Porque crer em Deus sem tentar estabelecer algum tipo de relação com ele é, aos meus olhos, querer que haja um benefício sem assumir a responsabilidade por ele.
Agora entendo - você diz a respeito de crer num deus pessoal que se comunica com humanos. Concordo - é preciso assumir o ônus. Eu não pensava na hipótese de um deus pessoal, necessariamente, quando perguntei
mas na hipótese deísta ou panteísta, inclusive.
Na verdade, Luz, está tão evidente para mim que Deus é criação humana e que na prática a diferença entre o ateísmo, o deísmo e o panteísmo é indetectável para quem está de fora que nem pensei nesses termos.
Religião e comportamento religioso para mim são uma e a mesma coisa. Acho contraproducente usar a definição de "religião" que equivale a "crença dogmática"; é pobre em todos os sentidos e ofensiva em quase todos. Por isso não a uso - em uma discussão como esta esse conceito de religião é apenas um espantalho, algo que são sempre "os outros" que tem. É o sentido espírita de religião, aquele que supostamente se é "evoluído demais para se ter". Eu já passei dos seis anos de idade e não vejo mais graça em criar esse espantalho para depois bater nele.
Portanto, o que seria crer em Deus e "não ter religião"? Na prática é uma forma confusa de dizer que se quer crer em Deus criador, o Arquiteto com um Plano, mas não se quer assumir a responsabilidade de tentar definir o que Ele quer. Quer dizer também que se caiu no erro de achar que religião é uma consequência da crença em Deus. Por fim, é um reconhecimento implícito dos problemas, contradições e até mesmo insanidade inerentes à idéia de que a religião existe ou tem de existir para "atender à vontade de Deus".
Só que aí se cai em uma idéia quase tão absurda, que é a de que Deus Arquiteto Criador existe, mas não consegue se fazer entender por ninguém...
Para mim, que não está tão evidente assim que Deus é uma criação humana, já não vejo diferença prática entre essas posturas.

Porém, não compartilho da sua forma de interpretar religião. Considero, pessoalmente, o religioso, aquele que acredita porque está escrito, interprete literal ou simbolicamente a "verdade" - mas não aqueles que após avaliar a questão chegaram por uma inspiração individual à conclusão que existe um deus.
Conheço pessoas que pensam dessa maneira e buscam a ligação pessoal com o divino por intuição - pelas atitudes diárias, pelo que a própria consciência aprova ou condena e não as considero religiosas, mas tão pouco atraibuo a palavra religião um sentido pejorativo.
Faço a diferença apenas por aceitar cada qual com seu cada um sem ter a necessidade generalizar.

Quando alguém me diz que não é religioso, entendo que isso quer dizer que a pessoa não possui crenças por causa de uma "verdade" escrita - mas por outras causas particulares.

Considero isso antes filosofia e não vejo por que chamar de religião - mas talvez termine apenas por ser uma questão de semântica. Prefiro adotar a separação.