Tópico: O que vocês perderam ao se tornar céticos?

[Moro]

Acho que a maior parte das pessoas aqui fizeram a travessia comum de uma religião até o ateísmo/agnosticismo, passando por diversos níveis de descrença intermediários.

Está claro em todos os posts as vantagens que encontramos ao cruzar esse caminho, mas o que gostaria de saber é: Perdemos alguma coisa ao percorrer este caminho?

Dificilmente tomamos uma escolha na vida que não tenha efeitos colaterais bons e ruins, então é normal esperar que com essa passagem deveria acontecer o mesmo.

No meu caso - não sei se por causa do ateísmo, pelos 36 anos de vida ou por uma repulsa cada vez maior ao que considero ignorância - perdi muito da minha vontade/certeza que tinha de que podia mudar as pessoas, que podia fazer apelos a lógica, outras coisas do tipo.

Cada vez menos me envolvo em discussões quando percebo reputo uma pessoa por alienada.

E vocês, perderam algo?

[Nyx]

  O medo de morrer e o consolo das orações.

[Fabi]

Medo de morrer eu nunca tive...só tenho medo de antes de morrer eu ser alvo de pessoas ruins e sem caráter... e aí por causa disso meu ultimo pedido não ser atendido... e eu morrer querendo fazer uma coisa e infelizmente não poder... deve ser muito triste....angustiante...e desesperador... e pra pessoa que não atendeu meu pedido... 300 anos não trariam nem parte do sofrimento que eu tive em alguns meses... e acho que se alma existisse eu não teria paz...

Ah, e eu desisti de discutir com religiosos preconceituosos...depois do que vi no RéV...

[Moro]

O consolo das orações é uma coisa que perdi, sem dúvida, e que busco hoje de uma maneira mais racional.

As orações para mim eram boas e ruins. Ruins porque eu pedia ajuda a deus para coisas que aconteciam comigo e que achava que eram punições por algo que eu tinha feito fazendo com que eu não reagisse à situação de maneira adequada.

E boas porque quando eu acreditava em deus havia aquele sentimento de conversa entre eu e a divindade.

[Nyx]

  É que, na verdade, meu medo não era morrer, meu medo era morrer e continuar, nunca aceitei bem a idéia de ter uma alma imortal.

[Moro]

nunca tive medo de morrer. já tive medo de espíritos obsessores que depois sumiram quando passei a não acreditar mais neles hehe.

[Fabi]

Eu tenho mais medo dos vivos sem caráter, e das pessoas topeiras que acreditam nas pessoas sem caráter... porque isso é uma combinação perfeita para a maldade e injustiça...

Se eu tivesse uma alma imortal e tivesse alguma pendência com alguém...eu ia ficar assombrando a pessoa já pensou que legal? Derrubar coisas? puxar o pé na cama...e ficar dando susto...  ?

Se bem que nada disso resolve...como eu já falei... ficar angustiada antes de morrer deve ser uma sensação horrível....e é disso que eu tenho medo...

[uiliníli]

Eu também perdi o medo de morrer, além do medo de espíritos. Como fui educado no espiritismo, morria de medo de presenciar fenômenos espirituais.

Mas o Agnóstico quer saber de perdas que tiveram efeitos negativos sobre nós. Bom, a única perda concreta que posso me lembrar foi uma perda temporária. No princípio eu perdi uma comunidade, um grupo. Ao me tornar cético eu abandonei o grupo espírita que freqüentava e por algum tempo eu fiquei completamente sozinho, era o único ateu que eu conhecia. Não que fizesse tanta falta assim, pois eu sempre fui meio isolado, tinha poucos amigos por lá. E uns meses depois eu descobri páginas atéias na Internet, ainda não haviam fóruns ainda, mas havia sites extraordinários, como a STR, devorei vários textos. Quando começou o fórum da STR essa solidão se dissipou de vez, conheci gente inteligentíssima e fiz bons amigos, alguns deles estão até hoje aqui no CC. No fim das contas, acabei ganhando bem mais do que perdendo...

[Moro]

nunca sentiu vontade de rezar Uili?

[Mussain!]

Cético, nada, só ganho, já que me entreter numa ilusão não me ajudaria em nada.... Ateu, algumas amizades, ser mal visto, essas coisas.

espíritos obsessores

Mamãe até hoje diz que estou cercado por esses bichos aê....

[LIAN]

Eu também perdi o medo de morrer, além do medo de espíritos. Como fui educado no espiritismo, morria de medo de presenciar fenômenos espirituais.

Mas o Agnóstico quer saber de perdas que tiveram efeitos negativos sobre nós. Bom, a única perda concreta que posso me lembrar foi uma perda temporária. No princípio eu perdi uma comunidade, um grupo. Ao me tornar cético eu abandonei o grupo espírita que freqüentava e por algum tempo eu fiquei completamente sozinho, era o único ateu que eu conhecia. Não que fizesse tanta falta assim, pois eu sempre fui meio isolado, tinha poucos amigos por lá. E uns meses depois eu descobri páginas atéias na Internet, ainda não haviam fóruns ainda, mas havia sites extraordinários, como a STR, devorei vários textos. Quando começou o fórum da STR essa solidão se dissipou de vez, conheci gente inteligentíssima e fiz bons amigos, alguns deles estão até hoje aqui no CC. No fim das contas, acabei ganhando bem mais do que perdendo...

Assim como tu, eu também acredita no espiritismo. Por isso minha maior perda foi perceber que não reencontraria as pessoas amadas que já morreram. Com isso vieram outras decepções, em perceber que nem tudo que parece ser mais bonito, mais perfeito, é a melhor explicação pros fatos.

Alguns por aqui podem até dizer que nada perderam. Mas, redefinir novos conceitos, conseguir descobrir novos sentidos à vida, não são tarefas triviais, pelo menos pra mim não foi fácil.

[uiliníli]

nunca sentiu vontade de rezar Uili?

Quando eu era criança e ainda teísta, minhas orações eram conversas com Deus. Monólogos na verdade, pois ele nunca respondia (bem feito para ele eu ter virado ateu, quem mandou ele me deixar falando sozinho! ). Mas havia duas coisas que eu achava absurdas: primeiro eram as rezas decoradas. Eu não entendia que interesse Deus podia ter em eu rezar mecanicamente "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, blablablá...", sem a menor sinceridade.

A segunda eu levei mais tempo para me dar conta: era um absurdo pedir coisas para Deus. Eu me dei conta disso vendo minha avó rezando para o nosso time vencer e constatando que nem sempre ele vencia... e que provavelmente haviam outras pessoas rezando pelo adversário do outro lado. Se ele decidisse sempre pelo time com mais orações ou com mais fé ou com torcedores mais merecedores, então teríamos o mesmo time ganhando sempre... Como eu fui ensinado que Deus era onisciente, justo e perfeito, então ele já tinha tudo decidido. Ou ele já tinha escolhido o vencedor de cada partida, ou preferia não se envolver, portanto rezar não alteraria nada no resultado. Acabei transplantando isso para a minha vida também, Deus sabia do que eu precisava e já tinha decidido se me atenderia ou não antes mesmo de eu pensar em pedir, logo rezar não adiantaria nada.

O resultado é que acabei parando de rezar antes mesmo de perder a fé. Se Deus não respondia e se rezar não mudava nada, então era inútil. Deus lia meus pensamentos, então ele sabia que eu tinha fé e ele sabia quais as minhas necessidades. Se ele me atenderia ou não, era por conta dele.

[Mussain!]

Alguns por aqui podem até dizer que nada perderam. Mas, redefinir novos conceitos, conseguir descobrir novos sentidos à vida, não são tarefas triviais, pelo menos pra mim não foi fácil.

Então acho que depende de o quanto vc (modo geral) foi sugestionável. Alguns bem mais que outros, daí o sentimento de perca e tal.

[Moro]

Eu fui espírita bitolado. Se eu viesse discutir com vocês há 10 anos atrás, eu seria algo como um Famado espírita.

Como o Uili, eu também percebi que rezar não tinha sentido, mas no início estava apenas "revolucionando" o espiritismo em minha mente.

Eu sou aquele ateu que gostaria de acreditar em deus mas não consigo. O sentimento era prazeroso mas completamente contraproducente e prejudicial. Fico pensando se é como uma droga em que existe a crise de abstinência.

[uiliníli]

Assim como tu, eu também acredita no espiritismo. Por isso minha maior perda foi perceber que não reencontraria as pessoas amadas que já morreram. Com isso vieram outras decepções, em perceber que nem tudo que parece ser mais bonito, mais perfeito, é a melhor explicação pros fatos.

Eu nunca perdi ninguém próximo de mim. Só uma avó bem velha quando eu era pequeno mas eu não gostava dela, porque ela gostava de me beijar ("dar bitoca", como ela dizia ) e eu tinha horror a beijo. Na verdade, a coisa que eu mais amava e que morreu foi meu cachorro. O espiritismo nunca me prometeu um céu onde eu pudesse reencontrar meu cachorro ... Acho que aprendi a aceitar a morte como uma despedida para sempre e sem volta aí.

[uiliníli]

Eu fui espírita bitolado. Se eu visse discutir com vocês há 10 anos atrás, eu seria algo como um Famado espírita.

Como o Uili, eu também percebi que rezar não tinha sentido, mas no início estava apenas "revolucionando" o espiritismo em minha mente.

Eu sou aquele ateu que gostaria de acreditar em deus mas não consigo. O sentimento era prazeroso mas completamente contraproducente e prejudicial. Fico pensando se é como uma droga em que existe a crise de abstinência.

Eu também fui muito bitolado. Era fanático, pensava no assunto tempo todo, era paranóico achando que havia espíritos invisíveis me vigiando por toda parte. Acho que o kardecismo é uma religião muito perigosa para crianças facilmente impressionáveis como eu era.

[Luis Dantas]

No meu caso, acho que perdi muitas oportunidades de integração social.  Mas não sei se essas oportunidades valiam alguma coisa para começo de conversa.

[Moro]

você era espírita Luis?

[Luis Dantas]

Cético, nada, só ganho, já que me entreter numa ilusão não me ajudaria em nada.... Ateu, algumas amizades, ser mal visto, essas coisas.

espíritos obsessores

Mamãe até hoje diz que estou cercado por esses bichos aê....

Que raiva me dá essa conversa de "espíritos obsessores"... é pura ferramenta de manipulação: coisas que não deixam qualquer evidência de existir, e só servem para convencer quem acredita neles de que ele não tem por que rever suas próprias convicções.

Covardia da braba.

[Luis Dantas]

você era espírita Luis?

Não.  Eu costumo dizer que sou a coisa mais distante de um espírita que alguém já encontrou.

Em boa parte porque fui criado por dois espíritas.

[uiliníli]

No meu caso, acho que perdi muitas oportunidades de integração social.  Mas não sei se essas oportunidades valiam alguma coisa para começo de conversa.

E se você não fosse cético você não se integraria conosco, que somos muito mais bonitos e charmosos do que eles

[Luis Dantas]

Sei que você está brincando, mas há um certo grau de verdade nisso.  Aquela conversa de "qual é o seu signo" e "entregar a Deus" é tedioooosa...

[Moro]

mas meu ponto é: Vocês já tiveram aquela força messiânica sustentando suas ações, aquela certeza que você está incumbido de uma tarefa divina? E isso era uma força propulsora para que você pagasse alguns micos como por exemplo pregar sobre gezuis em uma festa? (OK, não fazia isso sempre mas já fiz algumas vezes).

E que por ser uma missão divina você ficava martelando o mesmo discurso patético?

Hoje por exemplo estou começando a ficar cansado. Minha missão em fazer as pessoas ficarem céticas (ou sem ideologia) não está tão forte quanto a missão que tinha de transformar as pessoas em espíritas. O último que tive várias discussões foi com um estagiário do meu time.

[Mussain!]

Pelo menos da minha parte, não.

[Luis Dantas]

Não, eu não.  Nunca tive essa convicção, a não ser por iniciativa própria como uma espécie de experimento.

O mesmo tipo de curiosidade que leva muita gente a usar drogas, calculo.  Certas músicas e obras de ficção são capazes de fazer um senhor efeito hormonal se eu deixar.  Aberturas de anime principalmente.

Outra coisa interessante é pagar mico intencionalmente.  Como quando eu trabalhava na mesma sala que um monte de protestantes (presbiterianos e batistas) e um colega quis me encorajar a trabalhar mais a dicção.  Ele me passou minha agenda e pediu para eu falar como se fosse uma Bíblia.

Vocês não imaginam a satisfação que eu tinha em falar com toda a convicção que "vocês sabem que dia foi quinze de novembro de 1978?  Foi uma quinta-feira!".  O pessoal ria (o que mais poderiam fazer? ) e eu pegava a deixa para insistir no ponto com ainda mais convicção:

"Você ri, irmão.  Mas rir não muda a verdade!"