Autor Tópico: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"  (Lida 10525 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Dr. Manhattan

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.342
  • Sexo: Masculino
  • Malign Hypercognitive since 1973
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #75 Online: 25 de Novembro de 2007, 16:20:05 »
Nightstalker: realmente, o Dawkins faz generalizações grosseiras. Por outro lado, ele está certíssimo quando diz que tanto a interpretação do Quram, ou da Bíblia ou o que for do fundamentalista tem base tão sólida quanto a dos religiosos "liberais". Mais, até. Do ponto de vista da religião, são os liberais que estão errados.

Não da religião, Dr.  Dos fundamentalistas.  Apesar de toda a vontade que tem, eles definitivamente não tem autoridade para falar em nome da religião em si.

Da raligião sim. Não vamos reificar algo tão abstrato quanto um conjunto de crenças: a religião só pode ser entendida como "aquilo que é praticado pelos religiosos".

Precisamente; religião é a prática, não a crença.  E, principalmente, não é a crença dos fundamentalistas, muito menos tem nestes a expressão mais pura.

Para o bem ou para o mal, se dependesse dos fundamentalistas as religiões mais antigas teriam uns duzentos anos de idade.

Creio que nesse ponto você se equivoca: mesmo que não fossem chamados de fundamentalistas, foi só recentemente (em termos históricos) que se passou a questionar a interpretação literal da Bíblia. De certa forma, todos os cristãos eram fundamentalistas até poucos séculos. O mesmo pode ser dito de outros religiosos. É a interpretação "liberal" que é recente.

Citar
Da mesma forma que não faz sentido afirmar (hipoteticamente, claro :)) "Todos os congressistas são corruptos, mas o Congresso não o é", não faz sentido tentar redimir os fundamentalistas pela suposta inocência da religião.

Não fiz isso.  Fundamentalistas são uma praga, um instrumento da decadência.  Mas são também um mal exemplo da religião, uma amostra viciada.
Estou perfeitamente ciente de que a religião não é inocente, e muitas vezes, pelo contrário, só consegue se corromper mais com a passagem do tempo. Ainda assim a sua meta é muitas vezes válida e sua capacidade de se purificar e corrigir seu rumo nem sempre falha.

Lamento, Luiz, mas aqui você parece estar caindo na falácia do escocês.

Citar
Além disso, quando os próprios livros sagrados defendem o genocídio, a guerra e a misoginia, fica difícil defender as posturas dos crentes liberais.

Se você se refere a cristãos que preferem desconsiderar os absurdos da Bíblia, eu acho perfeitamente viável defender suas posturas.  No mínimo eu não os acusaria de incoerência; para mim um bom cristão, assim como um bom filho, pelo menos TENTA se livrar dos absurdos que herdou para deixar a casa na qual teve origem mais em ordem.
Esses cristãos tem o meu respeito. Também não nego os benefícios que a religião oferece. Eu diria até que, tanto o cristianismo como o Islã tem a seu favor o seu universalismo: todos podem ser salvos, todos podem se tornar muçulmanos, não existe "raça escolhida" ou casta especial. Porém, existe o outro lado da moeda: ambas são religiões proselitistas, e que, por isso mesmo, inadvertidamente ajudaram a semear a discórdia e a guerra. Uma religião que conseguisse se livrar da bagagem de proselitismo, superstição e dogma, a meu ver se tornaria indistingüível de uma escola filosófica.

Citar
Entendo, porém, o seu ponto de vista. Mas saiba que ele se refere a uma espécie de "ideal platônico" de religião, não ao que se encontra no mundo real.

No mundo real Francisco de Assis e Lutero se revoltam contra absurdos do Catolicismo, Shinram Shonim contra absurdos do Budismo japonês.

Heh... E a que fim levaram os ideais de Francisco? E quantos absurdos não decorreram do Luteranismo?

Citar
No mundo real, monges budistas escravizavam um povo inteiro,

O Tibete?  Há mudanças vindo, ainda que certamente não da forma ou velocidade ideal.  Acho um tanto exagerado chamar a servidão do povo tibetano de escravidão, de qualquer forma.  A informação que tenho é naturalmente distante E suspeita, mas de qualquer forma nunca vi essa palavra ser usada para descrever tal situação antes.

Ok. Hipérbole. A palavra correta era servidão. Mas isso serve para ilustrar um dos problemas da religião: mesmo seus ideais de pacifismo e igualdade costumam ser convenientemente colocados de lado quando entram em conflito com o status quo. E quando o status quo se confunde, na mente dos crentes, com uma ordem cósmica, ele se gera sociedades estáticas e injustas.

Citar
hindús realizam ataques terroristas contra muçulmanos,

E santos hinduístas resolvem fazer alguma coisa a respeito.

Citar
e cristãos tomam parte em cruzadas.

E questionam depois a justiça e a sabedoria dessas aventuras.


Séculos depois, você quis dizer?

Citar
Se o mundo está melhor hoje em dia, não é por causa de uma religião ou outra, mas devido ao surgimento de uma aldeia global, que permitiu a derrubada do tribalismo, do qual as religiões são algumas da maiores expressões.

Eu compartilho da sua simpatia pela aldeia global, bem como da desconfiança do que as religiões são na prática, mas ainda acho apressada essa declaração, principalmente porque é uma generalização um tanto exagerada.  Principalmente ao chamar TODAS as religiões de expressões do tribalismo.

Concordo que se trata de uma generalização. Mas será exagerada? O tribalismo pode se expressar de formas mais sutis: aqueles que podiam ser mortos por serem de outra tribo, agora são os que podem ser mortos por serem infiéis/hereges [1]. As exortações de Cristo ao amor ao próximo não impediram que católicos e protestantes se matassem por 30 anos na Europa. Isso porque, acima desses apelos à compaixão, havia o imperativo do proselitismo.

Será que uma religião que: enfatizasse a igualdade entre os homens, a não-violência, o progresso da humanidade, a busca do conhecimento, a caridade e o amor ao próximo E que além disso, NÃO fosse baseada em dogmas, NÃO fosse baseada em superstições e NÃO fosse proselitista, poderia ser realmente chamada de religião? E será que, se fosse o caso, essa religião poderia persistir sem perder essas características?

Eu penso que as respostas são TALVEZ e NÃO.

O primeiro é apenas uma opinião pessoal. Talvez o budismo se enquadre nessas características, mas confesso que não conheço suas bem doutrinas. O segundo é baseado no reconhecimento de que religiões são instrumentos de poder, e por isso acabam se subordinando a interesses políticos, que por sua vez entram em conflito com esses aspectos "liberais" citados. É também o que a História ensina.

[1]Ou, num exemplo secular: torcidas organizadas.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #76 Online: 25 de Novembro de 2007, 16:37:10 »
Para o bem ou para o mal, se dependesse dos fundamentalistas as religiões mais antigas teriam uns duzentos anos de idade.

Creio que nesse ponto você se equivoca: mesmo que não fossem chamados de fundamentalistas, foi só recentemente (em termos históricos) que se passou a questionar a interpretação literal da Bíblia. De certa forma, todos os cristãos eram fundamentalistas até poucos séculos. O mesmo pode ser dito de outros religiosos. É a interpretação "liberal" que é recente.

O Cristianismo é um caso um tanto peculiar, assim como as demais religiões abraâmicas.  Seja como for, estou falando dos tempos atuais; mantenho minha afirmação de que se dependesse apenas dos fundamentalistas, hoje em dia, dificilmente se encontraria alguma religião com mais de duzentos anos de história com alguma vida em suas fileiras.

Citar
Citar
Da mesma forma que não faz sentido afirmar (hipoteticamente, claro :)) "Todos os congressistas são corruptos, mas o Congresso não o é", não faz sentido tentar redimir os fundamentalistas pela suposta inocência da religião.

Não fiz isso.  Fundamentalistas são uma praga, um instrumento da decadência.  Mas são também um mal exemplo da religião, uma amostra viciada.
Estou perfeitamente ciente de que a religião não é inocente, e muitas vezes, pelo contrário, só consegue se corromper mais com a passagem do tempo. Ainda assim a sua meta é muitas vezes válida e sua capacidade de se purificar e corrigir seu rumo nem sempre falha.

Lamento, Luiz, mas aqui você parece estar caindo na falácia do escocês.

Pode parecer, mas estou é combatendo uma falácia do espantalho, vulga generalização indevida... :)

Citar
Citar
Além disso, quando os próprios livros sagrados defendem o genocídio, a guerra e a misoginia, fica difícil defender as posturas dos crentes liberais.

Se você se refere a cristãos que preferem desconsiderar os absurdos da Bíblia, eu acho perfeitamente viável defender suas posturas.  No mínimo eu não os acusaria de incoerência; para mim um bom cristão, assim como um bom filho, pelo menos TENTA se livrar dos absurdos que herdou para deixar a casa na qual teve origem mais em ordem.
Esses cristãos tem o meu respeito. Também não nego os benefícios que a religião oferece. Eu diria até que, tanto o cristianismo como o Islã tem a seu favor o seu universalismo: todos podem ser salvos, todos podem se tornar muçulmanos, não existe "raça escolhida" ou casta especial.

Esse universalismo tem algumas consequências boas, mas outras são bem nocivas.

Citar
Porém, existe o outro lado da moeda: ambas são religiões proselitistas, e que, por isso mesmo, inadvertidamente ajudaram a semear a discórdia e a guerra. Uma religião que conseguisse se livrar da bagagem de proselitismo, superstição e dogma, a meu ver se tornaria indistingüível de uma escola filosófica.

Pois elas existem, e não são tão poucas assim.  Mas você provavelmente vai considerar (por exemplo) o Confucionismo uma escola filosófica em vez de uma religião.

Citar
Citar
Entendo, porém, o seu ponto de vista. Mas saiba que ele se refere a uma espécie de "ideal platônico" de religião, não ao que se encontra no mundo real.

No mundo real Francisco de Assis e Lutero se revoltam contra absurdos do Catolicismo, Shinram Shonim contra absurdos do Budismo japonês.

Heh... E a que fim levaram os ideais de Francisco? E quantos absurdos não decorreram do Luteranismo?

Não entendi a primeira pergunta.  Pode elaborar?

Quanto à segunda, eu respondo: provavelmente menos e mais fáceis de corrigir do que os que teria havido sem ele.  Uma vez iniciado o questionamento, é mais fácil mantê-lo.


Citar
Citar
No mundo real, monges budistas escravizavam um povo inteiro,

O Tibete?  Há mudanças vindo, ainda que certamente não da forma ou velocidade ideal.  Acho um tanto exagerado chamar a servidão do povo tibetano de escravidão, de qualquer forma.  A informação que tenho é naturalmente distante E suspeita, mas de qualquer forma nunca vi essa palavra ser usada para descrever tal situação antes.

Ok. Hipérbole. A palavra correta era servidão. Mas isso serve para ilustrar um dos problemas da religião: mesmo seus ideais de pacifismo e igualdade costumam ser convenientemente colocados de lado quando entram em conflito com o status quo.

Outra generalização perigosa.  Religião costuma ter um elemento de revolta contra o status quo.  Tanto que temos bancadas evangélicas querendo mudar o status quo aqui no Brasil - embora, novamente, eu não goste de generalizar a partir do Cristianismo.


Citar
E quando o status quo se confunde, na mente dos crentes, com uma ordem cósmica, ele se gera sociedades estáticas e injustas.

Religião é feita por humanos; não subestime a vontade humana de ver mudanças.

Citar
Citar
hindús realizam ataques terroristas contra muçulmanos,

E santos hinduístas resolvem fazer alguma coisa a respeito.

Citar
e cristãos tomam parte em cruzadas.

E questionam depois a justiça e a sabedoria dessas aventuras.


Séculos depois, você quis dizer?

Não tenho motivos para crer que não houvesse pelo menos um início de questionamento já na época, Manhattan.  Mas mesmo que leve séculos, ainda assim é um questionamento.  Como você bem lembrou, hoje em dia a informação e as mudanças são bem mais ágeis, e não é apenas porque a religião cristã não é mais tão influente.

Citar
Citar
Se o mundo está melhor hoje em dia, não é por causa de uma religião ou outra, mas devido ao surgimento de uma aldeia global, que permitiu a derrubada do tribalismo, do qual as religiões são algumas da maiores expressões.

Eu compartilho da sua simpatia pela aldeia global, bem como da desconfiança do que as religiões são na prática, mas ainda acho apressada essa declaração, principalmente porque é uma generalização um tanto exagerada.  Principalmente ao chamar TODAS as religiões de expressões do tribalismo.

Concordo que se trata de uma generalização. Mas será exagerada?

Já que você pergunta diretamente: sim, é exagerada. :)

Citar
O tribalismo pode se expressar de formas mais sutis: aqueles que podiam ser mortos por serem de outra tribo, agora são os que podem ser mortos por serem infiéis/hereges [1]. As exortações de Cristo ao amor ao próximo não impediram que católicos e protestantes se matassem por 30 anos na Europa. Isso porque, acima desses apelos à compaixão, havia o imperativo do proselitismo.

Será que uma religião que: enfatizasse a igualdade entre os homens, a não-violência, o progresso da humanidade, a busca do conhecimento, a caridade e o amor ao próximo E que além disso, NÃO fosse baseada em dogmas, NÃO fosse baseada em superstições e NÃO fosse proselitista, poderia ser realmente chamada de religião?

Com certeza.  E de fato todas as religiões deveriam almejar chegar a esse ponto.  Mais ainda, quero crer que mesmo nas doutrinas mais doentias HÁ adeptos que tem de fato essa meta e trabalham para alcançá-la.

Citar
E será que, se fosse o caso, essa religião poderia persistir sem perder essas características?

Eu penso que as respostas são TALVEZ e NÃO.

Por que a religião "não poderia persistir" exatamente no momento em que se tornasse mais construtiva?  O que exatamente isso quer dizer?


Citar
O primeiro é apenas uma opinião pessoal. Talvez o budismo se enquadre nessas características, mas confesso que não conheço suas bem doutrinas.

Nah, não estou falando de nada específico ao budismo, ou mesmo estranho à religião abraâmica, ainda que eu seja muito crítico das formas mais estereotipadas destas.

E doutrina, na prática, é o que menos importa em uma religião.  Bom, o que menos importa depois da escritura, digo.

Citar
O segundo é baseado no reconhecimento de que religiões são instrumentos de poder, e por isso acabam se subordinando a interesses políticos, que por sua vez entram em conflito com esses aspectos "liberais" citados. É também o que a História ensina.

Essa é uma visão bastante enviesada da coisa, que parte do pressuposto de que a religião se associa mais ou menos automaticamente ao poder.  Eu não posso deixar de apontar o espantalho.

Citar
[1]Ou, num exemplo secular: torcidas organizadas.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline West

  • Nível 31
  • *
  • Mensagens: 1.888
  • Sexo: Masculino
  • "Como um grão de poeira suspenso num raio de sol"
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #77 Online: 25 de Novembro de 2007, 17:23:27 »
Muito dinheiro fácil + poder(controle social) = corrupção.
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
__________
Protágoras.Ensaio sobre os deuses. Séc. V a.C.

Offline Dr. Manhattan

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.342
  • Sexo: Masculino
  • Malign Hypercognitive since 1973
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #78 Online: 26 de Novembro de 2007, 14:56:30 »
Para o bem ou para o mal, se dependesse dos fundamentalistas as religiões mais antigas teriam uns duzentos anos de idade.

Creio que nesse ponto você se equivoca: mesmo que não fossem chamados de fundamentalistas, foi só recentemente (em termos históricos) que se passou a questionar a interpretação literal da Bíblia. De certa forma, todos os cristãos eram fundamentalistas até poucos séculos. O mesmo pode ser dito de outros religiosos. É a interpretação "liberal" que é recente.

O Cristianismo é um caso um tanto peculiar, assim como as demais religiões abraâmicas.  Seja como for, estou falando dos tempos atuais; mantenho minha afirmação de que se dependesse apenas dos fundamentalistas, hoje em dia, dificilmente se encontraria alguma religião com mais de duzentos anos de história com alguma vida em suas fileiras.


"Hoje em dia" significa: hoje, após o Iluminismo, a Revolução Científica e a Revolução Industrial. O fato é que, em termos históricos, "hoje em
dia" é um período bastante peculiar da História. A questão então é: se dificilmente se encontraria alguma religião com mais de duzentos anos de história com alguma vida em suas fileiras, isso é devido a um mérito próprio da Religião, ou ao contexto das revoluções acima citadas? 

Citar
Citar
Da mesma forma que não faz sentido afirmar (hipoteticamente, claro :)) "Todos os congressistas são corruptos, mas o Congresso não o é", não faz sentido tentar redimir os fundamentalistas pela suposta inocência da religião.

Não fiz isso.  Fundamentalistas são uma praga, um instrumento da decadência.  Mas são também um mal exemplo da religião, uma amostra viciada.
Estou perfeitamente ciente de que a religião não é inocente, e muitas vezes, pelo contrário, só consegue se corromper mais com a passagem do tempo. Ainda assim a sua meta é muitas vezes válida e sua capacidade de se purificar e corrigir seu rumo nem sempre falha.

Lamento, Luiz, mas aqui você parece estar caindo na falácia do escocês.

Pode parecer, mas estou é combatendo uma falácia do espantalho, vulga generalização indevida... :)

Embora eu tenha feito realmente uma generalização, não diria que se trata de um espantalho: a imensa maioria das religiões, e principalmente
aquelas com maior apelo popular, estão, na maior parte do mundo, atreladas às estruturas do poder, atuam para propagar superstições e (na prática) ajudam a manter divisões (embora nem sempre as causem. Ver: Líbano atualmente). Você defende a existência de uma mensagem positiva embutida nas crenças religiosas, o que não nego. O problema é que na prática essas crenças costumam envolver mais que uma ética ou uma metafísica. E mesmo com a melhor das intenções, as crenças religiosas, por se basearem em hipóteses não-falseáveis, dogmas e interpretações de livros sagrados (na maioria das vezes), mostram-se excelentes instrumentos para a manipulação das massas.

Citar
Citar
Além disso, quando os próprios livros sagrados defendem o genocídio, a guerra e a misoginia, fica difícil defender as posturas dos crentes liberais.

Se você se refere a cristãos que preferem desconsiderar os absurdos da Bíblia, eu acho perfeitamente viável defender suas posturas.  No mínimo eu não os acusaria de incoerência; para mim um bom cristão, assim como um bom filho, pelo menos TENTA se livrar dos absurdos que herdou para deixar a casa na qual teve origem mais em ordem.
Esses cristãos tem o meu respeito. Também não nego os benefícios que a religião oferece. Eu diria até que, tanto o cristianismo como o Islã tem a seu favor o seu universalismo: todos podem ser salvos, todos podem se tornar muçulmanos, não existe "raça escolhida" ou casta especial.

Esse universalismo tem algumas consequências boas, mas outras são bem nocivas.

Citar
Porém, existe o outro lado da moeda: ambas são religiões proselitistas, e que, por isso mesmo, inadvertidamente ajudaram a semear a discórdia e a guerra. Uma religião que conseguisse se livrar da bagagem de proselitismo, superstição e dogma, a meu ver se tornaria indistingüível de uma escola filosófica.

Pois elas existem, e não são tão poucas assim.  Mas você provavelmente vai considerar (por exemplo) o Confucionismo uma escola filosófica em vez de uma religião.

Exato. :)

Citar
Citar
Entendo, porém, o seu ponto de vista. Mas saiba que ele se refere a uma espécie de "ideal platônico" de religião, não ao que se encontra no mundo real.

No mundo real Francisco de Assis e Lutero se revoltam contra absurdos do Catolicismo, Shinram Shonim contra absurdos do Budismo japonês.

Heh... E a que fim levaram os ideais de Francisco? E quantos absurdos não decorreram do Luteranismo?

Não entendi a primeira pergunta.  Pode elaborar?

Que mudança fundamental no catolicismo foi causada por Francisco? O que de essencial mudou na Igreja?




Citar
No mundo real, monges budistas escravizavam um povo inteiro,

O Tibete?  Há mudanças vindo, ainda que certamente não da forma ou velocidade ideal.  Acho um tanto exagerado chamar a servidão do povo tibetano de escravidão, de qualquer forma.  A informação que tenho é naturalmente distante E suspeita, mas de qualquer forma nunca vi essa palavra ser usada para descrever tal situação antes.

Ok. Hipérbole. A palavra correta era servidão. Mas isso serve para ilustrar um dos problemas da religião: mesmo seus ideais de pacifismo e igualdade costumam ser convenientemente colocados de lado quando entram em conflito com o status quo.[/quote]

Outra generalização perigosa.  Religião costuma ter um elemento de revolta contra o status quo.  Tanto que temos bancadas evangélicas querendo mudar o status quo aqui no Brasil - embora, novamente, eu não goste de generalizar a partir do Cristianismo.
[/quote]

Até que elas se tornam o status quo. Como resistir a criar uma ordem social imutável, quando se se acredita conhecer a verdade última do Universo?

Citar
E quando o status quo se confunde, na mente dos crentes, com uma ordem cósmica, ele se gera sociedades estáticas e injustas.

Religião é feita por humanos; não subestime a vontade humana de ver mudanças.


Realmente, não a subestimo. Porém, guiando-nos pela História, podemos ver que tais mudanças quase sempre consistiam de "mudar, para que tudo continuasse o mesmo". Isso é verdade não só para as religiões, como para outras tentativas de engenharia social motivadas pela submissão a uma idéia. É justamente essa submissão que critico.

Citar
Citar
hindús realizam ataques terroristas contra muçulmanos,

E santos hinduístas resolvem fazer alguma coisa a respeito.

Citar
e cristãos tomam parte em cruzadas.

E questionam depois a justiça e a sabedoria dessas aventuras.


Séculos depois, você quis dizer?

Não tenho motivos para crer que não houvesse pelo menos um início de questionamento já na época, Manhattan.  Mas mesmo que leve séculos, ainda assim é um questionamento.  Como você bem lembrou, hoje em dia a informação e as mudanças são bem mais ágeis, e não é apenas porque a religião cristã não é mais tão influente.

Nesse ponto, não tenho dados para afirmar uma coisa ou a outra. Penso que a propensão ao altruismo é um dom natural dos seres humanos, mas que se desenvolve de formas diferentes em cada um. Independentemente da religião.

Citar
Citar
Se o mundo está melhor hoje em dia, não é por causa de uma religião ou outra, mas devido ao surgimento de uma aldeia global, que permitiu a derrubada do tribalismo, do qual as religiões são algumas da maiores expressões.

Eu compartilho da sua simpatia pela aldeia global, bem como da desconfiança do que as religiões são na prática, mas ainda acho apressada essa declaração, principalmente porque é uma generalização um tanto exagerada.  Principalmente ao chamar TODAS as religiões de expressões do tribalismo.

Concordo que se trata de uma generalização. Mas será exagerada?

Já que você pergunta diretamente: sim, é exagerada. :)


Mesmo que algumas não seja expressões de tribalismo, o tribalismo acaba se expressando através delas. Humanos são humanos.
Novamente: é a submissão a uma idéia, a ausência de questionamento e a crença num conhecimento total que torna as religiões potencialmente perigosas.

Citar
O tribalismo pode se expressar de formas mais sutis: aqueles que podiam ser mortos por serem de outra tribo, agora são os que podem ser mortos por serem infiéis/hereges [1]. As exortações de Cristo ao amor ao próximo não impediram que católicos e protestantes se matassem por 30 anos na Europa. Isso porque, acima desses apelos à compaixão, havia o imperativo do proselitismo.

Será que uma religião que: enfatizasse a igualdade entre os homens, a não-violência, o progresso da humanidade, a busca do conhecimento, a caridade e o amor ao próximo E que além disso, NÃO fosse baseada em dogmas, NÃO fosse baseada em superstições e NÃO fosse proselitista, poderia ser realmente chamada de religião?

Com certeza.  E de fato todas as religiões deveriam almejar chegar a esse ponto.  Mais ainda, quero crer que mesmo nas doutrinas mais doentias HÁ adeptos que tem de fato essa meta e trabalham para alcançá-la.

Então, podemos concluir que nossa discordância é uma questão semântica: Eu não chamaria esse conjunto de crenças de religião.

Citar
E será que, se fosse o caso, essa religião poderia persistir sem perder essas características?

Eu penso que as respostas são TALVEZ e NÃO.

Por que a religião "não poderia persistir" exatamente no momento em que se tornasse mais construtiva?  O que exatamente isso quer dizer?

Quer dizer que seus ideais poderiam ser "sequestrados" por aqueles com sede de poder. Se um povo se submete a uma idéia, nada mais simples do que dar mais um passo e garantir a sua submissão ao representante dessa idéia.

Citar
O primeiro é apenas uma opinião pessoal. Talvez o budismo se enquadre nessas características, mas confesso que não conheço suas bem doutrinas.

Nah, não estou falando de nada específico ao budismo, ou mesmo estranho à religião abraâmica, ainda que eu seja muito crítico das formas mais estereotipadas destas.

E doutrina, na prática, é o que menos importa em uma religião.  Bom, o que menos importa depois da escritura, digo.

Novamente: chegamos então a uma questão semântica.

Citar
O segundo é baseado no reconhecimento de que religiões são instrumentos de poder, e por isso acabam se subordinando a interesses políticos, que por sua vez entram em conflito com esses aspectos "liberais" citados. É também o que a História ensina.

Essa é uma visão bastante enviesada da coisa, que parte do pressuposto de que a religião se associa mais ou menos automaticamente ao poder.  Eu não posso deixar de apontar o espantalho.

Então me dê um exemplo de uma religião que não se associa ao poder (não é uma pergunta retórica, estou mesmo curioso)? Mesmo entre os quakers, a ordem social é suportada pela crença religiosa.

You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #79 Online: 26 de Novembro de 2007, 21:56:06 »
"Hoje em dia" significa: hoje, após o Iluminismo, a Revolução Científica e a Revolução Industrial. O fato é que, em termos históricos, "hoje em dia" é um período bastante peculiar da História.

Peculiar por um lado, inevitável por outro.

Citar
A questão então é: se dificilmente se encontraria alguma religião com mais de duzentos anos de história com alguma vida em suas fileiras, isso é devido a um mérito próprio da Religião, ou ao contexto das revoluções acima citadas?

Nada tão misterioso.  Eu não escolheria nenhuma das duas opções que você apresenta.  O motivo real é que fundamentalistas são tão danosos para qualquer religião (e sempre foram) que dificilmente uma religião que esteja tomada por eles sobrevive por mais do que duzentos anos. 

Citar
Embora eu tenha feito realmente uma generalização, não diria que se trata de um espantalho: a imensa maioria das religiões, e principalmente aquelas com maior apelo popular, estão, na maior parte do mundo, atreladas às estruturas do poder, atuam para propagar superstições e (na prática) ajudam a manter divisões (embora nem sempre as causem. Ver: Líbano atualmente).

'Sei disso não... existem umas vinte mil religiões atualmente.  Não mais do que um punhado dessas tem alguma relação significativa com o poder.  Talvez você tenha essa impressão porque os livros de história tendem a "passar por cima" da maioria e ressaltar (exageradamente na minha opinião) as mais ligadas ao poder.

Citar
Você defende a existência de uma mensagem positiva embutida nas crenças religiosas, o que não nego. O problema é que na prática essas crenças costumam envolver mais que uma ética ou uma metafísica. E mesmo com a melhor das intenções, as crenças religiosas, por se basearem em hipóteses não-falseáveis, dogmas e interpretações de livros sagrados (na maioria das vezes), mostram-se excelentes instrumentos para a manipulação das massas.

Olha, isso realmente ACONTECE muito, mas não subestime o discernimento das massas.  Elas tendem a não gostar de ser manipuladas e se rebelar.  Exemplos não faltam.

Citar
Citar
Citar
Porém, existe o outro lado da moeda: ambas são religiões proselitistas, e que, por isso mesmo, inadvertidamente ajudaram a semear a discórdia e a guerra. Uma religião que conseguisse se livrar da bagagem de proselitismo, superstição e dogma, a meu ver se tornaria indistingüível de uma escola filosófica.

Pois elas existem, e não são tão poucas assim.  Mas você provavelmente vai considerar (por exemplo) o Confucionismo uma escola filosófica em vez de uma religião.

Exato. :)

Se você vai selecionar como religiões "verdadeiras" aquelas que tem influência política, fica difícil afastar a sensação de que está construindo um espantalho.  Historicamente, quase toda religião esteve afastada do poder e ainda por cima disputando influência com outras tantas doutrinas.  É um mecanismo de concorrência que levou naturalmente muitas a serem esquecidas e outras tantas a corrigirem seus rumos.

Citar
Que mudança fundamental no catolicismo foi causada por Francisco? O que de essencial mudou na Igreja?

Francisco de Assis talvez não tenha sido pessoalmente tão necessário, mas a história dele mostra bem que mesmo religiosos dedicados não estão necessariamente submissos aos caprichos de sua autoridade central.  E hoje ele é louvado por isso, por ter questionado a alienação e política do Catolicismo da época.

Citar
Citar
Outra generalização perigosa.  Religião costuma ter um elemento de revolta contra o status quo.  Tanto que temos bancadas evangélicas querendo mudar o status quo aqui no Brasil - embora, novamente, eu não goste de generalizar a partir do Cristianismo.

Até que elas se tornam o status quo. Como resistir a criar uma ordem social imutável, quando se se acredita conhecer a verdade última do Universo?

Eis o espantalho de novo.  Fundamentalistas são uma praga, repita comigo... :)  e não são de forma alguma poucos os religiosos que pensam o mesmo, inclusive sobre os de suas próprias crenças.

Citar
Mesmo que algumas não seja expressões de tribalismo, o tribalismo acaba se expressando através delas. Humanos são humanos.

Correto; o apelo do tribalismo existe e tem de ser enfrentado de alguma forma.  E também é verdade que muitas vezes a expressão do tribalismo é através da prática religiosa.  E não por coincidência, muitas vezes a ojeriza, o questionamento e o enfrentamento do tribalismo também vem por canais religiosos.  Quem frequenta o meio é quem tem mais probabilidade de se importar e ter os meios de querer melhorá-lo.

Citar
Novamente: é a submissão a uma idéia, a ausência de questionamento e a crença num conhecimento total que torna as religiões potencialmente perigosas.

Não discordo em absoluto.  Essas são características indesejáveis, dentro ou fora da religião.

Mas parece que você acha que a religião PRECISA ter essas características.  Eu já acho que não pode se dar ao luxo de dar corda para elas...

Citar
Citar
O tribalismo pode se expressar de formas mais sutis: aqueles que podiam ser mortos por serem de outra tribo, agora são os que podem ser mortos por serem infiéis/hereges [1]. As exortações de Cristo ao amor ao próximo não impediram que católicos e protestantes se matassem por 30 anos na Europa. Isso porque, acima desses apelos à compaixão, havia o imperativo do proselitismo.

Será que uma religião que: enfatizasse a igualdade entre os homens, a não-violência, o progresso da humanidade, a busca do conhecimento, a caridade e o amor ao próximo E que além disso, NÃO fosse baseada em dogmas, NÃO fosse baseada em superstições e NÃO fosse proselitista, poderia ser realmente chamada de religião?

Com certeza.  E de fato todas as religiões deveriam almejar chegar a esse ponto.  Mais ainda, quero crer que mesmo nas doutrinas mais doentias HÁ adeptos que tem de fato essa meta e trabalham para alcançá-la.

Então, podemos concluir que nossa discordância é uma questão semântica: Eu não chamaria esse conjunto de crenças de religião.

Que nome você usaria?  Religião é o mais natural, pelo que sei.  Acho constrangedor tentar evitá-lo sem um bom motivo.

Citar
Citar
E será que, se fosse o caso, essa religião poderia persistir sem perder essas características?

Eu penso que as respostas são TALVEZ e NÃO.

Por que a religião "não poderia persistir" exatamente no momento em que se tornasse mais construtiva?  O que exatamente isso quer dizer?

Quer dizer que seus ideais poderiam ser "sequestrados" por aqueles com sede de poder. Se um povo se submete a uma idéia, nada mais simples do que dar mais um passo e garantir a sua submissão ao representante dessa idéia.


Religião baseada em submissão é religião que já morreu e esqueceu de cair...

Citar
Então me dê um exemplo de uma religião que não se associa ao poder (não é uma pergunta retórica, estou mesmo curioso)? Mesmo entre os quakers, a ordem social é suportada pela crença religiosa.

Quakers não tem comunidades isoladas?  Nessa situação é claro que a crença deles estará em harmonia com a ordem social que apresentam.

Até mesmo os primeiros cristãos eram basicamente rebeldes clandestinos.  Nos EUA e até mesmo aqui no Brasil muitos se tornam muçulmanos ou mórmons em parte porque querem protestar contra a forma corrente do poder.  Muitas outras crenças tentam se manter à parte de questões de política, e de fato tem como prioridade criar ambientes mais reservados em que se possa manter um grau de isolamento e proteção das conturbações do momento.

A associação ao poder é a exceção, e não a regra.  Até porque poucas religiões podem manter um naco significativo do poder ao mesmo tempo em cada cultura... e nem por isso é raro que haja muitas religiões diferentes em uma única cultura.
« Última modificação: 13 de Dezembro de 2007, 08:50:01 por Luis Dantas »
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Thiago C. Santos

  • Nível 05
  • *
  • Mensagens: 52
  • Sexo: Masculino
  • :)
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #80 Online: 29 de Novembro de 2007, 00:25:55 »
O Dawkins virou uma celebridade intelectual. Se ele vier ao Brasil um dia, garanto que vai sentar no sofá da Hebe Camargo.

Essa polarização que ele faz, esse negócio de separar a humanidade em dois grandes grupos, é exatamente do que as grandes religiões precisam pra sobreviver. Elas precisam de um inimigo, um inimigo feroz, ranzinza, sempre à espreita. Pronto, ele salvou o monoteísmo.
"Fabricar o consenso" é o nome do jogo. (SOAD)

Offline Fabrício

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.318
  • Sexo: Masculino
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #81 Online: 29 de Novembro de 2007, 05:50:45 »
Citar
Pronto, ele salvou o monoteísmo.

Thiago, eu não acho que o monoteísmo precise ser salvo, ele atualmente está muito forte, a não ser em alguns países europeus ou em regiões tradicionalmente politeístas como a Índia.
"Deus prefere os ateus"

Offline Alegra

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.453
  • Sexo: Feminino
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #82 Online: 29 de Novembro de 2007, 10:02:57 »
(...) Mas o objetivo, creio eu, não é fazer proselitismo, mas lutar contra o preconceito e a discriminação. As sufragettes (ou pelo menos a maioria delas) não tentavam impor "valores femininos" ao mundo, mas simplesmente desejavam o direito de voto. Os ativistas negros não desejam impor a cultura negra ao mundo, mas simplesmente defender os direitos dos negros. Apesar de o ateísmo ser simplesmente uma descrença, o fato é que existe algo mais em comum entre os ateus: somos mal vistos pela maioria da população. Eu, pelo menos, não estou satisfeito com isso. E sei que ficar calado não vai resolver.

É assim que vejo o Dawkins também, uma pessoa que decidiu não se calar.

Não acho que ele queira impor nada ou incitar uma cruzada ao avesso, mas sim chamar a atenção dos ateus para uma tomada de posição perante os absurdos que se vem praticando no mundo em nome de uma divindade.

Não sendo anti teísta, mas sim argumentando de uma forma realista e fundamentada na ciência, mesmo que de vez em quando se tenha que usar de um tom mais alto e um pouco agressivo mas sem ofender ninguém como ele faz.  :ok:



 
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Mafalda

  • Nível 20
  • *
  • Mensagens: 636
  • Sexo: Feminino
  • Pois assim, vejamos....
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #83 Online: 13 de Dezembro de 2007, 02:48:41 »
   Eu li o livro do Dawkins, e ele fala uma coisa parecida no livro, ele de facto não vê nada de positivo nas religiões, nem mesmo a questão do conforto emocional. Nem sempre concordei, mas acho que ele tem suas razões para dizer o que diz.
"quem está em todos os lugares ao mesmo tempo, não está em lugar nenhum" (Sêneca)

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #84 Online: 13 de Dezembro de 2007, 05:40:41 »
Acabo de perceber que é curioso que haja celeuma por causa do que Dawkins diz.  Ele não vê um único aspecto positivo nas religiões.  Certo.  E daí?

No fundo isso é só um detalhe.  A existência de tanto mal-estar por causa da postura dele só mostra como é artificial e frágil a aura de respeitabilidade da religião.

Não que eu concorde com ele.  Mas é interessante como uma única voz discordante que não seja automaticamente classificável como inidônea já perturba tanto.  Se não temos aqui um indício de insegurança e necessidade de validação externa, então eu não entendi nada.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Fabrício

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 7.318
  • Sexo: Masculino
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #85 Online: 13 de Dezembro de 2007, 08:51:11 »
Eu também não vejo motivo para tanta polêmica a não ser realmente a diferença de tratamento entre religião e outros aspectos da vida. No fundo fica aquele negócio de que "religião tem que ser respeitada".  Do tipo "política, futebol e religião não se discute". Na verdade política e futebol são as coisas mais discutidas que existem, mas quando alguém começa a questionar a religião, vira uma grande polêmica, não pelos argumentos em si, mas pelo simples fato da própria religião estar sendo questionada.

Acho que o Dantas está certíssimo, na verdade as religiões não querem ser questionadas porque são inseguras, se apóiam em bases muito frágeis, e se as pessoas pensarem racionalmente e sem preconceitos, em muitos casos deixarão de ser religiosas.

Claro que devemos respeitar os religiosos, cada um tem o direito de acreditar no que bem entender. Mas esta postura das religiões de querer estar acima de qualquer crítica ou questionamento não dá para engolir...
"Deus prefere os ateus"

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #86 Online: 13 de Dezembro de 2007, 08:53:29 »
Pois é, Fabrício.  Parece que você entendeu bem o meu ponto; eu não entendo por que tanto desconforto com o questionamento da religião.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Mafalda

  • Nível 20
  • *
  • Mensagens: 636
  • Sexo: Feminino
  • Pois assim, vejamos....
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #87 Online: 13 de Dezembro de 2007, 11:15:17 »
Bem, eu tambem não entendo essa reação das pessoas quando se critica as practicas religiosas, mas de facto nem todo mundo está preparado para viver sem uma religião, acho que falta coragem na maioria para aceitar que estamos sós, e que temos apenas a gente mesmo para resolver nossos problemas, as pessoas religiosas não aceitam que estão sozinhas.
"quem está em todos os lugares ao mesmo tempo, não está em lugar nenhum" (Sêneca)

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #88 Online: 13 de Dezembro de 2007, 11:28:02 »
Bem, eu tambem não entendo essa reação das pessoas quando se critica as practicas religiosas, mas de facto nem todo mundo está preparado para viver sem uma religião, acho que falta coragem na maioria para aceitar que estamos sós, e que temos apenas a gente mesmo para resolver nossos problemas, as pessoas religiosas não aceitam que estão sozinhas.

A questão não é um pouco diferente?  Me parece que se trata mais da falta de preparo para aceitar que religião não está acima de críticas do que para viver sem religião.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Kosher-X

  • Nível 02
  • *
  • Mensagens: 21
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #89 Online: 13 de Dezembro de 2007, 12:16:51 »
Dawkins – A ciência pode ser usada na produção de coisas ruins como a bomba atômica, mas por si mesma não leva a ações malignas. Entretanto, fazer coisas horríveis é uma parte lógica do processo de acreditar em Deus. Os 19 homens que perpetraram os ataques de 11 de setembro de 2001, por exemplo, talvez não fossem naturalmente malignos. Mas eram profundamente religiosos. Eles achavam que o que estavam fazendo era correto segundo o que acreditavam. E chegaram a essa conclusão de uma forma lógica a partir de seus textos religiosos. Para um ateu, seria impossível realizar um ato similar a partir de uma racionalização lógica.



Dawkins, mais uma vez, perdeu uma ótima chance pra calar a boca.
Existiram ateus que também cometeram genocídios, é óbvio. Mesmo que toda a população mundial torne-se atéia, isso não acabará com as guerras. Prova disso foram Stalin e Pol Pot.

E agora sim, consegui editar corretamente. Obrigado pela ajuda, Luis.
« Última modificação: 13 de Dezembro de 2007, 20:49:32 por Kosher-X »

Offline PauloCesar

  • Nível 19
  • *
  • Mensagens: 560
  • Sexo: Masculino
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #90 Online: 13 de Dezembro de 2007, 12:47:54 »
Pois é, Fabrício.  Parece que você entendeu bem o meu ponto; eu não entendo por que tanto desconforto com o questionamento da religião.

Acho que a questão é simplesmente epistemológica. Não se questiona o Divino e Sua Vontade. É um conceito que foi gerado assim. A simples admissão da crítica faz ruir todo o sistema. Tomando o cristianismo como base, penso que é impossível a admissão da crítica por um sistema que se diz portador da verdade absoluta. Simplesmente não faz sentido.

Como se falar em 'tolerância' se o cristianismo (por exemplo) é uma religião totalitária e dogmática em sua essência?
FREE YOUR MIND! - Morpheus

Offline Kosher-X

  • Nível 02
  • *
  • Mensagens: 21
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #91 Online: 13 de Dezembro de 2007, 14:32:20 »
Opa! Acabei citando a mim mesmo ao invés de editar meu tópico inicial. Deveria tê-lo feito, acabei confundindo as posições dos botões. Lapso um tanto vergonhoso, esse.

Espero que um moderador possa apagar um dos tópicos, já que eu não posso fazê-lo aqui.
Desculpem pelo acidente.

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #92 Online: 13 de Dezembro de 2007, 16:45:08 »
Pois é, Fabrício.  Parece que você entendeu bem o meu ponto; eu não entendo por que tanto desconforto com o questionamento da religião.

Acho que a questão é simplesmente epistemológica. Não se questiona o Divino e Sua Vontade. É um conceito que foi gerado assim. A simples admissão da crítica faz ruir todo o sistema. Tomando o cristianismo como base, penso que é impossível a admissão da crítica por um sistema que se diz portador da verdade absoluta. Simplesmente não faz sentido.

Como se falar em 'tolerância' se o cristianismo (por exemplo) é uma religião totalitária e dogmática em sua essência?

Mas é essa premissa que não acho aceitável, nem dentro nem fora da religião.

Entre outros motivos, porque na prática não há como evitar o questionamento - vide a Reforma - e portanto é melhor que ele seja gradual, constante e orgânico.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Luis Dantas

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.195
  • Sexo: Masculino
  • Morituri Delendi
    • DantasWiki
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #93 Online: 13 de Dezembro de 2007, 16:46:29 »
Opa! Acabei citando a mim mesmo

Já removi a duplicata.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline PauloCesar

  • Nível 19
  • *
  • Mensagens: 560
  • Sexo: Masculino
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #94 Online: 13 de Dezembro de 2007, 17:00:36 »
Mas é essa premissa que não acho aceitável, nem dentro nem fora da religião.

Entre outros motivos, porque na prática não há como evitar o questionamento - vide a Reforma - e portanto é melhor que ele seja gradual, constante e orgânico.

Nisso concordamos, mas infelizmente isso não muda nada. Também concordo que a Reforma foi sim o grande divisor de águas no cristianismo, mas mesmo esta ainda se assenta sobre a mesma base do dogmatismo e da intolerância e que, por conta disso, foi responsável por diversas arbitrariedades ao longo da história. Na prática eles questionaram a autoridade papal e não a condição arbitrária e totalitária do cristianismo ou mesmo a sua veracidade. Deus continuou sendo o criador de todas as coisas e quem negasse isso também teria que se ver com eles.

FREE YOUR MIND! - Morpheus

Offline FZapp

  • Administradores
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 6.943
  • Sexo: Masculino
  • El Inodoro Pereyra
    • JVMC
Re: Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"
« Resposta #95 Online: 09 de Janeiro de 2008, 20:57:51 »
[Suuuuper off-topic]
Toda vez aparece este tópico na minha lista de não lidos e quando leio 'Richard Dawkins - "Nós precisamos seguir os judeus"' a minha imaginação maldita vê uma procissão de rabinos e o Dawkins no final, levando o menoráh ou sei lá mais o quê.  :hihi: :hihi: :hihi:
[/Suuuuper off-topic]


Eu também acho que culpar a religião pelas guerras é como culpar a dinamite pelo homem-bomba.
--
Si hemos de salvar o no,
de esto naides nos responde;
derecho ande el sol se esconde
tierra adentro hay que tirar;
algun día hemos de llegar...
despues sabremos a dónde.

"Why do you necessarily have to be wrong just because a few million people think you are?" Frank Zappa

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!