Eu posso estar redondamente enganado mas não consigo imaginar um relação onde tenha amor e não exista o medo de perder o outro.
Concordo com o Dantas e a Raven. Só gostaria de acrescentar:
É curioso, como a gente não se tortura com medo de perder um bom amigo. Exceto por despedidas dolorosas, nos casos em que você ou uma pessoa que lhe fará falta vão ser obrigadas a se separar; mas a gente não tem ciúmes, não vive com medo de nosso bom amigo fazer boas amizades com outras pessoas. Isso porque a verdadeira amizade é um sentimento generoso, a amizade se desenvolve entre dois espíritos livres.
O amor romântico, pelo contrário, aprisiona. Nosso próprio vocabulário traduz isso, a bela palavra "cativar" tem a mesma raiz que "cativeiro", por outro lado, quando você consegue o amor de uma pessoa você a
conquista. Talvez seja só eu, mas acho que essa palavra tem valor semântico próximo a "submete", "oprime". Veja que quem é conquistado, submetido e oprimido é aquele que ama. Se dentro da relação as duas pessoas se amam, entramos então naquele delicado equilíbrio de forças que eu mencionei no outro post. É do egoísmo inerente ao amor que nasce o medo e, pior ainda, o ciúme, que em minha opinião é só uma forma ainda mais corrosiva de medo.
E não temos medo apenas de nos separarmos da pessoa amada, o que não deixa de ser uma coisa triste, mas que é inevitável - nos separamos daqueles que amamos nem que seja pela morte, e precisamos estar preparados para esse momento. Nosso medo é principalmente de perder nossa pessoa para outra. É um golpe em nossa vaidade sermos trocados por outra pessoa. Mas não paramos por aí, temos um medo tão patológico e irracional que entramos em pânico com a mera possibilidade de sermos traídos, quantos amigos já não vi devastados porque suas namoradas beijaram outro homem em uma festa?
Parando para pensar seriamente no assunto, vejam só o absurdo a que chegamos: Nós sofremos terrivelmente se descobrimos que nossa parceira fez sexo com outro homem. Pode ter sido uma vez só, um momento de fraqueza. Ela pode ter nos contado isso ela mesma, alegando estar arrependida e nos amar ainda, mas isso não reduz o nosso sofrimento. Agora, pensando bem, ao fazer sexo com outro homem, minha namorada ou ele objetivamente fizeram mal a mim? Eles me fizeram sofrer? Claro que não! Quem me infligiu sofrimento não foram eles, fui eu mesmo! São nossos próprios fantasmas que nos assombram.
E somos nós que devemos nos encarregar de exorcizar esses fantasmas para viver uma boa vida, ter relacionamentos saudáveis e nos tragam prazer, em vez de sofrimento. Precisamos nos livrar dos medos auto-inflingidos, e o primeiro deles é o medo de ser trocado por outra pessoa (mesmo que só por alguns minutinhos). E o pré-requisito para isso é amar antes de tudo a si próprio e ser emocionalmente independente. Vocês todos devem estar pensando agora que isso tudo é filosofia de corno. Bom, só para refutar o
ad hominem, eu nunca sofri de dor de corno, pois se já fui chifrado, nunca fiquei sabendo (e geralmente a gente é o último a saber mesmo
), mas já sofri de todos os medos que causam a dor de corno. Já tive um relacionamento que me trouxe mais sofrimento do que felicidade, e não quero ter outro de novo.
Ainda não tive oportunidade de pôr em prática esse meu novo ponto de vista em uma nova relação, e por mais que eu esteja racionalmente convencido de que ele é melhor, não sei se emocionalmente eu estaria pronto para isso. Eu sei que esses sentimentos ruins que descrevi são parte de nossa própria humanidade, são em grande parte motivados por uma programação genética, instinto. Mas a razão existe justamente para domar os nossos instintos. Estou disposto a abandonar o ideal tradicional de amor romântico e buscar de agora em diante relacionamentos livres, abertos e honestos.
PS: Acho que com essa conversa de amor já fugimos muito do assunto do tópico, talvez os moderadores possam dividir o tópico a partir do ponto onde essa discussão começou.