Não é estranho que os extraterrestres dos filmes tenham características humanas, já que resultaria difícil escrever um roteiro sobre alienígenas com forma de baratas que se comunicassem entre si mediante secreções fedorentas e carecessem de ``inteligência''. Mas o que é realmente alarmante é a falta de imaginação dos criadores do realismo fantástico: se bem existe uma abundante variedade de extraterrestres (de diversas cores e tamanhos, alguns com anteninhas, diferentes quantidade de dedos, etc), quase todos têm características humanóides. Enquanto na Terra existe uma enorme diversidade de animais e vegetais, alguma das formas mais estranha e variada (apesar de compartilhar todos um predecessor comum) resulta inverossímil que os alienígenas, que deveriam ser diferentes de todo o conhecido por ter uma origem diferente, não somente são todos parecidos entre si, senão que se pareçam tanto a um dos animais terrestres (casualmente ao homo sapiens !).
Se deveriam ser diferentes de todo o conhecido por ter uma origem diferente, por que supor que as percepções de tempo e espaço seriam as mesmas?
Um ser humano com expectativa de vida de 85 anos pode conviver com cerca de 5 gerações de chipanzés ou 1530 gerações de moscas. Uma missão interplanetária de 20 anos consumiria toda a vida de um chipanzé, um número enorme de gerações de moscas mas cerca de 20% da vida de um astronauta.
Quero dizer que, uma suposta vida inteligente extraterrestre pode ter um ciclo de vida com a duração semelhante ao de uma mosca ou imensamente superior ao do homem. Pode ser que enquanto esses seres se ajustam em suas naves interplanetárias já tenhamos consumidos parte de nosso ciclo de vida. Mesmo considerando as enormes distâncias, por que não supor que o “diálogo” interestelar através de radiotelescópios está mais ajustado às condições extraterrestres do que terrenas? Isto é, por que não supor que somos como a primeira mosca que diz “Oi, tem alguém aí?” como parte de um diálogo lentíssimo, porém ajustado a um ciclo de vida equivalente ao de milhares de gerações de moscas?
Acredito que o conceito pessoal de distância depende de uma comparação que fazemos entre a capacidade (capacidade pessoal ou tecnológica) de se percorrer um determinado espaço em relação ao tempo do nosso ciclo de vida dedicado a essa tarefa. Pense bem, o que é perto? O que é longe? São Paulo está separado do Rio de Janeiro por uma distância de aproximadamente 400 km. Isso é perto ou é longe? Se você pensar em ir a pé, pode parecer bastante longe ( você pode consumir vários dias de vida andando), mas de avião são apenas 40 minutos, o que nos faz pensar que é perto. Mas a distância continua nos dois casos sendo exatamente a mesma. Então, o que é perto ou o que é longe para uma civilização com tecnologia de viagem interestelar? Um ser extraterrestre vivendo o equivalente a 10.000 ciclos de vida humanos poderia se dar ao luxo de perder um tempo enorme do ponto de vista terrestre, ou um tempo insignificante sob seu próprio ponto de vista, vasculhando sistemas solares como se fosse “logo ali”.
Então, a pergunta óbvia é “Então por que ainda não nos encontraram?” Talvez, já estiveram aqui, em suas andanças, num tempo em que a Terra era habitada por dinossauros ou em algum tempo depois em algum ponto da nossa evolução ainda primitiva. Quem sabe não somos parte de um imenso arquivo de mundos, onde a Terra é uma dentre milhões de Galápagos no universo sendo observadas por seres que nos visitam entre suas refeições que podem durar para nós milhares de anos? Talvez, ainda vão nos encontrar ou nenhuma civilização ainda obteve essas condições citadas. Ou ainda, quem sabe, não existem civilizações extraterrestres. Quem sabe?