Autor Tópico: Crise capitalista mata a esquerda  (Lida 7632 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Penny Lane

  • Nível 24
  • *
  • Mensagens: 1.091
  • Sexo: Feminino
Crise capitalista mata a esquerda
« Online: 26 de Fevereiro de 2009, 20:27:04 »
26/02/2009
Crise capitalista mata a esquerda

Você conhece alguém que tenha se tornado "de esquerda" (como isso soa antiquado!) com a atual crise do capitalismo?

O sistema mais uma vez agoniza. Mas se nos anos 1930 essa agonia fortaleceu totalitarismos à esquerda e à direita, desta vez a saída é para o centro. Ainda bem.

Ninguém que conta quer revolucionar nada, mas aperfeiçoar (o que por enquanto significa limitar) as poderosas forças do mercado e da livre iniciativa.

A crise global serviu para mostrar os limites atuais do liberalismo econômico, assim como os ataques do 11 de Setembro frearam o avanço das liberdades individuais.

Mas são dois movimentos convergentes, inevitáveis em nossa cultura individualista, baseados na percepção, cada vez mais óbvia para mais gente, de que quanto menos o governo interferir em nossas vidas e quanto mais formos donos dela, melhor.

Pois por mais que se fale da importância do Estado neste momento, ninguém o defende como solução permanente para as necessidades de desenvolvimento das nações. Muito pelo contrário.

A emergência da China capitalista fechou o círculo econômico global. O capitalismo foi flex o suficiente para abraçar o maior Partido Comunista da história que conduz a maior expropriação de mais-valia do mundo para lucro de grandes corporações ocidentais.

E todos estavam felizes com o casamento. Até o colapso do sistema financeiro como o conhecíamos e sua dolorosa recomposição.

Nos Estados Unidos de Barack Obama, o maior líder global e sua equipe deixam claro sempre que podem que o estatismo da hora é tão inevitável quanto indesejável no longo prazo. A Europa também está fincada do centro para a direita, como na Alemanha, na França, na Itália e no Reino Unido (sim, o trabalhismo britânico é de direita).

Na Ásia, o capitalismo enriqueceu os principais países da região, com a exceção óbvia da obscurantista Coreia do Norte, que repele pelo exemplo.

Na América Latina, os dois líderes mais populares são Lula e Álvaro Uribe, o presidente da Colômbia, ambos também de centro-direita no diapasão macroeconômico.

A tal Revolução Bolivariana de Hugo Chávez e Cia parece mais uma paródia da paródia, "Bananas" de Woody Allen levado à vida real por personagens ainda mais autênticos, dirigidos por Zé Celso Martinez.

O petrocaudilho venezuelano, por exemplo, apenas clona o modelo da antiga República venezuelana que dividia a renda da venda do petróleo aos EUA entre os apaniguados de AD e Copei. Agora a divisão é entre os favoritos do ex-coronel que quer ficar eternamente no poder, como seu ídolo Fidel Castro, o ditador de pijamas, que colocou seu irmão Raúl no comando modorrento de um regime moribundo. Quem quer isso?

Quem quer a rigidez, a prepotência, a ineficácia e a corrupção inevitáveis dos governos pantagruélicos? Ninguém. Ou quase ninguém.

As viúvas mais enrustidas da foice e do martelo tentam gritar que a solução para a aguda crise do capitalismo são as antigas ilusões socialistas tão desacreditadas pela história. No último Fórum Social Mundial, em Belém do Pará, até as mangueiras perceberam quão esvaziado está o movimento esquerdista global em plena crise capitalista.

A mão invisível que pune financistas inescrupulosos e suas muitas vítimas também golpeou, mortalmente, as pretensões da antiga esquerda de se reerguer como opção ao sistema hegemônico.

Um ganho colateral importante nessa triste crise transformadora.


Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/sergiomalbergier/ult10011u509477.shtml
::)

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #1 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 03:54:09 »
A crise global serviu para mostrar os limites atuais do liberalismo econômico, assim como os ataques do 11 de Setembro frearam o avanço das liberdades individuais.
Isso é referente ao Ato Patriota? Então não é uma comparação de grandes méritos. :/

Offline Unknown

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 11.331
  • Sexo: Masculino
  • Sem humor para piada ruim, repetida ou previsível
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #2 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 04:35:28 »
A crise global serviu para mostrar os limites atuais do liberalismo econômico, assim como os ataques do 11 de Setembro frearam o avanço das liberdades individuais.
Isso é referente ao Ato Patriota? Então não é uma comparação de grandes méritos. :/
Não. É só um paralelo.

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #3 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 09:13:31 »
Parece que é só mais uma tentativa da Folha de meter o pau na esquerda e de tentar tapar os olhos dos outros com artigos fracos. Consegue falar que a crise matou a esquerda, sendo que é ela a que está saindo mais fortalecida, mesmo depois de ver o resultado referendo vencido por Hugo Chávez para a reeleição e perpetuação da revolução bolivariana na Venezuela, do resultado referendo vencido por Evo Morales para uma nova constituição na Bolívia, da movimentação de trabalhadores por causa das demissões em massa, mesmo depois de ver empresas privadas pedindo ajuda para o governo e até mesmo ainda depois de ver que, aqui no Brasil, o principais partidos de direita perderam espaço e poder político. E como se não bastasse ainda fala de um movimento que reuniu 150 mil pessoas de quase 150 países.
Ainda está para nascer alguém que vai poder ler algum artigo que preste da Folha.

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #4 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 12:38:18 »
Parece que é só mais uma tentativa da Folha de meter o pau na esquerda e de tentar tapar os olhos dos outros com artigos fracos. Consegue falar que a crise matou a esquerda, sendo que é ela a que está saindo mais fortalecida, mesmo depois de ver o resultado referendo vencido por Hugo Chávez para a reeleição e perpetuação da revolução bolivariana na Venezuela, do resultado referendo vencido por Evo Morales para uma nova constituição na Bolívia, da movimentação de trabalhadores por causa das demissões em massa, mesmo depois de ver empresas privadas pedindo ajuda para o governo e até mesmo ainda depois de ver que, aqui no Brasil, o principais partidos de direita perderam espaço e poder político. E como se não bastasse ainda fala de um movimento que reuniu 150 mil pessoas de quase 150 países.
Ainda está para nascer alguém que vai poder ler algum artigo que preste da Folha.
Na verdade não, muitos países tanto de direita como esquerda foram afetados, e até a China em certos aspectos.

E a américa latina tem seus governos de esquerda desde antes... qualquer um sabe que a população esta alienada, o capitalismo está em crise desde que aqueles governantes tem influencia na mídia...

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #5 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 12:55:57 »
Sim. Todos os paises foram, de fato, afetados, independente do tipo de governo. A diferença é que enquanto a direita perde a força e se mostra, também, um sistema falho, a esquerda volta a ser uma opção e o estado volta a ter um papel importante.

Offline guicn

  • Nível 16
  • *
  • Mensagens: 407
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #6 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 13:16:43 »
Simon Bolivar clamava pela alternância de poder, sendo um requisito.
Parece que os filhotes se esquecem disso...

Offline Lua

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.287
  • Sexo: Feminino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #7 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 15:12:11 »

Uma vez no poder, esquecem-se as ideologias, as lutas pelo bem-estar coletivo. O poder é um dos componentes do individualismo e um dos requisitos para a corrupção. Natural que os filhotes de Simon esqueçam disso... Qualquer um sabe o que significa ascender ao poder alegando revolucionar a coletividade e se deparar com uma realidade bem diferente daquela que preenchia manifestos e tratados.

A meu ver, abrir brechas para a não-alternância no poder é um atentado à democracia... Se alguém pensa que o povo tem o direito de escolher o que quiser quantas vezes quiser, desconhece a idéia de que, qualquer um que ocupe um cargo público durante muito tempo tende a se corromper com ele.
"Ajusto-me a mim, não ao mundo" Anais Nin

"A estupidez insiste sempre." Albert Camus

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #8 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 15:35:35 »
É verdade, Lua, em partes. Poder não implica esquecer uma ideologia. E eu ainda não entendo o porque da não alternância no poder ser uma atendado a uma democracia representativa, já que essa é, por essência, a vontade do povo.

Offline Lua

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.287
  • Sexo: Feminino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #9 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 16:41:16 »
É verdade, Lua, em partes. Poder não implica esquecer uma ideologia. E eu ainda não entendo o porque da não alternância no poder ser uma atendado a uma democracia representativa, já que essa é, por essência, a vontade do povo.

A democracia é um governo de todos, pra começar. Sendo de todos, a lei precisa resguardar o direito daqueles que não elegeram o candidato atual e que divergem da forma como ele conduz o governo. A partir do momento que a lei veda ou limita a alternância, essa parcela da população passa a ter voz ativa, já que poderá escolher um novo candidato além de propor que um novo candidato se lance na disputa.

Outro detalhe importante da perpetuação no poder é a postura do governante em tornar-se cada vez mais individualista em suas posições, defendendo o que acha correto e não mais aquilo que a população precisa. Isso sem contar na máquina pública transformada em curral para seus correligionários e familiares, que geralmente enriquecem a olhos vistos. Esse fator pode ser observado em todos os lugares em que um único governante ou grupo perpetuou-se no poder. Citando como exemplo a Bahia, em que ACM dominava praticamente todo o Estado e a administração pública tornou-se a casa dos seus parentes e correligionários, que abusavam do poder que possuiam.

E outra questão, Renato: você defende a perpetuação no poder? E o que dizer da direita ter permanecido décadas no poder sem que a esquerda ou população que divergia do governo fossem ouvidos? Não foi justamente a alternância do poder que permitiu que Lula ocupasse o cargo que ocupa atualmente? Não teria sido o desgaste da direita que fez com que o povo ansiasse por mudança, elegendo um presidente de esquerda?

Não se engane, qualquer governante que tente se perpetuar no poder vai cometer os mesmos abusos, seja ele de direita ou de esquerda. Como você disse, ascender ao poder não deveria implicar num esquecimento da ideologia. Em teoria é assim que deve ser, mas na prática é justamente o oposto. O que Chavez tem feito na Venezuela é um atentado à democracia e certamente o povo dará sua resposta um dia... um dia distante, talvez. Mas esse dia sempre chega.  :)

"Ajusto-me a mim, não ao mundo" Anais Nin

"A estupidez insiste sempre." Albert Camus

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #10 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 16:54:05 »
É verdade, Lua, em partes. Poder não implica esquecer uma ideologia. E eu ainda não entendo o porque da não alternância no poder ser uma atendado a uma democracia representativa, já que essa é, por essência, a vontade do povo.
É uma questão interessante.

Um governante por si só pode atentar a democracia ao ficar muito tempo. Por exemplo, após ficar décadas, passa a manipular a mídia de forma que não conseguiria governando por pouco tempo. De certa forma, soa meio contraditório...

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #11 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 17:16:16 »
Você parte de alguns pré-supostos que eu discordo, como o poder corrompe independente do homem e de que a vontade do povo não será feita se não houver empedimento à reeleição. Entretanto, como você mesmo disse, quando o povo cansa de um governante - e esse desgaste é evidente se ele não for um bom governante - ele esta apto a trocar esse governante quando quiser. Então, eu não colocaria como perpetuação no poder, mas sim como um tempo maior de governo e nada mais.
No caso do Lula, ele não chegou no poder pelo fato da reeleição ser vetada, mas sim porque o povo quis que ele governasse, do mesmo modo que poderia querer que o PSDB continuasse no poder com outro canditado que não o FHC e do mesmo modo que o Lula poderá sair do governo e entrar a Dilma. Tudo será vontade do povo. Dizer que a direita impedia que o povo fosse ouvido, o que para mim é uma ditadura, porém, hoje, no Brasil e também na Venezuela e Bolívia, gostem ou não, vivemos em um regime onde é o povo que escolhe os governantes - independente de que eles possam ser condicionados a tal. Naquela época não se poderia chegar ao poder por meio do povo, isso explica porque a perpetuação da direita, mas hoje vivemos em uma democracia.

Sobre sua pergunta, a resposta é: Não apoio um governo vitalício, mas a ideia de que o povo deixa pelo tempo que quiser alguém no comando não me incomada e não me parece "ilegal" para o jogo.

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #12 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 17:17:39 »
É verdade, Lua, em partes. Poder não implica esquecer uma ideologia. E eu ainda não entendo o porque da não alternância no poder ser uma atendado a uma democracia representativa, já que essa é, por essência, a vontade do povo.
É uma questão interessante.

Um governante por si só pode atentar a democracia ao ficar muito tempo. Por exemplo, após ficar décadas, passa a manipular a mídia de forma que não conseguiria governando por pouco tempo. De certa forma, soa meio contraditório...

Manipular a mídia da mesma forma que a direita faz hoje, mesmo não estando no poder? É tudo jogo de poderes, foxes.

Offline Zeichner

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.123
  • Sexo: Masculino
  • Somos feitos da mesma substância dos sonhos. - Wi
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #13 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 17:41:55 »
O cristianismo já tem quase 2000 anos e continua por aí. Péssimas idéias tendem a continuar, não importa o quanto se argumente contra. Não será uma crise econômica que acabará com a esquerda.

Offline Lua

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.287
  • Sexo: Feminino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #14 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 17:57:25 »
Você parte de alguns pré-supostos que eu discordo, como o poder corrompe independente do homem e de que a vontade do povo não será feita se não houver empedimento à reeleição.

Não penso que o poder corrompa qualquer homem em qualquer tempo ou lugar. Minha opinião é a de que, a grande maioria dos governantes e políticos tende a se corromper com o poder. Infelizmente, ainda não tive notícia de algum que, de alguma forma, não tenha se beneficiado do cargo que ocupa.

Citar
Entretanto, como você mesmo disse, quando o povo cansa de um governante - e esse desgaste é evidente se ele não for um bom governante - ele esta apto a trocar esse governante quando quiser. Então, eu não colocaria como perpetuação no poder, mas sim como um tempo maior de governo e nada mais.
No caso do Lula, ele não chegou no poder pelo fato da reeleição ser vetada, mas sim porque o povo quis que ele governasse, do mesmo modo que poderia querer que o PSDB continuasse no poder com outro canditado que não o FHC e do mesmo modo que o Lula poderá sair do governo e entrar a Dilma. Tudo será vontade do povo. Dizer que a direita impedia que o povo fosse ouvido, o que para mim é uma ditadura, porém, hoje, no Brasil e também na Venezuela e Bolívia, gostem ou não, vivemos em um regime onde é o povo que escolhe os governantes - independente de que eles possam ser condicionados a tal. Naquela época não se poderia chegar ao poder por meio do povo, isso explica porque a perpetuação da direita, mas hoje vivemos em uma democracia.

Não é necessário ser um mau governante para que se desgaste do poder: a forma de governar torna-se ineficiente porque os problemas começam a surgir em outras vertentes; novas necessidades surgem e o governante nem sempre consegue empreender esforços para supri-las, além de outros fatores. Meu pai usa uma frase interessante "Basta uma vez no poder para que sua imagem como governante fique desgastada o resto dos seus dias". Explicando: quem esteve no poder geralmente carrega nos ombros a missão de atender os mais diferentes interesses. Consegue atender alguns, ao passo que negligencia ou esquece de outros. Dessa forma, será sempre alguém que esteve no poder e não realizou. É a velha máxima popular "É, mas quando 'tava' no poder, não fez".

Corrigindo sua interpretação: eu não disse que uma parcela da população não era ouvida nos moldes de uma ditadura, como se a direita tivesse imposto a todos sua ideologia. O que quis dizer é: aqueles que divergiam do governo de direita, e que pretendiam que se desse ênfase a determinados setores, não foram atendidos pelo simples fato de não estar no poder um representante de sua ideologia.

Sim, a direita perdeu para a esquerda porque o povo, incluindo aí antigos direitistas (apolíticos, centristas, etc), cansou da forma como ela governava. Não foi Lula que se tornou melhor, mas a população que queria mudança. Queria alguém que representasse novos ideais, que trouxesse soluções para os problemas da população. Isso até me faz lembrar um fator interessante da época da campanha que deu a vitória a Lula: sua imagem foi completamente reformulada, embora suas raízes fossem mantidas. O apelo popular tornou-se o foco da campanha e Lula passou a agradar não apenas as classes mais baixas, carentes da ação social por parte do governo, mas também pessoas de classes mais altas, que viram Lula como um homem respeitável e honrado, apesar do pouco estudo.

A perpetuação da direita não justifica a perpetuação da esquerda no poder: todo governo que se mantém no poder tende a ser tirano, corrupto e se perder daquilo que pretendia. Uma avaliação dos coronéis brasileiros pode apresentar uma imagem do que estou afirmando aqui.

Citar
Sobre sua pergunta, a resposta é: Não apoio um governo vitalício, mas a ideia de que o povo deixa pelo tempo que quiser alguém no comando não me incomada e não me parece "ilegal" para o jogo.

Sobre isso, cito um jurista que gosto muito:
"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto, porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada.” (Celso Antonio B. de Mello)

O princípio da alternância no poder é essencial à democracia. Subvertê-lo é desatender à todo um sistema normativo e principiológico que constitui as bases de um governo  do povo e para o povo. É permitir uma exceção pelo simples fato de querer perpetuar-se no poder. Só a título de curiosidade: nunca vi um grupo político que tenha perdido eleição pleitear a reelegibilidade do Executivo após o período das eleições.

Continuando: a nível de Brasil, é ilegal porque vedado pelo ordenamento jurídico. É ilegítimo, porque atenta frontalmente o princípio da igualdade concedendo privilégios à determinados indivíduos em detrimento dos demais. E porque não mencionar o desatendimento ao princípio do equilíbrio das eleições? Quem detém a máquina pública tem mais meios de se perpetuar no poder usando de atos legítimos, ilegítimos, legais e ilegais. Não é a toa que a lei pune o abuso de poder durante as campanhas eleitorais... :)
« Última modificação: 27 de Fevereiro de 2009, 17:59:45 por Lua »
"Ajusto-me a mim, não ao mundo" Anais Nin

"A estupidez insiste sempre." Albert Camus

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #15 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 18:38:50 »
Vou focar no que acho mais importante, Lua, se não isso aqui não vai render nada. Se quiser discutir algo que eu não focar, me avise e discutiremos :ok:


Minha pergunta e dúvida é: Porque o princípio de alternância no poder é essencial* à democracia?

Se me esclarecer isso de modo que eu não possa argumentar, eu me calo.






*essencial no sentido de que não seria democracia sem esse princípio.

Offline DDV

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.724
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #16 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 19:45:50 »
Vou focar no que acho mais importante, Lua, se não isso aqui não vai render nada. Se quiser discutir algo que eu não focar, me avise e discutiremos :ok:


Minha pergunta e dúvida é: Porque o princípio de alternância no poder é essencial* à democracia?

Se me esclarecer isso de modo que eu não possa argumentar, eu me calo.






*essencial no sentido de que não seria democracia sem esse princípio.


Pergunta importantíssima.

O que é democracia? Seria simplesmente sinônimo de "vontade da maioria"?

Se levarmos uma definição como essa ao pé da letra, então poderemos concluir que se 51% da população decidir escravizar os outros 49%, então está tudo em casa! Foi uma decisão democrática!

É óbvio, portanto, que democracia não é apenas a "vontade da maioria". A melhor definição que eu já encontrei foi dada por Karl Popper em seu livro "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos". A definição que ele dá para democracia é mais ou menos assim: um sistema de governo na qual existem instituições que tornam possível a alternância de poder de forma pacífica, instituições essas que não podem ser facilmente destruidas por quem esteja no poder.

Todas essas instituições seguem o princípio da precaução: impedir que maus governantes causem demasiado dano caso alcancem o poder e permitir a derrubada pacífica dos mesmos. Seguindo esse princípio da precaução, o sistema de governo se assemelharia ao método científico: ambos procurando eliminar o máximo possível de fatores que comprovadamente podem comprometer seus objetivos (a objetividade, no caso da ciência, e liberdade política, no caso da democracia).

Então, juntamente com a clássica separação dos poderes, o voto universal secreto e periódico, os direitos e garantias individuais (que não estão sujeitos a nenhum outro arbítrio) e etc, temos a limitação das candidaturas. Muitas organizações mundo afora utilizam essse princípio da limitação da permanência indefinida de alguém em um determinado cargo, para se precaver dos possíveis vícios, abusos e distorções que poderiam acabar se voltando contra os objetivos da organização (um exemplo: a IURD sempre troca os pastores de localidade, evitando que fiquem em um mesmo local muito tempo). A limitação de cxandidaturas teria função semelhante: impedir que uma pessoa fique demasiado tempo no poder a ponto de, por diversos meios, pôr em risco a possibilidade de outras pessoas  chegarem ao poder.

Baseado nessa princípio da precaução, sou contra a reeleição indefinida, a exemplo das maiores e melhores democracias da atualidade. 
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline DDV

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.724
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #17 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 20:02:15 »
Citação de: Renato T
Você parte de alguns pré-supostos que eu discordo, como o poder corrompe independente do homem

Claro que pode haver pessoas que não se corromperiam com o poder absoluto. Mas quem seria burro o suficiente e pagaria pra ver?

Citação de: Renato T
e de que a vontade do povo não será feita se não houver empedimento à reeleição.

A vontade do povo será feita, mas há um risco (que eu acho que devemos evitar o máximo possível) dessa "vontade do povo" se tornar prisioneira do governante até não ser mais respeitada, e aí bye democracia. A trabalheira que é para restaurá-la é enorme...ainda há o risco das pessoas que participarem dessa luta terem seus currículos feitos pelo governo ditatorial expostos como se fossem uma coisa ruim no futuro.   :)
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #18 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 20:12:59 »
Citação de: Renato T
Você parte de alguns pré-supostos que eu discordo, como o poder corrompe independente do homem
Claro que pode haver pessoas que não se corromperiam com o poder absoluto. Mas quem seria burro o suficiente e pagaria pra ver?
Principalmente com o sistema eleitoral que temos hoje...
Pergunta importantíssima.

O que é democracia? Seria simplesmente sinônimo de "vontade da maioria"?

Se levarmos uma definição como essa ao pé da letra, então poderemos concluir que se 51% da população decidir escravizar os outros 49%, então está tudo em casa! Foi uma decisão democrática!
Então, juntamente com a clássica separação dos poderes, o voto universal secreto e periódico, os direitos e garantias individuais (que não estão sujeitos a nenhum outro arbítrio) e etc, temos a limitação das candidaturas.
Analogias perfeitas.

Offline Lua

  • Nível 40
  • *
  • Mensagens: 4.287
  • Sexo: Feminino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #19 Online: 27 de Fevereiro de 2009, 20:21:48 »
Vou focar no que acho mais importante, Lua, se não isso aqui não vai render nada. Se quiser discutir algo que eu não focar, me avise e discutiremos :ok:


Minha pergunta e dúvida é: Porque o princípio de alternância no poder é essencial* à democracia?

Se me esclarecer isso de modo que eu não possa argumentar, eu me calo.

*essencial no sentido de que não seria democracia sem esse princípio.

Menino, eu já tentei demonstrar isso no post anterior, mas já que essa vertente nos soa interessante, vamos debater a respeito. Ah, e não quero que você deixe de argumentar... É a contraposição de idéias e a liberdade que temos de expressá-las que torna esse fórum, democrático.  :ok:

Sem mais delongas, vamos lá.

De início, não estou retirando a titularidade do povo em poder eleger seus governantes. O sistema de sufrágio e voto é um avanço considerável em termos de democracia e é ele que dá sustentação à um governo que representa os interesses da maioria da coletividade. É direito do cidadão poder eleger seus governantes, pleitear um cargo político e questionar a atuação desses mesmos governantes.

Penso que um dos fundamentos da democracia que justifica a alternância no poder é o próprio princípio da igualdade, que atribui a todos iguais direitos como eleitores e também como eleitos. Permitir que um candidato possa perpetuar-se no poder é retirar de outros cidadãos o direito de ascenderem à categoria de governantes e tentarem levar adiante propostas diferenciadas. Observe bem: não estou contestando a legitimidade do povo em eleger um governante quantas vezes entender conveniente. Meu questionamento é com a permissão de que um candidato possa perpetuar-se no poder sem que exista um obstáculo legal que imponha a alternância como forma de evitar governantes tiranos, e que se aproveitem da máquina pública para continuarem na administração.

A partir do momento que um governante questiona o princípio da alternância, a própria legitimidade da democracia é questionada: é a divergência de ideais e a igualdade de oportunidades que consagra o acesso a cargos políticos. Via de regra (e desconheço casos distintos), a perpetuação de um governante no poder acaba por criar um ambiente autoritário, em que o poder de voz dos cidadãos passa a ser cada vez mais minimizado. Surgem daí os privilégios aos governantes e seus correligionários, a corrupção torna-se mais comum e a liberdade de discordar acaba sendo gradualmente reduzida. Esses são alguns dos reflexos de se permitir que um único grupo mantenha-se no poder infinitamente.

Sou particularmente contra a perpetuidade de um grupo no poder mesmo que ela seja supostamente legitimada pelo voto da população. E para finalizar: quem detém a máquina pública e concorre às eleições tem uma tendência natural em utilizá-la para se manter no poder. Só isso já bastaria para provocar o desequilíbrio do processo eleitoral.

Um governo que assume o poder de forma legítima e que se elegeu segundo regras constitucionais pré-estabelecidas é legítimo. No entanto, deixa de sê-lo quando subverte a ordem para atender a seus interesses. Quem torna-se signatário de um contrato e altera cláusulas unilateralmente para legitimar sua vontade deveria ser condenado ao ostracismo. E que pena que o ostracismo não existe mais... ::)
"Ajusto-me a mim, não ao mundo" Anais Nin

"A estupidez insiste sempre." Albert Camus

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #20 Online: 28 de Fevereiro de 2009, 00:28:53 »
Então, Kal...

Existem algumas coisas no seu raciocínio que eu não vejo origem sem agente recorrer para uma "natureza humana". Mais ou menos assim: Seu argumento é perfeitamente lógico, coeso e verdadeiro se você partir do ponto de que pessoas sempre agirão de tal maneira.

Por exemplo: - Só é possível direitos políticos iguais se existe alternância de poder.
                  - Existe a possibilidade de um governante se tornar um tirano em um governo democrático*.

Toda sua argumentação me parece partir desses dois pontos e, infelizmente, não consigo concordar com nenhum dos dois.
Para mim, podem existir direitos políticos iguais sem alternância de poder, porque o princípio de igualdade nada tem de relacionado com o fato de alguém poder se reeleger inúmeras vezes, já que todos podem concorrer a cargos públicos e todos estão sujeitos à inúmeras reeleições. Novas idéias continuarão sendo trazidas por aqueles novos políticos que alcançarem o poder, se assim for a vontade do povo, e continuaremos com a mesma democracia.
Sobre o segundo ponto, me parece que a possibilidade de se tornar um tirano é completamente separada da democracia, porque, independentemente da alternância do poder, se tornar um tirano implicaria na destruição da democracia, porque teria de passar por cima da constituição e, portanto, por cima da vontade do povo que aprovou tal constituição. Pode-se também dizer que se alguém pode, por estar no comando estado, moldar a sociedade (de forma que caiba na constituição, é claro) para continuar no poder, mas o problema dessa afirmação é que esta possibilidade também existe mesmo para aqueles que não estão no poder, como, por exemplo, o controle midiático citado pelo Foxes. É possível dominar um país através de outros meios que não o do governo do Estado, através de ideologias e imposição de idéias. Sendo assim, não consigo dizer que reeleição indefinida é sinônimo de perpetuação no poder.
Agora, se você retirar essas duas premissas, coisas como a divergência de idéias e igualdade de oportunidades ainda existirão, assim como a possibilidade de tirania não existirá por conta da falta de alternância.


Acho que é isso, Kal. :)
* Aqui me refiro também como perpetuação no poder, já que tal resultaria em tirania também.
« Última modificação: 28 de Fevereiro de 2009, 16:09:55 por Renato T »

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #21 Online: 28 de Fevereiro de 2009, 07:53:37 »
Renato T, para fins teóricos talvez fosse esteja certo, mas para fins práticos é completamente arriscado.

Offline guicn

  • Nível 16
  • *
  • Mensagens: 407
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #22 Online: 28 de Fevereiro de 2009, 14:22:18 »
O pressuposto do governante virar tirano não pode ser descartado. Como dito acima, para fins teóricos é tudo lindo, mas na prática nunca acontecerá, vide exemplos como Venezuela, Cuba, URSS e Coréia do norte.

Offline Zeichner

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.123
  • Sexo: Masculino
  • Somos feitos da mesma substância dos sonhos. - Wi
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #23 Online: 28 de Fevereiro de 2009, 15:33:50 »
para fins teóricos, idealizados e utópicos, sim, como todo bom socialismo.
Da prática, vale a máxima dos fundadores da nação americana: o estado é apenas um mal necessário e deve-se por isso sempre temer os governantes, pois o poder corrompe.

Offline Renato T

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.486
  • Sexo: Masculino
Re: Crise capitalista mata a esquerda
« Resposta #24 Online: 28 de Fevereiro de 2009, 16:12:42 »
O pressuposto do governante virar tirano não pode ser descartado. Como dito acima, para fins teóricos é tudo lindo, mas na prática nunca acontecerá, vide exemplos como Venezuela, Cuba, URSS e Coréia do norte.

Hugo Chávez não é um tirano e Cuba, URSS e Coréia do norte são/eram ditaduras, não democracias.

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!