Essas discussões sobre ateísmo e agnosticismo, especialmente uma espécie de agnosticismo complacente com uma hipótese meio javeóide de um deus, ficam se arrastando indefinidamente quase sempre sem abordar isso, que me parece o mais crucial.
Geralmente, quando se compara "Deus", quase sempre com maiúscula e no singular, com alguma outra coisa menos comumente defendida como plausível, desmerecem a comparação como espantalho, não dando a mesma colher de chá que dão para esse molde geral e vago do conceito "Deus" deísta ou "semi teísta" sem religião.
Para a noção mais básica de "Deus", de uma mente super-poderosa, de natureza desconhecida, e geralmente criadora, parecem considerar ser sempre verossímil todo tipo de ad hoc meio enaltecedor ou meio "cortina de fumaça", enquanto o mesmo princípio não é nunca considerado para seres ou fenômenos não verificados, ou mesmo impensados, mas que fujam dessa noção de um super-cara criador do universo ou boa parte dele.
Não há justificativa racional para essa hipótese ser digna de maior consideração do que algo muito menos glamouroso, algo como "fantasmas" de ácaros ou de vírus (literalmente ou analogamente), que afetam as nossas vidas de formas nunca imaginadas pela medicina ou pelas religiões. O mesmo vale também para coisas mais tradicionais, como mitos e crenças tradicionais diversas, e sim, até papai Noel.
As únicas causas para esses pesos e medidas diferentes nessa complacência com o conceito de "Deus" javeóide (e fantasmas) são psicológicas, tanto biológicas, praticamente inatas, quanto culturais, e essas por sua vez também tem sua origem em última instância em aspectos instintivos de nossa psicologia.
Considero esse apoio no agnosticismo misturado com um certo ataque ao "ateísmo forte" ou "dogmático" uma espécie de espantalho, um verniz intelectualóide, apenas uma racionalização da crença ou desse sentimento de maior consideração com o conceito de super-cara do que com qualquer outro conceito em igual situação de não comprovação ou desconhecimento; nesses casos, ninguém aponta "problemas" com uma "descrença forte", é aceito naturalmente, sem ser comparado pejorativamente a uma crença "comum", do tipo que afirma que algo existe sem ter embasamento. Praticamente não se fala de agnosticismo nesse sentido complacente sem ser com relação a algo similar a um super-cara.