Antes de eu enviar essa mensagem, outras foram enviadas, mas aqui vai mesmo assim.
Seres vivos são máquinas, apenas feitas de material diferente daqueles das máquinas que geralmente construímos.
Ahm... Buckaroo, embora eu concorde inteiramente com você, acho também que sua resposta não vai ser suficiente para o Adriano.
Pelo que entendi, a idéia de uma "consciência extra-corpórea-corpo-sutil-éter-whatever" é para ele como um Axioma. Ele simplesmente
aceita e ponto final.
O problema desse argumento dualista (isto é, o do "fantasma na máquina"), na minha opinião é que ele ainda assume implicitamente a
existência de um Teatro Cartesiano - quer dizer, um observador consciente dentro do cérebro. Mas então, como explicar a consciência
do observador interno? Com um terceiro observador dentro do segundo? E dentro do terceiro? Etc.
Sem falar que existem evidências experimentais que contradizem a existência do Teatro Cartesiano.
O ruim nisso tudo é que há mesmo coisas interessantes na área, é bem intrigante esse "problema difícil", e ao mesmo tempo que o "materialismo" ou a idéia de que compostos orgânicos não tem nada demais e que organismos biológicos são só máquinas que conseguem fazer cópias delas mesmas (como algumas máquinas fazem, diga-se de passagem) sejam coisas bem seguras, esse problema da consciência não descarta totalmente algum tipo mais parcimonioso de "dualismo" - termo que não implica, como disse antes, em comprar todo um pacote de qualquer coisa dualista já imaginada.
O filósofo David Chalmers propõe essa possibilidade, da experiência subjetiva ser um outro aspecto da realidade física. Meio como "energia" é capacidade de um sistema de realizar trabalho, "qualia" talvez fosse alguma coisa que existe nos sistemas físicos de acordo com a "informação", a estados do sistema.
Não que eu particularmente aposte nessa idéia. Acho esquisito demais, mas é ao menos parcimonioso, e uma especulação válida num campo tão misterioso. Acho estranho porque, me parece que implicaria que praticamente qualquer coisa, como uma pedra ou partes dela, teriam o(s) seu(s) tipo(s) de "qualia", já que tem "informações", já que a pedra está em contato com algo, que exerce alguma força X no solo, tem uma temperatura qualuqer, etc; isso por sua vez implicaria que, por exemplo, o meu dedo ou mesmo meu cabelo que é "morto", têm seus próprios "qualias", e no entanto a "minha" experiência subjetiva é "unificada", eu tenho a nítida impressão de ser "uma coisa" só em vez de uma "multidão", que só "eu" tenho qualia, e não que partes do meu corpo, mesmo mortas, as tem.
Por outro lado, (meu modo de "arrumar" isso, não ouvi do Chalmers e não sei se faz sentido, mas me parece ser uma "explicação" razoável) talvez um cérebro seja algo meio como uma bateria. Como uma bateria concentra energia em um sistema, talvez cérebros, de forma análoga, concentrem qualia. Ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que eu tenho essa impressão de unidade do "eu", ele é, de uma forma ou de outra, formado por um conjunto de coisas, mesmo descartando essa coisa toda de qualia ser um tipo de fenômeno natural abrangente. De alguma forma o "eu" emerge de um monte de neurônios organizados e etc. Talvez mais relevante ainda seja o potencial dos dois hemisférios cerebrais serem separados e funcionarem sozinhos, quase como duas pessoas, mas enquanto estão normalmente ligados, somos "um só", apesar de estados, perspectivas e habilidades que são maior responsabilidade de um hemisfério ou do outro.
É engraçado, diante disso tudo que os
woos geralmente acusem as pessoas com mentalidade mais científica de arrogância e esnobismo, de acharem que já sabem de tudo, ao mesmo tempo em que se tem tão pouca informação confiável para afirmar seguramente qualquer coisa sobre algumas áreas (áreas que talvez até nem existam) sobre as quais eles praticamente já tem a explicação completa nos mínimos detalhes, apesar de não ter como comprovar nada pelo "arrogante" método de por o conhecimento à prova, para ver humildemente se é mesmo o que se supunha ser.