Como eu não tinha mandado esses dados ontem eu reenviei o e-mail com outro texto. Este eu creio que ficou melhor do que o primeiro,, e dessa vez eu mandei para o ombudsman também:
Em seu artigo na coluna Pensata de ontem, o jornalista João Pereira Coutinho escreveu um artigo que entendi como preconceituoso contra os ateus. (
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/joaopereiracoutinho/ult2707u494323.shtml )
Neste trecho ele insinua que as pessoas que não creem em Deus não têm limites éticos:
"e se a ausência de Deus significa também a ausência de qualquer limite ético para a acção humana?
Essa possibilidade seria confirmada no século seguinte: um século devastado por grandes construções coletivistas, utópicas e rigorosamente ateias que libertaram um fanatismo e uma crueldade indistinguíveis do fanatismo e da crueldade das antigas religiões tradicionais. "
Em primeiro lugar Coutinho comete a falácia de tomar a parte pelo todo: nem todo ateu é comunista. Eu sou ateu e nunca fui comunista. Há diversas filosofias ateias que nada tê à ver com o maarxismo, posso citar o humanismo secular, o existencialismo e o objetivismo só como alguns dos exemplos. Sugerir que os ateus não têm valores éticos porque comunistas cometeram atrocidades é tão ridículo quanto afirmar que os cristãos são igualmente maus porque a Igreja Católica cometeu atrocidades na Idade Média.
Aliás, o próprio Coutinho ao citar as "crueldades das antigas religiões tradicionais" entra em contradição, pois se as supostas crueldades dos ateus são indistinguíveis das dos religiosos, então o problema não está em crer ou não em Deus, está na triste capacidade do ser humano de fazer mal ao próximo. O próprio Coutinho já se refuta.
Eu compreendo que as opiniões dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões do jornal, entretanto gostaria de fazer a observação que, caso Coutinho tivesse insinuado mesmo que sutilmente que os negros têm uma tendência maior à imoralidade, tenho certeza de que a Folha se recusaria a publicar essa opinião - e provavelmente Coutinho perderia o seu emprego. Entretanto, se você trocar a palavra 'negros' por 'ateus' ninguém vê nada de errado. Essa é uma mentira que já foi repetida tantas vezes que já virou uma verdade. O lamentável é que um jornal que deveria cumprir a missão de informar a população só contribui para fortalecer ainda mais o preconceito.
Só para refutar de vez esse mito de que, por não crerem em Deus os ateus não têm referências morais, gostaria de citar a própria Bíblia para testemunhar em meu favor: Em Gênses, capítulo 22, versículos 1 a 12 é contada a história de quando Abraão aceitou assassinar o seu próprio filho, Isaac, porque Deus lhe ordenou que fizesse assim. Na última hora, quando Abraão já está com a faca no pescoço do filho, um anjo aparece para dizer que era uma "pegadinha", Deus só queria ter certeza de que ele era obediente e Abraão é elogiado por sua fidelidade a Deus.
Pois bem, a razão de mencionar essa historinha é que se Deus é a referência para todas as decisões morais, então o comportamento de Abraão de aceitar assassinar seu próprio filho por ordem divina deveria ser considerada ética e moral. Até mesmo o terrorismo islâmico da Al Qaeda se torna compreensível, os terroristas que lançaram aviões contra as torres gêmeas do World Trade Center acreditavam que estavam agindo conforme a vontade de Deus.
Entretanto não conheço um único cidadão Ocidental, mesmo entre os cristãos mais convictos, que acharia o comportamento de Abraão moralmente aceitável. Isso porque, mesmo que as pessoas pensem que sua moral provém de sua submissão Deus, isso não é verdade. A moral que triunfou no Ocidente não foi a moral cristã, ou pelo menos não a que está na Bíblia ou que emana das igrejas. Se fosse, como justificar que tantos católicos, por exemplo, apoiam direitos e liberdades civis condenados pela Igreja, como o divórcio, o sexo fora do casamento e o homossexualismo?
A moral que triunfou no Ocidente, graças a _______ (seu deus preferido aqui), foi o humanismo laico. O humanismo têm muito a agradecer ao Cristianismo, claro, não se pode negar que a moral cristã o influenciou positivamente, mas o humanismo é emancipado da religião e a supera. O humanismo não baseia sua moral nas supostas vontades e caprichos de um suposto criador, mas na premissa de que todo ser-humano têm valor e dignidade por si só. Se a crença em Deus separa os ateístas dos teístas, ao menos o humanismo, essa grande conquista de nossa Civilização, nos aproxima.
Temos os mesmos valores, portanto e não queremos mais do que ser aceitos na sociedade, coisa que hoje não somos. Os cristãos têm todo o direito de exibir publicidade proselitista nas ruas, mas se os ateus fazem uma propaganda o que lemos é um colunista dizer no maior jornal do país que "a estupidez humana não cessa de me espantar". Ora, pois eu corrigiria as palavras de Coutinho para "a falta de informação dos jornalistas não cessa de me espantar": parece que Coutinho não sabe, mas a razão de essa campanha ter sido criada em primeiro lugar foi a jornalista e comediante britânica Ariane Sharine ter visto em um site evangélico que todos os descrentes em Deus serão condenados a tormentos eternos no inferno. Eu só me pergunto por que razão defender o ateísmo é estupidez, mas ansiar por que todas as pessoas que pensam diferente de você sejam torturadas em um lugar horrível por toda a eternidade é uma coisa linda e maravilhosa, merecedora de todo o respeito e admiração.