Não digo desumanização, mas me parece que certas tecnologias ajudam a banalizar certas práticas.
O uso dos primeiros softwares piratas, por exemplo, ao menos, num primeiro momento, era visto pelos próprios usuários como crime. Embora utilizassem ou fossem obrigados, no emprego, por exemplo, existia a "sensação" de coisa errada - que foi se dissipando com o tempo, tanto pelo uso quanto pela "aprovação social" - já que "todo mundo" fazia.
Quero dizer, a prática consciente de um crime, num primeiro momento, vai perdendo o valor moral com a prática. O usuário, hoje, em média, sequer têm consciência do crime - a coisa adquiriu sensação de "natural", ou melhor (ou pior), o usuário sabe que pratica um crime, mas não se sente um criminoso.
E me parece que o precedente abre caminho - da pirataria de softwares para a de músicas, jogos e filmes às ligações clandestinas de sinal de canais fechados e mesmo água ou energia elétrica, por exemplo.
Além da banalização do crime, porque todo mundo, ao menos, conhece alguém que faz, houve uma inversão de valores, "estranho" passou a ser quem não faz e a tecnologia avança no sentido de facilitar a prática.
Posso estar enganada, era muito jovem na época da transição, mas não me lembro dessa permissividade antes da era da computação. Ás vezes, tenho a impressão que os altos preços, combinados a crescente necessidade de uso da informática, imposta pelo próprio mercado, mais a facilidade de fraude foram determinantes no efeito bola de neve da banalização dessa mentalidade que se espalhou pela sociedade.
Desse ponto de vista, concordo, em parte, com o tal professor.