Vamos lá, vou tentar mais uma vez, muito embora eu discorde de que eu tenha sido pouco compreensível e de que não tenha entendido bem seu ponto. Entendi, só que desta vez não concordo com ele
Vamos começar pelo segundo:
A partir do ponto que a mulher (ou o marido, ou outro sujeito qualquer) decide
participar do lucro de atividades criminosas ela já deveria ser considerada
participante da atividade criminosa...
Vamos tirar marido e mulher e colocar dois amigos conversando na porta da casa de um deles... (o diálogo talvez seja absurdo, nunca ouvi algo do tipo, mas ele vale para o que eu quero demonstrar)
-Calma aê moleque que eu vou arrumar um ônibus para assaltar, mas já volto praquela pelada com o time da Muzambinho.
-Tá legal, vai lá, bom trabalho.
-Aí, depois do assalto eu vou comprar uns DVDs, escolhe um aí pra eu comprar pra você.
-Tá, traz aquele último do Coldplay. O cd do MUSE que você trouxe semana passada é manero.
-Firmão, toda vez que eu fizer uns ganhos eu vou trazer uma parada pra você. Você é parceiro moleque.
Agora, vamos tirar os dois amigos e colocar dois desconhecidos que se encontram num ponto de ônibus, num acesso para uma boca de fumo qualquer do Rio.
(O diálogo não é absurdo nem preconceituoso/estereotipado. É exatamente assim, com essas palavras, a conversa entre assaltantes desesperados para comprar drogas e receptadores nos arredores das favelas cariocas)
-Aí maninho, to vendendo uns barato aí baratinho...
-Qual é do barato?
-Po, uns relógio manero. Só Sky Diver mané. Os dois por um galo¹.
-Po, manero... Mas... tá funcionando legal?
-Tá porra! 'Ganhei' alí agora, no 'frescão²'.
-Toma aê: 10,30,50.
(o sujeito "A" corre em direção ao 'movimento')
Vamos ver o que a legislação fala sobre as hipotéticas (mas verossímeis) cenas acima
Receptação qualificada
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Mulheres de criminosos são
na melhor das hipóteses, receptadoras de produtos de crime. Isso faz delas
criminosas mesmo que
não movam um dedo para que os crimes se realizem. Com o
agravante de que não são receptadoras eventuais ou acidentais. São receptadoras
rotineiras: todo o produto do crime cometido pelo marido é
repartido com elas, e inexplicavelmente, elas não são enquadradas na mesma lei que condena o cara que recebe um DVD dado de presente por um assaltante ou o sujeito que compra um relógio baratinho.
Note que eu separei mulher de filhos, pais e etc. exatamente porque neste caso o idolatrado vínculo familiar nasceu e é mantido por opção. E note que eu excetuei mulheres que desconhecessem as atividades criminosas do marido (muito embora eu ache que seja reputar como muito burras, as fêmeas da nossa espécie, acreditar que muitas delas possam viver anos com um assaltante ou com um político corrupto sem perceberem nada de estranho.)
É o tipo de artifício jurídico que só faz sentido quando levamos em conta valores irracionais bem difundidos (neste caso a idéia da pureza fundamental feminina, a percepção de que mulheres são mais suceptíveis à sedução, a idéia de fragilidade...).
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Voltando a riba:
Eu disse, eu dou menor valor à família do que a quase totalidade das pessoas.
O fato um assassino sanguinário, que matou dezenas realmente não excluiria nenhum parente de sempre ter sido gentil e educado comigo, mas se sobreporia a tudo isso.
A minha condição de familiar está abaixo da minha condição de membro da Sociedade e na condição de membro da Sociedade eu não posso torcer para que um sujeito que matou 25 (não de uma só vez num acesso de fúria; mas um num assalto, outro numa discussão, o terceiro e o quarto por encomenda...) seja absolvido e nem saberia dar qualquer apoio espiritual/familiar/o escambau a ele. Nem que fosse meu filho.
Mas admito que em relação à este ponto eu sou mais flexível, entendo que o sentimento de "cumplicidade familiar" neste quesito é algo muito forte para alguns (não que seja razoável, mas é o menos incompreensível dos três cenários). Eu só queria ouvir (ler) os comentários, mas vieram tão poucos
¹50 reais, cinquenta é galo no jogo do bicho.
²Ônibus com ar-condicionado, no dialeto carioca.