Autor Tópico: Tire suas dúvidas de LÓGICA  (Lida 2683 vezes)

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Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Online: 28 de Julho de 2009, 14:06:18 »
Tirem aqui as suas dúvidas sobre Lógica.
Segue abaixo dúvidas que eu tirei em outros tópicos.
« Última modificação: 28 de Julho de 2009, 14:37:37 por Dante Cardoso Pinto de Almeida »

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #1 Online: 28 de Julho de 2009, 14:07:30 »
Dante, pelamordedeu!, mas pra não dizer que não fiz sequer um esforço, ajudaí...
Citar
Na verdade a lógica pode sim garantir alguns teoremas, o que depende de qual sistema de lógica foi adotado. E.g.:
Entre uma proposição p e sua negação, ao menos uma delas é verdadeira.
Não é o caso de p e sua negação serem ambas verdadeiras.
Toda relação simétrica e transitiva é reflexiva.
Hum... Gostei do final (se é que eu entendi): toda correspondência entre conceitos, idéias, argumentos, quando por significado ou consequência, mesmo se divergentes é reflexiva? Ou seja, forma uma idéia nova? Ou uma relação de significado? O sim e o não?
Uma relação é uma propriedade entre indivíduos. Exemplo:
x é maior que y
x é parente de y
x divide y
x é amigo de y
x está à direita de y

Uma relação R é simétrica quando, se x R y, então y R x.
Exemplos de relações simétricas:
igualdade: Se x=y, então y=x
irmandade: Se x é irmão de y, então y é irmão de x
congruência: Se x é congruente a y, então y é congruente a x

Exemplos de relações assimétricas:
maior: Se x>y, então não é o caso de y>x
paternidade: Se x é pai de y, então não é o caso de y ser pai de x

Uma relação R é transitiva quando, se x R y e y R z, então x R z.
Exemplos:
igualdade: Se x=y e y=z, então x=z
ancestralidade: Se x é ancestral de y e y é ancestral de z, então x é ancestral de z
maior: Se x>y e y>z, então x>z

Uma relação R é reflexiva se, para qualquer x, xRx
Exemplos:
igualdade: x=x
congruência: x é congruente a x

É um teorema da Lógica de primeira ordem com predicados relacionais que toda relação transitiva e simétrica é reflexiva.
Prova:

Seja R simétrica e transitiva, ou seja:
1) Se x R y e y R z, então x R z.
2) Se x R y, então y R x.
E vamos assumir que R não é vazia, ou seja, existem ao menos um x e um y tais que:
3) x R y
De (2) e (3) segue que:
4) y R x
Considere o caso no qual x=z. Então temos de (1):
5) Se x R y e y R x, então x R x
De (3), (4) e (5) segue que
6) x R x
Quod erat demonstrandum.

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #2 Online: 28 de Julho de 2009, 14:08:20 »
Aliás, que é meteorema?
Um teorema é uma afirmação do sistema. Um metateorema é uma afirmação sobre o sistema.

Por exemplo, um sistema desenvolvido pelo matemático alemão Frege, aprimorado pelo filósofo polaco Lukasiewicz e pelo matemático Mendelson consiste em três axiomas:

I) Se p, então p ainda que q.
II) Se (se p, então (se q, então r)), então (se (se p, então q), então (se p, então r))
III) Se (se não-p, então q) e (se não-p, então não-q), então p. (Isto é, se da negação de p eu tiro uma contradição, então deve-se afirmar p).

E uma regra de inferência:
se p, então q.
p.
Logo, q.

Neste sistema, chamemos de LFM, podemos derivar vários teoremas, como:
Se p, então p.
Se (se não-p, então p), então p.
(se p, então q) equivale a (se não-q, então não-p).
não-não-p equivale a p.

E uma infinidade de outros.   

Mas não apenas podemos falar a partir de FLM, como podemos falar sobre FLM. O que provarmos sobre FLM são metateoremas. Alguns exemplos notáveis são:

Metateorema da Corretude: Todo teorema de FLM é uma verdade lógica (clássica).
Metateorema da Completude: Toda verdade lógica (proposicional clássica) pode ser derivada em FLM.
Metateorema da Dedução: "se p, então q" é um teorema se, e somente se, "p. Logo q" é um argumento válido. Exemplos:
"Se p, então p" é teorema. Portanto "p. Logo p" é um argumento válido.
"Se (se não-p, então p), então p" é teorema. Portanto "Se não-p, então p. Logo p" é um argumento válido.

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #3 Online: 28 de Julho de 2009, 14:09:28 »

O que eu consegui por enquanto foram algumas dúvidas de tradução...

A linha I posso ler como se fosse, “Se afirmo, é isso, ainda que haja contradição”?

“Se afirmo, é isso, o que quer que venha a ser afirmado.”

A linha II é do tipo: p R q, q R r, então p R r? E eu posso ler ela como se fosse: “Se, quando da afirmação p, admito q que afirma r, então, na afirmação p afirmo q e r”?
Sim. "Se x, então y" é uma relação transitiva entre proposições. E sua leitura do axioma está correta.

Ou, sei lá, “quando afirmo p tenho uma contradição, então (dialeticamente????) tenho uma conclusão r. Então, toda vez que tenho p, consigo a conclusão r”? Ou, todo argumento p que contenha uma contradição q, permite, por conta de q, um argumento r, assim, o argumento p admite uma contradição q e uma conclusão r...
OK... você poderia ser mais claro?

Dúvidas sobre termos: se (é a suposição), então (é o desencadeamento lógico ou a consequência)?

É "antecedente" e "consequente", respectivamente. Vale lembrar que o consequente não é necessariamente consequencia do antecedente. Ele é justamente, como você bem observou, desencadeamento lógico. Exemplo: "Se há fogo, então há oxigênio" é uma implicação verdadeira. Só que o oxigênio é causa do fogo.

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #4 Online: 28 de Julho de 2009, 14:13:10 »

“Se p, então não-p” não faz sentido por que não se conclui de uma afirmação a sua contradição?
Faz todo o sentido. Quer dizer que p era um absurdo desde o início. Portanto, não-p.
É assim que, por exemplo, é provado que a raiz de 2 é irracional

Acho que entendi.
Dei uma olhada (breve) na wikipédia pra tentar montar uma estrutura lógica pra dialética, fundamentada naquele esquema básico: tese, antítese, síntese... Os chutes, “Se p e q, então r” ou “se p e não-p, então r”...
Sobre a dialética, Mabumbo...
Enquanto Lógica é o estudo da validade formal de argumentos, a dialética seria o estudo do do conflito de teses antagônicas.

O que a Dialética contribui para a Lógica? Nada. Fazer lógica é fazer demonstrações, aplicar algoritmos, fazer manipulações algébricas. O que há de "humanidades" na Lógica é o questionamento filosófico "por que um certo sistema de manipulações de símbolos é legitimamente uma lógica, ou seja, formaliza raciocínio, e não apenas um sistema arbitrário de álgebra?".

O que a Lógica contribui para a Dialética? Depende! Se o conflito de teses antagônicas gera uma síntese que consiste na intersecção destas teses, então a lógica vai servir para dizer "A proposição p é comum à todas as teses em conflito, então p faz parte da síntese".
Agora, se o conflito de teses antagônicas gera uma síntese que consiste nas idéias levantadas pelos proponentes de cada tese, aí fica difícil dizer qual o papel da lógica nisto.

Enfim, voltando ao assunto inicial, a lógica garante alguns teoremas (ou afirmações) desde que seus pressupostos sejam válidos, não simplesmente que façam sentido. Certo?
O sentido de um teorema da lógica é ser uma estrutura universalmente válida, ou seja, qualquer que seja as interpretações que dermos aos termos, ela vale.

E.g.
"p ou não-p" é válida (na lógica clássica)
Se entendermos "p" por "2 é racional", temo "2 é racional ou dois é irracional", o que é válido.
Se entendermos "p" por "está chovendo", temo "está chovendo ou não está chovendo", o que é válido.

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #5 Online: 28 de Julho de 2009, 14:13:38 »
quote author=Mabumbo.P link=topic=20922.25.html#msg464635 date=1248786527]
Dante,
Uma dúvida me incomoda, anteriormente eu disse que “a lógica demonstra a falibilidade ou não de um argumento, não alguma verdade acaso implícita numa idéia”. No que você retorquiu afirmando que “a lógica garante alguns teoremas, a depender do sistema”. Ou seja, a lógica demonstra tanto se um argumento é falho, quanto se existe alguma verdade num raciocínio. Isso? 

E outra, na lógica, existe alguma definição de verdade? Ou somente aquela sobre “raciocínio logicamente válido”? Alguma delimitação? Existe alguma diferença entre argumento válido e argumento verdadeiro? Pelo que entendi, todo argumento válido seria, e não vejo outra forma, uma verdade. Certo?[/quote]

Um sistema de lógica tem duas partes: semântica e sintaxe.

Semântica é a interpretação que se dá aos símbolos lógicos. Por exemplo, na lógica proposicional clássica temos:
"p e q" é verdade se p é verdade e q é verdade, e falsa caso contrário.
"p ou q" é falsa se p é falso e q é falso, e verdade caso contrário.
"não-p" é verdade se p é falso, e é falso se p é verdade.
"se p, então q" é falso se p é verdade e q é falso, e verdade caso contrário.
etc.

A sintaxe são as regras de manipular os símbolos:
Dado "p e q", pode inferir "p"
Dado "p e q", pode inferir "q"
Dado "p" e dado "q", pode inferir "p e q"
Dado "se p, então q" e dado "p", pode inferir "q"
Dado "não-não-p", pode inferir p
etc.

Ao construir um sistema de lógica a idéia é fazer com que ele seja:
Correto - Tudo o que se pode derivar na sintaxe é válido na semântica.
Completo - Tudo o que é válido na semântica se pode derivar na sintaxe.

Digamos que você tenha construído um sistema de proposicional lógica clássica completo e correto. Você conseguirá, então, obter algumas verdades lógicas. Exemplo:
"p ou não-p", "não-(p e não-p)", "se p, então p", "se não-não-p, então p", "se p, então não-não-p" etc.

Estas verdades lógicas são:
*Sentenças sempre verdadeiras qualquer que seja o valor veritativo das proposições atômicas (p, q etc). Isto é a semântica.
*Conclusões de um conjunto vazio de premissas. Isto é a sintaxe.
*Descrições de circuitos eletrônicos cujo o output é 1, qualquer que seja o input.

Mas podemos também construir lógicas não-clássicas alternativas. Por exemplo, Lukasiewikcz construiu uma lógica de três valores: verdadeiro, indeterminado e falso, tais que verdadeiro>indeterminado>falso.
A semântica desta é:

"p e q" é verdade se p é verdade e q é verdade, falsa caso p ou q sejam falsas, indeterminada caso contrário.
"p ou q" é falsa se p é falso e q é falso, verdade se ao menos um for verdadeiro, indeterminada caso contrário.
"não-p" é verdade se p é falso, é falso se p é verdade, e é indeterminado se p é indeterminado.
"se p, então q" é falso se p é verdade e q é falso, verdade se p menor ou igual a q, indeterminado caso contrário.
etc.

Nesta, ainda vale  "se p, então p", "se não-não-p, então p" e "se p, então não-não-p". Mas já não vale "p ou não-p" e "não-(p e não-p)", que são indeterminadas quando p é indeterminado.

Já Kleene desenvolveu uma lógica ternária na qual "se p, então q" é falsa se p é verdadeiro e q é falso, verdade se q é verdadeiro, indeterminada caso contrário.

Nesta, nenhuma sentença é universalmente válida!

Existem outras lógicas interessantes que nem trabalham com as operações como funções veritativas. Uma delas é a Lógica Intuicionista, que entende "determinar a verdade de uma proposição" como "provar construtivamente uma proposição":

Provar "p e q" é provar p e provar q.
Provar "p ou q" é provar p ou provar q.
Provar "se p, então q" é, apartir de uma prova de p, provar q.
"não-p" equivale a "se p, então contradição". Ou seja, provar "não-p" é dar uma contraprova de p.

Na lógica intuicionista, vale "não-(p e não-p)", dado que "p e não-p" já é uma contradição, mas não vale "p ou não-p", pois nem todo p tem uma prova ou uma contraprova. Vale "se p, então não-não-p", pois uma prova de p é uma contraprova de não-p, mas não vale "se não-não-p, então p", pois uma contraprova de não-p não é uma prova de p. Vale "se p, então p", pois de uma prova de p obtem-se uma prova de p.

Todo teorema da lógica intuicionista é um teorema da lógica clássica, pois tudo o que tem uma prova construtiva é [classicamente] verdadeiro, mas nem todo teorema da lógica clássica é um teorema da lógica intuicionista, pois nem tudo o que é [classicamente] verdadeiro tem uma demonstração construtiva.

Existe uma disciplina na lógica chamada Teoria de Modelos, que formaliza a metateoria por trás dos diferentes sistemas de lógica, o que nos permite definir, analizar e comparar as diferentes concepções de verdade de cada sistema.

A interpretação lógica daquele axioma que você anteriormente postou, “todo homem é um fim em si mesmo”, seria do tipo, “se p, então p”? Ou seja, tudo sobre o homem, é o homem?

"O homem é um fim em si mesmo" significa que as pessoas não podem ser usadas como meros meios para atingir fins, mas que se deve agir em prol das pessoas.

Ou seja, um argumento é válido (ou verdadeiro) somente quando produzido também por uma estrutura válida?
Um argumento é válido quando tem uma estrutura na qual, se as premissas são verdadeiras, a conclusão é verdadeira.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #6 Online: 28 de Julho de 2009, 14:17:33 »


Citação de: Dante, the Wicked
Vários outros assuntos relacionados às lógicas paraconsistentes surgem da aplicação das lógicas paraconsistentes à ciência do direito e à ética. Nas lógicas deônticas, noções como "obrigatório" e "permitido" podem ser tratadas formalmente, e esses operadores podem ser interpretados como obrigatoriedade ou permissividade perante a lei, ou em conformidade com algum sistema moral ou ético. Por exemplo, a tomada de decisões que envolvem a possibilidade da existência "real" dos chamados dilemas deônticos é de interesse filosófico e científico.

Um dilema deôntico, falando por alto, seria como: "algo é obrigatório, mas sua negação também o é", como na recente discussão sobre a anencefalia de certos fetos, caso em que a obrigatoriedade (ética) da gestação até o fim conflita com a obrigatoriedade da saúde física e psicológica da mãe. Nesses há conflito de normas, de modo que dilemas deônticos surgem como "reais", e não como algo apenas aparente.

Em faculdades de Direito há muito tempo foi abolida a lógica como disciplina obrigatória, e por isso, quase não há cursos que a incluam em sua grade; eu particularmente nunca vi sequer como opcional.

A lógica clássica possui pouca aplicabilidade prática no Direito, na medida em afirmativas falaciosas (sob o critério da lógica clássica) como as abaixo, são tidas como verdadeiras para o universo jurídico:


  • "quem pode o mais, pode o menos";
  • "onde há uma mesma razão, deve haver um mesmo direito";
  • "a vontade da lei é a vontade do povo";
  • "o povo criou a Constituição, mas as cláusulas pétreas não podem ser alteradas pelo povo";
  • "o réu que perde o prazo de resposta está concordando com os termos do pedido do autor";
  • "ninguém pode alegar a própria torpeza em sua defesa"; etc.


De outro lado, a dialética e o silogismo são inerentes ao raciocínio jurídico, e há critérios hermenêuticos próprios do Direito.

Gostei especialmente da lógica deôntica, que não conhecia, mas não há no wikipedia artigo tratando dela. É mencionada pontualmente no artigo de lógica, da seguinte forma:

Citação de: Wikipedia, Lógica
Lógica deôntica: forma de lógica vinculada à moral, agrega os princípios dos direitos, proibições e obrigações. As sentenças na lógica deôntica são da seguinte forma: "é proibido fumar mas é permitido beber", "se você é obrigado a pagar impostos, você é proibido de sonegar", etc.

Como você fez referência a ela em sua mensagem, gostaria de saber como a lógica deôntica trata os exemplos dados que mencionei acima, e se você sabe me indicar algum autor que trata da lógica deôntica aplicada ao Direito.





As lógicas deônticas adicionam certos operadores intensionais ao vocabulário lógico tais como:

"é obrigatório que" (OB)
"é permissível que" (PE)
"é impermissível que" (IM)
"é gratuito que" (GR)
"é opcional que" (OP)

Agora, entendendo letras minúsculas (p, q, r...) como variáveis sentenciais ("fazer isto", "fazer aquilo"), "=" como "é o mesmo que" ou "equivale a", "~" como "não", temos as seguintes relações entre estes operadores:

PEp = ~OB~p (i.e., ser permitido p equivale a não ser obrigatório não-p)
IMp = OB~p (i.e., ser impermissivel p equivale a ser obrigatório não-p)
GRp = ~OBp (i.e., ser gratuito p equivale a não ser obrigatório p)
OPp = (~OBp & ~OB~p) (i.e., ser opcional p equivale a não ser obrigatório p e não ser obrigatório não-p)

Geralmente sistemas de lógica deôntica são regidos pelos seguintes axiomas:

OBp -> PEp (i.e., se é obrigatório p, então é permitido p)
OB(p->q) = OBp->OBq (i.e., 'se é obrigatório que se p, então q' equivale a 'se é obrigatório p, então é obrigatório q').

Assim, podemos formalizar algumas das sentenças que você postou assim:

  • "onde há uma mesma razão, deve haver um mesmo direito";
%5Cforall+x+%5Cforall+p+%5Cforall+q%28px+%5Crightarrow+OBqx%29+%5Cto+%5Cneg+%5Cexists+y%28px%26amp%3B+%5Cneg+OBqy%29
i.e.: Se 'para todo indivíduo x, para toda situação p e para toda situação q, p leva x a estar obrigado a q', então 'não existe [sequer] um indivíduo y tal que y esteja em situação p e não esteja obrigado a q'.

  • "ninguém pode alegar a própria torpeza em sua defesa"; etc.
IMp%5Cto%5Cneg+%5Cexists+x+%28Ax%5Cto+PEpx%29
i.e.: Se é impermissível p, então não há sequer um indivíduo x que, por verificar um atributo A, lhe seja permitido p.

  • "o povo criou a Constituição, mas as cláusulas pétreas não podem ser alteradas pelo povo";
Bem... já é uma limitação de todos os sistemas de lógica monotônicos que as premissas sejam pétreas.

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #7 Online: 28 de Julho de 2009, 14:29:02 »
Não sei, mas isso me parece meio redundante. Acho que a lógica "clássica" dá conta dessa "situação indeterminada" sem precisar nenhum tipo de alteração ou acréscimo. Por exemplo:

Dentro da lógica clássica, se não sabemos se A é verdadeiro ou falso (ou seja, A é indeterminado), segue-se que não sabemos se não-A é falso ou verdadeiro (ou seja, segue-se que não-A também é indeterminado). Não consegui enxergar a diferença que faz entre acrescentar esse valor "indeterminado" à lógica ou trabalhar com essa situação dentro da lógica clássica sem esse acréscimo.

Além disso (e acho mais importante), estes princípios (identidade, não-contradição e terceiro-excluído) são construídos e só se referem apenas aos termos "verdadeiro" e "falso". Não há sentido em se aplicar estes princípios a outros termos, tais como "indeterminado", "provavelmente", "pode ser" etc (não há contradição entre A e não-A serem ambos "indeterminados", ou entre A e não-A serem ambos "prováveis"; há contradição apenas em A e não-A serem ambas "verdadeiras").

Portanto, A e não-A serem ambos indeterminados é algo "permitido" na lógica clássica, sem nehuma violação do terceiro-excluído. Não vejo por quê ou para quê acrescentar esse terceiro termo "indeterminado" como um valor adicional além de "verdadeiro" e "falso". Pode ser que eu não tenha entendido.

Então, há uma diferença substancial entre a indeterminação epistemológica (a mera impossibilidade de determina a verdade ou falsidade de uma proposição) e a indeterminação ontológica (a necessidade de uma proposição não ser verdadeira ou falsa).
Por exemplo, "amanhã ocorrerá uma batalha naval". Se esta proposição é ou verdadeira ou falsa, então já está determinado o que ocorrerá amanhã, mesmo que não possamos determinar isto. Uma alternativa é pensar que a proposição não verdadeira ou falsa, mas essencialmente indeterminada.
A motivação do Lukasiewicz para desenvolver a lógica trivalente foi justamente fornecer uma lógica que subjaz teorias filosóficas que aceitam valores além da verdade ou falsidade.

E ainda existem lógicas polivalentes, que lidam com uma gradação infinita de valores de verdade entre 1 e 0. Elas são bastante uteis em contextos onde dizer que uma proposição é apenas verdadeira ou falsa não significa muita coisa. Por exemplo, o que significa para o meteorologista que "amanhã vai chover" é uma proposição verdadeira? Se cair algumas gotas por 10 minutos ou se haver uma tempestade o dia inteiro, a proposição é verdadeira em ambos casos?


Enfim: "Essencialmente" falando, não falta nada à lógica clássica.

Na verdade, muitas logicas não-clássicas são complementares, ou seja, não negam um princípio sequer da lógica clássica. Apenas adicionam noções como o tempo (passado, presente e futuro), modalidades aléticas ("é necessário que", "é possível que") etc.


Pelo menos é o que eu até o momento entendo. Posso estar completamente equivocado (Se for o caso, gostaria de uma explicação).

É mais complicado que isto. A lógica estuda a validade dos raciocínios, mas o que é um raciocínio válido? Vários critérios podem ser estabelecidos: a recursividade das premissas durante a derivação, a relevância da conclusão em relação às premissas... A lógica clássica lida com o critério mais simples: a preservação da verdade. Na acepção clássica, um raciocínio válido é aquele em que, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão é necessáriamente verdadeira. Repare que o seguinte argumento satisfaz este critério:

A.
Não A.
Logo, B.

De premissas contraditórias, é dedutível (na lógica clássica), uma proposição arbitrária. Afinal, nunca as premissas serão verdadeiras enquanto a conclusão é falsa. Este é só um dos casos antiintuitivos que seguem de adotar um único critério de validade lógica.

Nesse caso está certo e faz sentido, pois o foco não é o que as coisas podem ou não podem ser (o que a lógica clássica trata), mas o que sabemos sobre elas. Isso pode ser útil em algoritmos, mas não completa e muito menos substitui a lógica clássica em relação a o que as coisas de fato, em si mesmas, podem ou não podem ser.

Na verdade é bem mais complicado. A lógica intuicionista foi desenvolvida não apenas para ser uma alternativa à clássica, mas para ser vista como uma lógica default. Tem tudo a ver com a questão, "o que é a existência de um objeto matemático?".
Pela lógica clássica podemos provar que existe um objeto x que verifica uma propriedade P apenas suponto (por absurdo) que nenhum x verifica P, derivando disto uma contradição e concluindo que existe ao menos um x que verifique a propriedade P.
Enquanto Hilbert usava e abusava deste tipo de prova, os matemáticos construtivistas subiam pelas paredes com ela. Para estes, a existência de um objeto matemático só pode ser determinada por construção.
A lógica intuicionista foi desenvolvida como sistema subjacente a esses critérios de prova matemática.

Offline _tiago

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #8 Online: 03 de Agosto de 2009, 22:00:09 »
Dante,
Não sei se foi bem essa a minha dúvida, vou tentar simplificar, apesar de eu achar que isso, apesar de adentrar a lógica, não se trata bem do seu objetivo. Ela parece trabalhar mais com a construção de argumentos que com a origem deles.
Enfim, quando vc diz, "Se p, então q", vc afirma isso, certo? E vc tira isso de onde, de uma observação do tipo, "eu vejo que todos os cães são carnívoros"?
Deve ser uma coisa banal e básica, mas é que eu preciso de uma origem... Aliás, eu sei que ela não existe, a tal origem, tem alguma coisa a ver com o Trilema de Mun... (sei lá!): somente se fundamenta alguma coisa por regressão infinita, axioma ou argumentação circular. Mas é só pra mim ter alguma referência menos aritimética na construção de argumentos.
Valeu!

PS: quando alguém diz "dado de fato", isso são informações objetivas que nos alcançam? A gravidade ou a cor de uma parede??

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #9 Online: 04 de Agosto de 2009, 01:05:43 »
Dante,
Não sei se foi bem essa a minha dúvida, vou tentar simplificar, apesar de eu achar que isso, apesar de adentrar a lógica, não se trata bem do seu objetivo. Ela parece trabalhar mais com a construção de argumentos que com a origem deles.
Enfim, quando vc diz, "Se p, então q", vc afirma isso, certo? E vc tira isso de onde, de uma observação do tipo, "eu vejo que todos os cães são carnívoros"?
De onde vem os axiomas e premissas não é mais um problema da lógica.

Offline N3RD

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #10 Online: 14 de Agosto de 2009, 02:33:04 »
Me esclarece uma coisinha que eu postei no "Perguntas idiotas" mas ninguém respondeu.

A existencia de "deus" é lógicamente concebível ? Só não é metafisicamente e nomologicamente ?
Não deseje.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #11 Online: 14 de Agosto de 2009, 02:37:16 »
Me esclarece uma coisinha que eu postei no "Perguntas idiotas" mas ninguém respondeu.

A existencia de "deus" é lógicamente concebível ?

Defina "deus".

Offline N3RD

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #12 Online: 14 de Agosto de 2009, 03:15:33 »
Mais ou menos esse ser aqui:

Citar
"o ser maior do que o qual nenhum outro é possível"

onipotênte, onisciênte, extremamente bondoso, enterno, auto-existênte.

Geralmente são estas as caracteristica a ele atriuidas.

Não deseje.

Offline Contini

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #13 Online: 14 de Agosto de 2009, 09:58:33 »
Dante, rápido off-topic: Voce tem algum site preferencialmente em portugues com algo do tipo "Filosofia para dummies"? Bem básico mesmo, pra começar!

A propósito, boa iniciativa a deste tópico!  :ok:
"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

"Eu não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando isso acontecer"  - Wood Allen

    “O escopo da ciência é limitado? Sim, sem dúvida: limitado a tratar daquilo que existe, não daquilo que gostaríamos que existisse.” - André Cancian

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #14 Online: 14 de Agosto de 2009, 11:16:38 »
Dante, rápido off-topic: Voce tem algum site preferencialmente em portugues com algo do tipo "Filosofia para dummies"? Bem básico mesmo, pra começar!

A propósito, boa iniciativa a deste tópico!  :ok:

http://www.cfh.ufsc.br/~conte/russell.html

Offline Contini

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #15 Online: 14 de Agosto de 2009, 11:18:08 »
Dante, rápido off-topic: Voce tem algum site preferencialmente em portugues com algo do tipo "Filosofia para dummies"? Bem básico mesmo, pra começar!

A propósito, boa iniciativa a deste tópico!  :ok:


http://www.cfh.ufsc.br/~conte/russell.html
   :ok: Obrigado
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Offline _tiago

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #16 Online: 15 de Agosto de 2009, 11:59:29 »
Acho que em qualquer axioma católico Deus é concebível... Principalmente que eles partem do pressuposto que Deus e universo são sinônimos.

Offline N3RD

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #17 Online: 15 de Agosto de 2009, 22:58:54 »
o dante cagou pra mim
Não deseje.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #18 Online: 16 de Agosto de 2009, 13:03:16 »
Mais ou menos esse ser aqui:

Citar
"o ser maior do que o qual nenhum outro é possível"

onipotênte, onisciênte, extremamente bondoso, enterno, auto-existênte.

Geralmente são estas as caracteristica a ele atriuidas.

Aí você precisa formular um vocabulário para isto, já que nenhum sistema de lógica já vem com este vocabulário.

Offline _tiago

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #19 Online: 23 de Agosto de 2009, 14:34:12 »
Nessa de cima aqui, como eu antes havia dito, eu não poderia pra tanto me utilizar dos dogmas católicos??

...

Dante,
Dúvidas de filosofia podem? Não conheço outro filósofo aqui...
Diferença entre certeza de fato e de direito? Sabe alguma coisa??



Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #20 Online: 23 de Agosto de 2009, 23:42:44 »
Nessa de cima aqui, como eu antes havia dito, eu não poderia pra tanto me utilizar dos dogmas católicos??

Ainda faltaria um vocabulário para formalizar os dogmas católicos.

Dante,
Dúvidas de filosofia podem?
Pode.


Diferença entre certeza de fato e de direito? Sabe alguma coisa??

Não faço a menor idéia.

Offline O Comissário do Povo

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Re: Tire suas dúvidas de LÓGICA
« Resposta #21 Online: 30 de Setembro de 2009, 17:59:44 »
Muito bom tópico.

Deveria ser fixado.
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"O MST é o mais importante movimento de massa do mundo e tem registros de importantes conquistas" Noam Chomsky
Reduz pra 40 que o Brasil aumenta!

 

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