Acho que a maior parte das pessoas aqui fizeram a travessia comum de uma religião até o ateísmo/agnosticismo, passando por diversos níveis de descrença intermediários.
Mais ou menos por ai.
Está claro em todos os posts as vantagens que encontramos ao cruzar esse caminho, mas o que gostaria de saber é: Perdemos alguma coisa ao percorrer este caminho?
Muita coisa foi perdida, não daria para listar tudo em um só texto : Círculo de amizades, família, a própria crença (com todo o pacote de orações, medo e afins), conforto material, pessoas que eu pensava que eram minhas amigas, muita coisa foi perdida.
Nada do que perdi chegou a me fazer realmente falta até hoje, ou eu recuperei (conforto material) ou reconstrui (círculo de amizades, família) ou não me fez/faz falta (crença, a maior parte da minha família).
Dificilmente tomamos uma escolha na vida que não tenha efeitos colaterais bons e ruins, então é normal esperar que com essa passagem deveria acontecer o mesmo.
Explicado acima.
O ceticismo é bom, para mim, por ser uma postura mais crítica, mais "desconfiada" em relação a qualquer tema (política, saúde, religião, economia e outros). Acho que a postura de desconfiar e verificar se um dado tema/argumento realmente tem algum valor, tem argumentos sólidos, tem lógica me ajudou muito na vida.
O ateísmo foi uma consequência natural da postura cética.
Os efeitos colaterais ruins foram mais materiais e isso temporariamente, realmente não me preocupo com laços afetivos se a outra parte me despreza por um preconceito estúpido e isso inclui a minha família, se for o caso.
No meu caso - não sei se por causa do ateísmo, pelos 36 anos de vida ou por uma repulsa cada vez maior ao que considero ignorância - perdi muito da minha vontade/certeza que tinha de que podia mudar as pessoas, que podia fazer apelos a lógica, outras coisas do tipo.
Cada vez menos me envolvo em discussões quando percebo reputo uma pessoa por alienada.
Me envolvo pouco em discussões, tenho outros interesses e não tenho paciência para repetir argumentos que serão ignorados na base da fé na ideologia ou na religião ou na ignorância.
mas meu ponto é: Vocês já tiveram aquela força messiânica sustentando suas ações, aquela certeza que você está incumbido de uma tarefa divina? E isso era uma força propulsora para que você pagasse alguns micos como por exemplo pregar sobre gezuis em uma festa? (OK, não fazia isso sempre mas já fiz algumas vezes).
E que por ser uma missão divina você ficava martelando o mesmo discurso patético?
Não. Falava pouco de religião porque o assunto me incomodava. E não via como uma missão.
Hoje por exemplo estou começando a ficar cansado. Minha missão em fazer as pessoas ficarem céticas (ou sem ideologia) não está tão forte quanto a missão que tinha de transformar as pessoas em espíritas. O último que tive várias discussões foi com um estagiário do meu time.
Não gosto da idéia de ter uma missão de tornar os outros céticos/ateus/etc. Algumas pessoas simplesmente são ignorantes demais, covardes demais, ou apenas incapazes de abandonar a fé delas.
Não estou chamando todos os crentes de covardes, ignorantes ou incapazes de abandonar a fé, apenas listando algumas possibilidades para ALGUNS casos.
Para ser cético ou ateu, para quem nasce em uma família teísta, eu acho que é necessário querer aprender, conhecer o outro lado (o dos que não acreditam em divindades) e estar disposto a mudar se for o caso.
Não acho que seja o caso da maioria das pessoas que acreditam em algum deus e pertencem a alguma religião abraâmica ou outra semelhante.