Ah, vontade de passar um ad hominem aqui... "Popper falou que a evolução não é falseável, e estava errado!"
Sim, ele falou, mas voltou atrás não muito tempo depois.
Citei isso mais como curiosidade histórica, mesmo. Não tem validade como argumento (pelo motivo que já expus - seria ad hominem).
Supondo que você ainda queira usar como "argumento" ad hominen, seria mais argumento favorável do que desfavorável saber que uma pessoa volta atrás e reconhece quando está errado...pelo menos é assim que acontece na ciência e na filosofia racionalista.
Além disso, não estamos falando aqui de pessoas iluminadas ou paranormais emitindo oráculos infalíveis que nós confiamos por confiar nelas (como o grande "profeta" Marx),
estamos supostamnete falando de idéias e da pertinência lógica entre as mesmas e a realidade, e isso independe de quem as falou.
Ou seja, você "deixar no ar" um ad hominem como esse denota que você está insinuando que as idéias são aceitas por quem diz, e não pela qualidade delas mesmas. Isso pode ser explicado um pouco pelo tipo de "relação" que você e os demais marxistas têm com Marx: vocês encaram suas idéias mais em termos de "foi Marx quem disse!" do que baseados na análise crítica e racional das mesmas.
Se eu am algum momento tivesse dito ou insinuado algo como "Popper disse que o marxismo está errado, LOGO o marxismo deve mesmo estar errado", seu ad hominen deixado no ar estaria corretamente colocado.
Estar aberto à refutação de suas idéias é o principal "mandamento" do racionalismo crítico. E é a falta disso entre os marxistas que os empurrou para o campo da pseudociência.
O método popperiano é bastante útil quando se lida com ciências hardcore, pois justamente pressupõe a esquematização do conhecimento em teorias. Ele torna-se imprático lidando com ciências sociais, e é isso que a maioria dos anti-Marx falham em reconhecer.
A
atitude racionalista em geral (que pressupõe a abertura de suas idéias à crítica impiedosa e à refutação) é imprescindível para QUALQUER atividade intelectual que pretenda um mínimo de conhecimento útil sobre a realidade, mesmo essa atividade não sendo científica.
Ser ciência social não exime ninguém ou nada de NÃO ser irracional.
Vou ficar só na vontade mesmo... falando sério, li A Miséria com críticas... dá pano pra manga debater sobre ele:
1 - Por um lado, realmente há a tendência dos marxistas em caírem no que a gente chama de mecanicismo - o que pode ser "traduzido" do jargão de Lênin para o de Popper como historicismo, com ressalvas. E sim, mecanicismo é considerado um erro entre marxistas.
2 - Por outro lado, como comentei aqui, encaro com desconfiança as premissas do Popper - sistemas não-determinísticos podem influir de forma determinística num sistema, coisa que a Físico-Química p.ex. aproveita disso em diversas ocasiões. Da mesma forma, a sociedade, mesmo sendo não-determinística, pode influir de modo determinístico na economia (acho que a gente já debateu sobre isso, deve ser mais um dos debates que eu larguei pela metade
)
Há um silogismo que Popper usa como uma espécie de "síntese" da argumentação desenvolvida ao longo do livro, que é:
1- As descobertas científicas/tecnológicas* e novas idéias** exercem profundo impacto nos acontecimentos da história humana
2- Não é possível prever, com um grau mínimo útil de acurácia, as descobertas cintíficas/tecnológicas e as novas idéias que surgirão
Logo, não é possível prever, com um grau mínimo útil de acurácia, o futuro curso dos acontecimentos da história humana.
*Ex: descoberta do fogo, agricultura, domesticação do cavalo, metalurgia, máquina a vapor, motor de combustão interna, automóvel, avião, fissão nuclear, etc
**Ex: judaísmo, cristianismo, islamismo, liberalismo, marxismo, nacionalismo, etc
Popper argumenta que qualquer contraposição à essa conclusão terá que atacar umas das 2 premissas (ou ambas). No livro ele detalha melhor as mesmas, além de outros acréscimos.
Lembro que você fez uma tentativa de contraposição à conclusão do silogismo, que era mais ou menos assim: "realmente não é possível prever as futuras descobertas tecnológicas/ideológicas; porém, uma vez conhecida uma descoberta tecnológica/ideológica em particular, é possível prever o impacto que ela terá no futuro curso dos acontecimentos históricos".
É isso mesmo?
Faz tempo... eu acabei largando o tópico pela metade. É algo próximo disso, lembro até que usei um exemplo bem cretino do ferro de passar roupa.
O meu argumento central era atacando a premissa 2, algo como "mesmo que as partes de um meio sejam caóticas, as implicações delas juntas para o meio podem não o ser". Além de ser possível prever com algum grau de acerto as implicações de uma descoberta tecnológica (concordo com você que o sistema é caótico!), ainda por cima pode-se analisar coisas como a taxa média de descobertas em dado período de tempo, o impacto médio de cada uma, e assim estabelecer uma previsãozinha para como o sistema estará após tempo X.
Caramba, fico imaginando alguém tentando estimar a "taxa média de descobertas" (que em si são inúteis) além da importância/impacto/utilidade média dessas dscobertas, e ainda teria que saber COMO e ONDE essa descoberta atuaria para tentar estimar seu impacto na sociedade/história!
Sem contar algo semelhante feito com as novas idéias que surgem.
Isso é algo tão implausível que me espanto bastante como você o cita na maior "naturalidade" do mundo.
Caso sim, não altera em absolutamente nada a conclusão.
Vou montar um argumento similar ao do Popper pra mostrar o que acho estranho no argumento dele...
1- Os estados eletrônicos e a velocidade dos átomos exercem profundo impacto no volume de um dado gás
2- Não é possível prever, com um grau mínimo útil de acurácia, os estados eletrônicos e a velocidade dos átomos nos momentos seguintes à medição.
C - Logo, não é possível prever, com um grau mínimo útil de acurácia, o volume de um gás.
Dizer que isso aí é uma falsa analogia ainda é elogio! Caramba...
O volume de um gás é diretamente mensurável (ao contrário dos acontecimentos históricos). Eu sei que nessa sua brincadeira não "vale" medir diretamente o volume do gás, e sim prevê-lo a partir de outros parâmetros, mas isso é importante porque você comparando algo notoriamente mensurável e plausível (volume de um gás) com algo que ainda nem se sonha medir/detectar/ver (os acontecimentos futuros) transmite a falsa-impressão para o leitor que sua tese do futuro ser algo tão plausível e "tangível" quanto o volume de um gás (é assim que a falácia da falsa-analogia atua, afinal).
Em segundo lugar, estados eletrônicos (ao que eu saiba) não têm NENHUMA influência no volume de um gás. Lembro do ensino médio que os únicos fatores a influenciar o volume de um gás são: temperatura (incluída aí a velocidade média das moléculas que você citou), pressão e quantidade (em mols) de moléculas do gás em questão. 1 mol de oxigênio gasoso e 1 mol de butano gasoso terão o mesmo volume em condições iguais de temperatura e pressão.
Considerando o quão falsa foi a analogia que você expôs, é importante mostrá-la porque você procurou induzir uma conclusão sob a silogismo de Popper simplesmente comparando-a com algo que não tem nada a ver, e não teve sucesso. Caso pretendar refutar por analogia (ou redução ao absurdo) esse silogismo de Popper, use uma analogia com um mínimo de fidelidade.
(Cuidado, posso ter caído em analogia extendida... só tô mostrando algo que achei estranho no Popper, a falta de consideração pela natureza estatística das coisas.)
É IMPOSSÍVEL prever de forma estatística o futuro curso dos acontecimentos da história humana sem conhecer
nem ao menos os parâmetros mais vitais. A mecânica estatística funciona porque ela se baseia em relativamente poucos parâmetros essenciais para fazer as previsões (Ex: o volume de um gás depende apenas da sua quantidade em mols e da temperatura e pressão às quais ele está submetido). Querer comparar uma precisão que depende apenas de 3 fatores facilmente mensuráveis com os acontecimentos da história humana é INSANO.
Até áreas que posuem relativamente poucos e bem conhecidos parâmetros, como meteorologia e economia, costuma falhar MUITO. Imagine uma tentativa de prever os acontecimentos em geral!
NOTA: A sua falsa-analogia do volume do gás foi uma das piores falsa-analogias que eu já vi nesses anos de debate em fóruns!
É só imaginar a seguinte situação: um sujeito no ano de 1880 tentando fazer profecias sobre o século XX, sem no entanto saber:
1- Do motor de combustão interna e avião que estavam prestes a ser descobertos e difundidos;
2- Do nazi-fascismo que apareceriam na década de 20;
3- Da fissão nuclear, cujos primeiríssimos passos só se dariam em 1905 pra diante;
4- De acontecimentos fortuitos e não-previsíveis (como o Crack da Bolsa de Nova York em 1929).
5- Das novas redefinições ou revisões que o marxismo tomaria na cabeça de seus seguidores (permitindo/incentivando a tentativa de implantar o socialismo em países agrários e atrasados, por exemplo)
Etc Etc
O que é um termo? Nada, pois não é a coisa em si. E ao mesmo tempo tudo, pois revela a visão que quem usa o termo tem da coisa. "Profecia"? "Previsão" soa melhor.
O termo "previsão" é usado mais para o tipo de antecipação que as ciências estão acostumadas a fazer para testar hipóteses e teorias. Geralmente são acontecimentos sob condições coltroladas ou onde os fatores envolvidos são bem conhecidos.
Já o termo "profecia" se refere a qualquer tantativa de prever o futuro em geral.
Para deixar mais claro a diferença, lá vai um exemplo: a biologia antecipando um encontro de determinados fósseis no deserto deo Saara é uma previsão. Já essa mesma biologia antecipando o futuro curso da história evolutiva é profecia.
Agora, pegue as descobertas acima, e tente analisar de uma perspectiva um pouco mais ampla:
1 - Marx falava do tempo dele, trens a vapor. Qual a diferença qualitativa prática entre em trem a vapor e um avião? Ambos tem o mesmo efeito principal: transporte mais rápido.
Quais as conseqüências de transporte mais rápido? Se se propor que os transportes no ano 2100 vão ser mais rápidos do que os de hoje (um chute razoável), mesmo sem saber qual tecnologia os fará possíveis, pode implicar diversas coisas, entre elas globalização.
Você não é tãaao...sem imaginação para ficar só nisso! Se esforce um pouquinho mais, seja mais "criativo"!
Uma dica para começar: trens não fazem transporte inter-oceânico e não servem para jogar bombas em cidades muuuuito distantes sem precisar invadir o país antes.
Francamente, você peca demais por tantar fazer analogias sem se levar em conta as diferenças vitais entre as coisas. Você tenta "resolver" os problemas com analogias e nem se preocupa com um mínimo crítico de "fidelidade" das mesmas.
2 - Fascismo não foi a primeira ideologia totalitária, nacionalista e (segundo o Political Compass) centrista. Quais foram as implicações dele? Há a possibilidade de surgirem mais ideologias do tipo? Se sim, o quanto elas interfeririam na sociedade?
Bom...ninguém que eu conheça previu se surgimento. Apenas especular post-facto as possibilidades dele ter surgido não adianta nada.
Tente fazer AGORA previsões sobre alguma idéia política, estética, filosófica ou descoberta científica de altíssimo impacto!
Nota: A "direita" como definida pela maioria dos direitistas desse fórum (como sinômino de "liberalismo") me fazem
também um direitista (embora não extremo). Mas o termo "direita" como é usado na maioria dos países e nos livros de história (mesmo os não-esquerdistas) colocam o fascismo como algo de extrema direita, os direitistas desse fórum como centristas ou centro-direita, e eu como centrista ou centro-esquerda.
3 - Quais foram as implicações da fissão e da fusão nucleares? Analise isso em termos de armamento bélico.
E por aí vai.
Ninguém previu o surgimento de uma arma tão poderosa que era feito pra não ser usada! E que possivelmente evitou confrontos diretos entre esses países pelo medo da aniquilação mútua.
Como disse, não adianta ficar post-facto insinuando que era fácil prever. Tente fazer isso AGORA.
Ou seja, o que você disse ("uma vez conhecida uma descoberta em particular...") não altera em nada a conclusão, pois você NÃO SABE que descobertas ou novas idéias surgirão daqui a 10, 20, 30 ou mais anos. Logo, você não pode fazer nenhuma "profecia" com um mínimo de segurança.
Profecia, não. Mas, com dados suficientes, analisando exemplos passados, e tentando generalizar o que é dependente de um dado tempo para tornar os dados o mais assincrônicos (sem-tempo) possíveis, posso fazer uma previsão razoável.
Se se tenta forçar demais aqui, cai-se no erro do mecanicismo, e aí a crítica de Popper torna-se pertinente, assim como a de Lênin.
Ah sim, e não deixe de ler as contraposições a Marx.
Caso você mesmo não encontre furos (o que não é muito difícil), as contraposições o ajudarão 
AS pessoas que seguem Marx o fazem mais por gostarem das idéias (apego emocional, preferências políticas, conveniência, etc) do que pelo "rigor" científico/lógico/factual de suas idéias.
Como eu me tornei marxista (tempos negros :'() mais por interesse intelectual/científico do que por vontades políticas, deixei de sê-lo com muito mais facilidade.
Amplie isso, de Marx para "qualquer corrente econômica, política ou social" que aí posso até concordar com você.
Claro.