Autor Tópico: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?  (Lida 10137 vezes)

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Offline Eremita

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #75 Online: 29 de Agosto de 2008, 18:12:00 »
O meu modo de resolver isso é o seguinte: eu sou ateu, apapainoelista, acentaurista, amboitataísta. E pronto, 'cabou: centauros são tão relevantes, para mim, quanto deuses.

E os SMURFS?
Neles eu acredito. Foram criados para mostrar às criancinhas como é o Verdadeiro Comunismo.
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Offline JUS EST ARS

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #76 Online: 29 de Agosto de 2008, 18:33:42 »

O que o Buckaroo quis dizer é que acreditar na ciência já pressupõe um posicionamento metafísico: a de que existe uma realidade objetiva e que ela é cogniscível. Eu contestei isso dizendo que a ciência faz previsões e sistematiza nossos conhecimentos acerca daquilo que nós observamos e não há metafísica nenhuma aí - usamos a ciência porque ela é útil e a metafísica estaria em assumirmos que nossas observações descrevem fielmente a realidade objetiva, mas que, como bom agnóstico, declaro que isso não faz diferença.

Como é que não há metafísica aí? Não é como se a ciência fosse útil por ser como um jogo de xadrez ou rimas bonitas, ela é uma ferramenta de averiguação do que se supõe ser a realidade.

Só é útil porque se julga que no mínimo fornece uma aproximação da realidade; que o observado "tem a ver" com a realidade, ainda que se admita não poder se ter uma representação absolutamente fiel dela.

Buckaroo, você é um excelente debatedor, mas querer generalizar para o lado de que "a ciência também é metafísica" é abandonar a lógica.

Há uma clara distinção entre uma coisa e outra, sendo o principal deles a prova empírica ou de qualquer forma demonstrável ante o método científico. Não dá para se colocar no mesmo balaio.


Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #77 Online: 29 de Agosto de 2008, 18:44:51 »
Hummm.... mas ainda assim, não é errado usar "deus" para YHVH, da mesma forma que se eu não sou bem chegado do seu amigo que é gordo, a ponto de usar esse apelido da sua turma, e estou narrando qualquer coisa sobre ele, ao mesmo tempo em que não quero usar o nome de verdade dele, ou não lembro, posso me referir a ele simplesmente como "gordo", da mesma forma que poderia narrar sobre uma "morena" anônima.

Depende da frase. Gordo ou morena poderiam ser adjetivos, substantivos comuns ou substantivos próprios dependendo do contexto. No caso de Deus, é comum usar a palavra como nome próprio.

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Não estou falando de uma "essência" do agnosticismo ou de uma modalidade "de verdade" específica, mas mais de uma prática. Assim como se fala algumas vezes do "ateu-homem-bomba", e/ou o que segue o "ateísmo revoltado", chamo de "agnosticismo complacente" isso de ficar se fazendo um caso em torno espeficiamente de um deus javeóide como se fosse algo que merecesse maior consideração do que algo como o ''Cosmo-Repolho Universal''.

Muito bem, o que me parecia é que você estava condenando toda a filosofia agnóstica com base em algumas interpretações particulares.


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Bem isso já quase merecendo um tópico próprio, mas continuo achando que não é incorreto grafar sempre com minúscula, mesmo se referindo a Javé ou algum deus em particular previamente especificado em alguma abordagem.

Então você está precisando estudar mais gramática.

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O ponto aí era, de qualquer forma, talvez de forma um pouco insondável demais, era que apesar de um  "n-deísmo" ser talvez a única coisa mais imediatamente digna de consideração como hipótese a partir da admissão do agnosticismo (não vejo sentido em ficar enfiando especificidades características do teísmo), essa prática do "agnosticismo complacente" de forma quase escancarada praticamente fala de Javé, comumente referido por "Deus", ou algo muito próximo.

Não concordo. Javé é o deus do Velho Testamento, aquele serzinho detestável e não acho que muitos não-teístas, ao discutir a existência de deuses, o considerariam seriamente. O deus que tenho em mente quando sou intimado a tocar no assunto é mais parecido com o deus dos deístas, simplesmente um ser inteligente e consciente que tivesse capacidade de planejar e executar a criação do Universo.

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Já explicado; não é uma crítica ao agnosticismo, mas simplesmente a isso de ficar se fazendo um caso especial para algo como um super-cara que tivesse supostamente criado o mundo, em vez de algo como fantasmas de ácaros ou fadas.

Explicação já aceita.

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Bem, a partir daí poderia se tecer um tipo de crítica ao agnosticismo "mesmo", que talvez fosse meio trivial. Acho que se seguido à risca, de certa forma o agnosticismo inevitavelmente desemboca no niilismo, tudo pode ser verdade ou mentira, é simplesmente impossível saber qualquer coisa; não existe "saber", só acreditar.

Isso é discutível, mas já seria tema para outro tópico. Pode-se pensar também em diversas gradações para o nível de certeza que se pode ter sobre alguma coisa. O nível de certeza de que existe um computador em minha frente neste exato momento é altíssimo ao ponto de, excluindo a possibilidade de eu ser vítima de uma conspiração dos meus sentidos, o que é uma hipótese sem valor prático, eu poder dizer que sei que há um computador em minha frente.

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Os pesos e medidas diferentes são, em analogia com um tópico recente, quando se constata que não são tão raras afirmações como "ceticismo aplicado ao ateísmo", enquanto é virtualmente inexistente gente falando sobre "ceticismo aplicado à hipótese da inexistência de duendes". Ao mesmo tempo, a comparação é freqüentemente acusada de injusta, de ser um tipo de espantalho. Duendes e outras coisas "todos sabem" que não existem, quando poderiam ser protegidos por ad hocs similares aos que fazem com que deus não seja um cara barbudo sentado num trono suspenso numa nuvem no céu.

Usar raciocínios ad hoc realmente são uma coisa muito feia. É praticamente trapacear. Mas é exatamente isso que torna esses seres sobrenaturais coisas irrefutáveis. Não se pode provar que Deus e duendes não existem. Mas e daí? Você não é obrigado a acreditar nessas coisas, muito pelo contrário, afinal, o sentido de nós nos definirmos como céticos não é justamente nos reservarmos a não acreditar em alegações até que nos sejam apresentadas evidências que as sustentem? Se você simplesmente soubesse que duendes, sem sombra de dúvidas, não existem, você não seria um cético, você simplesmente seria uma pessoa informada - da mesma forma que saber que o céu azul, não faz de você um cético quanto à possibilidade de ele ser verde.

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Bem, não acho que é um "salto de fé" maior para isso do que para minha "crença' em não existir um dragão invisível na minha garagem, ou que estou digitando num teclado de computador, no mundo real e não numa simulação ou no sonho de uma borboleta. Se "fé" aqui significar simplesmente "confiança", "convicção", tenho "fé"; não considero que qualquer uma das conclusões sobre as inexistências desses seres (e em não ser tudo um sonho duma borboleta) tenha sido um "salto", de qualquer forma, significando algo precipitado.

Estamos falando sobre ateísmo forte aqui. Uma coisa é você não acreditar que há um dragão invisível em sua garagem até que provas convincentes do contrário sejam apresentadas. Outra é você declarar que acredita que não há um dragão em sua garagem - isso não é ceticismo, é uma postura dogmática.

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Bem acho meio estranho isso de crença ser "facultativa", mas fora isso. Esse comportamento de "agnosticismo complacente" de modo geral ignora dúvida sobre qualquer outra coisa, e se foca especificamente na dúvida sobre a dúvida em um super-cara.

Somos pessoas livres, temos direito a crer no que quisermos. Todo mundo tem o direito de estar errado. Uma pessoa racional, porém, deve no mínimo estar consciente de suas ignorâncias.

Quanto à dúvida específica quanto ao super-cara, nada mais natural, pois no contexto em que é usado, agnosticismo geralmente se refere a metafísica, ao sobrenatural, àquilo que está além da aplicação do método científico. Daí ser mais freqüente os agnósticos se declararem em dúvida quanto à existência de Deus com mais freqüência do que quanto à existência de Nessie. Nessie ao menos é testável. Provavelmente a maioria dos agnósticos que você encontrar serão céticos, embora isso não seja obrigatório, mas eu vejo o agnosticismo uma continuação natural do ceticismo; mas o ceticismo científico, aquele tão defendido por Carl Sagan, como o nome já diz, se refere a afirmações científicas, isto é, a falseáveis. Eu sou cético com relação a Nessie, mas não sou cético nesse mesmo sentido com relação a Deus, pois a existência de Deus não é uma proposição científica, é metafísica. Com relação a Deus eu sou agnóstico.

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Citação de: uiliníli
É um bom momento para mencionar a nossa velha amiga Navalha de Ockham

(...)

A ciência, diga ou não diga respeito à realidade última das coisas é útil, pois ela traz informações acuradas sobre a "realidade" tal como nós a percebemos.

Melhor dizendo, de um ponto de vista agnóstico, é o que se costuma crer...

Não entendi essa observação.

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Bem, na verdade, isso está errado. O agnóstico no sentido mais puro do termo é "ortogonal" a essa escala, ele poderia ser qualquer um dos seis (com a ressalva de que não poderia dizer "saber" que existe um deus, apenas que tem total confiança na sua existência) restantes, uma vez que a crença independe da possibilidade de conhecimento. Outra coisa meio ruim aí é ser meio monoteístico-centrista, mas enfim, tanto faz. Prossigamos.

Estou de pleno acordo. Mais parece é que o Dawkins não achou nada melhor para colocar no meio da escala.

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Enfim, o meu ponto não foi exatamente questionado aí. Era que os "ateus-fortes" são praticamente um espantalho. Como se fossem "ateus fanáticos" com uma fé inabalável na inexistência de deuses, que não seria perturbada pela evidência mais cientificamente perfeita, qualquer que pudesse ser a evidência de algo assim.

Mas é isso que ateus fortes são. Se não forem isso então não faz o menor sentido em se diferenciar ateus entre fortes e fracos, pois são a mesma coisa. Pode-se argumentar nesse caso é que ateus fortes não existem.

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Só uma definição mais "irracional" dessas justifica essa crítica, se o ateu-forte é igual ao "afadista" forte, apenas trocando fadas por deuses, tudo bem; mas aí voltamos ao ponto original de que não se vê por aí gente questionando os afadistas fortes por serem meio apressados em concluírem ou crerem que não existem fadas apesar de no fundo não podermos realmente saber de praticamente qualquer coisa.

É a discussão sobre o sentido de ceticismo. Alguém que acredita que fadas não existem não é cético. Alguém com mentalidade científica se manifestaria com ceticismo com relação à existência de fadas até que surgissem evidências em contrário.

Já que estamos voltando ao assunto do ceticismo científico, gostaria de fazer uma observação no mesmo nível das suas de "não se vê por aqui as pessoas falando nisso" que é a seguinte: Todo mundo adora tecer loas a Carl Sagan por sua defesa da ciência e da razão e por propagar os valores do ceticismo. O Mundo Assombrado pelos Demônios é leitura obrigatória para os membros deste fórum que orgulhosamente chamamos de cético. O ceticismo é a filosofia que realmente une as pessoas aqui, não o ateísmo ou o agnosticismo. As pessoas se esquecem, porém, que Carl Sagan nunca falava em ceticismo separado de outro conceito que ele considerava importantíssimo: aquilo que ele chamava de "adimiração". Sagan falava não em ceticismo, ele falava em "ceticismo e adimiração" como contrapontos que precisavam ser equilibrados, o primeiro para não nos enganarmos com falsas verdades e o segundo para não perdermos o senso de mistério e deslumbramento diante do desconhecido. O sujeito mal-humorado que diz arrogantemente que fadas não existem e pronto não é o que Sagan tinha em mente ao falar em ceticismo.

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O ateu "de verdade", sem o espantalho, só vai até o que seria o sexto dan, ou "sexto-e-meio", praticamente não existindo esse sétimo, ao menos nessa versão um pouco mais descritiva e explicitamente estufada com palha que eu coloquei aí. Da mesma forma que não existe a mesma coisa para outros deuses e questões além de deuses. Praticamente todo mundo têm "100%" de certeza para fins práticos de uma porção de coisas que numa discussão sobre natureza da realidade teria que admitir que não sabe mesmo, o que não significa que não possa estar sujeito a revisão ou algo assim.

Nesse caso podemos afirmar num grau 6 de certeza que ateus fortes não existem. Não sei, sou agnóstico com relação a isso :P

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Bem, parte do problema é uma acepção mais pragmática dos termos, onde existe o "saber" versus uma acepção mais filosófica, onde praticamente todo mundo, (ou ao menos todos ateus, e boa parte dos teístas e deístas, imagino) teria que admitir ser agnóstico "forte" e que não se sabe de nada, tudo é possível, e a ciência e o que pensamos ser o "conhecimento" proveniente dela talvez seja só um tipo de tautologia que não tem nada a ver com uma hipotética realidade absoluta, mas ainda pode ser que a tautologia em si esteja errada, que estejamos passando por uma espécie de "burrice" análoga a achar por um momento que 2+2=5.

Acho que na prática quase todos os ateus e deístas e boa parte dos teístas são de fato agnósticos, ainda que não se dêem conta disso nem declarem abertamente. Eu mesmo me considero ateu e agnóstico. E justamente por ser agnóstico me permito não me preocupar com as ciências e a matemática serem tautologias e que não descrevam uma realidade absoluta - essas são considerações de ordem metafísica para as quais não posso obter resposta e por isso as ignoro - nos dois sentidos da palavra, confiando na ciência e na matemática pelo fato de elas trazerem conhecimentos que são úteis ao estilo de vida que levamos.

Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #78 Online: 29 de Agosto de 2008, 18:52:05 »
Como é que não há metafísica aí? Não é como se a ciência fosse útil por ser como um jogo de xadrez ou rimas bonitas, ela é uma ferramenta de averiguação do que se supõe ser a realidade.

Perfeito: a ciência é uma ferramenta de averiguação de alguma coisa que supomos ser a realidade. Isso não é metafísica, é quase uma tautologia. A metafísica está é na discussão sobre se nossa suposição sobre isso ser a realidade é correta ou não. A posição do agnóstico é taxar essa discussão de infrutífera e viver tranqüilamente como se o que supomos ser a realidade fosse mesmo a realidade.

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Só é útil porque se julga que no mínimo fornece uma aproximação da realidade; que o observado "tem a ver" com a realidade, ainda que se admita não poder se ter uma representação absolutamente fiel dela.

E não é o bastante? De um jeito ou de outro, é o melhor que conseguimos, então paciência.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #79 Online: 31 de Agosto de 2008, 19:39:57 »

O que o Buckaroo quis dizer é que acreditar na ciência já pressupõe um posicionamento metafísico: a de que existe uma realidade objetiva e que ela é cogniscível. Eu contestei isso dizendo que a ciência faz previsões e sistematiza nossos conhecimentos acerca daquilo que nós observamos e não há metafísica nenhuma aí - usamos a ciência porque ela é útil e a metafísica estaria em assumirmos que nossas observações descrevem fielmente a realidade objetiva, mas que, como bom agnóstico, declaro que isso não faz diferença.

Como é que não há metafísica aí? Não é como se a ciência fosse útil por ser como um jogo de xadrez ou rimas bonitas, ela é uma ferramenta de averiguação do que se supõe ser a realidade.

Só é útil porque se julga que no mínimo fornece uma aproximação da realidade; que o observado "tem a ver" com a realidade, ainda que se admita não poder se ter uma representação absolutamente fiel dela.

Buckaroo, você é um excelente debatedor, mas querer generalizar para o lado de que "a ciência também é metafísica" é abandonar a lógica.

Há uma clara distinção entre uma coisa e outra, sendo o principal deles a prova empírica ou de qualquer forma demonstrável ante o método científico. Não dá para se colocar no mesmo balaio.




Obrigado, mas mantenho meu ponto, acho.

O ponto era que ao se fazer/aceitar ciência, e admitir que é útil, está em algo implícita uma assunção metafísica de qualquer averiguação empírica de uma "verdade" de fato é verdade (exceto por eventuais falhas de método ou conduta) e não uma ilusão perfeita nos enganando.

Isso é de qualquer forma, uma assunção razoável, a mais parcimoniosa possível, em vez de uma constatação científica/empírica. Algo que considero  distinto de "fé" ou "salto de fé", talvez até mesmo de "dogma", ainda que nessa discussão essa assunção básica talvez possa ser considerada exatamente igual a qualquer fé em qualquer coisa, como fadas ou dragões invisíveis, solipsismo, etc.

Se por outro lado, se for mais como o uilinili disse na última frase, "metafísica está é na discussão sobre se nossa suposição sobre isso ser a realidade é correta ou não. A posição do agnóstico é taxar essa discussão de infrutífera e viver tranqüilamente como se o que supomos ser a realidade fosse mesmo a realidade", então isso que estou defendendo como mais razoável e não-dogmático, não uma posição de fé, especificamente a "negação" forte (ou o mais próximo disso dentro do que realmente existir na maior parte do tempo) da inexistência de deuses, fadas, gnomos e outras entidades parecidas me parece perfeitamente compatível com o agnosticismo (ainda que sobre um agnosticismo mais "fraco", tavez, justamente por esse posicionamento metafísico implícito, em vez do pirronismo/niilismo/dúvida de absolutamente tudo sem se poder dizer sobre graus diferentes de certeza).

Se podemos assumir que aquilo que parece ser a realidade de fato é e ao mesmo tempo ser "agnóstico", então o ateísmo em qualquer versão não-espantalho é uma posição agnóstica, sendo o ateu forte na versão "ateu por fé" meramente um espantalho (tal como descrer ou crer na inexistência de fadas "por fé" e etc).

Isso tudo sob uma acepção mais corriqueira do termo "fé", e não essa coisa meio confusa de se tê-lo de forma que seria compatível com frases como "você tem fé que pessoas decapitadas morrem", "ele diz que o planeta é chato, você diz que é um esferóide oblado, mas nenhum pode estar mais correto que outro, ambas as afirmações são meros saltos de fé".

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #80 Online: 31 de Agosto de 2008, 21:10:02 »

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O ponto aí era, de qualquer forma, talvez de forma um pouco insondável demais, era que apesar de um  "n-deísmo" ser talvez a única coisa mais imediatamente digna de consideração como hipótese a partir da admissão do agnosticismo (não vejo sentido em ficar enfiando especificidades características do teísmo), essa prática do "agnosticismo complacente" de forma quase escancarada praticamente fala de Javé, comumente referido por "Deus", ou algo muito próximo.

Não concordo. Javé é o deus do Velho Testamento, aquele serzinho detestável e não acho que muitos não-teístas, ao discutir a existência de deuses, o considerariam seriamente. O deus que tenho em mente quando sou intimado a tocar no assunto é mais parecido com o deus dos deístas, simplesmente um ser inteligente e consciente que tivesse capacidade de planejar e executar a criação do Universo.

Bem, eu já considero esse como javeóide, no sentido de ser um cara só "criando o universo", ou o mais próximo disso numa acepção dos termos que não tornasse a frase algo praticamente ontologicamente impossível.


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Bem, a partir daí poderia se tecer um tipo de crítica ao agnosticismo "mesmo", que talvez fosse meio trivial. Acho que se seguido à risca, de certa forma o agnosticismo inevitavelmente desemboca no niilismo, tudo pode ser verdade ou mentira, é simplesmente impossível saber qualquer coisa; não existe "saber", só acreditar.

Isso é discutível, mas já seria tema para outro tópico. Pode-se pensar também em diversas gradações para o nível de certeza que se pode ter sobre alguma coisa. O nível de certeza de que existe um computador em minha frente neste exato momento é altíssimo ao ponto de, excluindo a possibilidade de eu ser vítima de uma conspiração dos meus sentidos, o que é uma hipótese sem valor prático, eu poder dizer que sei que há um computador em minha frente.


Pois é. Só acho isso bastante equivalente a afirmar que não existem deuses, fadas e etc, ou, numa aproximação das suas situações, que o seu pc não funciona graças a um exército de pequeninos duendes que na verdade estão por trás dos processos que geralmente atribuímos à interpretação "fundamentalista-materialista" do que permite esse tipo de tecnologia. A "crença" ou conhecimento de que o seu computador existe e é apenas o que "parece ser", e portanto não tem nada a ver com esse hipotético exército de duendes, é tão "fé" quanto a descrença em deuses, fadas e etc.

E com isso quero dizer que em nenhum dos casos "fé" seria o termo mais adequado para definir essa "crença", levando em conta o uso comum do termo, que seria para crença na existência de seres como esses mencionados ou fenômenos diversos, sob um grau de incerteza muito mais elevado do que o da existência do computador "puro".




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Os pesos e medidas diferentes são, em analogia com um tópico recente, quando se constata que não são tão raras afirmações como "ceticismo aplicado ao ateísmo", enquanto é virtualmente inexistente gente falando sobre "ceticismo aplicado à hipótese da inexistência de duendes". Ao mesmo tempo, a comparação é freqüentemente acusada de injusta, de ser um tipo de espantalho. Duendes e outras coisas "todos sabem" que não existem, quando poderiam ser protegidos por ad hocs similares aos que fazem com que deus não seja um cara barbudo sentado num trono suspenso numa nuvem no céu.

Usar raciocínios ad hoc realmente são uma coisa muito feia. É praticamente trapacear. Mas é exatamente isso que torna esses seres sobrenaturais coisas irrefutáveis. Não se pode provar que Deus e duendes não existem. Mas e daí? Você não é obrigado a acreditar nessas coisas, muito pelo contrário, afinal, o sentido de nós nos definirmos como céticos não é justamente nos reservarmos a não acreditar em alegações até que nos sejam apresentadas evidências que as sustentem? Se você simplesmente soubesse que duendes, sem sombra de dúvidas, não existem, você não seria um cético, você simplesmente seria uma pessoa informada - da mesma forma que saber que o céu azul, não faz de você um cético quanto à possibilidade de ele ser verde.

Bem, gostei da analogia, muito embora eu usaria no outro sentido. Acho que geralmente não somos céticos na inexistência de duendes (fadas, deuses, etc), da mesma forma que não somos céticos sobre a Terra ser plana e o céu ser azul, e não no sentido de "fé".



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Bem, não acho que é um "salto de fé" maior para isso do que para minha "crença' em não existir um dragão invisível na minha garagem, ou que estou digitando num teclado de computador, no mundo real e não numa simulação ou no sonho de uma borboleta. Se "fé" aqui significar simplesmente "confiança", "convicção", tenho "fé"; não considero que qualquer uma das conclusões sobre as inexistências desses seres (e em não ser tudo um sonho duma borboleta) tenha sido um "salto", de qualquer forma, significando algo precipitado.

Estamos falando sobre ateísmo forte aqui. Uma coisa é você não acreditar que há um dragão invisível em sua garagem até que provas convincentes do contrário sejam apresentadas. Outra é você declarar que acredita que não há um dragão em sua garagem - isso não é ceticismo, é uma postura dogmática.

Não sei. Como disse, considero que na prática são muito mais parecidas do que esse tipo de distinção tenta fazer parecer. Acho que seria diferente se de alguma forma houvesse algum modo de demonstrar a existência desse dragão invisível e ainda assim se continuasse acreditando que ele não existe. O que pode até ocorrer, o que seria mais ou menos análogo ao caso de criacionistas e negacionistas da ciência de modo geral, que negam apesar das confirmações.

Mas de modo geral penso que quem diz que acredita que não existem deuses, fadas e etc, está bem mais para quem diz que acredita que a Terra não seja chata ou que a aparente superfície não seja o interior. O que por sua vez também são coisas que julgo que podemos assumir que são verdades sem que isso seja algum tipo de "fé" por uma acepção usual, justa, do termo.


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Bem acho meio estranho isso de crença ser "facultativa", mas fora isso. Esse comportamento de "agnosticismo complacente" de modo geral ignora dúvida sobre qualquer outra coisa, e se foca especificamente na dúvida sobre a dúvida em um super-cara.

Somos pessoas livres, temos direito a crer no que quisermos.

Não digo no sentido que não há ou que não devesse haver liberdade de crença nesse sentido político, apenas que não se escolhe crenças. Não se pode acordar num dia e dizer, "bem, hoje vou acreditar em sete deuses criadores. Pronto, acredito". Como se escolhesse uma roupa.
 


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Todo mundo tem o direito de estar errado. Uma pessoa racional, porém, deve no mínimo estar consciente de suas ignorâncias.

Quanto à dúvida específica quanto ao super-cara, nada mais natural, pois no contexto em que é usado, agnosticismo geralmente se refere a metafísica, ao sobrenatural, àquilo que está além da aplicação do método científico. Daí ser mais freqüente os agnósticos se declararem em dúvida quanto à existência de Deus com mais freqüência do que quanto à existência de Nessie. Nessie ao menos é testável. Provavelmente a maioria dos agnósticos que você encontrar serão céticos, embora isso não seja obrigatório, mas eu vejo o agnosticismo uma continuação natural do ceticismo; mas o ceticismo científico, aquele tão defendido por Carl Sagan, como o nome já diz, se refere a afirmações científicas, isto é, a falseáveis. Eu sou cético com relação a Nessie, mas não sou cético nesse mesmo sentido com relação a Deus, pois a existência de Deus não é uma proposição científica, é metafísica. Com relação a Deus eu sou agnóstico.

Bem, acho a distinção nublada entre essas coisas. No mínimo você deveria ser agnóstico quanto a existência de Nessie ou qualquer coisa, pois por extensão do agnosticismo de deuses e os seus poderes e motivos desconhecidos, talvez algum deles, talvez o único que existisse, estivesse mantendo Nessie viva até hoje e oculta de todas as procuras, através de milagres. Talvez seja o Jesussauro por trás disso. Se achar que não, é porque tem fé, está em negação. :P

De certa forma acho que talvez até o posicionamento inverso seja mais justificável; agnosticismo quanto a Nessie, talvez uma população de plessiossauros pudesse ter sobrevivido por lá e eventualmente desaparecido, de forma que já não existem mais e talvez mesmo que existissem não tenham deixado qualquer rastro, e ceticismo quanto a deuses, ou um deus javeóide, que o Dawkins diz ser uma hipótese científica como outra qualquer, ainda que falha. Não conheço exatamente a argumentação dele sobre isso, mas consigo imaginar versões de uma argumentação assim com as quais talvez concordasse.

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Citação de: uiliníli
É um bom momento para mencionar a nossa velha amiga Navalha de Ockham

(...)

A ciência, diga ou não diga respeito à realidade última das coisas é útil, pois ela traz informações acuradas sobre a "realidade" tal como nós a percebemos.

Melhor dizendo, de um ponto de vista agnóstico, é o que se costuma crer...

Não entendi essa observação.

Mais uma espécie de brincadeira com isso de que qualquer coisa seria fé por não se poder refutar o irrefutável, como hipóteses solipsistas. Se é tudo um sonho, ou tudo uma conspiração, a utilidade da ciência é questionável mesmo que ela tenha bastante poder preditivo sobre aspectos diversos do sonho ou dessa situação armada para fazer parecer com que a realidade seja isso que parece.   




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Enfim, o meu ponto não foi exatamente questionado aí. Era que os "ateus-fortes" são praticamente um espantalho. Como se fossem "ateus fanáticos" com uma fé inabalável na inexistência de deuses, que não seria perturbada pela evidência mais cientificamente perfeita, qualquer que pudesse ser a evidência de algo assim.

Mas é isso que ateus fortes são. Se não forem isso então não faz o menor sentido em se diferenciar ateus entre fortes e fracos, pois são a mesma coisa. Pode-se argumentar nesse caso é que ateus fortes não existem.

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Só uma definição mais "irracional" dessas justifica essa crítica, se o ateu-forte é igual ao "afadista" forte, apenas trocando fadas por deuses, tudo bem; mas aí voltamos ao ponto original de que não se vê por aí gente questionando os afadistas fortes por serem meio apressados em concluírem ou crerem que não existem fadas apesar de no fundo não podermos realmente saber de praticamente qualquer coisa.

É a discussão sobre o sentido de ceticismo. Alguém que acredita que fadas não existem não é cético. Alguém com mentalidade científica se manifestaria com ceticismo com relação à existência de fadas até que surgissem evidências em contrário.

Já que estamos voltando ao assunto do ceticismo científico, gostaria de fazer uma observação no mesmo nível das suas de "não se vê por aqui as pessoas falando nisso" que é a seguinte: Todo mundo adora tecer loas a Carl Sagan por sua defesa da ciência e da razão e por propagar os valores do ceticismo. O Mundo Assombrado pelos Demônios é leitura obrigatória para os membros deste fórum que orgulhosamente chamamos de cético. O ceticismo é a filosofia que realmente une as pessoas aqui, não o ateísmo ou o agnosticismo. As pessoas se esquecem, porém, que Carl Sagan nunca falava em ceticismo separado de outro conceito que ele considerava importantíssimo: aquilo que ele chamava de "adimiração". Sagan falava não em ceticismo, ele falava em "ceticismo e adimiração" como contrapontos que precisavam ser equilibrados, o primeiro para não nos enganarmos com falsas verdades e o segundo para não perdermos o senso de mistério e deslumbramento diante do desconhecido. O sujeito mal-humorado que diz arrogantemente que fadas não existem e pronto não é o que Sagan tinha em mente ao falar em ceticismo.

Bem, não ter um sentimento de admiração despertado por coisas como fadas ou Saci, não achar importantes viagens pós-modernistas/relativistas que acham que é igualmente fé afirmar que os humanos ou as pedras são os seres mais inteligentes conhecidos, não significa que se seja um ateu do tipo do "bode resmunguento" daquele site de paródia de crentes cujo nome não me lembro. Se não for o que Sagan tinha em mente quanto pensava em ceticismo, ainda estou tranqüilo sobre essa minha postura, pois Ele é piedoso e compreensivo. :D


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O ateu "de verdade", sem o espantalho, só vai até o que seria o sexto dan, ou "sexto-e-meio", praticamente não existindo esse sétimo, ao menos nessa versão um pouco mais descritiva e explicitamente estufada com palha que eu coloquei aí. Da mesma forma que não existe a mesma coisa para outros deuses e questões além de deuses. Praticamente todo mundo têm "100%" de certeza para fins práticos de uma porção de coisas que numa discussão sobre natureza da realidade teria que admitir que não sabe mesmo, o que não significa que não possa estar sujeito a revisão ou algo assim.

Nesse caso podemos afirmar num grau 6 de certeza que ateus fortes não existem. Não sei, sou agnóstico com relação a isso :P

Sei lá, não é nem que não pudessem existir, existe de tudo, mas não acho que seja uma posição a ser levada em consideração quando se fala em ateísmo da mesma forma que não é de ser levado em consideração sobre "evolucionistas" pelos que afirmam que os humanos/bípedes são vertebrados basais e o restante são formas mais derivadas (em outras palavras, que "o peixe" deu origem "ao homem", que se diversificou em "macaco" e esses em primatas, mais ou menos na ordem "inversa").


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Bem, parte do problema é uma acepção mais pragmática dos termos, onde existe o "saber" versus uma acepção mais filosófica, onde praticamente todo mundo, (ou ao menos todos ateus, e boa parte dos teístas e deístas, imagino) teria que admitir ser agnóstico "forte" e que não se sabe de nada, tudo é possível, e a ciência e o que pensamos ser o "conhecimento" proveniente dela talvez seja só um tipo de tautologia que não tem nada a ver com uma hipotética realidade absoluta, mas ainda pode ser que a tautologia em si esteja errada, que estejamos passando por uma espécie de "burrice" análoga a achar por um momento que 2+2=5.

Acho que na prática quase todos os ateus e deístas e boa parte dos teístas são de fato agnósticos, ainda que não se dêem conta disso nem declarem abertamente. Eu mesmo me considero ateu e agnóstico. E justamente por ser agnóstico me permito não me preocupar com as ciências e a matemática serem tautologias e que não descrevam uma realidade absoluta - essas são considerações de ordem metafísica para as quais não posso obter resposta e por isso as ignoro - nos dois sentidos da palavra, confiando na ciência e na matemática pelo fato de elas trazerem conhecimentos que são úteis ao estilo de vida que levamos.

Nesse sentido mais ou menos literal/estrito, também sou, apesar de ter dado a entender algo como uma "crítica ao agnosticismo" generalizada.

Só acho que ao mesmo não sou agnóstico tão "forte" a ponto de praticamente dizer que é a mesma coisa, fé, se dizer que acredita que deuses não existem ou que existem; que existe uma conspiração ET com tecnologia super-ultra-hiper-avançada, que sejam deuses para fins práticos de detecção, mantendo Bush no poder nos EUA através de tecnologia de controle mental adicionada no fast-food e outras coisas inconspícuas, e que não, na realidade não tem uma conspiração dessas; os governos são só gente, umas trapaças eleitorais aqui e ali, e no máximo as redes de fast food fazem pressões por meio de lobbies, suborno e o "controle mental" tem mais a ver com o prazer natural dos alimentos devido ao nosso histórico evolutivo aliado também aos efeitos não tão fantásticos da propaganda sobre a mente. E algo equivalente para um universo sem deuses no sentido mais literal também; apenas as coisas como parecem ser, com alguns aspectos não conhecidos, mas nada do tipo de super-caras onipotentes ou muito próximos disso.

Talvez isso seja tudo só "crença" em vez de conhecimento, já que por definição não se tem como saber se qualquer afirmação é verdade, uma vez que sempre podemos propor afirmações antagônicas irrefutáveis, mas acho meio inapropriado chamar isso de "fé".

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #81 Online: 31 de Agosto de 2008, 21:42:14 »
Essa idéia de deus/origem de tudo não é a única questão metafísica possível, e se alguém de fato é agnóstico quanto a qualquer consideração metafísica, a ciência, ou qualquer afirmação banal sobre a realidade, por mais palapável que seja, não está isenta de incerteza no mesmo grau do que essa sobre se "deus" existe ou não, porque a própria noção de que "isso é a realidade" já é uma afirmação metafísica, e seria uma "crença", equiparável a da existência ou inexistência de deuses.


Buckaroo, não entendi o que coloquei em negrito.
Ficar fazendo considerações quanto a realidade já é metafísica... e o que estou dizendo é que não faço realmente isso.
E a ciência não poderia estar junto com "metafísica e afirmação banal" dentro da sua argumentação, se bem que não gosto de conceitos como energia escura por exemplo.

Pode me explicar melhor?

Bem... ao se afirmar que "fogo queima", de certa forma tem implícito que isso é real. Por outro lado também talvez se pudesse sustentar que é só uma abreviação pragmática para o que também poderia significar que, dentro desse ponto de vista em que estou, isso que chamam de "fogo" parece ter o efeito de "queimar", mas não sei realmente de nada, é puro subjetivismo. E então é só "real" dentro dessa realidade subjetiva também, mas a realidade mesmo pode ser outra coisa totalmente.

Offline uiliníli

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #82 Online: 31 de Agosto de 2008, 23:17:37 »
Bem, eu já considero esse como javeóide, no sentido de ser um cara só "criando o universo", ou o mais próximo disso numa acepção dos termos que não tornasse a frase algo praticamente ontologicamente impossível.

Se javeóide para você é qualquer deus único, inteligente e auto-consciente então tenho que concordar com você que o que me vem em mente quando penso no que seria aquilo que eu chamaria de Deus cai nessa definição. O que não é de admirar, sendo eu um ocidental.

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Pois é. Só acho isso bastante equivalente a afirmar que não existem deuses, fadas e etc, ou, numa aproximação das suas situações, que o seu pc não funciona graças a um exército de pequeninos duendes que na verdade estão por trás dos processos que geralmente atribuímos à interpretação "fundamentalista-materialista" do que permite esse tipo de tecnologia. A "crença" ou conhecimento de que o seu computador existe e é apenas o que "parece ser", e portanto não tem nada a ver com esse hipotético exército de duendes, é tão "fé" quanto a descrença em deuses, fadas e etc.

Eu não vejo nada de insensato em se dizer que fadas não existem se isso fôr apenas uma maneira de economizar saliva quando o que você realmente estiver querendo dizer fôr "eu acho que fadas são seres altamente improváveis e me reservo ao direito de não acreditar na existência delas até que me sejam apresentadas provas de sua existência." Mas repare que essa é uma descrença fraca na existência de fadas, e não uma descrença forte, pois nesse caso quando você disser que fadas não existem, na verdade o que você estará querendo dizer é simplesmente "fadas não existem."

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E com isso quero dizer que em nenhum dos casos "fé" seria o termo mais adequado para definir essa "crença", levando em conta o uso comum do termo, que seria para crença na existência de seres como esses mencionados ou fenômenos diversos, sob um grau de incerteza muito mais elevado do que o da existência do computador "puro".

É verdade, a fé não costuma ser muito parcimoniosa, nesse sentido a crença em inexistências é um pouco diferente da crença em existências. Mas esses dois tipos de crença têm em comum a falta de informações para tirar uma conclusão racional.

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Bem, gostei da analogia, muito embora eu usaria no outro sentido. Acho que geralmente não somos céticos na inexistência de duendes (fadas, deuses, etc), da mesma forma que não somos céticos sobre a Terra ser plana e o céu ser azul, e não no sentido de "fé".

A questão é que temos uma boa quantidade de informação, evidências, a respeito da forma da Terra e da cor do céu. Mas não temos informação nenhuma sobre fadas e duendes. A falta de informação justifica uma atitude cética a respeito desses seres, mas não podemos nos esquecer da célebre frase "ausência de evidência não é evidência da ausência". Quando uma pessoa diz que a Terra é quadrada nós sabemos que sua afirmação contradiz evidência, então podemos dizer que sabemos que ela está errada com um grau de precisão tão grande quanto for a confiabilidade das nossas evidências; já quando uma pessoa diz que duendes existem ela não está contradizendo evidência nenhuma, pois, repetindo, a ausência de evidências com as quais comparar essa informação não quer dizer nada.

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Não sei. Como disse, considero que na prática são muito mais parecidas do que esse tipo de distinção tenta fazer parecer. Acho que seria diferente se de alguma forma houvesse algum modo de demonstrar a existência desse dragão invisível e ainda assim se continuasse acreditando que ele não existe. O que pode até ocorrer, o que seria mais ou menos análogo ao caso de criacionistas e negacionistas da ciência de modo geral, que negam apesar das confirmações.

Certamente. Você tem acusado várias vezes a caracterização que fazemos de ateísmo forte como um espantalho. Mas analisando a definição dada ao ateísmo forte pelos criadores do termo só se pode concluir que o ateísmo forte é mesmo espantalhosa, não há outra forma de definir ateísmo forte sem que ele perca o sentido e se torne a mesmíssima coisa que ateísmo fraco, afinal, se um ateu forte é alguém que não acredita em Deus até que lhe sejam apresentadas provas, então um ateu fraco é o quê?

Na verdade eu acho que essa distinção entre ateísmo fraco e forte é inútil e desnecessária. Somente fanáticos poderiam ser identificados com o ateísmo forte.

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Mas de modo geral penso que quem diz que acredita que não existem deuses, fadas e etc, está bem mais para quem diz que acredita que a Terra não seja chata ou que a aparente superfície não seja o interior. O que por sua vez também são coisas que julgo que podemos assumir que são verdades sem que isso seja algum tipo de "fé" por uma acepção usual, justa, do termo.

Já comentado acima. Existem evidências com alta confiabilidade que contradizem a hipótese de a Terra ser chata, mas não existem evidências de que fadas não existem, o que existe é um vácuo de existências de sua existência. Não se pode provar que algo não existe, por isso só nos sobra uma saudável dose de ceticismo.

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Não digo no sentido que não há ou que não devesse haver liberdade de crença nesse sentido político, apenas que não se escolhe crenças. Não se pode acordar num dia e dizer, "bem, hoje vou acreditar em sete deuses criadores. Pronto, acredito". Como se escolhesse uma roupa.

Será mesmo? Há tanta gente que confunde "querer que algo seja verdade" com esse algo ser verdade mesmo... Você já conversou com alguém que tenha mudado de religião? Uma amiga minha que já comentei aqui no fórum era atéia e se tornou espírita simplesmente porque ela se sentia mais feliz acreditando em vida após a morte e reencarnação. Outra vez, discutindo com outro espírita, quando eu lhe disse que era ateu ele perguntou se eu não achava que seria mais agradável acreditar em vida após a morte. Como se o universo fosse mudar suas regras só para eu me sentir mais confortável...

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Bem, acho a distinção nublada entre essas coisas. No mínimo você deveria ser agnóstico quanto a existência de Nessie ou qualquer coisa, pois por extensão do agnosticismo de deuses e os seus poderes e motivos desconhecidos, talvez algum deles, talvez o único que existisse, estivesse mantendo Nessie viva até hoje e oculta de todas as procuras, através de milagres. Talvez seja o Jesussauro por trás disso. Se achar que não, é porque tem fé, está em negação. :P

Não tenho a intenção de construir uma fronteira intransponível e absolutamente inflexível entre os domínios do ceticismo e do agnosticismo. É inevitável que hajam limites nebulosos entre certos conceitos. O conceito de vida, por exemplo. Sabemos que uma pedra não é um ser vivo e que uma pessoa é, mas não existe um limite exato: um vírus é vivo ou não é? A partir de quantas semans um embrião ou um feto pode ser considerado uma vida humana?

Eu sou cético quanto a proposições científicas, aquelas sobre as quais se pode obter informações através de experimentos; e sou agnóstico quanto a proposições metafísicas, aquelas sobre as quais não podemos obter informações (daí o termo agnosticismo, sem conhecimento). Os casos de fronteira são um problema à parte, mas não vejo muita utilidade em se perder tempo com isso.

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De certa forma acho que talvez até o posicionamento inverso seja mais justificável; agnosticismo quanto a Nessie, talvez uma população de plessiossauros pudesse ter sobrevivido por lá e eventualmente desaparecido, de forma que já não existem mais e talvez mesmo que existissem não tenham deixado qualquer rastro, e ceticismo quanto a deuses, ou um deus javeóide, que o Dawkins diz ser uma hipótese científica como outra qualquer, ainda que falha. Não conheço exatamente a argumentação dele sobre isso, mas consigo imaginar versões de uma argumentação assim com as quais talvez concordasse.

Como disse acima, o agnosticismo se refere àquilo sobre o quê não podemos obter informações, o que é literalmente desconhecido. O ceticismo científico diz respeito a proposições científicas. Se Deus puder ser formulado de forma a poder ser testável cientificamente então podemos trazer ele para o time das coisas sobre as quais podemos ser céticos. Mas sempre é possível formular uma definição de Deus tão furtiva e intestável quanto se queira - os teístas têm a vantagem de poderem brincar com ad hocs.

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Mais uma espécie de brincadeira com isso de que qualquer coisa seria fé por não se poder refutar o irrefutável, como hipóteses solipsistas. Se é tudo um sonho, ou tudo uma conspiração, a utilidade da ciência é questionável mesmo que ela tenha bastante poder preditivo sobre aspectos diversos do sonho ou dessa situação armada para fazer parecer com que a realidade seja isso que parece.   

O agnosticismo é uma conseqüência natural da Navalha de Ockham. A idéia de que a realidade não é um sonho é mais parcimoniosa. Mas repare que a opção pela hipótese mais parcimoniosa não é uma fé, pelo menos não no sentido de uma crença absoluta. Surgindo novas informações se poderia considerar a opção
solipsista mais a sério - o caso é que por ser uma consideração metafísica essas informações simplesmente não vão aparecer nunca.

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Bem, não ter um sentimento de admiração despertado por coisas como fadas ou Saci, não achar importantes viagens pós-modernistas/relativistas que acham que é igualmente fé afirmar que os humanos ou as pedras são os seres mais inteligentes conhecidos, não significa que se seja um ateu do tipo do "bode resmunguento" daquele site de paródia de crentes cujo nome não me lembro. Se não for o que Sagan tinha em mente quanto pensava em ceticismo, ainda estou tranqüilo sobre essa minha postura, pois Ele é piedoso e compreensivo. :D

Sagan tenha piedade da sua alma, em nome da ciência, da lógica e da razão, amém :lol:
Claro que fadas e Sacis são exemplos bem extremos, até porque se atribui poderes mágicos a eles também, o que faz com que estejam bem no limite entre os seres falseáveis e não falseáveis, onde a distinção entre o que é falseável e o que não é fica embaçada. Mas a rigor não se pode descartar a existência de seres como esses também com base na ausência de evidência - isso fere de morte a lógica clássica mais básica, é como dizer "João não está na casa de Maria e nem na casa de Pedrinho, logo João não está em lugar nenhum"

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Sei lá, não é nem que não pudessem existir, existe de tudo, mas não acho que seja uma posição a ser levada em consideração quando se fala em ateísmo da mesma forma que não é de ser levado em consideração sobre "evolucionistas" pelos que afirmam que os humanos/bípedes são vertebrados basais e o restante são formas mais derivadas (em outras palavras, que "o peixe" deu origem "ao homem", que se diversificou em "macaco" e esses em primatas, mais ou menos na ordem "inversa").

Que tal aposentarmos esse termo 'ateu forte' do CC de uma vez?

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Nesse sentido mais ou menos literal/estrito, também sou, apesar de ter dado a entender algo como uma "crítica ao agnosticismo" generalizada.

Só acho que ao mesmo não sou agnóstico tão "forte" a ponto de praticamente dizer que é a mesma coisa, fé, se dizer que acredita que deuses não existem ou que existem; que existe uma conspiração ET com tecnologia super-ultra-hiper-avançada, que sejam deuses para fins práticos de detecção, mantendo Bush no poder nos EUA através de tecnologia de controle mental adicionada no fast-food e outras coisas inconspícuas, e que não, na realidade não tem uma conspiração dessas; os governos são só gente, umas trapaças eleitorais aqui e ali, e no máximo as redes de fast food fazem pressões por meio de lobbies, suborno e o "controle mental" tem mais a ver com o prazer natural dos alimentos devido ao nosso histórico evolutivo aliado também aos efeitos não tão fantásticos da propaganda sobre a mente. E algo equivalente para um universo sem deuses no sentido mais literal também; apenas as coisas como parecem ser, com alguns aspectos não conhecidos, mas nada do tipo de super-caras onipotentes ou muito próximos disso.

Mais uma vez repetindo o que disse lá encima: Se ao dizer que você não acredita você está só procurando uma forma mais econômica de dizer que acha essas proposições muito improváveis e que se manterá com um pé atrás auqnto a elas enquanto não for apresentado a provas, tudo bem. Mas se ao dizer que essas coisas não existem, você quer literalmente dizer que não existem e pronto, bom, isso é fé.

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Talvez isso seja tudo só "crença" em vez de conhecimento, já que por definição não se tem como saber se qualquer afirmação é verdade, uma vez que sempre podemos propor afirmações antagônicas irrefutáveis, mas acho meio inapropriado chamar isso de "fé".

Vamos chamar de parcimônia.

Offline lusitano

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #83 Online: 28 de Março de 2009, 13:46:28 »
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Buckaroo Banzai

Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?

__________________________________________________________
Eu vou tentar explicar melhor o que eu disse.

Especialmente se não pensamos que foi algo "tipo um cara" que é (um)a causa de tudo. Se alguém tem alguma idéia de qual seria a causa de tudo, deve fornecer evidências para que a idéia seja a aceita; até lá a causa é simplesmente "algo", seja lá o que for

Apenas a generalização de algo trivial como causas e conseqüências para "tudo", não é uma afirmação exatamente fantástica, portanto, não é tão oneroso em evidências afirmar que tudo tem alguma causa; e não estou nem fazendo o argumento de "causa primeira", isso é uma afirmação que vale tanto para um universo que em algum momento de alguma forma tivesse começado, quanto para um eterno, qualquer que seja a realidade.

Já se as coisas de alguma forma "não têm causas", ou especificamente o começo do universo não foi causado por nada, é uma afirmação mais onerosa do que a de dizer que foi causado por "algo", desconhecido, porque essa relação de causa e conseqüência de eventos é algo aceito praticamente como auto-evidente, ainda que também possa ser.

Ninguém sabe qual será a causa de tudo o que existe, só se sabe que esse tudo existe e que se calhar, deve ainda existir muito mais, ou mesmo muito menos.

"Quando disse que é provavelmente verdade que tudo é causado por algo, esse "algo" não é "deus". O meu ponto era justamente contestar o uso do termo."

Eu creio que você está certo - o termo Deus - carece de precisão, objectividade e gera mal-entendidos. Mas o problema mantêm-se. Algo existe e esse algo é um absoluto. Compreendo portanto a sua relutância, em rotular esse algo de “Deus”…

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especulativamente – Artur.
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

_______________________________________
Especulando realismo fantástico, em termos de
__________________________
paralogismo comparado - artur.

Offline Zeichner

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Re: Por que se faz um caso especial para "Deus"? Ou para o ateísmo?
« Resposta #84 Online: 28 de Março de 2009, 19:30:52 »
O meu modo de resolver isso é o seguinte: eu sou ateu, apapainoelista, acentaurista, amboitataísta. E pronto, 'cabou: centauros são tão relevantes, para mim, quanto deuses.

E os SMURFS?
Neles eu acredito. Foram criados para mostrar às criancinhas como é o Verdadeiro Comunismo.

O verdadeiro comunismo são cinquenta smurfs e apenas uma smurfete e o vaidoso??? Vai socializar assim na pqp!!!  :biglol:

 

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