista, por exemplo, não tenho certeza, mas não era exatamente racista, apesar de nacionalista (imagino, já que adotava no lugar do "sieg heil" o "anauê" de algum idioma indígena). Nos EUA ainda teve aquilo tudo das escolas para negros, acentos de ônibus para negros, e só foram poder votar acho que lá pelos anos 60. Aqui as a situação de não-discriminação legal sempre foram bem melhores para os negros, acho, e certamente no Haiti há mais tempo ainda.
Apesar disso, nos EUA os negros (asiáticos e índios também, muito discriminados**) estão em melhor condições sócio-econômicas lá do que aqui no Brasil e muito melhor que no Haiti, país de maioria negra, onde não poderia ser atribuida a situação sócio econômica dos negros a uma ínfima minoria branca racista. Ou seja, as coisas me parecem indicar que o racismo ilegal não tem grande efeito sobre a motilidade social dos negros, que depende mais de autonomia econômica familiar e regional.
O que não é realmente nem um pouco surpreendente. Mesmo nos EUA, mais racista, não são provavelmente a maioria das pessoas, racistas. Qual poderia ser o impacto dos racistas em ativamente impedir a ascenção sócio-econômica das pessoas não-brancas? Quantos racistas estariam em posição de um relativo poder sobre contratação das pessoas e etc, posições que poderiam influenciar isso, e em quanto se poderia estimar que fossem as não-admissões das raças discriminadas por essas pessoas? Sendo que, cada entrevistador racista, geralmente só será responsável por apenas uma entrevista de emprego na vida de cada pessoa de uma raça discriminada, que uma vez descartada, iria procurar emprego em outro lugar, onde as chances de encontrar um entrevistador não-racista seriam maiores.
* dado que acabei de encontrar na wikipédia em português.
** inclusive uma argumentação que fiquei sabendo mais recentemente era de que a imigração chinesa tinha que ser parada porque os imigrantes iriam procriar como pragas, e superar a população anglo-saxônica nos EUA em algumas gerações, com base nas taxas de natalidade chinesas. Ironicamente, o racismo atual nos EUA em parte, especialmente o "racismo científico" é até meio "pró-asiático", eles antes eram ditos terem crânios menores, agora tem crânios maiores do que os brancos até. Me pergunto se isso, essa "virada" do racismo, não seria em parte reflexo do sucesso econômico que eles tiveram, sem ajuda especial, racialmente específica, tanto quanto sei.