Engenheiros de menos
Renato Sabbatini
O ensino de engenharia está em crise. Segundo levantamento recente do Ministério de Ciência em Tecnologia, “todos os anos, cerca de 320 mil estudantes se matriculam em cursos de engenharias no país. Desse total, 34 mil, ou seja, pouco mais de 10%, chegam ao final da graduação.”. O Ministério e as associações vinculadas ao ensino de engenharia querem achar uma explicação, e propor remédios. Mas não é preciso “queimar muito fosfato” para saber quais são essas causas.
1. O curso é considerado muito difícil e longo pelos alunos, até mesmo em universidades de ponta, como a UNICAMP, onde desistências médias de 20% nas engenharias são verificadas. Cursos “difíceis” são cada vez mais evitados pelos alunos brasileiros, que acorrem em massa a cursos considerados mais fáceis e mais curtos, como humanas e biológicas.
2. A base matemática dos alunos que chegam do ensino médio é cada vez mais precária. Infelizmente muitos alunos não sabem que engenharia é um curso de matemática aplicada, basicamente. Mesmo os bons alunos de matemática são derrubados por Cálculo I e II, já no primeiro ano.
3. O problema é agravado pelas escolas particulares de engenharia, que estão baixando cada vez os níveis de exigência dos vestibulares, no afã de preencher vagas ociosas (se você souber somar 2 mais 2 sem errar, passa tranqüilo em muitos cursos de engenharia), e recebendo alunos sem a menor condição de fazer o curso. Soube de inúmeros casos de ex-pedreiros que fizeram o supletivo e entraram em engenharia, iludindo-se, ou sendo iludidos, que um dia serão engenheiros. Não é à toa que a desistência é fenomenal.
4. A oferta de emprego e os salários iniciais em engenharia são francamente patéticos, para valer a pena enfrentar 5 a 6 anos de estudo difícil. Um engenheiro recém formado ganha 1.500 reais, mesmo com as empresas reclamando que não acham gente talentosa. Porque não tornam os salários mais atrativos, então?
Então, em termos efetivos não está faltando engenheiros ( potencialmente falta, e muito, pois o Brasil é sub-industrializado, mas com a manutenção de uma política econômica estúpida, que sobe os já altos juros logo que a capacidade da indústria se aproxima do máximo, jamais teremos uma forte e efetiva expansão da capacidade industrial, e portanto jamais teremos muita necessidade de muitos engenheiros).
A política vagabunda que nós temos (que dá prioridade ao mercado financeiro) é: para que fabricar se (pensamos) que podemos importar ?? Vamos exportar banana, vaca e boi, soja, óleo de soja e comprar chips e sermos felizes.

Então para que engenheiros ??
Vamos ter apenas produtores rurais dependentes de São Pedro e da bolsa de Chicago, comerciantes e profissionais do mercado financeiro ! Afinal de contas para que um país pequenininho de apenas de 8,5 milhões de km ² e com uma mínima população de 184.000.000 precisa de indústrias ????? Besteira, eu quero é comprar produtos industriais do Japão, Alemanha e China !

Um reitor de uma das maiores universidades particulares brasileiras queixou-se comigo que, apesar de fazer enormes investimentos na infraestrutura dos seus cursos de engenharia e na qualificação dos professores, eles continuam tirando nota 1 (a pior) nos exames de avaliação do MEC.
Cabe questionar se as avaliações do MEC avaliam o que efetivamente será utilizado na vida profissional.
Será que o que é avaliado é realmente utilizado ??
Diz não entender o por quê. Realmente, não são essas duas medidas que vão diminuir a evasão dos cursos de engenharia, se os alunos ingressantes continuarem sendo intelectualmente despreparados
Mais um belo motivo para parar de impor matérias obrigatórias no EM, que não interessam para vida profissional de um engenheiro !
Do EM, o potencial engenheiro precisa saber português (ler , escrever, interpretar textos) , matemática ( e mesmo assim a aplicada, não baboseiras teóricas que jamais serão utilizadas) e física que vá utilizar na respectiva área.
Quem gosta da área de engenharia não deveria ser obrigado a perder tempo com Biologia ,
Literatura, História, Geografia , Língua estrangeira (praticamente ninguém aprende, pra valer, inglês no EM).
Deveria se focar em Português, Matemática e Física .
e sem vocação.
Isto já é questão para psicólogos da área de educação !
Ai cria-se um curso vicioso para as instituições de ensino superior privado:
Seleção mais rigorosa dos alunos
classes menores –> maiores valores de mensalidades –> menos alunos inscritos
Isso leva à inviabilidade financeira da maioria dos cursos de engenharia, sem contar os gastos maiores por conta da necessidade de laboratórios e bons professores.
Conclusão: o ensino de engenharia no Brasil deve ser bancado pelas universidades públicas, gratuitas e de qualidade.
Alguém duvida?
Eu duvido !
Esse cara parece sugerir que se deve adotar o monopólio de ensino de engenharia para as IES públicas. Sou totalmente contrário a monopólio estatal , seja em que área for !
As IES privadas devem ter liberdade para oferecerem o curso que quiserem , resguardados os direitos dos alunos.
Uma parte da solução é fazer um bom EM focado no que interessa !
O Brasil jamais será um pais avançado tecnologicamente e competitivo mundialmente se não tiver engenheiros de alta qualidade e em número suficiente. Realmente é preocupante…
Se não tiver um política econômica adequada o Brasil jamais precisará de muitos engenheiros !
Vamos tratar de plantar soja, café e criar porco, boi; e então aplicar os rendimentos em Títulos do Tesouro Nacional via mercado financeiro ou Tesouro Direto, e completando vamos comprar mercadorias industrializadas importadas e parar de sonhar com industrialização ! Ora bolas !
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