Autor Tópico: O problema mente-corpo  (Lida 11166 vezes)

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Offline trig

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O problema mente-corpo
« Online: 22 de Março de 2008, 01:16:46 »
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Offline HSette

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #1 Online: 22 de Março de 2008, 07:36:16 »
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Que problema?
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Chaves

Offline trig

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #2 Online: 22 de Março de 2008, 09:17:00 »
O "problema duro" como exposto por David Chalmers. É uma questão clássica. Como é que a atividade cerebral que se pode observar de fora gera uma mente subjetiva que só podemos ver de dentro?
« Última modificação: 22 de Março de 2008, 09:23:18 por trig »

Offline Adriano

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #3 Online: 22 de Março de 2008, 10:45:32 »
A teoria que adoto na minha visão de mundo é a teoria do corpo objetivo, fundamentada e detalhada no tratado científico Projeciologia - Parorâma das experiências da consciência fora do corpo humano. Neste compêndido é avaliados as mais diversas hipóteses que explicam esses fenômenos considerados até então como anômalos, os parapsíquicos. O livro devenvolve as relações desta teoria com 54 fenômenos "estranhos".

Waldo Vieira é um intelectual citado pelo guia internacional bibliográfico inglês Who´s Who in the 21th Century, 2002, First Edition. Além disso teve expressiva participação internacional nas diversas sociedades científicas de parapsicologia dos Estados Unidos e da Europa.

É bom base nas teorias desse pesquisador que devenvolvo as minhas experimentações projetivas, comprovando de maneira inequívoca esta realidade.

Sem entrar no mérito espistemológico dos programas de pesquisas científicas lakatosianos.

Edit. Complementando, sem precisar entrar nessa abordagem externalista da questão, é possível ver as soluções encontradas pela fenomenologia e o existêncialismo. A consciência de algo (coisas, objetos) no primeiro, e a consciencia de si, no existencialismo, que fundamenta a vivência humana. Heidegger com o Ser e o tempo e Sartre com o Ser e o Nada.

Esta é a abordagem internalista que chega na mesma conclusão.
« Última modificação: 22 de Março de 2008, 10:49:03 por Adriano »
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline FZapp

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #4 Online: 22 de Março de 2008, 12:11:03 »
A tradução para 'the hard problem' me parece que seria 'o problema difícil' , ou seja 'hard' em oposição a 'easy' (e não 'soft').

Mas enfim, perceber que somos o que somos (ou que não somos o que não somos, assim como se perceber como uma mente, uma identidade, uma necesidade de tomar decisões, etc) é uma adaptação complexa para a auto-sustentação do indivíduo.

É a ilusão do eu que ainda procura um fantasma na máquina: a mente é um conceito que nasce a partir da diferenciação de conceitos, até chegar num sistema complexo onde o próprio sistema se auto-define.

Vou falar não bem da Bíblia, mas sim dos mitos hebreus: não do princípio que foi o Verbo, mas de que Adão tem como primeira tarefa dar nome aos animais, de chamar vaca de vaca, ganso de ganso (fantasmão de... oops, deixa para lá!). É a nossa noção de que as 'coisas' no começo deviam ser coisas, deviam ser denominadas para serem contextualizadas.

A sociedade humana é baseada em comportamentos de mamíferos, mas também nesta sociedade que forma uma cultura e métodos de acumular e transmitir conhecimento a partir destes conceitos. Ficou tão complexo que nos impresiona (é antropocentrismo também, será que Chambers se perguntaria como são os sentimentos de um polvo que muda de cor para  se comunicar com outro ?).
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #5 Online: 22 de Março de 2008, 19:09:18 »
Duro e difícil podem ser sinônimos, ex.: "vida dura".

O problema é mesmo um problema, talvez nunca seja explicado. Apenas supor que seja uma adaptação complexa ou mapear os correlatos neuronais não explica exatamente o que ela é, como se forma. É a "lacuna explicativa".

Offline Buckaroo Banzai

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #6 Online: 22 de Março de 2008, 19:17:43 »
Acho que o Dennett praticamente diz que não há problema algum, que é só um tipo de trapalhada semântica. Acho que ele não poderia estar mais errado.

Se não me engano, ao mesmo tempo ele (e também o Ramachandran, se não me engano) sugerem que o qualia só se origem quando se adquire uma linguagem... e inclusive seria parte disso o problema da trapalhada semântica. A "explicação" parece ser de que apenas com linguagem podemos dar "rótulos" vocabulares às entradas sensoriais. Acho bem tosca essa explicação, uma vez que os próprios qualias podem ser vistos como os "rótulos" sem a necessidade de se supor que eles não existam até que tenhamos adquirido alguma linguagem, e sem ficar em saias justas para responder se um cão treinado a entender diversas palavras tem qualia devido a isso, mas cães não treinados não tem, ou se computadores teriam qualia devido à lingüagem de computador.

Mas posso ter entendido mal a posição dele(s). Li isso num boletim da skeptic magazine que não devo ter mais.

Offline Adriano

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #7 Online: 22 de Março de 2008, 19:21:11 »
Se for entrar na questão da linguagem quem domina a parada é Noam Chomsky. A teoria generativa da linguagem é magnífica.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #8 Online: 22 de Março de 2008, 19:23:47 »
Consciousness is
Nothing but a Word


by Henry D. Schlinger

In 1991, Daniel Dennett published his tome, Consciousness Explained.1 Yet, ten years later he penned an article titled “Are We Explaining Consciousness Yet?”2 If he had to ask the question, the answer seems obvious. English-speaking philosophers and psychologists have been trying to understand consciousness at least since John Locke introduced the word into the English language in the 17th century. But despite the best efforts of those who’ve thrown their hats into the ring, we haven’t made much progress. Obviously, a different approach is needed.

[...]

http://www.skeptic.com/eskeptic/08-02-27.html

Offline Adriano

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #9 Online: 22 de Março de 2008, 19:24:30 »
Não dá para discutir em português por aqui!
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #10 Online: 22 de Março de 2008, 19:47:21 »
Eu não estava respondendo à você, apenas complementando o que eu tinha dito antes. Não sei de material em português sobre o assunto na net, e não vou postar nada mais longo que isso agora. Também desconheço sobre qualquer especulação do Chomsky sobre consciência.


De qualquer forma, outro link (em inglês) onde Dennett diz que crê, mas que não pode provar, que a linguagem é pré-condição essencial para a consciência:
http://www.edge.org/q2005/q05_10.html#dennett

Offline Adriano

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #11 Online: 22 de Março de 2008, 19:49:26 »
Chomsky não fala da consciência, mas ele é quem melhor aborda a linguagem oral.

E exatamente por não ter respondido a mim que eu fiz uma apelo de algo em portugues se possível, uma idéia meio geral, por favor.
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Offline FZapp

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #12 Online: 22 de Março de 2008, 19:56:30 »
Duro e difícil podem ser sinônimos, ex.: "vida dura".

O problema é mesmo um problema, talvez nunca seja explicado. Apenas supor que seja uma adaptação complexa ou mapear os correlatos neuronais não explica exatamente o que ela é, como se forma. É a "lacuna explicativa".

Uai, o que ela é ? Uma adaptação complexa, uma imensa ilusão, tão boa que nem explicar conseguimos.
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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #13 Online: 22 de Março de 2008, 19:59:51 »
(mas um 'problema duro' mais parece uma pedrona encima do pé!)
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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #14 Online: 22 de Março de 2008, 20:02:05 »
Chomsky é a base das atuais teorias de linguística cognitiva, que se aproxima dessa abordagem, digamos "fenomelógica" dos processamentos informacionais no cérebro humano.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #15 Online: 22 de Março de 2008, 20:50:03 »
Duro e difícil podem ser sinônimos, ex.: "vida dura".

O problema é mesmo um problema, talvez nunca seja explicado. Apenas supor que seja uma adaptação complexa ou mapear os correlatos neuronais não explica exatamente o que ela é, como se forma. É a "lacuna explicativa".

Uai, o que ela é ? Uma adaptação complexa, uma imensa ilusão, tão boa que nem explicar conseguimos.

Sim, mas isso é só um aspecto da coisa (mas nem necessariamente é verdade também)... é meio como dizer que um filme é uma ilusão/criação tecnológica/adaptação, mas sem explicar como funciona o televisor ou a projeção cinematográfica - esses que são os problemas.

Por exemplo, você tem o seu aparelho sensorial material todo, os olhos, que recebem estímulos de luz, e conduzem ao cérebro, que por sua vez reage de acordo, e você tem então essa ilusão/representação do mundo a sua volta, que é uma adaptação e etc.

Mas, por exemplo, digamos que em vez de estarmos falando de um cérebro, estivéssemos falando de um chip, de uma placa de circuito integrado de um carrinho de controle remoto capaz de andar por um ambiente qualquer sem trombar nas paredes. Esse carrinho está tendo experiências subjetivas mais ou menos da mesma forma que nós? Será que ele "vê" as informações óticas como nós vemos, ou apenas reage "mecânicamente" à essas informações visais, sem a necessidade de supor que ele esteja de certa forma "assistindo" a essas imagens? Será que o computador de alguma forma "sente" cada tecla pressionada de uma forma que não temos exatamente um análogo, como um outro sentido, ou será que é mais como um "carimbo", em que não achamos que, seja o papel, ou o carimbo, está sentindo qualquer coisa?

Geralmente tendemos achar que não, para ambas as situações que não envolvem cérebros orgânicos como "observadores", mas realmente não temos muito como saber. Parece razoável supor que tenhamos a experiência subjetiva, e que seja herdada dos ancestrais comuns com sentidos similares, retrocedendo até os ancestrais que não os tem mais. Outra hipótese é de ser algo mais exclusivamente humano, surgido, alguns imaginam, depois da divisão com os chimpanzés. De uma forma ou de outra, não se sabe ainda explicar "o que" é a experiência subjetiva, no máximo adjetivá-la como adaptação, o que como mencionei anteriormente, também não é garantido (já explico por que).

Analisando primeiramente a hipótese menos antropocentrica da experiência subjetiva, de que surgiu quase em conjunto com os sentidos, conforme esses iam surgindo. Essa hipótese tem o problema (ou não, talvez só desconforto irracional) de talvez implicar na consciência de coisas bastante simples que mencionei antes, como robozinhos ou calculadoras.

Afinal, no que essas coisas diferem tanto dos sistemas nervosos mais simples, que se supõe terem alguma forma de experiência subjetiva? Meio que ambos são "computadores", circuitos eletrétricos ou eletroquímicos, mudam um pouco os materiais. É difícil então dizer o que é que causaria a consciência ou não. Seria a atividade elétrica nessas coisas, reagindo de acordo com "inputs" ambientais? Talvez isso nos leve a admitir algum tipo de experiência subjetiva para quase tudo que é material. Talvez uma calculadora tenha seu nível de experiência, talvez um led ligado a uma pilha tenha o seu, e daí é difícil dizer que tipo de sistema material não teria o seu.

Ao mesmo tempo isso não parece nada crível, apesar de termos vindo de uma suposição mais ou menos aceitável (eu acho), dos outros organismos também terem qualia. O David Chalmers inclusive se pergunta se um termômetro teria qualia.

Nessa situação, a consciência praticamente não seria uma adaptação, seria praticamente um aspecto da natureza meio como a gravidade, não algo criado biologicamente. Eu acho esse cenário todo problemático porque ainda há a ilusão do "eu", inegavelmente, produzido pelo cérebro; não parece razoável supor que as minhas mãos tenham a consciência "delas", que cada célula minha tenha o seu tipo de consciência e de repente exista essa entidade "eu" que é composta de várias delas e mesmo assim alheia a todas elas. Por outro lado, talvez os casos de cérebros divididos se mostrando independentes, sejam uma situação parecida.

Indo agora para o outro extremo, supondo que talvez a maioria dos animais não tenha consciência, que é uma adaptação humana, de humanos e ancestrais ou parentes bem próximos. Talvez isso, através de uma arbitrariedade evite o problema das calculadoras conscientes, mas não é nem um pouco melhor em explicar o que é essa experiência subjetiva. No máximo, podemos meramente apontar os correlatos neuronais existentes em cérebros humanos conscientes e dizer que estão ausentes nos outros animais, o que não realmente explica como é produzida a consciência, o que essa atividade neuronal faz para produzir essa ilusão de um espectador. E ainda surge o problema de ser uma nova adaptação, independente das adaptações sensoriais.

Se a maioria dos animais veio vivendo há milhões de anos sem experiência subjetiva, muito bem, obrigado, então por que ela seria adaptativa? Se eles podem se dar muito bem como "zumbis filosóficos", como "robôs" que respondem às entradas de dados ambientais, mas sem ter esse "alguém" assistindo a tudo como um "homúnculo", por que nós precisamos? Que adaptação isso nos trás? Concebivelmente, poderíamos também sobreviver da mesma forma, sem a experiência subjetiva.

Inclusive há os interessantes casos de "visão cega", onde a pessoa, apesar de relatar não ver nada, porque alguma lesão cerebral afetou "o caminho da informação visual até a consciência", por assim dizer, ainda é capaz de reagir a essas informações visuais corretamente, porque outras partes do cérebro, não-conscientes, estão recebendo essas informações. 

A experiência subjetiva então leva mais jeito de ser um "spandrel" evolutivo, um subproduto acidental de algo que evoluiu por outras razões. No mínimo, se originou assim, e então foi aproveitada como adaptação, como acontece com adaptação, já que a seleção natural não "inventa" conceitos totalmente novos do nada, só porque seriam bons. Eu não consigo conceber, mas talvez haja, alguma vantagem nesse "homúnculo" ilusório tendo as experiências subjetivas em vez de reações e reflexões "robóticas", de um organismo-autômato sem um "espectador" subjetivo.

Há quem sugira, baseado em fortes evidências, que a consciência nem afeta muito o comportamento (idéia originalmente do Francis Crick, acho). Me parece que inclusive já conseguiram ver através de imageamento cerebral, a "vontade" consciente de uma ação surgir apenas depois da decisão de tal ação ser tomada por outras áreas. Ou seja, seria como se fôssemos iludidos a acreditar que decidimos algo que vamos fazer, quando a decisão veio antes, inconscientemente,


Offline Dbohr

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #17 Online: 23 de Março de 2008, 08:10:07 »
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Offline trig

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #18 Online: 23 de Março de 2008, 09:34:08 »
jcatino, o que é "ilusão" é a ideia de que a mente tem um chefe que é o EU, que observa o mundo como  se estivesse a olhar para  uma tela. No entanto, há subjetividade e como tal um qq tipo de eu. Dennett diz que o eu real não é central (ilusão), mas o resultado emergente de muitas coisas que ocorrem em paralelo. Este eu é real.

E se a cosciência é uma adaptação complexa, isso só torna o problema mais dificil.

Offline FZapp

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #19 Online: 23 de Março de 2008, 10:54:49 »
Citar
Afinal, no que essas coisas diferem tanto dos sistemas nervosos mais simples, que se supõe terem alguma forma de experiência subjetiva? Meio que ambos são "computadores", circuitos eletrétricos ou eletroquímicos, mudam um pouco os materiais. É difícil então dizer o que é que causaria a consciência ou não. Seria a atividade elétrica nessas coisas, reagindo de acordo com "inputs" ambientais?

Não, é o conjunto de circuitos e a relação entre o estímulo e o 'banco de dados de respostas' que precisa de uma análise para cada situação.

Veja, no ser humano exitem vários níveis de consciência, há vários 'pensamentos' concorrentes, cada um deles derivado da relação ente estímulo-banco de respostas-tomada de decisão. Esse conjunto todo e a ilusão do eu me fazem deduzir que existe um 'eu' que comanda.

O que chamamos de consciência deriva de uma quantidade e qualidade altas dessa mesma relação.

Isto invalida, claro, a especulação de se somente os humanos termos ou não consciência. Com certeza polvos tem muitas qualidades cerebrais que poderiam ter desencadeado um grau de consciência como a humana; mas eles tem uma sociedade bem diferente então não a desenvolveram como nós. Então, se comparar somente os mecanismos neurais necessários, pode achar que somos iguais. Mas os mecanismos congnitivos humanos, herdados de mamíferos, são muito mais complexos no que tange às ncessidades de socialização dos indivíduos, e foram a base pelo qual nasceu o que chamamos de consciência.

(Posso estar fazendo uma réplica, mas achei este seu post excelente, digno que impressão e placa comemorativa)



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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #20 Online: 23 de Março de 2008, 10:55:44 »
Citar
E se a cosciência[sic] é uma adaptação complexa, isso só torna o problema mais dificil.

Ainda não entendi por quê.
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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #21 Online: 23 de Março de 2008, 11:02:21 »
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Se a maioria dos animais veio vivendo há milhões de anos sem experiência subjetiva, muito bem, obrigado, então por que ela seria adaptativa?

Mas eu vejo claramente que houve uma complexidade cada vez maior de relação com o ambiente, então sim animais tem experiência subjetiva, até me atrevo a dizer que podemos constatar em muitos mamíferos a ilusão do eu.
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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #22 Online: 23 de Março de 2008, 14:48:41 »
(Posso estar fazendo uma réplica, mas achei este seu post excelente, digno que impressão e placa comemorativa)


Obrigado :mrgreen:  É um assunto muito interessante.



Citar
Afinal, no que essas coisas diferem tanto dos sistemas nervosos mais simples, que se supõe terem alguma forma de experiência subjetiva? Meio que ambos são "computadores", circuitos eletrétricos ou eletroquímicos, mudam um pouco os materiais. É difícil então dizer o que é que causaria a consciência ou não. Seria a atividade elétrica nessas coisas, reagindo de acordo com "inputs" ambientais?

Não, é o conjunto de circuitos e a relação entre o estímulo e o 'banco de dados de respostas' que precisa de uma análise para cada situação.

Veja, no ser humano exitem vários níveis de consciência, há vários 'pensamentos' concorrentes, cada um deles derivado da relação ente estímulo-banco de respostas-tomada de decisão. Esse conjunto todo e a ilusão do eu me fazem deduzir que existe um 'eu' que comanda.

O que chamamos de consciência deriva de uma quantidade e qualidade altas dessa mesma relação.

Isto invalida, claro, a especulação de se somente os humanos termos ou não consciência. Com certeza polvos tem muitas qualidades cerebrais que poderiam ter desencadeado um grau de consciência como a humana; mas eles tem uma sociedade bem diferente então não a desenvolveram como nós. Então, se comparar somente os mecanismos neurais necessários, pode achar que somos iguais. Mas os mecanismos congnitivos humanos, herdados de mamíferos, são muito mais complexos no que tange às ncessidades de socialização dos indivíduos, e foram a base pelo qual nasceu o que chamamos de consciência.

Primeiramente, eu concordo de certa forma, acho que a consciência tenha uma origem mais antiga na árvore filogenética, talvez até algumas origens independentes, e ao mesmo tempo não me parece, intuitivamente, nada razoável cogitar que a consciência exista em coisas como calculadoras, termômetros ou moléculas.

Tem um livro do Carl Sagan no qual ele dá um palpite interessante, sobre que talvez outros animais mais próximos tenham um nível de consciência similar ao que temos quando sonhamos, quando, se não me engano, funções do córtex frontal e do lado esquerdo (isso pode estar desatualizado e errado, mas acho que era isso que ele disse no livro) "tiram uma folga". Nos sonhos, não temos a mesma capacidade de reflexão, tanto que somos enganados pelas invenções mais idiotas da nossa mente. Os sonhos lúcidos seriam essas partes que deveriam estar "dormindo" durante o sonho, por alguma razão, voltarem a prestar atenção às ilusões criadas para o homúnculo, e percebem que aquilo tudo não é real. Por algum motivo isso me parece muito mais satisfatório do que os outros animais serem desprovidos de consciência como se fossem autômatos.

Mas o engraçado disso tudo é que, não importa, mesmo que cheguemos a um ponto na árvore filogenética que pareça mais razoável, ainda nem resvalamos no "problema difícil" da consciência, a questão do que são, e como são produzidos (e não apenas quais seus correlatos neuronais) esses "espectadores", que achamos que devem existir em diversos graus de inteligência nos animais, mas que duvidamos para alguns, e praticamente todos excluem para seres sem sistema nervoso ou máquinas com circuitos eletrônicos, por mais complexos que sejam.

Tudo isso que você disse, sobre estímulos, bancos de dados, interações com o ambiente, e etc, teoricamente seria concebível existir sem a necessidade desse "espectador" se originando de alguma forma, a menos de maneira quase metafórica.


Citar
Se a maioria dos animais veio vivendo há milhões de anos sem experiência subjetiva, muito bem, obrigado, então por que ela seria adaptativa?

Mas eu vejo claramente que houve uma complexidade cada vez maior de relação com o ambiente, então sim animais tem experiência subjetiva, até me atrevo a dizer que podemos constatar em muitos mamíferos a ilusão do eu.

Há algum tempo li ou ouvi que os ratos sonham; que puderam inferir que provavelmente eles estavam "reprisando" os mesmos acontecimentos do dia (passar por um labirinto). E parece que depois disso, ele criava novos labirintos no sonho. Não lembro exatamente como se davam essas inferências.

Pela homologia conosco, me parece muitíssimo razoável, praticamente certo, supor que ele estivesse "vendo" esses sonhos, e que também "viu" os acontecimentos reais.

Por outro lado, há o problema da "visão cega" em humanos, que talvez possa ser extendido para criar zumbis filosóficos totais, talvez até menos problematicamente se for em algo mais simples como um rato. Provavelmente ele teria a mesma "leitura" no imageamento cerebral, já que há todo esse fluxo de dados, tal como há na visão cega o fluxo dos dados visuais até algum processamento que passa "por trás" da consciência. Talvez então o que quer que crie a consciência no cérebro, só tenha aparecido mais recentemente, e não sabemos bem quando (e não estamos nem chegando perto de falar o que é, do que são "feitos" os qualia).




Para visualizar o problema, por algum motivo me parece ser mais fácil tentar imaginar um hipotético robô avançado que fizesse o mesmo, ou ainda, preferencialmente, um hipotético robô praticalmente totalmente mecânico, talvez eletro-mecânico, sem circuitos eletrônicos, só engrenagens, rodas dentadas, molas, cordas, correntes, etc; com memórias armazenadas em cartões perfurados, que vão sendo levados de um lugar para outro por cordas, roldanas e túneis pneumáticos.

É possível imaginar uma sociedade feita dessas "coisas", seja dos robôs de tecnologia eletrônica, ou dessas hipotéticas obras genias puramente mecânicas, que funcionasse, que tivesse interações sociais diversas, cujos indivíduos analizassem situações, discutissem entre si fazendo trocas de dados, etc. Mas por algum motivo, para essas coisas, parece bem menos plausível, praticamete ridícula a hipótese de gerarem um espectador dotado de qualia, como nossos corpos/cérebros produzem; principalmente para os seres feitos apenas engrenagens mecânicas, e em menor grau, para os com cérebros e sentidos eletrônicos.

O que de certa forma nos leva (ao menos a mim) à estaca zero, a concluir que não temos idéia do que seja, e por mais ridícula que pareça a idéia de "coisas" terem qualia como nós, isso não pode ser excluído como possibilidade, até que de alguma forma possamos provar que o nosso substrato material (ou algo bem parecido) para esses fluxos de informações seja algo mais ou menos "especial", a única coisa capaz de gerar qualia, que nem sabemos o que é!

Podemos especular... mas fica praticamente no nível de "invenção", quase filosofia de botequim... talvez... talvez os qualia sejam mais ou menos um tipo de fenômeno quase que inerente à sistemas materiais diversos, algo relacionado a trocas de informações... mas talvez eles dependam da velocidade dessas trocas de informações, então isso faria que o robô de engrenagens mecânicas deixasse de ser um candidato plausível para ter qualia; robôs eletrônicos por outro lado, seriam automaticamente promovidos a candidatos fortíssimos, e tão fortes que teríamos que igualmente propor, eu imagino, níveis de consciência mais ou menos análogos aos que se imagina que tenham os animais "inferiores", a aparelhos eletrônicos como PCs e calculadoras. Talvez possamos plotar diversos níveis de consciência num gráfico com dois eixos, um para nivel de complexidade, e outro para simplesmente distanciarmos em algo coisas que sentimos que, se tiverem experiências subjetivas, são de alguma forma, diferentes das nossas. Mais ou menos como, a diferença que há entre a audição e a visão, mas para sentidos/níveis de experiência que nós humanos nunca experimentamos, talvez nem outros animais.




E ainda assim... não se está absolutamente em nada, dando conta to "problema difícil" da consciência...

Acho que isso só poderá ser feito através de experimentos arriscados e de ética bem duvidosa envolvendo o cérebro. Meio como um experimento mental que alguém propôs, não lembro quem. Descobre-se que tal área do cérebro faz isso e aquilo, descobre-se o "código neural" e constrói-se algum chip que consegue realizar a mesma função e conversar com as áreas adjacentes no código neural. Substitui-se, e, supostamente, dá no mesmo. Mas talvez em algum ponto, algo no modo como o mesmo resultado é alcançado pelo chip, difere de forma a não produzir mais a consciência... aí teria-se essas diferenças para se investigar...

Ainda assim... estaria se investigando agora correlatos materiais, em vez de especificamente neurais, da consciência... e não o que ela "é" em sua natureza mais "imediata".

Eu sou realmente impedido de rejeitar como cogitável o tipo de dualismo proposto pelo Chalmers (acho que ele é o principal propositor disso), mas ao mesmo tempo é desconfortável por que também não explica nada realmente, pelo que eu entendi.... é quase uma caixa-preta... não muito diferente de se supor que existam também "almas", apenas mais parcimonioso por não chegar a esse nível. A vantagem é que talvez abra um novo "campo" de explicações, meio como não se pode esperar das coisas subatômicas que sigam exatamente as mesmas regras do mundo "macro". Não se sabe exatamente o que é um quark, uma partícula virtual ou qualquer uma dessas coisas malucas... não são exatamente a mesma coisa que os seus análogos "macro" em versão ultra miniaturizada... tem propriedades especiais...  talvez, o fenômeno da experiência subjetiva também seja produzido por coisas que não se pode entender apenas por analogia aos mecanismos conhecidos, tendo regras extras para o seu "mundo".

Acho importante terminar com algumas notas "anti-woo", tendo dito isso tudo. Isso tudo não quer dizer que podemos aceitar coisas de paranormal, espiritismo, dualismo de algumas correntes cristãs, que há uma "alma" e etc... nada disso é exatamente "favorecido" por essa perspectiva, seriam saltos lógicos, tão grandes como imaginar que, já que os físicos e astrofísicos "inventam" todas essas coisas de supercordas, branas, multiverso e etc, então deve haver algo como um "chocolativerso", um universo no qual todas as partículas são de chocolate; e um "bizarroverso", um universo no qual todos os humanos compreendem perfeitamente a natureza de todos os fenômenos mas estão se esforçando para deixar de entender, as universidades sendo instituições de criação de ignorância, e havendo prêmios análogos ao Nobel, mas para a burrice.




Eu acho que essa questão toda possivelmente nunca será respondida de forma totalmente satisfatória, no mesmo nível que podemos entender por exemplo, a atividade muscular ou resistência de materiais. Podemos observar esses fenômenos, mas é complicado "observar a experiência", "observar a observação", o subjetivo. Não temos como saber se você "usa" para rotular as ondas de luz na faixa do "vermelho" o mesmo qualia que eu uso, ou se é o que eu uso para o verde (ainda que possamos suspeitar disso, caso algum de nós seja daltônico, mas me refiro a simplesmente a hipótese de se ter os qualias todos trocados), ou se é ainda cada um de nós cria cores inimagináveis para os outros. Acho que ouvi dizer que esse tipo de conclusão, da dificuldade da observação desse tipo de coisa, foi algo que deu um impulso ao behaviorismo.



E novamente, não é porque talvez seja algo fora dos limites da ciência que então "vale tudo" e podemos inventar qualquer coisa, sendo o domínio do "método" da religião ou de sei lá o quê.

Offline Fabulous

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #23 Online: 23 de Março de 2008, 18:21:03 »
Você fala de bulimia e anexeroxia?
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Offline trig

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Re: O problema mente-corpo
« Resposta #24 Online: 27 de Março de 2008, 15:05:00 »
O que acham da visão cognitivista reinante (e que Searle diz que tem poucas chances de estar certa), que diz que há fenomenos neurológicos, mentais e no meio um programa? Cada um destes 3 niveis tem uma descrição numa linguagem própria, de modo que não se pode descrever estados subjectivos descrevendo o estado físico do cérebro.
« Última modificação: 27 de Março de 2008, 15:13:58 por trig »

 

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