O psicólogo e economista comportamental israelense Dan Ariely estudou o "mercado" da beleza. Numa série de estudos descrito no livro Positivamente Irracional, ele constatou que os feios não usam a “estratégia da uva verde”. Feios e bonitos tem percepções similares sobre quem é feio e quem é bonito (foi feita análise através das notas dadas no site Hot or Not). E, em termos do que buscavam parceiro romântico, os participantes mais atraentes se importavam mais com atratividade, enquanto os menos atraentes se interessavam mais por outras características (inteligência, senso de humor e bondade). Isso significa que as pessoas com deficiências estéticas reformulam suas prioridades nos relacionamentos amorosos.
É engraçado a maneira como ele descreve as três possíveis maneiras de lidar com nossas limitações físicas. As pessoas com limitações físicas geralmente usam a segunda estratégia:
Alterar percepção estética (gosto de homens carecas)
Reconsiderar a hierarquia dos atributos (Não gosto de homens carecas, mas procuro outras qualidades)
Não se adaptar (Nunca gostei de homens carecas. Não me adaptarei à minha posição na hierarquia de namoro).
A conclusão de Ariely também é interessante: “Independentemente de nossos juízos de valor quanto à real importância da beleza, é claro que o processo de reformulação das prioridades nos ajuda a adaptação. No fim das contas, todos temos de fazer as pazes com quem somos e com o que temos a oferecer. Em última instância, a boa adaptação e o bom ajustamento são a chave da felicidade.”
Eu evitaria dizer que os indivíduos com deficiência estética são "mais profundos" por se importarem menos com a beleza e mais com outros atributos. E quando uma pessoa de aparência mediana diz ter um apego à beleza de forma intermediária, é preciso desconfiar de sua atitude, pois isso pode ser apenas mero discurso. Como quase todos os feios, talvez tenham feito com que sua narrativa se adaptasse às circunstâncias.
Da minha parte, acho fundamental dizer que quem é rico nesse aspecto é quem demonstra a preferência pela beleza, sem deixar-se abater pela passagem do acesso à beleza ao não acesso à beleza. Quando alguém tem acesso à beleza de um(a) parceiro(a), o sofrimento diante de perder aquela beleza excede o ganho emocional obtido com aquela beleza, de modo que o indivíduo passa a viver sob contínuo risco emocional. A dependência das circunstâncias induz a uma forma de escravidão. Portanto, acho importante fazer exercícios mentais para desconsiderar a beleza, e, assim quando sobrevier a perda, o golpe não ser sentido - uma maneira de recuperar a liberdade diante as circunstâncias. Nenhuma desvantagem diante à Dona Sorte, mas muitas vantagens. Assim, pensando desse modo, a beleza é a escrava dos homens sábios e a mestre dos tolos (aqui estou adaptando uma frase de Sêneca feita para a riqueza; aliás, esse parágrafo foi inspirado nele e na sua filosofia estóica).