Mas que eu saiba, não é mesmo. O nome próprio seria YHVH, Javé ou Jeová. Deus com maiúscula sem ser no início da frase seria um tipo de gesto respeitoso ao se referir a esse ou outro deus importante que se considerasse existir, meio como "Vossa Excelência" e outras formas de tratamento que tradicionalmente se coloca iniciais maiúsculas sem ser em nome próprio. Os teístas também comumente usam maiúscula para coisas como "Ele" quando se referindo ao deus que supõem existir, ao mesmo tempo em que não é nome próprio (isso ou "nome próprio" significa algo além do que eu supunha).
Lembra do meu amigo Gordo, que é gordo? Gordo não é o nome de batismo dele, é só a forma pela qual nos dirigimos a ele. Os nomes YHWH, Javé, Jeová e sejam lá quais mais também são nomes próprios, mas o fato de ele ter outros nomes não invalida o nome usual, que é de fato o que é usado: Deus. Os pronomes em iniciais maiúsculas, esses sim é que são formas respeitosas e são facultativos.
Hummm.... mas ainda assim, não é errado usar "deus" para YHVH, da mesma forma que se eu não sou bem chegado do seu amigo que é gordo, a ponto de usar esse apelido da sua turma, e estou narrando qualquer coisa sobre ele, ao mesmo tempo em que não quero usar o nome de verdade dele, ou não lembro, posso me referir a ele simplesmente como "gordo", da mesma forma que poderia narrar sobre uma "morena" anônima.
Quanto à sua comparação com os pronomes de tratamento, ela é inválida. Deus é substantivo, pois deriva de um substantivo. Pronomes de tratamento se caracterizam por invocar um certo distanciamento daquilo que eles substituem referindo-se não diretamente à pessoa, mas a uma qualidade da mesma, por exemplo, Vossa Excelência (ou Sua Excelência quando se emprega na terceira pessoa), como o nome já diz, diz respeito à excelência da pessoa, e não à pessoa diretamente. Eu poderia chamar Albert Einstein de "Sua Inteligência" ou Gisele Bündchen de "Sua Beleza", mas essas não são formas consagradas pelo uso.
Realmente são "casos" diferentes.
Concordo com tudo que disse, ao mesmo tempo continuo achando esse "agnosticismo complacente" específico para um deus javeóide um verniz intelectual, uma racionalização de uma certa simpatia com o conceito.
Acho que você não leu meu post anterior onde já respondi a essa questão: ../forum/topic=17332.0.html#msg353354
Não vi mesmo, vou a ele então:
Essas discussões sobre ateísmo e agnosticismo, especialmente uma espécie de agnosticismo complacente com uma hipótese meio javeóide de um deus, ficam se arrastando indefinidamente quase sempre sem abordar isso, que me parece o mais crucial.
Agnosticismo complacente com Javé? Nunca vi um monstrinho dessa espécie, mas se você diz que conhece vou lhe dar o benefício da dúvida. No meu ponto de vista, porém, o agnosticismo não é incompatível de maneira alguma com o ateísmo porque os dois dizem respeito a coisas diferentes: o ateísmo diz respeito a acreditar, já o agnosticismo diz respeito a saber. Eu não acredito em Deus, portanto sou ateu. Eu não sei se Deus existe realmente ou não, logo sou agnóstico. Mas espero que não seja isso que você enxergue como complacência, pois uma coisa não tem nada a ver com a outra - o fato de eu afirmar que não tenho conhecimento da questão é completamente independente de eu ter uma opinião sobre sua existência ser provável ou verossímil.
Não estou falando de uma "essência" do agnosticismo ou de uma modalidade "de verdade" específica, mas mais de uma prática. Assim como se fala algumas vezes do "ateu-homem-bomba", e/ou o que segue o "ateísmo revoltado", chamo de "agnosticismo complacente" isso de ficar se fazendo um caso em torno espeficiamente de um deus javeóide como se fosse algo que merecesse maior consideração do que algo como o ''Cosmo-Repolho Universal''.
Geralmente, quando se compara "Deus", quase sempre com maiúscula e no singular
Deus é nome próprio e pelas regras da ortografia deve ser grafado com letra maiúscula, acredite-se ou não dele. O que eu me recuso a fazer é capitalizar as letras iniciais dos pronomes que se referem a Ele.
Bem isso já quase merecendo um tópico próprio, mas continuo achando que não é incorreto grafar sempre com minúscula, mesmo se referindo a Javé ou algum deus em particular previamente especificado em alguma abordagem.
O ponto aí era, de qualquer forma, talvez de forma um pouco insondável demais, era que apesar de um "n-deísmo" ser talvez a única coisa mais imediatamente digna de consideração como hipótese a partir da admissão do agnosticismo (não vejo sentido em ficar enfiando especificidades características do teísmo), essa prática do "agnosticismo complacente" de forma quase escancarada praticamente fala de Javé, comumente referido por "Deus", ou algo muito próximo.
, com alguma outra coisa menos comumente defendida como plausível, desmerecem a comparação como espantalho, não dando a mesma colher de chá que dão para esse molde geral e vago do conceito "Deus" deísta ou "semi teísta" sem religião.
Para a noção mais básica de "Deus", de uma mente super-poderosa, de natureza desconhecida, e geralmente criadora, parecem considerar ser sempre verossímil todo tipo de ad hoc meio enaltecedor ou meio "cortina de fumaça", enquanto o mesmo princípio não é nunca considerado para seres ou fenômenos não verificados, ou mesmo impensados, mas que fujam dessa noção de um super-cara criador do universo ou boa parte dele.
Falácia da composição (tomar a parte pelo todo) e conclusão irrelevante. Alguns agnósticos podem assumir o comportamento assim descrito, mas essa é uma característica individual dos mesmos, não é algo que se aplique a todos os agnósticos ou que seja um fundamento do agnosticismo.
Já explicado; não é uma crítica ao agnosticismo, mas simplesmente a isso de ficar se fazendo um caso especial para algo como um super-cara que tivesse supostamente criado o mundo, em vez de algo como fantasmas de ácaros ou fadas.
Quanto às famosas chaleiras douradas de Bertrand Russell orbitando além do planeta Marte o que tenho a dizer é o mesmo que já disse acima: não considero verossímil ou provável que exista uma coisa desse tipo, mas tampouco sei isso. Saber é diferente de acreditar.
Bem, a partir daí poderia se tecer um tipo de crítica ao agnosticismo "mesmo", que talvez fosse meio trivial. Acho que se seguido à risca, de certa forma o agnosticismo inevitavelmente desemboca no niilismo, tudo pode ser verdade ou mentira, é simplesmente impossível saber qualquer coisa; não existe "saber", só acreditar.
As únicas causas para esses pesos e medidas diferentes nessa complacência com o conceito de "Deus" javeóide (e fantasmas) são psicológicas, tanto biológicas, praticamente inatas, quanto culturais, e essas por sua vez também tem sua origem em última instância em aspectos instintivos de nossa psicologia.
Petitio principii, não há pesos e medidas diferentes.
Os pesos e medidas diferentes são, em analogia com um tópico recente, quando se constata que não são tão raras afirmações como "ceticismo aplicado ao ateísmo", enquanto é virtualmente inexistente gente falando sobre "ceticismo aplicado à hipótese da inexistência de duendes". Ao mesmo tempo, a comparação é freqüentemente acusada de injusta, de ser um tipo de espantalho. Duendes e outras coisas "todos sabem" que não existem, quando poderiam ser protegidos por ad hocs similares aos que fazem com que deus não seja um cara barbudo sentado num trono suspenso numa nuvem no céu.
Considero esse apoio no agnosticismo misturado com um certo ataque ao "ateísmo forte" ou "dogmático" uma espécie de espantalho, um verniz intelectualóide, apenas uma racionalização da crença ou desse sentimento de maior consideração com o conceito de super-cara do que com qualquer outro conceito em igual situação de não comprovação ou desconhecimento; nesses casos, ninguém aponta "problemas" com uma "descrença forte", é aceito naturalmente, sem ser comparado pejorativamente a uma crença "comum", do tipo que afirma que algo existe sem ter embasamento. Praticamente não se fala de agnosticismo nesse sentido complacente sem ser com relação a algo similar a um super-cara.
Só há uma forma racional de encarar uma questão que é desconhecida: com a dúvida. Você é livre para acreditar positivamente que Deus não existe, mas ao menos assuma que isso é uma salto de fé.
Bem, não acho que é um "salto de fé" maior para isso do que para minha "crença' em não existir um dragão invisível na minha garagem, ou que estou digitando num teclado de computador, no mundo real e não numa simulação ou no sonho de uma borboleta. Se "fé" aqui significar simplesmente "confiança", "convicção", tenho "fé"; não considero que qualquer uma das conclusões sobre as inexistências desses seres (e em não ser tudo um sonho duma borboleta) tenha sido um "salto", de qualquer forma, significando algo precipitado.
Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.
Agnosticismo versa sobre dúvida e não sobre crença. Poderia ser que Descartes estivesse correto em seus discursos e que a 'realidade' à nossa volta nada mais fosse que uma fantasia, uma ilusão. Ou poderia ser que não, que haja uma realidade palpável e cogniscível que é exatamente como nossos sentidos a percebem. Ambas são declarações de ordem metafísica e o que um agnóstico dirá sobre elas não é nada mais do que o óbvio ululante: "não sei." Isso não quer dizer que ele não tenha liberdade para escolher uma hipótese na qual acreditar, mas essa escolha é uma questão de crença pessoal facultativa e nada tem a ver com o agnosticismo em si, contanto que a pessoa não se iluda que essas crenças sejam equivalentes a conhecimento factual.
(Mais especificamente conhecimento do que dúvida; mas por outro lado seria uma dúvida generalizada do conhecimento)
Bem acho meio estranho isso de crença ser "facultativa", mas fora isso. Esse comportamento de "agnosticismo complacente" de modo geral ignora dúvida sobre qualquer outra coisa, e se foca especificamente na dúvida sobre a dúvida em um super-cara.
É um bom momento para mencionar a nossa velha amiga Navalha de Ockham: Não sabemos se o que percebemos é a realidade ou se é uma ilusão de nossas mentes que projeta uma suposta realidade. Seja qual for a hipótese verdadeira, nossas observações são as mesmas, portanto há uma boa justificativa racional para eu acreditar (embora a rigor eu não saiba) que existe uma realidade objetiva e viver como se essa fosse a verdade.
A Navalha de Ockham praticamente dá cabo de toda a metafísica. Nas palavras de David Hume:
If we take in our hand any volume; of divinity or school metaphysics, for instance; let us ask, Does it contain any abstract reasoning concerning quantity or number? No. Does it contain any experimental reasoning concerning matter of fact and existence? No. Commit it then to the flames: for it can contain nothing but sophistry and illusion.
– An Enquiry Concerning Human Understanding
A ciência, diga ou não diga respeito à realidade última das coisas é útil, pois ela traz informações acuradas sobre a "realidade" tal como nós a percebemos.
Melhor dizendo, de um ponto de vista agnóstico, é o que se costuma crer...
Não costumamos ver, de qualquer forma, esse niilismo manifestado, só questionamentos específicos ao "ateísmo forte" (que penso ser mais um espantalho canonizado do que realidade), como se fosse uma "crença" pior do que na inexistência de fadas, ou de que estrelas são gigantes massas de átomos em fusão e etc.
O que costumamos ver aqui no fórum é irrelevante para a definição de agnosticismo ou para a sua coerência como escola filosófica. Eventuais incoerências que eu ou outras pessoas manifestemos condenam somente a nós mesmos.
Bem, eu nunca impliquei com a definição de agnosticismo, então tudo bem
Quanto ao ateísmo forte/positivo, em oposição ao fraco/negativo, antes de tudo, é bom nos entendermos sobre o que quer dizer uma coisa e o que quer dizer outra. A Wikipedia pode nos ajudar: Strong vs. Weak Atheism
Philosophers such as Antony Flew[35] and Michael Martin[24] have contrasted strong (positive) atheism with weak (negative) atheism. Strong atheism is the explicit affirmation that gods do not exist. Weak atheism includes all other forms of non-theism.
A propósito, esse Anthony Flew é aquele mesmo que "virou a casaca" recentemente, mas isso é irrelevante. Se você leu Deus um Delírio, de Richard Dawkins, deve estar ciente daquela "escala de crença" que ele elaborou. Se não, veja aqui:
1. Strong Theist: I do not question the existence of God, I KNOW he exists.
2. De-facto Theist: I cannot know for certain but I strongly believe in God and I live my life on the assumption that he is there.
3. Weak Theist: I am very uncertain, but I am inclined to believe in God.
4. Pure Agnostic: God’s existence and non-existence are exactly equiprobable.
5. Weak Atheist: I do not know whether God exists but I’m inclined to be skeptical.
6. De-facto Atheist: I cannot know for certain but I think God is very improbable and I live my life under the assumption that he is not there.
7. Strong Atheist: I am 100% sure that there is no God.
O próprio Dawkins reconheceu que agnósticos "puros" como os do 4 na escala são raríssimos. Eu certamente não sou um deles.
Bem, na verdade, isso está errado. O agnóstico no sentido mais puro do termo é "ortogonal" a essa escala, ele poderia ser qualquer um dos seis (com a ressalva de que não poderia dizer "saber" que existe um deus, apenas que tem total confiança na sua existência) restantes, uma vez que a crença independe da possibilidade de conhecimento. Outra coisa meio ruim aí é ser meio monoteístico-centrista, mas enfim, tanto faz. Prossigamos.
Repare que o ateu forte é aquele que está no extremo da escala, é aquele que acredita com convicção absoluta na não existência de Deus. Compare com o "teísta forte", que "não acredita em Deus, mas sabe que ele existe."
A pergunta é: de onde vem esse conhecimento? Ele é racional? Eu devo admitir que há poucas coisas em minha vida nas quais eu tenho uma crença forte, mesmo a simples crença de que se eu soltar um bolinha de minha mão ela vai cair em direção ao chão me é suspeita. É algo facilmente verificável e até hoje nunca falhou, eu solto a bola e ela cai rumo ao chão! Mas o que impede que falhe da próxima vez? Você deve estar ciente do já exaustivamente debatido problema da indução, que por tanto tempo incomodou a filosofia da ciência e cuja melhor solução até hoje foi a de Popper, introduzindo o conceito de falseabilidade e de que as verdades científicas são mutantes, mas isso já é outra história e o que eu quero dizer é que, mesmo falando de bolinhas precipitando serelepes e faceiras rumo ao chão, se fosse intimado a falar 100% racionalmente eu não poderia me colocar em um 7 na escala Dawkins, embora eu na prática realmente creia que ela vai cair todas as vezes.
Enfim, o meu ponto não foi exatamente questionado aí. Era que os "ateus-fortes" são praticamente um espantalho. Como se fossem "ateus fanáticos" com uma fé inabalável na inexistência de deuses, que não seria perturbada pela evidência mais cientificamente perfeita, qualquer que pudesse ser a evidência de algo assim.
Só uma definição mais "irracional" dessas justifica essa crítica, se o ateu-forte é igual ao "afadista" forte, apenas trocando fadas por deuses, tudo bem; mas aí voltamos ao ponto original de que não se vê por aí gente questionando os afadistas fortes por serem meio apressados em concluírem ou crerem que não existem fadas apesar de no fundo não podermos realmente saber de praticamente qualquer coisa.
O ateu "de verdade", sem o espantalho, só vai até o que seria o sexto dan, ou "sexto-e-meio", praticamente não existindo esse sétimo, ao menos nessa versão um pouco mais descritiva e explicitamente estufada com palha que eu coloquei aí. Da mesma forma que não existe a mesma coisa para outros deuses e questões além de deuses. Praticamente todo mundo têm "100%" de certeza para fins práticos de uma porção de coisas que numa discussão sobre natureza da realidade teria que admitir que não sabe mesmo, o que não significa que não possa estar sujeito a revisão ou algo assim.
Como pode então alguém fazer um juízo tão definitivo sobre algo do qual não tem informações? (que sabemos nós dos bastidores do universo?) Eu seria a primeira pessoa a dizer que acho que Deus, tal qual é descrito pelos religiosos, é um ser muito, muito improvável e que eu apostaria seriamente de que ele não existe, mas eu diria isso consciente de que isso é uma opinião, e não conhecimento. Em minha opinião alguém que diz que sabe que Deus não existe ou que sabe que ele não existe não apenas está errado, como está mentindo, para nós ou para si mesmo, e se servindo de severa desonestidade intelectual.
Bem, parte do problema é uma acepção mais pragmática dos termos, onde existe o "saber" versus uma acepção mais filosófica, onde praticamente todo mundo, (ou ao menos todos ateus, e boa parte dos teístas e deístas, imagino) teria que admitir ser agnóstico "forte" e que não se sabe de nada, tudo é possível, e a ciência e o que pensamos ser o "conhecimento" proveniente dela talvez seja só um tipo de tautologia que não tem nada a ver com uma hipotética realidade absoluta, mas ainda pode ser que a tautologia em si esteja errada, que estejamos passando por uma espécie de "burrice" análoga a achar por um momento que 2+2=5.