Os morcegos certamente fazem um mapa 3d, mas não sei se eles tem uma experiência/representação visual-mental, ou sequer auditiva-mental, desse mapa.
Se não tivessem teriam a cabeça quadrada de tanto bater em árvore.
Então um momento. Se eu criar um robô que é capaz de andar num labirinto sem bater nas paredes, através de sensores daqueles tipos dos carros que estacionam automaticamente, ele teria algum tipo de experiência subjetiva? (Ou mesmo esse equipamento dos carros?)
Eu acho que isso só não seria necessariamente suficiente, muito embora não saiba o que seria suficiente. Acho que pode ser mais ou até menos que isso.
Mas em tese, uma "entidade" que possa recolher informações, processar e reagir de acordo, não necessariamente tem experiência subjetiva; então poderiamos teoricamente inventar um suber robô que voasse sem bater pelos labirintos das cavernas dos morcegos, sem que ele tivesse uma experiência subjetiva. Teoricamente poderíamos fazer o computador desse robô de silício ou com neurônios...
Alguma experiência eles tem. Uma experiência que sequer é possível descrever em palavras, muito embora consigamos até descrever as leis físicas que sustentam sua eco-localização. Isso não é revelador para você ? A linguagem matemática poderia ser uma forma de 'conversar' com um morcego inteligente, porque ele teria uma consciência subjetiva pela qual consegue representar sua experiência subjetiva única, intgraduzível, para uma outra linguagem mais genérica, traduzivel até para uma espécie que não tem essa capacidade.
Pode ser; como eu acho que talvez já tenha dito, talvez a experiência subjetiva seja algo tão básico como ser meio intrínsico à qualquer coisa que tenha algum tipo de "informação", o que é praticamente
tudo, talvez. Mas talvez seja necessário algo mais, e "zumbis filosóficos" sejam possíveis. Eu não sei.
Eu não digo que "não sei" com o intuito principal de colocar isso em dúvida, poderia ser muito bem que tivessem a experiência auditiva, mas fossem visualmente cegos, ou que tivessem uma experiência visual com base principalmente em informações não-óticas. Mas também poderia ser até que outras coisas que tipicamente não se pensa ter qualquer experiência subjetiva, tenham.
Não entendi isso. Eles não tem nenhuma experiência visual compatível com a nossa. Mas que tem uma experiência, eles tem, porque estão vivos, captando percepções, procesando e decidindo, embora digamos que isso é mais um reflexo do que um raciocínio, ele é baseado nessas percepções.
Num dos posts anteriores eu até montei um exemplo em que me parece que fica impossível dissociar esse tipo de coisa, processamento, de experiência subjetiva. Mas ao mesmo tempo, talvez seja confusão semântica; é facílimo criar um programa que diga que gosta que apertemos o "enter" e agradeça a cada toque do "enter", sem que isso realmente signifique que ele "gosta" disso... e de forma similar, o morcego ou o robô poderiam ter a "experiência" dos dados ambientais nesse sentido de captação e processamento, sendo mais ou menos como geralmente se assume que é com um programa básico de computador (ou uma ratoeira), que não há uma experiência subjetiva, apenas uma cascata complexa de ação e reação, meio como uma fileira de dominós que se derrubam de maneira extremamente complexa.
A diferença é de complexidade... um programa de computador que diga que gosta que pressionemos "enter" talvez não precise ter nem três linhas... (há de qualquer forma toda a complexidade subjacente do computador no qual ele roda). Então... será que um programa complexo, que um intrincado processamento de dados é a chave para se ter algo mais que algo meramente análogo a uma peça de dominó derrubando outra?
Ou será que é apenas como milhares ou milhões de dominós alinhados, que normalmente supomos não fazer diferença? Eu não sei.
Na verdade eu não estou nem um pouco certo de que estamos nos entendendo... a questão não é inteligência. Como dito no trecho do texto do Chalmers que eu coloquei, inteligência é um dos problemas "fáceis" que podem ser colocados no saco de conceitos rotulado de "consciência". Não tenho dúvida alguma que diversos animais tem diversos graus de inteligência bem análoga (ou melhor, até "homóloga") à humana.
Bom, creio eu que agora você realmente precisa me dar um melhor exemplo do que a vermilhão. E vamos deixar os morcegos de fora, parece que a minha analogia 'morcegos' vs. 'morcegos inteligentes capazes de nos comunicar a sua experiência' não te demonstrou que há experiência, e que é subjetiva.
Eu entendi experiência subjetiva como a interpretação (subjetiva) de eventos ocorridos (experiência). Estou errado ?
Acho que o melhor exemplo é o do cego. Você não tem como passar de forma alguma a noção do que é "vermelho" para um cego. Você pode explicar que mecanismo físico faz com que veja "vermelho", que existem os fótons, que eles podem ser emitidos em diferntes freqüências, e que algumas células as distinguem e etc, mas isso não irá dar nenhuma noção ao cego do que é a experiência de "ver", muito menos da cor vermelha especificamente. Seria para ele um pouco como é para você tentar imaginar uma "cor que não existe", provavelmente pior, uma vez que você ao menos tem outras cores como exemplo.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas são capazes de ver, sem terem no entanto essa experiência subjetiva da visão
http://en.wikipedia.org/wiki/BlindsightNormalmente, pensamos que câmeras e computadores ligados à elas, apesar de identificarem corretamente cores e etc, não tem essa experiência que as pessoas que não são cegas têm.
Esse é o problema; assumimos isso, mas não sabemos realmente o que é suficiente/necessário para a experiência subjetiva, e muito menos como se forma. Casos como a "visão cega" nos permitem embasar a possibilidade de "zumbis filosóficos", talvez plenamente funcionais.
O melhor tratamento parece ser assumir que é algum tipo de coisa quase que fundamental da matéria, ainda que talvez necessite de um elevado nível de complexidade para "surgir" ou se configurar no nível presente nos humanos.