Bom, eu não contei o que me aconteceu apenas para narrar uma historia trágica com final feliz, mas porque acho que diante de uma tragédia dessa, posso ter algo a oferecer.
Como minha mãe morreu muito jovem, acho que o meu pai se viu na obrigação de criar as filhas para serem pessoas independentes, talvez com medo de morrer antes de nos tornarmos adultas, quis nos oferecer uma segurança a mais nos ajudando a desenvolver o senso de responsabilidade muito cedo – sou grata a ele por isso.
Por outro lado, eu não soube lidar com essa independência e senso de responsabilidade muito bem – porque não desenvolvi o vínculo de confiança necessário para pedir ajuda quando precisasse, achava que tinha que resolver sempre os meus problemas sozinha – ainda acho, mas já aprendi a confiar e pedir ajuda quando precisar.
Vivi por mais de um ano uma situação que poderia ter sido resolvida imediatamente, se soubesse isso na época – evitando várias outras circunstâncias. Eu não precisava ter passado por isso, mas eu não sabia.
E como eu, conheço várias pessoas que acham que precisam resolver seus problemas sempre sozinhas – principalmente, seus problemas pessoais, particulares. Pode ter sido o caso da estudante assassinada, não sabemos – e talvez pudesse ter sido evitado por um pedido de ajuda que quase ninguém, ao menos, que eu conheço, tem a coragem de fazer.
Dificilmente uma pessoa, homem ou mulher, irá pedir ajuda se perseguida ou ameaçada por um relacionamento que acabou – porque soa meio infantil, soa ridículo pedirmos ajuda dos pais ou de um amigo para resolver um problema de relacionamento – um conselho que seja. É provável que elas tentarão sempre resolver sozinhas primeiro e é quando começa um processo que não se sabe onde pode chegar.
Porque ninguém acha, a princípio, seriamente, que aquela pessoa com quem dividiu a intimidade e conhece relativamente bem seja capaz de chegar as vias de fato. Todos nós acreditamos que é apenas uma questão de tempo para a pessoa se conformar e que por isso, não precisamos envolver outras pessoas no meio – e quanto mais isso se aprofunda, mais se torna ridículo e menos coragem temos de envolver outras pessoas, pedir ajuda – vira uma bola de neve.
Por isso acho importante ter esse vínculo de confiança com alguém – saber pedir ajuda ou mesmo um conselho, mesmo que pareça ridículo e ficar atento, principalmente, com os filhos – não para vigiar, mas para ajudar – os problemas quase sempre, por mais sutis que sejam, dão algum sinal.
As pessoas precisam sentir que o que é importante para elas é importante para quem gosta delas para criar esse vínculo de confiança. E isso pode fazer toda a diferença entre um final feliz ou trágico.
Estou dizendo isso, porque acredito, sinceramente, que o final da história que contei aqui, só não terminou em tragédia porque tive coragem de pedir ajuda antes que as ameaças chegassem as vias de fato. Hoje percebo que só fiz alimentar a loucura daquele rapaz, ocultando o ridículo das pessoas para tentar resolver eu mesma. E que se aquilo tivesse continuado não é muito difícil prever como teria terminado.