Autor Tópico: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?  (Lida 10136 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #50 Online: 29 de Agosto de 2008, 11:36:22 »

esses dias me deparei com o arguemento que Deus não é nome proprio...   :| :( :'( :chorao: que falta faz os conhecimentos "uilinilisticos".

Mas que eu saiba, não é mesmo. O nome próprio seria YHVH, Javé ou Jeová. Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir, meio como "Vossa Excelência" e outras formas de tratamento que tradicionalmente se coloca iniciais maiúsculas sem ser em nome próprio. Os teístas também comumente usam maiúscula para coisas como "Ele" quando se referindo ao deus que supõem existir, ao mesmo tempo em que não é nome próprio (isso ou "nome próprio" significa algo além do que eu supunha).

Offline Tupac

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #51 Online: 29 de Agosto de 2008, 11:49:39 »
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Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir
Mas na questão, o unico deus que recebe esse titulo respeitoso é Javé, é como o uili disse, é como se fosse um apelido dele. Mas a parte do "Ele" foi um bom ponto... portanto.

 :| :( :'( :chorao: que falta faz os conhecimentos "uilinilisticos" e "buckaroo-banzaísticos" :lol:
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #52 Online: 29 de Agosto de 2008, 12:06:05 »
Se me permitem a sinceridade, esta é a discussão mais tola que se insiste em debater neste fórum. Agnosticismo não é nada mais do que uma confissão de ignorância quanto ao valor verdade de proposições de natureza metafísica. Metafísica é o ramo da filosofia que investiga os próprios princípios da realidade e sendo assim paira além do escopo das ciências. Ciências, porfim, são o conjunto dos conhecimentos com valor verdade testável organizados de forma lógica.

Trocando em miúdos: o agnóstico é o sujeito que ignora considerações de ordem metafísica. Agora me respondam, onde está a insensatez em não opinar sobre proposições que não têm um valor verdade cogniscível? O que há de irracional em dizer que você não sabe algo que (pasme) você realmente não sabe?

Reitero: saber é uma coisa, acreditar é outra completamente diferente e eu não acredito que pessoas com o nível de conhecimento de vocês possam fazer confusão com esses dois termos.


Concordo com tudo que disse, ao mesmo tempo continuo achando esse "agnosticismo complacente" específico para um deus javeóide um verniz intelectual, uma racionalização de uma certa simpatia com o conceito.

Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.

Não costumamos ver, de qualquer forma, esse niilismo manifestado, só questionamentos específicos ao "ateísmo forte" (que penso ser mais um espantalho canonizado do que realidade), como se fosse uma "crença" pior do que na inexistência de fadas, ou de que estrelas são gigantes massas de átomos em fusão e etc.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #53 Online: 29 de Agosto de 2008, 12:09:25 »
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Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir
Mas na questão, o unico deus que recebe esse titulo respeitoso é Javé, é como o uili disse, é como se fosse um apelido dele. Mas a parte do "Ele" foi um bom ponto... portanto.

 :| :( :'( :chorao: que falta faz os conhecimentos "uilinilisticos" e "buckaroo-banzaísticos" :lol:


Isso porque a maioria das pessoas que se conhece costuma crer nesse deus especificamente, oras. Por aqui no fórum, acho que talvez a maioria não use maiúscula para "deus", espero que na maior parte do tempo por motivos gramaticais em vez de intencionar ofender.

Offline Tupac

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #54 Online: 29 de Agosto de 2008, 12:22:29 »
eu uso mais pea segunda opção huhuhuhuhuh
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Offline Týr

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #55 Online: 29 de Agosto de 2008, 12:25:51 »
Isso porque a maioria das pessoas que se conhece costuma crer nesse deus especificamente, oras. Por aqui no fórum, acho que talvez a maioria não use maiúscula para "deus", espero que na maior parte do tempo por motivos gramaticais em vez de intencionar ofender.
Eu uso minúsculo quando falo de deuses, quando um em específico escrevo com maiúsculo, não é questão de desmerecer, é questão de português. Para desmerecer é só escrever Gzuis ou coisas do tipo.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #56 Online: 29 de Agosto de 2008, 12:53:06 »
Mas "deuses" não é uma classe de coisas que tem regras gramaticais separadas, é? Se não, então não há por que usar maiúscula, senão por reverência a algo que se supõe que existisse, da mesma forma que não grafamos Cavalo", "Unicórnio", "Pessoa", "Carro" mesmo quando estamos nos referindo a uma unidade específica, ou mesmo algo cujo conceito implique existir só um dele.

Offline Donatello

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #57 Online: 29 de Agosto de 2008, 13:09:17 »
Citação de: Buckaroo
Mas que eu saiba, não é mesmo. O nome próprio seria YHVH, Javé ou Jeová. Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir, meio como "Vossa Excelência" e outras formas de tratamento que tradicionalmente se coloca iniciais maiúsculas sem ser em nome próprio. Os teístas também comumente usam maiúscula para coisas como "Ele" quando se referindo ao deus que supõem existir, ao mesmo tempo em que não é nome próprio (isso ou "nome próprio" significa algo além do que eu supunha).

Oba, os conhecimentos buckaroo-banzaísticos estão ao meu lado :yahoo:

Citação de: Uliníli
Eu tenho um amigo cujo apelido é Gordo. Com maiúscula. Chamamos ele de Gordo porque ele é meio gordo.
Esta comparação matou a pau... :(  ...mas acho que, por outro lado, empatou o jogo :).

Visto que o seu amigo também é um mero gordo (e que o deus Yavé também é um mero deus) então é gramaticalmente lícito escrever tanto "O gordo (no sentido de "aquele gordo") veio aqui"  quanto "O Gordo (no sentido de o gordo que se chama Gordo) veio aqui"; ou tanto "Vai pedir dinhero pra Deus" quanto "Vai pedir dinheiro para (o seu) deus"... ou: mesmo que minha mulher se chamasse Mulher ela ainda seria mulher e eu poderia gritar daquí: "Traz a porra da minha lasanha com bastante champignon, ô mulher!!! E não segura a bosta da cerveja pela saia que cê vai me estourar o cacete da garrafa!!!" sem com isso desrespeitar o seu santo nome (o da minha mulher, não o de deus). :D

Parece que ficou ao gosto do freguês: meu deus vai ficar com minúscula mesmo. :P

Ps.: quando é imprescindível definir o deus dos judeus e dos cristãos, eu digo o nome verdadeiro e não o apelido. Tipo, uso: "Jeová, Mercúrio e Saci-Pererê são todos farinha do mesmo saco" e nunca: "Deus, Mercúrio e Saci-Pererê são todos farinha do mesmo saco".
« Última modificação: 29 de Agosto de 2008, 13:28:37 por Donatello van Dijck »

Offline Týr

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #58 Online: 29 de Agosto de 2008, 13:36:04 »
Mas "deuses" não é uma classe de coisas que tem regras gramaticais separadas, é? Se não, então não há por que usar maiúscula, senão por reverência a algo que se supõe que existisse, da mesma forma que não grafamos Cavalo", "Unicórnio", "Pessoa", "Carro" mesmo quando estamos nos referindo a uma unidade específica, ou mesmo algo cujo conceito implique existir só um dele.
Quando dirigimos àquela pessoa em específico, o Doutor, o Senhor, o Tenente o Presidente, devemos usar maiúscula, pois o nome do Deus é Javé, porém é deixado omisso.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #59 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:02:53 »
Mas novamente, só se houver uma certa reverência um pouco mais... digamos, baba-ovística, ou um formalismo quase "totalitário"... não há nada de errado (ou desrespeitoso) em estar se referindo ao presidente Lula implicitamente e usar apenas "presidente", há? O mesmo para os outros casos, embora um tipo de "etiqueta" exija isso para correspondência/tratamento formal...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #60 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:06:48 »
Ps.: quando é imprescindível definir o deus dos judeus e dos cristãos, eu digo o nome verdadeiro e não o apelido. Tipo, uso: "Jeová, Mercúrio e Saci-Pererê são todos farinha do mesmo saco" e nunca: "Deus, Mercúrio e Saci-Pererê são todos farinha do mesmo saco".

Também prefiro assim. E meio relacionado, futuramente, sempre que possível, em vez de "Kardec" vou preferir usar "Hippolyte Léon Denizard Rivail", ou só Rivail, que é provavelmente tudo que vou me lembrar, meio como forma de não "endossar" meio "subliminarmente" a encarnação passada do mesmo. :D

Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #61 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:12:45 »

Mas que eu saiba, não é mesmo. O nome próprio seria YHVH, Javé ou Jeová. Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir, meio como "Vossa Excelência" e outras formas de tratamento que tradicionalmente se coloca iniciais maiúsculas sem ser em nome próprio. Os teístas também comumente usam maiúscula para coisas como "Ele" quando se referindo ao deus que supõem existir, ao mesmo tempo em que não é nome próprio (isso ou "nome próprio" significa algo além do que eu supunha).

Lembra do meu amigo Gordo, que é gordo? Gordo não é o nome de batismo dele, é só a forma pela qual nos dirigimos a ele. Os nomes YHWH, Javé, Jeová e sejam lá quais mais também são nomes próprios, mas o fato de ele ter outros nomes não invalida o nome usual, que é de fato o que é usado: Deus. Os pronomes em iniciais maiúsculas, esses sim é que são formas respeitosas e são facultativos.

Quanto à sua comparação com os pronomes de tratamento, ela é inválida. Deus é substantivo, pois deriva de um substantivo. Pronomes de tratamento se caracterizam por invocar um certo distanciamento daquilo que eles substituem referindo-se não diretamente à pessoa, mas a uma qualidade da mesma, por exemplo, Vossa Excelência (ou Sua Excelência quando se emprega na terceira pessoa), como o nome já diz, diz respeito à excelência da pessoa, e não à pessoa diretamente. Eu poderia chamar Albert Einstein de "Sua Inteligência" ou Gisele Bündchen de "Sua Beleza", mas essas não são formas consagradas pelo uso.

Concordo com tudo que disse, ao mesmo tempo continuo achando esse "agnosticismo complacente" específico para um deus javeóide um verniz intelectual, uma racionalização de uma certa simpatia com o conceito.

Acho que você não leu meu post anterior onde já respondi a essa questão: ../forum/topic=17332.0.html#msg353354

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Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.

Agnosticismo versa sobre dúvida e não sobre crença. Poderia ser que Descartes estivesse correto em seus discursos e que a 'realidade' à nossa volta nada mais fosse que uma fantasia, uma ilusão. Ou poderia ser que não, que haja uma realidade palpável e cogniscível que é exatamente como nossos sentidos a percebem. Ambas são declarações de ordem metafísica e o que um agnóstico dirá sobre elas não é nada mais do que o óbvio ululante: "não sei." Isso não quer dizer que ele não tenha liberdade para escolher uma hipótese na qual acreditar, mas essa escolha é uma questão de crença pessoal facultativa e nada tem a ver com o agnosticismo em si, contanto que a pessoa não se iluda que essas crenças sejam equivalentes a conhecimento factual.

É um bom momento para mencionar a nossa velha amiga Navalha de Ockham: Não sabemos se o que percebemos é a realidade ou se é uma ilusão de nossas mentes que projeta uma suposta realidade. Seja qual for a hipótese verdadeira, nossas observações são as mesmas, portanto há uma boa justificativa racional para eu acreditar (embora a rigor eu não saiba) que existe uma realidade objetiva e viver como se essa fosse a verdade.

A Navalha de Ockham praticamente dá cabo de toda a metafísica. Nas palavras de David Hume:
   If we take in our hand any volume; of divinity or school metaphysics, for instance; let us ask, Does it contain any abstract reasoning concerning quantity or number? No. Does it contain any experimental reasoning concerning matter of fact and existence? No. Commit it then to the flames: for it can contain nothing but sophistry and illusion.

    – An Enquiry Concerning Human Understanding


A ciência, diga ou não diga respeito à realidade última das coisas é útil, pois ela traz informações acuradas sobre a "realidade" tal como nós a percebemos.

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Não costumamos ver, de qualquer forma, esse niilismo manifestado, só questionamentos específicos ao "ateísmo forte" (que penso ser mais um espantalho canonizado do que realidade), como se fosse uma "crença" pior do que na inexistência de fadas, ou de que estrelas são gigantes massas de átomos em fusão e etc.

O que costumamos ver aqui no fórum é irrelevante para a definição de agnosticismo ou para a sua coerência como escola filosófica. Eventuais incoerências que eu ou outras pessoas manifestemos condenam somente a nós mesmos.

Quanto ao ateísmo forte/positivo, em oposição ao fraco/negativo, antes de tudo, é bom nos entendermos sobre o que quer dizer uma coisa e o que quer dizer outra. A Wikipedia pode nos ajudar: Strong vs. Weak Atheism

Philosophers such as Antony Flew[35] and Michael Martin[24] have contrasted strong (positive) atheism with weak (negative) atheism. Strong atheism is the explicit affirmation that gods do not exist. Weak atheism includes all other forms of non-theism.

A propósito, esse Anthony Flew é aquele mesmo que "virou a casaca" recentemente, mas isso é irrelevante. Se você leu Deus um Delírio, de Richard Dawkins, deve estar ciente daquela "escala de crença" que ele elaborou. Se não, veja aqui:

   1. Strong Theist: I do not question the existence of God, I KNOW he exists.
   2. De-facto Theist: I cannot know for certain but I strongly believe in God and I live my life on the assumption that he is there.
   3. Weak Theist: I am very uncertain, but I am inclined to believe in God.
   4. Pure Agnostic: God’s existence and non-existence are exactly equiprobable.
   5. Weak Atheist: I do not know whether God exists but I’m inclined to be skeptical.
   6. De-facto Atheist: I cannot know for certain but I think God is very improbable and I live my life under the assumption that he is not there.
   7. Strong Atheist: I am 100% sure that there is no God.

O próprio Dawkins reconheceu que agnósticos "puros" como os do 4 na escala são raríssimos. Eu certamente não sou um deles.

Repare que o ateu forte é aquele que está no extremo da escala, é aquele que acredita com convicção absoluta na não existência de Deus. Compare com o "teísta forte", que "não acredita em Deus, mas sabe que ele existe."

A pergunta é: de onde vem esse conhecimento? Ele é racional? Eu devo admitir que há poucas coisas em minha vida nas quais eu tenho uma crença forte, mesmo a simples crença de que se eu soltar um bolinha de minha mão ela vai cair em direção ao chão me é suspeita. É algo facilmente verificável e até hoje nunca falhou, eu solto a bola e ela cai rumo ao chão! Mas o que impede que falhe da próxima vez? Você deve estar ciente do já exaustivamente debatido problema da indução, que por tanto tempo incomodou a filosofia da ciência e cuja melhor solução até hoje foi a de Popper, introduzindo o conceito de falseabilidade e de que as verdades científicas são mutantes, mas isso já é outra história e o que eu quero dizer é que, mesmo falando de bolinhas precipitando serelepes e faceiras rumo ao chão, se fosse intimado a falar 100% racionalmente eu não poderia me colocar em um 7 na escala Dawkins, embora eu na prática realmente creia que ela vai cair todas as vezes.

Como pode então alguém fazer um juízo tão definitivo sobre algo do qual não tem informações? (que sabemos nós dos bastidores do universo?) Eu seria a primeira pessoa a dizer que acho que Deus, tal qual é descrito pelos religiosos, é um ser muito, muito improvável e que eu apostaria seriamente de que ele não existe, mas eu diria isso consciente de que isso é uma opinião, e não conhecimento. Em minha opinião alguém que diz que sabe que Deus não existe ou que sabe que ele não existe não apenas está errado, como está mentindo, para nós ou para si mesmo, e se servindo de severa desonestidade intelectual.

Offline Donatello

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #62 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:13:14 »
Citação de: Buckaroo
Também prefiro assim. E meio relacionado, futuramente, sempre que possível, em vez de "Kardec" vou preferir usar "Hippolyte Léon Denizard Rivail", ou só Rivail, que é provavelmente tudo que vou me lembrar, meio como forma de não "endossar" meio "subliminarmente" a encarnação passada do mesmo.

Ah, então Kardek era o fantasminha que morava na cabeça deste tal de Rivail? :D Não sabia desta não, irei adotar sempre que possível, também. :ok:

« Última modificação: 29 de Agosto de 2008, 14:27:00 por Donatello van Dijck »

Offline Moro

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #63 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:19:18 »
Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.


Buckaroo, não entendi o que coloquei em negrito.
Ficar fazendo considerações quanto a realidade já é metafísica... e o que estou dizendo é que não faço realmente isso.
E a ciência não poderia estar junto com "metafísica e afirmação banal" dentro da sua argumentação, se bem que não gosto de conceitos como energia escura por exemplo.

Pode me explicar melhor?
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Offline Moro

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #64 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:23:13 »
Obs: Na escala proposta, eu me coloco em 6.
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Offline Donatello

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #65 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:25:45 »
Citação de: uilinili
Deus é substantivo, pois deriva de um substantivo.
Sim é substantivo, e a discussão era se era substantivo próprio ou simples. Ok, você venceu... pode ser próprio e com maiúscula e você demonstrou isso muito bem demonstrado (embora eu ainda entenda que neste caso é mais um tratamento respeitoso do que um tipo de apelido, mas não vem mais ao caso).

Mas eu posso me referir ao deus cujo nome próprio é Deus usando apenas o substantivo simples, sem desrespeitá-lo (e muito mais importante: sem desrespeitar a gramática). Então ficou ao gosto do freguês.

Eu posso virar para esse seu amigo gordo que tem o apelido de Gordo e falar "Vem cá gordo" assim como eu virava para o meu amigo Alex, quando estudávamos juntos, e falava: "Cala a boca gordo"; ao que ele me respondia: "Vai tomar no rabo preto". Usar gordo ao invés de Gordo; deus ao invés de Deus; gordo ao invés de Alex; preto ao invés de Daniel se equivalem e não há erro em nenhum dos casos.

O uso do nome próprio raras vezes é indispensável e, como eu disse, nas raras vezes em que for eu digo Jeová, Yavé, Yaveh...
« Última modificação: 29 de Agosto de 2008, 14:31:21 por Donatello van Dijck »

Offline JUS EST ARS

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #66 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:28:28 »


Agnostico,

Creio que o Buckaroo não quis colocar ciência, afirmação banal e metafísica no mesmo balaio, mas colocou que é difícil se ter certeza absoluta de qualquer coisa, mesmo no campo da ciência.

Daí que para ele a postura do agnóstico é meio inútil, já que vale mais à pena acreditar em algo com um certo grau de conhecimento do que exigir certezas para só então dar algo por certo.


Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #67 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:30:47 »
Obs: Na escala proposta, eu me coloco em 6.

Idem.

Mas eu posso me referir ao deus cujo nome próprio é Deus usando apenas o substantivo simples, sem desrespeitá-lo (e muito mais importante: sem desrespeitar a gramática). Então ficou ao gosto do freguês.

(...)

O uso do nome próprio raras vezes é indispensável e, como eu disse, nas raras vezes em que for eu digo Jeová, Yavé, Yaveh...

Só é preciso ter cuidado com o contexto. Nos lugares onde 'deus' puder substituído por Javé deve-se usar inicial maiúscula, já nos lugares em que puder ser substituído por divindade, vai de minúscula mesmo. Mas quanta birra para não escrever Deus, hein? Será que um ser mitológico merece essa preocupação toda?

Offline JUS EST ARS

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #68 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:32:50 »


Obs: Na escala proposta, eu me coloco em 6.

Em relação a qual "deus"? Creio que aqui entramos na questão do conceito de novo. Sou escala 7 quanto ao abraâmico tal como na bíblia ou de qualquer outra religião tal como em seus respectivos livros sagrados, mas escala 2 quanto à existência de uma causa primeira.


Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #69 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:36:48 »
O que o Buckaroo quis dizer é que acreditar na ciência já pressupõe um posicionamento metafísico: a de que existe uma realidade objetiva e que ela é cogniscível. Eu contestei isso dizendo que a ciência faz previsões e sistematiza nossos conhecimentos acerca daquilo que nós observamos e não há metafísica nenhuma aí - usamos a ciência porque ela é útil e a metafísica estaria em assumirmos que nossas observações descrevem fielmente a realidade objetiva, mas que, como bom agnóstico, declaro que isso não faz diferença.

Offline Donatello

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #70 Online: 29 de Agosto de 2008, 14:46:54 »
Deus não é importante, mas reiterar que ele é desimportante é importante. E usar deus com minúscula reitera a sua desimportância enquanto usar com maiúscula corrobora a construção imaginária de algo valioso, ao qual se deva respeito.

E só uma correção: não é sempre que "deus" puder se substituido por Javé; é sempre que "Deus" não puder ser substituido por "deus".

Mas chega, como disse ontem: falta pouco para começarmos a debater a hermenêutica e a exegexe dos gibis do Cebolinha (que falta faz um Famado numa hora destas :D).

[]s

Offline Moro

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #71 Online: 29 de Agosto de 2008, 15:19:27 »
O que o Buckaroo quis dizer é que acreditar na ciência já pressupõe um posicionamento metafísico: a de que existe uma realidade objetiva e que ela é cogniscível. Eu contestei isso dizendo que a ciência faz previsões e sistematiza nossos conhecimentos acerca daquilo que nós observamos e não há metafísica nenhuma aí - usamos a ciência porque ela é útil e a metafísica estaria em assumirmos que nossas observações descrevem fielmente a realidade objetiva, mas que, como bom agnóstico, declaro que isso não faz diferença.


Nem existe esse negócio de realidade. É um simples nome humano, nos esquecemos disso, e depois afirmamos que ela não é acessível ou não é o que imaginamos.

Eu convivo muito bem com a afirmação de que eu vejo apenas o que meu conhecimento, meus pre-conceitos, meu estado de humor, a minha cultura permite interpretar.

Jus

Eu sou 7 com o deus abrâmico e 6 com um princípio criador.
Aceito a lógica. Não há sequer lógica para a proposição de um deus abraâmico.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #72 Online: 29 de Agosto de 2008, 16:53:36 »

Mas que eu saiba, não é mesmo. O nome próprio seria YHVH, Javé ou Jeová. Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir, meio como "Vossa Excelência" e outras formas de tratamento que tradicionalmente se coloca iniciais maiúsculas sem ser em nome próprio. Os teístas também comumente usam maiúscula para coisas como "Ele" quando se referindo ao deus que supõem existir, ao mesmo tempo em que não é nome próprio (isso ou "nome próprio" significa algo além do que eu supunha).

Lembra do meu amigo Gordo, que é gordo? Gordo não é o nome de batismo dele, é só a forma pela qual nos dirigimos a ele. Os nomes YHWH, Javé, Jeová e sejam lá quais mais também são nomes próprios, mas o fato de ele ter outros nomes não invalida o nome usual, que é de fato o que é usado: Deus. Os pronomes em iniciais maiúsculas, esses sim é que são formas respeitosas e são facultativos.

Hummm.... mas ainda assim, não é errado usar "deus" para YHVH, da mesma forma que se eu não sou bem chegado do seu amigo que é gordo, a ponto de usar esse apelido da sua turma, e estou narrando qualquer coisa sobre ele, ao mesmo tempo em que não quero usar o nome de verdade dele, ou não lembro, posso me referir a ele simplesmente como "gordo", da mesma forma que poderia narrar sobre uma "morena" anônima.



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Quanto à sua comparação com os pronomes de tratamento, ela é inválida. Deus é substantivo, pois deriva de um substantivo. Pronomes de tratamento se caracterizam por invocar um certo distanciamento daquilo que eles substituem referindo-se não diretamente à pessoa, mas a uma qualidade da mesma, por exemplo, Vossa Excelência (ou Sua Excelência quando se emprega na terceira pessoa), como o nome já diz, diz respeito à excelência da pessoa, e não à pessoa diretamente. Eu poderia chamar Albert Einstein de "Sua Inteligência" ou Gisele Bündchen de "Sua Beleza", mas essas não são formas consagradas pelo uso.

Realmente são "casos" diferentes.



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Concordo com tudo que disse, ao mesmo tempo continuo achando esse "agnosticismo complacente" específico para um deus javeóide um verniz intelectual, uma racionalização de uma certa simpatia com o conceito.

Acho que você não leu meu post anterior onde já respondi a essa questão: ../forum/topic=17332.0.html#msg353354

Não vi mesmo, vou a ele então:

Essas discussões sobre ateísmo e agnosticismo, especialmente uma espécie de agnosticismo complacente com uma hipótese meio javeóide de um deus, ficam se arrastando indefinidamente quase sempre sem abordar isso, que me parece o mais crucial.

Agnosticismo complacente com Javé? Nunca vi  um monstrinho dessa espécie, mas se você diz que conhece vou lhe dar o benefício da dúvida. No meu ponto de vista, porém, o agnosticismo não é incompatível de maneira alguma com o ateísmo porque os dois dizem respeito a coisas diferentes: o ateísmo diz respeito a acreditar, já o agnosticismo diz respeito a saber. Eu não acredito em Deus, portanto sou ateu. Eu não sei se Deus existe realmente ou não, logo sou agnóstico. Mas espero que não seja isso que você enxergue como complacência, pois uma coisa não tem nada a ver com a outra - o fato de eu afirmar que não tenho conhecimento da questão é completamente independente de eu ter uma opinião sobre sua existência ser provável ou verossímil.

Não estou falando de uma "essência" do agnosticismo ou de uma modalidade "de verdade" específica, mas mais de uma prática. Assim como se fala algumas vezes do "ateu-homem-bomba", e/ou o que segue o "ateísmo revoltado", chamo de "agnosticismo complacente" isso de ficar se fazendo um caso em torno espeficiamente de um deus javeóide como se fosse algo que merecesse maior consideração do que algo como o ''Cosmo-Repolho Universal''.


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Geralmente, quando se compara "Deus", quase sempre com maiúscula e no singular

Deus é nome próprio e pelas regras da ortografia deve ser grafado com letra maiúscula, acredite-se ou não dele. O que eu me recuso a fazer é capitalizar as letras iniciais dos pronomes que se referem a Ele.

Bem isso já quase merecendo um tópico próprio, mas continuo achando que não é incorreto grafar sempre com minúscula, mesmo se referindo a Javé ou algum deus em particular previamente especificado em alguma abordagem.

O ponto aí era, de qualquer forma, talvez de forma um pouco insondável demais, era que apesar de um  "n-deísmo" ser talvez a única coisa mais imediatamente digna de consideração como hipótese a partir da admissão do agnosticismo (não vejo sentido em ficar enfiando especificidades características do teísmo), essa prática do "agnosticismo complacente" de forma quase escancarada praticamente fala de Javé, comumente referido por "Deus", ou algo muito próximo.


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, com alguma outra coisa menos comumente defendida como plausível, desmerecem a comparação como espantalho, não dando a mesma colher de chá que dão para esse molde geral e vago do conceito "Deus" deísta ou "semi teísta" sem religião.

Para a noção mais básica de "Deus", de uma mente super-poderosa, de natureza desconhecida, e geralmente criadora, parecem considerar ser sempre verossímil todo tipo de ad hoc meio enaltecedor ou meio "cortina de fumaça", enquanto o mesmo princípio não é nunca considerado para seres ou fenômenos não verificados, ou mesmo impensados, mas que fujam dessa noção de um super-cara criador do universo ou boa parte dele.

Falácia da composição (tomar a parte pelo todo) e conclusão irrelevante. Alguns agnósticos podem assumir o comportamento assim descrito, mas essa é uma característica individual dos mesmos, não é algo que se aplique a todos os agnósticos ou que seja um fundamento do agnosticismo.

Já explicado; não é uma crítica ao agnosticismo, mas simplesmente a isso de ficar se fazendo um caso especial para algo como um super-cara que tivesse supostamente criado o mundo, em vez de algo como fantasmas de ácaros ou fadas.



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Quanto às famosas chaleiras douradas de Bertrand Russell orbitando além do planeta Marte o que tenho a dizer é o mesmo que já disse acima: não considero verossímil ou provável que exista uma coisa desse tipo, mas tampouco sei isso. Saber é diferente de acreditar.

Bem, a partir daí poderia se tecer um tipo de crítica ao agnosticismo "mesmo", que talvez fosse meio trivial. Acho que se seguido à risca, de certa forma o agnosticismo inevitavelmente desemboca no niilismo, tudo pode ser verdade ou mentira, é simplesmente impossível saber qualquer coisa; não existe "saber", só acreditar.



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As únicas causas para esses pesos e medidas diferentes nessa complacência com o conceito de "Deus" javeóide (e fantasmas) são psicológicas, tanto biológicas, praticamente inatas, quanto culturais, e essas por sua vez também tem sua origem em última instância em aspectos instintivos de nossa psicologia.

Petitio principii, não há pesos e medidas diferentes.

Os pesos e medidas diferentes são, em analogia com um tópico recente, quando se constata que não são tão raras afirmações como "ceticismo aplicado ao ateísmo", enquanto é virtualmente inexistente gente falando sobre "ceticismo aplicado à hipótese da inexistência de duendes". Ao mesmo tempo, a comparação é freqüentemente acusada de injusta, de ser um tipo de espantalho. Duendes e outras coisas "todos sabem" que não existem, quando poderiam ser protegidos por ad hocs similares aos que fazem com que deus não seja um cara barbudo sentado num trono suspenso numa nuvem no céu.



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Considero esse apoio no agnosticismo misturado com um certo ataque ao "ateísmo forte" ou "dogmático" uma espécie de espantalho, um verniz intelectualóide, apenas uma racionalização da crença ou desse sentimento de maior consideração com o conceito de super-cara do que com qualquer outro conceito em igual situação de não comprovação ou desconhecimento; nesses casos, ninguém aponta "problemas" com uma "descrença forte", é aceito naturalmente, sem ser comparado pejorativamente a uma crença "comum", do tipo que afirma que algo existe sem ter embasamento. Praticamente não se fala de agnosticismo nesse sentido complacente sem ser com relação a algo similar a um super-cara.

Só há uma forma racional de encarar uma questão que é desconhecida: com a dúvida. Você é livre para acreditar positivamente que Deus não existe, mas ao menos assuma que isso é uma salto de fé.

Bem, não acho que é um "salto de fé" maior para isso do que para minha "crença' em não existir um dragão invisível na minha garagem, ou que estou digitando num teclado de computador, no mundo real e não numa simulação ou no sonho de uma borboleta. Se "fé" aqui significar simplesmente "confiança", "convicção", tenho "fé"; não considero que qualquer uma das conclusões sobre as inexistências desses seres (e em não ser tudo um sonho duma borboleta) tenha sido um "salto", de qualquer forma, significando algo precipitado.



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Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.

Agnosticismo versa sobre dúvida e não sobre crença. Poderia ser que Descartes estivesse correto em seus discursos e que a 'realidade' à nossa volta nada mais fosse que uma fantasia, uma ilusão. Ou poderia ser que não, que haja uma realidade palpável e cogniscível que é exatamente como nossos sentidos a percebem. Ambas são declarações de ordem metafísica e o que um agnóstico dirá sobre elas não é nada mais do que o óbvio ululante: "não sei." Isso não quer dizer que ele não tenha liberdade para escolher uma hipótese na qual acreditar, mas essa escolha é uma questão de crença pessoal facultativa e nada tem a ver com o agnosticismo em si, contanto que a pessoa não se iluda que essas crenças sejam equivalentes a conhecimento factual.

(Mais especificamente conhecimento do que dúvida; mas por outro lado seria uma dúvida generalizada do conhecimento)

Bem acho meio estranho isso de crença ser "facultativa", mas fora isso. Esse comportamento de "agnosticismo complacente" de modo geral ignora dúvida sobre qualquer outra coisa, e se foca especificamente na dúvida sobre a dúvida em um super-cara.



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É um bom momento para mencionar a nossa velha amiga Navalha de Ockham: Não sabemos se o que percebemos é a realidade ou se é uma ilusão de nossas mentes que projeta uma suposta realidade. Seja qual for a hipótese verdadeira, nossas observações são as mesmas, portanto há uma boa justificativa racional para eu acreditar (embora a rigor eu não saiba) que existe uma realidade objetiva e viver como se essa fosse a verdade.

A Navalha de Ockham praticamente dá cabo de toda a metafísica. Nas palavras de David Hume:
   If we take in our hand any volume; of divinity or school metaphysics, for instance; let us ask, Does it contain any abstract reasoning concerning quantity or number? No. Does it contain any experimental reasoning concerning matter of fact and existence? No. Commit it then to the flames: for it can contain nothing but sophistry and illusion.

    – An Enquiry Concerning Human Understanding


A ciência, diga ou não diga respeito à realidade última das coisas é útil, pois ela traz informações acuradas sobre a "realidade" tal como nós a percebemos.

Melhor dizendo, de um ponto de vista agnóstico, é o que se costuma crer...



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Não costumamos ver, de qualquer forma, esse niilismo manifestado, só questionamentos específicos ao "ateísmo forte" (que penso ser mais um espantalho canonizado do que realidade), como se fosse uma "crença" pior do que na inexistência de fadas, ou de que estrelas são gigantes massas de átomos em fusão e etc.

O que costumamos ver aqui no fórum é irrelevante para a definição de agnosticismo ou para a sua coerência como escola filosófica. Eventuais incoerências que eu ou outras pessoas manifestemos condenam somente a nós mesmos.

Bem, eu nunca impliquei com a definição de agnosticismo, então tudo bem  :)


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Quanto ao ateísmo forte/positivo, em oposição ao fraco/negativo, antes de tudo, é bom nos entendermos sobre o que quer dizer uma coisa e o que quer dizer outra. A Wikipedia pode nos ajudar: Strong vs. Weak Atheism

Philosophers such as Antony Flew[35] and Michael Martin[24] have contrasted strong (positive) atheism with weak (negative) atheism. Strong atheism is the explicit affirmation that gods do not exist. Weak atheism includes all other forms of non-theism.

A propósito, esse Anthony Flew é aquele mesmo que "virou a casaca" recentemente, mas isso é irrelevante. Se você leu Deus um Delírio, de Richard Dawkins, deve estar ciente daquela "escala de crença" que ele elaborou. Se não, veja aqui:

   1. Strong Theist: I do not question the existence of God, I KNOW he exists.
   2. De-facto Theist: I cannot know for certain but I strongly believe in God and I live my life on the assumption that he is there.
   3. Weak Theist: I am very uncertain, but I am inclined to believe in God.
   4. Pure Agnostic: God’s existence and non-existence are exactly equiprobable.
   5. Weak Atheist: I do not know whether God exists but I’m inclined to be skeptical.
   6. De-facto Atheist: I cannot know for certain but I think God is very improbable and I live my life under the assumption that he is not there.
   7. Strong Atheist: I am 100% sure that there is no God.

O próprio Dawkins reconheceu que agnósticos "puros" como os do 4 na escala são raríssimos. Eu certamente não sou um deles.

Bem, na verdade, isso está errado. O agnóstico no sentido mais puro do termo é "ortogonal" a essa escala, ele poderia ser qualquer um dos seis (com a ressalva de que não poderia dizer "saber" que existe um deus, apenas que tem total confiança na sua existência) restantes, uma vez que a crença independe da possibilidade de conhecimento. Outra coisa meio ruim aí é ser meio monoteístico-centrista, mas enfim, tanto faz. Prossigamos.

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Repare que o ateu forte é aquele que está no extremo da escala, é aquele que acredita com convicção absoluta na não existência de Deus. Compare com o "teísta forte", que "não acredita em Deus, mas sabe que ele existe."

A pergunta é: de onde vem esse conhecimento? Ele é racional? Eu devo admitir que há poucas coisas em minha vida nas quais eu tenho uma crença forte, mesmo a simples crença de que se eu soltar um bolinha de minha mão ela vai cair em direção ao chão me é suspeita. É algo facilmente verificável e até hoje nunca falhou, eu solto a bola e ela cai rumo ao chão! Mas o que impede que falhe da próxima vez? Você deve estar ciente do já exaustivamente debatido problema da indução, que por tanto tempo incomodou a filosofia da ciência e cuja melhor solução até hoje foi a de Popper, introduzindo o conceito de falseabilidade e de que as verdades científicas são mutantes, mas isso já é outra história e o que eu quero dizer é que, mesmo falando de bolinhas precipitando serelepes e faceiras rumo ao chão, se fosse intimado a falar 100% racionalmente eu não poderia me colocar em um 7 na escala Dawkins, embora eu na prática realmente creia que ela vai cair todas as vezes.

Enfim, o meu ponto não foi exatamente questionado aí. Era que os "ateus-fortes" são praticamente um espantalho. Como se fossem "ateus fanáticos" com uma fé inabalável na inexistência de deuses, que não seria perturbada pela evidência mais cientificamente perfeita, qualquer que pudesse ser a evidência de algo assim.

Só uma definição mais "irracional" dessas justifica essa crítica, se o ateu-forte é igual ao "afadista" forte, apenas trocando fadas por deuses, tudo bem; mas aí voltamos ao ponto original de que não se vê por aí gente questionando os afadistas fortes por serem meio apressados em concluírem ou crerem que não existem fadas apesar de no fundo não podermos realmente saber de praticamente qualquer coisa.

O ateu "de verdade", sem o espantalho, só vai até o que seria o sexto dan, ou "sexto-e-meio", praticamente não existindo esse sétimo, ao menos nessa versão um pouco mais descritiva e explicitamente estufada com palha que eu coloquei aí. Da mesma forma que não existe a mesma coisa para outros deuses e questões além de deuses. Praticamente todo mundo têm "100%" de certeza para fins práticos de uma porção de coisas que numa discussão sobre natureza da realidade teria que admitir que não sabe mesmo, o que não significa que não possa estar sujeito a revisão ou algo assim.



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Como pode então alguém fazer um juízo tão definitivo sobre algo do qual não tem informações? (que sabemos nós dos bastidores do universo?) Eu seria a primeira pessoa a dizer que acho que Deus, tal qual é descrito pelos religiosos, é um ser muito, muito improvável e que eu apostaria seriamente de que ele não existe, mas eu diria isso consciente de que isso é uma opinião, e não conhecimento. Em minha opinião alguém que diz que sabe que Deus não existe ou que sabe que ele não existe não apenas está errado, como está mentindo, para nós ou para si mesmo, e se servindo de severa desonestidade intelectual.

Bem, parte do problema é uma acepção mais pragmática dos termos, onde existe o "saber" versus uma acepção mais filosófica, onde praticamente todo mundo, (ou ao menos todos ateus, e boa parte dos teístas e deístas, imagino) teria que admitir ser agnóstico "forte" e que não se sabe de nada, tudo é possível, e a ciência e o que pensamos ser o "conhecimento" proveniente dela talvez seja só um tipo de tautologia que não tem nada a ver com uma hipotética realidade absoluta, mas ainda pode ser que a tautologia em si esteja errada, que estejamos passando por uma espécie de "burrice" análoga a achar por um momento que 2+2=5.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #73 Online: 29 de Agosto de 2008, 17:03:50 »
O que o Buckaroo quis dizer é que acreditar na ciência já pressupõe um posicionamento metafísico: a de que existe uma realidade objetiva e que ela é cogniscível. Eu contestei isso dizendo que a ciência faz previsões e sistematiza nossos conhecimentos acerca daquilo que nós observamos e não há metafísica nenhuma aí - usamos a ciência porque ela é útil e a metafísica estaria em assumirmos que nossas observações descrevem fielmente a realidade objetiva, mas que, como bom agnóstico, declaro que isso não faz diferença.

Como é que não há metafísica aí? Não é como se a ciência fosse útil por ser como um jogo de xadrez ou rimas bonitas, ela é uma ferramenta de averiguação do que se supõe ser a realidade.

Só é útil porque se julga que no mínimo fornece uma aproximação da realidade; que o observado "tem a ver" com a realidade, ainda que se admita não poder se ter uma representação absolutamente fiel dela.

Offline Tupac

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #74 Online: 29 de Agosto de 2008, 17:38:35 »
Sou 9, as vezes 8, as vezes 10 em relação ao papai abraamico.
5, 6 e as vezes 4 em relação a causa primeira.
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida."
 - Carl Sagan

"O que é afirmado sem argumentos, pode ser descartado sem argumentos." - Navalha de Hitchens

 

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