Ah, esse é um ponto interessante: a oferta de respostas prontas.
Basicamente é isso mesmo, toda religião se diz mantenedora da verdade absoluta, tudo que existe ou vai existir está lá.
Essa generalização eu acho ainda mais improvável do que a anterior, dada a minha experiência com pagãos. Esse tipo de religião, especificamente, é meio "bairrista" e não se importa o bastante com a verdade alheia para alegar "saber melhor do que ela".
Como disse (citou?) Ken Wilber em um de seus livros: "O vermelho (grau de desenvolvimento de valores que corresponde ao paganismo, descrito na terminologia da Dinâmica de Espiral) tem um nome para cada curva do rio, mas não tem um nome para o rio."
Não por coincidência, há muitos casos de nações abraâmicas (judaicas, cristãs e muçulmanas) mas nenhum de nação pagã: o paganismo tem metas por demais individualistas para poder inspirar um grupo maior; é uma religião tribal por excelência.
Ou, pela perspectiva das armadilhas psicopatológicas de cada crença: o Cristianismo não é de uma forma geral bom em evitar delírios paranóicos megalomaníacos como os de
Jack Chick e Olavo de Carvalho, porque a própria Doutrina básica chega perigosamente perto de encorajá-los.
Da mesma forma, o paganismo, o xamanismo e outras crenças animistas (inclusive a Umbanda, o Candomblé e de certa forma o Espiritismo e a Seicho No Ie) são resistentes a essa armadilha específica. A armadilha típica dessa outra família de crenças é o delírio solipsista puro, a esquizofrenia decorrente da incapacidade de sequer reconhecer a existência de outras pessoas e outras mentalidades, ou mais frequentemente de ter genuíno respeito por elas.
Ou talvez seja mais acurado dizer que são incapazes de cair na armadilha da paranóia, enquanto que a prática efetiva das crenças abraâmicas só são possíveis quando já se resolveu e se superou os riscos da armadilha solipsista.
Três consequências interessantes decorrem desse contraste:
1) É de fato mais fácil ser um bom pagão/animista do que um bom cristão/judeu/muçulmano; as crenças abraâmicas
são mais complexas e mais ambiciosas do que as animistas e pagãs.
2) O que, por outro lado, significa que um percentual muito maior dos praticantes judaicos, cristãos e muçulmanos simplesmente
não está à altura de ser um praticante real, dedicado, pleno; gente é gente em qualquer lugar e muitas pessoas nunca tiveram a oportunidade, a capacidade ou mesmo o tempo necessários para de fato aprender e assimilar a doutrina básica de uma crença abraâmica. Isso pode até ser uma vantagem, pois em certo grau protege os adeptos dos defeitos da forma corrente da doutrina.
3) O potencial de transcendência das religiões pagãs é menor, mais limitado do que o das crenças abraâmicas. Por outro lado, o dano que causam quando mal-dirigidas também o é. Por exemplo, por menos inspirador que seja ver as práticas pagãs de vingança, de guerra entre espíritos guardiões e de casamento por um ano e um dia, o contraste com os ideais abraâmicos de perdão universal e de casamento indissolúvel não favorece necessariamente os abraamistas. É preciso levar em conta que um pagão em vingança está pelo menos sendo honesto consigo mesmo e pode eventualmente concluir que tem motivos para mudar de atitude, enquanto que um cristão na mesma situação corre o risco de cair em simples angústia insolúvel por um tempo enorme. Um argumento similar pode ser feito para o casamento: um pagão que se separa do consorte está muito melhor resolvido e mentalmente saudável do que um cristão ou muçulmano que insiste em manter a situação matrimonial por mais degenerada e patológica que ela esteja.
Não sei até que ponto um religioso acredita nisso, para mim, a maioria dos religiosos não estão certos sobre a veracidade do que a suas religião pregam, são religiosos simplesmente por comodidade.
Católicos "não-praticantes" e muitos outros cristãos que simplesmente seguem o
mainstream (por exemplo, anglicanos na Inglaterra), com certeza. Mas aí já cabe até a dúvida de quanto sentido faz chamá-los de religiosos.