Visando os fundamentos sócio-históricos, de uma sociedade como a nossa, e a corrupção resultando com o atentado a vida, chegaremos ao entendimento do modo como os crimes estão relacionados entre si. Afinal, numa sociedade capitalista, o capital é vital. A erosão deste implica na escassez de recursos, na redução da qualidade de vida e, consequentemente, da vida em si. 
Nunca pensei o contrário, Mosca. Estava trabalhando em cima do caso da dona da Daslu e não em linhas gerais, por isso afirmei que a corrupção perpretrada por ela e seus comparsas constituia crime contra o patrimônio. Não desvinculei do fato de muitos crimes contra a vida terem origem na corrupção de quem os pratica - um roubo, em que o agente pretende obter para si o bem de outra pessoa. Fazer isso seria tolice e não enxergar o óbvio. Minha linha de pensamento se prende ao fato de que, mesmo sendo crime contra o patrimônio, não discordo da pena aplicada pelo juiz. Se é crime, deve haver punição - o mesmo nos crimes contra a vida. Nunca, em momento algum, defendi a punição aos crimes contra o patrimônio em detrimento da punibilidade dos que atentam contra a vida. Espero que isso fique claro agora.

Não é de hoje que se tem conhecimento sobre a exploração da mão-de-obra semi-qualificada, isso sem citar o da mão-de-obra infantil. Tanto da parte do mercado da moda como de qualquer outra categoria... Não sei o que havia de tão especial nas bolsas da Daslu; eram bolsas idênticas as que encontramos nos ‘terceirões’ da vida, pelo que pude observar. Talvez esteja enganada e, realmente, existisse algo de especial, que justificasse os valores exorbitantes. Mas eu, sinceramente, desconheço.
Vivemos em uma sociedade capitalista de consumo em que preza-se marcas, mesmo que a qualidade do produto seja idêntica ou similar à dos produtos encontradas em lojas inferiores ou camelôs. Não concordo com esse sistema, mas ele existe e é ele que justifica os altos preços dos produtos vendidos na loja Daslu: eram produtos originais, comprados nas lojas autorizadas para revendê-los. O valor deles era alto por representarem o nome de um estilista ou perfumista conhecido e era por essa razão que milhares de pessoas compareciam à loja para adquiri-los.
Os bens adquiridos pela Daslu eram comprados em seu valor normal e entravam no país com um valor ínfimo. Exemplificando: uma bolsa era adquirida no exterior por R$ 2.000 e apresentavam uma nota na alfândega como se ela custasse R$ 20. O imposto que incidiria em 2.000 passa a incidir em 20, ou seja, era insignificante. O problema não era 'as bolsas da Daslu serem especiais' Mosca. O problema é que, por terem um alto valor agregado em razão da marca, tinham seu preço alterado através de nota fria e havia redução drástica dos impostos a serem recolhidos pelo Estado. Sim, em razão de fazermos parte de uma sociedade de consumo, as tais bolsas eram especiais e eram compradas e revendidas a um preço muito superior ao salário de muitos brasileiros. Não concordo, mas é a realidade e não posso me furtar em vê-la.
Não discordo de você, Lua. O patrimônio deve ser protegido por lei, sim. E em nenhum momento disse que não tivesse de ser. Mas é que você diz que: “se” a vida não for o bem maior. Esse “se” é o que me surpreende, principalmente vindo de alguém que não crer na vida após a morte, consegue me compreender? Não me tenha por mau, por favor, é apenas um ponto de vista, tá? Não vá ficar brava comigo. Eu digo que a vida é o nosso maior bem, sem hesitar. E por isso espero uma posição sempre mais severa, por parte da justiça, quando se trata de atentado contra esta.
Mosca, eu vou tentar entender que você apenas quis apresentar um discurso politicamente correto distorcendo o que eu disse ou fingindo não compreender. Mas vou considerar o que você disse e tentar explicar mais uma vez, já que você não entendeu ou não interpretou o que leu: a vida é um dos bens mais importantes do ser humano. No entanto, aliado a ela, existem outros bens considerados de suma importância e sem os quais a vida pode perder o sentido. A liberdade de expressão, por exemplo: um indivíduo que possui sua vida mas que não tem liberdade de expressar-se, ser e acreditar, apenas sobrevive. A liberdade de ir e vir: um indivíduo que possui sua vida, mas não pode locomover-se, se sujeitando às ordens e a coação de alguém. Poderia citar ainda a honra, que é um bem considerado inestimável em nossa sociedade. Quando você se depara com situações e histórias em que a opressão ao ser humano tolhe toda liberdade e direito de pensar, você passa a considerar esses bens num patamar igual à vida.
Ficaria imensamente grata se você entendesse que nunca diminui o valor da vida e nem me atribuísse juízos equivocados. Se você ler tudo o que eu disse e conseguir compreender, verá que defendo a punição pelos crimes contra o patrimônio independentemente de quem os tenha praticado. Também verá que defendo o cumprimento da lei penal, sejam nos crimes contra a vida, patrimônio, costumes, honra, etc. Assim, não partilho da indignação quanto ao cumprimento da lei em relação à dona da Daslu e seus comparsas, assim como também não deixarei de me indignar ao ver um homicida ser absolvido ou pegar uma pena leve em razão dos bons antecedentes ou outros fatores subjetivos. Eu não uso dois pesos e duas medidas para tudo que vejo, eu uso pesos diferentes para diferentes situações que exigem um olhar distinto.

Quando mencionei a revolta, não estava fazendo referência a entendê-la como sendo injustiçada. A massa jamais pensaria dessa forma. Garanto a você, que o povo quer mais é vê-la queimar no fogo do inferno, hahaha... Fico pensando o quê o Mano Brown diria a respeito disso... (?). Lua, a revolta contra os ricos preexiste. E acredito que o Juiz aplicou a pena de forma ‘crua’, como dita em suas palavras, só para satisfazer esse desejo da massa. Não me importo com o tamanho da pena. Só queria, do fundo do meu peito, que valesse para todos os casos semelhantes. No entanto, a justiça brasileira adota a política de: "para dois pesos, duas medidas". E você mesmo aponta isso e até reconhece a falta da justiça, em sua postagem anterior.
Discordo de você quanto a aplicação da pena para satisfazer as massas. Certamente, o juiz poderia ter considerado elementos subjetivos na dosagem da pena que a reduziriam. No entanto, diante da sucessiva prática de vários crimes e na reiteração da prática mesmo após descoberto o esquema, pesaram agravantes que culminaram na aplicação de uma pena 'crua'. Quanto a revolta contra os ricos, ela deve-se mais ao desejo de ter a vida que eles tem do que a uma sede de justiça propriamente dita. Funciona mais como uma indignação que faz nascer um sentimento de satisfação quando um rico é pego por suas falcatruas.
Novamente, nunca disse que nossa justiça é eficiente. Disse que fico feliz por, nesse caso, ela ter sido. E espero que em outros que virão, claro. Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre acho que os juízes querem aparecer: alguns simplesmente cumprem aquilo que determina a lei, mesmo sabendo que sua decisão poderá ser revista e alterada em outras instâncias.

Que a vida mostre-se sempre bela a ti. Pois penso não haver nada mais justo que a 'reciprocidade'.
O mesmo para você, Mosca.
