Autor Tópico: O salário mínimo diminui a pobreza?  (Lida 2603 vezes)

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Offline Südenbauer

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O salário mínimo diminui a pobreza?
« Online: 23 de Dezembro de 2009, 10:28:26 »
O salário mínimo diminui a pobreza?

Por James Sherk

Quando o governo modifica uma lei, as pessoas respondem a essas mudanças. Por isso, os verdadeiros efeitos de uma lei com freqüência diferem radicalmente das intenções de seus autores. Por exemplo, o governo quis criar a Previdência Social para ajudar os pobres em períodos de necessidade, mas em vez disso criou um ciclo de dependência que mantém na pobreza os americanos de baixa renda.

Da mesma forma, o aumento do salário mínimo resulta em conseqüências não desejadas, que vão contra os objetivos dos legisladores de ajudar os trabalhadores pobres. Assim como qualquer outra coisa, quando o preço da mão-de-obra aumenta as empresas contratam menos mão-de-obra. O papel do salário mínimo no aumento do desemprego é bem conhecido e bem documentado. Mas, pior ainda, uma pesquisa recente demonstrou que os salários mínimos mais altos reduzem o nível de educação dos adolescentes e diminuem os ganhos dos trabalhadores no longo prazo. Estudos também mostram que o salário mínimo não diminui a pobreza. Como sempre, os membros do Congresso deveriam olhar para além de suas boas intenções e considerar todos os efeitos das políticas propostas. Se isso fosse feito, eles rejeitariam o aumento do salário mínimo.

Os Salários Mínimos Diminuem o Número de Matrículas Escolares

Ao contrário da retórica daqueles que são a favor do aumento do salário mínimo, o maior número de pessoas atingidas pelo salário mínimo, na realidade, consiste em trabalhadores jovens. Indivíduos que têm entre 16 e 24 anos compõem 53% do total de trabalhadores que receberam salário mínimo em 2005. Quando o salário mínimo aumenta, aumenta a renda dos adolescentes que têm empregos que pagam o salário mínimo, tornando a entrada no mercado de trabalho atraente. Espera-se que isso, por sua vez, faça com que os estudantes passem menos tempo na escola e mais tempo trabalhando. Ao mesmo tempo em que o número de empregos de salário mínimo pode diminuir se os empregadores preferirem admitir adolescentes em vez de adultos menos qualificados, o número de adolescentes matriculados nas escolas cairá.

Este exato efeito foi confirmado por uma pesquisa recente. David Neumark, professor de economia da Michigan State University, e William Wascher, pesquisador do Federal Reserve (Banco Central norte-americano), concluíram que os aumentos do salário mínimo diminuíram a proporção de adolescentes matriculados nas escolas. Nos estados que permitem que os estudantes deixem a escola antes dos 18 anos, um aumento de 10% no salário mínimo resultou numa queda de 2% no número de alunos matriculados. Nos estados em que é obrigatório que os estudantes permaneçam na escola até atingirem 18 anos, o aumento do salário mínimo não teve nenhum efeito. Resumindo: quando os estudantes têm a opção, o salário mínimo mais alto motiva alguns a deixarem a escola e começarem a trabalhar.

Um outro documento recente confirma essa conclusão. Duncan Chaplin, do Urban Institute, Mark Turner, da Johns Hopkings University, e Adreas Pape, da Michigan State University, examinaram os níveis de continuidade dos adolescentes - a proporção de um estudante de qualquer série que ou se gradua ou se segue para a série seguinte. Eles concluíram que salários mínimos mais elevados reduziam os níveis de continuidade a abandonarem a escola. Mais uma vez, esses resultados em que os adolescentes podiam abandonar a escola antes de completarem 18 anos.

Os trabalhadores necessitam de qualificações e educação para progredirem na economia, e os trabalhadores sem um diploma de segundo grau enfrentam dificuldades na perspectiva de empregos. Aumentar o salário mínimo realmente motiva os adolescentes a fazerem escolhas que podem levá-los à pobreza no futuro.

Efeitos de longo prazo do salário mínimo

O fato de que o salário mínimo diminui o nível de instrução sugere que se examine seus efeitos de longo prazo. Num estudo recente, Neumark e Olena Nizalova, da Michigan State University, examinaram a renda de adultos que eram adolescentes quando ocorreram os aumentos do salário mínimo em seus estados. Eles concluíram que os aumentos de salário mínimo diminuíram a probabilidade de manter o emprego e o rendimento dos trabalhadores durante a década seguinte a esse aumento. Eles também concluíram que esse efeito negativo é maior para os negros do que para os brancos, talvez porque mais negros detêm empregos que pagam salário próximo ao salário mínimo.

O aumento do salário mínimo tem esses efeitos negativos de longo prazo porque altera as escolhas que as pessoas fazem hoje, de tal forma que elas têm conseqüências no longo prazo. O aumento induz alguns estudantes o abandonarem a escola, diminuindo sua possibilidade de emprego no longo prazo. Ao aumentar o desemprego e eliminar o primeiro emprego, os aumentos do salário mínimo também eliminam as oportunidades para trabalhadores que ganhariam experiência e qualificação valiosas, as quais os preparariam para empregos futuros. Essas conseqüências não desejadas prejudicam muito o rendimento dos trabalhadores de baixa renda.

Os aumentos do salário mínimo não diminuem a pobreza

Por todos os efeitos negativos não previstos do salário mínimo, talvez não seja surpresa que o salário mínimo não diminui a pobreza. Newmark e Wascher concluíram que os aumentos do salário mínimo aumentam a probabilidade de que famílias pobres saiam da pobreza, mas também aumentam a probabilidade de que famílias pobres saiam da pobreza, mas também aumentam a probabilidade de que famílias que anteriormente não eram pobres caiam abaixo da linha de pobreza. No geral, as taxas de pobreza não se modificaram. Neumark e Wascher concluem que aumentar o salário mínimo não diminui a pobreza.

“No balanço geral, não encontramos qualquer evidência em apoio ao ponto de vista de que o salário mínimo ajuda na luta contra a pobreza. Aso contrário, como não apenas os ganhos de salário, mas também os efeitos de desemprego dos aumentos do salário mínimo estão concentrados nas famílias de baixa renda, os vários tradeoffs criados pelos aumentos do salário mínimo mais parecem uma redistribuição de rendimentos entre famílias de baixa renda do que uma redistribuição de famílias de alta para as de baixa renda”.

Assim, o salário mínimo não melhora a vida dos trabalhadores de baixa renda no curto prazo e piora consideravelmente no longo prazo.

Conclusão

Devido a efeitos não desejados, uma lei pode causar o contrário do que seus defensores pretendiam. Assim é a lei do salário mínimo. Pretende-se diminuir a pobreza, mas isso não acontece. Ao contrário, a lei estimula a saída dos adolescentes da escola e diminui as perspectivas de empregos e ganhos futuros para trabalhadores de baixa renda. Não basta ter boas intenções. O Congresso não deveria aprovar o aumento do salário mínimo que prejudicará os trabalhadores mais vulneráveis.

Adaptado do texto publicado na revista Banco de Idéias do Instituto Liberal.

Fonte: http://www.ordemlivre.org/textos/166

Offline FxF

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Re: O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #1 Online: 23 de Dezembro de 2009, 23:37:12 »
Acho que então seria algo assim:

- Sujeito A, cobra 200 reais ao mês e faz uma pintura meia-boca na parede.
- Sujeito B, cobra 500 reais ao mês e faz uma pintura muito cuidadosa na parede.

O salário mínimo não melhora a condição do sujeito A, porque o sujeito B passará a ser empregado no lugar dele.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #2 Online: 24 de Dezembro de 2009, 11:44:04 »
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Pro-sweatshop arguments

In 1997, economist Jeffrey Sachs said, "My concern is not that there are too many sweatshops, but that there are too few."[30] Sachs and other proponents of sweatshops cite the economic theory of comparative advantage, which states that international trade will, in the long run, make some parties better off. The theory holds that developing countries improve their condition by doing something that they do "better" than industrialized nations (in this case, they charge less but do the same work). Developed countries will also be better off because their workers can shift to jobs that they do better. These are jobs that some economists say usually entail a level of education and training that is exceptionally difficult to obtain in the developing world. Thus, economists like Sachs say, developing countries get factories and jobs that they would not otherwise. Some would say with this situation occurs when developing countries try to increase wages because sweatshops tend to just get moved on to a new state that is more welcoming. This leads to a situation where states often will not try to get increased wages for sweatshop workers for fear of losing investment and boosted GDP. However, this only means average wages around the world will increase at a steady rate. A nation only gets left behind if it demands wages higher than the current market price for that labor.

When asked about the working condition in sweatshops, proponents say that although wages and working conditions may appear inferior by the standards of developed nations, they are actually improvements over what the people in developing countries had before. It is said that if jobs in such factories did not improve their workers' standard of living, those workers would not have taken the jobs when they appeared. It is also often pointed out that, unlike in the industrialized world, the sweatshops are not replacing high-paying jobs. Rather, sweatshops offer an improvement over subsistence farming and other back-breaking tasks, or even prostitution, trash picking, or starvation by unemployment.[30][31]

The absence of the work opportunities provided by sweatshops can quickly lead to malnourishment or starvation. After the Child Labor Deterrence Act was introduced in the US, an estimated 50,000 children were dismissed from their garment industry jobs in Asia, leaving many to resort to jobs such as "stone-crushing, street hustling, and prostitution." UNICEF's 1997 State of the World's Children study found these alternative jobs "more hazardous and exploitative than garment production."[4]

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While East Asia has embraced large numbers of sweatshops, sub-Saharan Africa has not. This graph shows that the percentage of the population living on less than $1 per day (adjusted for inflation) has fallen substantially in East Asia, while remaining relatively unchanged in sub-Saharan Africa. The graph shows the 1981-2001 period. Data source: "How Have the World's Poorest Fared Since the Early 1980s?" by Shaohua Chen and Martin Ravallion. [1] Table 3, p. 28.

Writer Johan Norberg, a proponent of market economics, points out an irony:[32]“   (sweatshop critics) say that we shouldn't buy from countries like Vietnam because of its labor standards, they've got it all wrong. They're saying: "Look, you are too poor to trade with us. And that means that we won't trade with you. We won't buy your goods until you're as rich as we are." That's totally backwards. These countries won't get rich without being able to export goods.   ”

In their Wal-Mart episode, Penn & Teller interview Benjamin Powell, a Professor of Economics from San Jose State University. Professor Powell argues that sweatshop-type jobs in a developing country are often a significant improvement over other employment options (for example, subsistence farming). He further notes that the United States went through its own period of sweatshop labor during its development.[33]

In an article about a Nike sweatshop in Vietnam, Johan Norberg wrote, "But when I talk to a young Vietnamese woman, Tsi-Chi, at the factory, it is not the wages she is most happy about. Sure, she makes five times more than she did, she earns more than her husband, and she can now afford to build an extension to her house. But the most important thing, she says, is that she doesn't have to work outdoors on a farm any more... Farming means 10 to 14 hours a day in the burning sun or the intensive rain... The most persistent demand Nike hears from the workers is for an expansion of the factories so that their relatives can be offered a job as well."[34]

According to a November 2001 BBC article, in the previous two months, 100,000 sweatshop workers in Bangladesh had lost their sweatshop jobs. The sweatshop workers wanted their jobs back, and the Bangladeshi government was planning to lobby the U.S. government to repeal its trade barriers so the sweatshop workers could have their jobs back.[35]

A 2005 article in the Christian Science Monitor states, "For example, in Honduras, the site of the infamous Kathy Lee Gifford sweatshop scandal, the average apparel worker earns $13.10 per day, yet 44 percent of the country's population lives on less than $2 per day... In Cambodia, Haiti, Nicaragua, and Honduras, the average wage paid by a firm accused of being a sweatshop is more than double the average income in that country's economy."[36]

On three documented occasions during the 1990s, anti-sweatshop activists in rich countries have apparently caused increases in childhood prostitution in poor countries. In Bangladesh, there was a closure of several sweatshops which had been run by a German company, and as a result, thousands of Bangladeshi children who had been working in those sweatshops ended up working as prostitutes, turning to crime, or starving to death. In Pakistan, several sweatshops, including ones run by Nike, Reebok, and other corporations, were closed, which caused those Pakistani children to turn to prostitution. In Nepal, a carpet manufacturing company closed several sweatshops, resulting in thousands of Nepalese girls turning to prostitution. [37]

An October 19, 2008 Associated Press article reported on Chinese citizens complaining about how the current U.S. economic crises had caused them to lose their sweatshop jobs. The article quoted Wang Wenming, who had lost his job at a Dongguan sweatshop, as saying, "This financial crisis in America is going to kill us. It's already taking food out of our mouths." [38]

Defenders of sweatshops cite Hong Kong, Singapore, South Korea, and Taiwan as recent examples of countries that benefited from having sweatshops.[39][40]



http://en.wikipedia.org/wiki/Sweatshop#Pro-sweatshop_arguments


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Anti-sweatshop movement

[...] Furthermore, they argue that there tends to be a "race to the bottom", as multinationals leap from one low-wage country to another searching for lower production costs, in the same way that sweaters would have steered production to the lowest cost sub-contractor. [...]

 [...] Critics of sweatshops cite high savings, increased capital investment in these countries, diversification of their exports and their status as trade ports as the reason for their economic success rather than sweatshops[10][11][12] and cite the numerous cases in the East Asian "Tiger Economies" where sweatshops have reduced living standards and wages.[13] They believe that better-paying jobs, increased capital investment and domestic ownership of resources will improve the economies of sub-Saharan Africa rather than sweatshops. They point to good labor standards developing strong manufacturing export sectors in wealthier sub-Saharan countries such as Mauritius[14] and believe measures like these will improve economic conditions in developing nations.[15]

Critics of sweatshops argue that the minor gains made by employee of some of these institutions are outweighed by the negative costs such as lowered wages to increase profit margins and that the institutions pay less than the daily expenses of their workers.[16][17][18] They also point to the fact that sometimes local jobs offered higher wages before trade liberalization provided tax incentives to allow sweatshops to replace former local unionized jobs.[19] They further contend that sweatshop jobs are not necessarily inevitable.[20][21] Eric Toussaint claims that quality of life in developing countries was actually higher between 1945-1980 before the international debt crisis of 1982 harmed economies in developing countries causing the to turn to IMF and World Bank-organized "structural adjustments"[22] and that unionized jobs pay more than sweatshop ones overall - "several studies of workers producing for US firms in Mexico are instructive: workers at the Aluminum Company of America’s Ciudad Acuna plant earn between $21.44 and $24.60 per week, but a weekly basket of basic food items costs $26.87. Mexican GM workers earn enough to buy a pound of apples in 30 minutes of work, while GM workers in the US earn as much in 5 minutes."[23]

People critical of sweatshops believe that "free trade agreements" do not truly promote free trade at all but instead seek to protect multinational corporations from competition by local industries (which are sometimes unionized).[24] They believe free trade only involves reducing tariffs and barriers to entry and that multinational businesses should operate within the laws in the countries they want to do business in rather than seeking immunity from obeying local environmental and labor laws. They believe these conditions are what give rise to sweatshops rather than natural industrialization or economic progression.

Critics also point to the fact that sweatshops often do not pay taxes and thus don't pay for the public services they use for production and distribution and don't contribute to the country's tax revenue.[25] In some countries, such as China, it is not uncommon for these institutions to withhold workers' pay.[26]“   "According to labor organizations in Hong Kong, up to $365 million is withheld by managers who restrict pay in exchange for some service, or don't pay at all."[27]   ”

Furthermore, critics of sweatshops point to the fact that those in the West who defend sweatshops show double standards by complaining about sweatshop labor conditions in countries considered enemies or hostile by Western governments, such as China, while still gladly consuming their exports but complaining about the quality.[28] They contend that multinational jobs should be expected to operate according to international labor and environmental laws and minimum wage standards like businesses in the West do.[29]


http://en.wikipedia.org/wiki/Sweatshop#Anti-sweatshop_movement

Offline DDV

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Re: O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #3 Online: 24 de Dezembro de 2009, 14:12:07 »
Eu sou a favor do salário mínimo porque a oferta de pessoas (mão-de-obra não qualificada e até mesmo algumas qualificadas) não pode ser reduzida ou mesmo cessada frente a preços excessivamente baixos, ao contrário dos demais produtos e serviços.

É devido a essa pequena desvantagem da mercadoria "gente" frente às demais mercadorias que eu defendo um salário mínimo.

O primeiro texto parte do pressuposto de que a maioria das pessoas que recebem salário mínimo teriam a livre opção de não trabalhar e irem pra escola caso não houvesse salário mínimo. Isso é irreal e dispensa explicações.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline DDV

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Re: O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #4 Online: 24 de Dezembro de 2009, 14:18:47 »
É notório que no Brasil e demais países subdesenvolvidos a oferta de pessoas ainda é bastante superior à de empregos.

Isso poderia ser resolvido de 2 formas: reduzindo a oferta de pessoas, ou aumentando a oferta de empregos.

Reduzir a oferta de pessoas não é algo factível, pelo menos no médio prazo.

Alguns países desenvolvidos conseguiram aumentar tanto a oferta de empregos que chegam a prescindir de um salário mínimo. Mas a maioria deles (e todos os subdesenvolvidos) ainda precisam do salário mínimo e de outras formas de assistência social para manter esse problema sob controle.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #5 Online: 12 de Agosto de 2016, 23:03:45 »
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The Impact of Minimum Wage Rates on Body Weight in the United States
David O. Meltzer, Zhuo Chen

NBER Working Paper No. 15485
Issued in November 2009
NBER Program(s):   HC   HE

Growing consumption of increasingly less expensive food, and especially "fast food", has been cited as a potential cause of increasing rate of obesity in the United States over the past several decades. Because the real minimum wage in the United States has declined by as much as half over 1968-2007 and because minimum wage labor is a major contributor to the cost of food away from home we hypothesized that changes in the minimum wage would be associated with changes in bodyweight over this period. To examine this, we use data from the Behavioral Risk Factor Surveillance System from 1984-2006 to test whether variation in the real minimum wage was associated with changes in body mass index (BMI). We also examine whether this association varied by gender, education and income, and used quantile regression to test whether the association varied over the BMI distribution. We also estimate the fraction of the increase in BMI since 1970 attributable to minimum wage declines. We find that a $1 decrease in the real minimum wage was associated with a 0.06 increase in BMI. This relationship was significant across gender and income groups and largest among the highest percentiles of the BMI distribution. Real minimum wage decreases can explain 10% of the change in BMI since 1970. We conclude that the declining real minimum wage rates has contributed to the increasing rate of overweight and obesity in the United States. Studies to clarify the mechanism by which minimum wages may affect obesity might help determine appropriate policy responses.


Não vi que explicação deram, mas imagino uma baseada na correlação existente* entre índices de obesidade maiores de acordo com a ocorrência regional de lanchonetes fast-food: SMs mais baixos empregaram mais pessoas em lanchonetes.

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2661452/
https://ijbnpa.biomedcentral.com/articles/10.1186/1479-5868-3-2
http://aje.oxfordjournals.org/content/early/2011/09/30/aje.kwr244.full






Eu sou a favor do salário mínimo porque a oferta de pessoas (mão-de-obra não qualificada e até mesmo algumas qualificadas) não pode ser reduzida ou mesmo cessada frente a preços excessivamente baixos, ao contrário dos demais produtos e serviços.

É devido a essa pequena desvantagem da mercadoria "gente" frente às demais mercadorias que eu defendo um salário mínimo.


Mas o que resulta disso não é menor compra da mercadoria "gente"? Acho que o argumento faria mais sentido se estivesse defendendo um "teto" como salário mínimo, não um "piso". Pois só haveria maior compra dessa mão de obra excedente se ela fosse mais barata, não mais cara. Isso ou se decretar diretamente que as empresas sejam obrigadas a empregar.

Além de renda mínima para os mais pobres, desoneração do emprego tende a ser mais benéfico àqueles que seriam supostamente mais beneficiados por aumentos do SM:

Citar
http://reason.com/archives/1996/07/01/minimum-standards

[...] Labor Secretary Robert Reich, Sen. Edward Kennedy (D-Mass.), Rep. David Bonior (D-Mich.), and their cohorts see the source of the cruelty differently. To them, a cruel society is one that allows any of its members to make just $4.25 an hour. But the solution, it seems to me, is not to raise the minimum wage. Instead, we should allow low earners the chance to keep more of what they earn. Let's eliminate the minimum wage entirely and also eliminate the payroll tax on anyone who makes less than, say, $6.00 an hour.

The tax totals 15.3 percent, and it's paid on the first dollar of wages. Talk about cruel! The government forces a young worker, just starting out and making $10,000 a year, to transfer $1,500 to a retiree who may be perfectly well off. Even worse, the retiree may have contributed only a pittance to Social Security over his lifetime while, at the rate we're going, the young worker will probably never receive any benefits at all.

Of the 15.3 percent, employee and employer each pay half. So a worker who now makes the minimum wage actually takes home just $3.92 while he costs the business that employs him $4.58. If we eliminate the payroll tax on low earners, wages should rise to $4.58--since that is already the cost to the business. Therefore, the minimum-wage worker would get a raise, in his pocket, from $3.92 to $4.58; that's 17 percent. By contrast, the Clinton minimum wage would give the worker an in-pocket increase of 21 percent--not much higher than my end-the-payroll-tax plan, which has the advantage of actually keeping minimum-wage workers employed.

The Clinton plan would jack up costs to employers from $4.58 an hour to $5.54. My plan would not raise them at all. Which one will lead to more employment? Or less unemployment? The answer is obvious.

Yes, the government would not collect as much revenue. My strong preference is to meet the shortfall with spending cuts. But even raising taxes is much fairer than a minimum-wage increase. The burden would be shared by all Americans, rather than borne only by the low-skilled and their employers. Everyone would get to practice "compassion"--instead of just those who lose their jobs or are commanded by the government to pay higher wages than their employees are worth.




Outro aspecto exposto no mesmo texto é que o SM beneficia na verdade mais aos trabalhadores já algo mais qualificados, uma forma de proteção de mercado:

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Of course, if you're cynical--and, believe it or not, many politicians are--it's possible to acknowledge (tacitly) the unemployment effects of the minimum wage but still support an increase in it. One reason is that backing a higher wage makes you look "compassionate." Another is that a higher minimum wage helps unions, which typically represent skilled workers. When the minimum wage is low enough, businesses can resist pressure for higher pay from unions and hire more low-skilled workers and train them on the job. So, "passage of a minimum wage law reduces the competition faced by union members," writes Linda Gorman in the Fortune Encyclopedia of Economics.

Offline DDV

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #6 Online: 13 de Agosto de 2016, 01:18:10 »
Eu sou a favor do salário mínimo porque a oferta de pessoas (mão-de-obra não qualificada e até mesmo algumas qualificadas) não pode ser reduzida ou mesmo cessada frente a preços excessivamente baixos, ao contrário dos demais produtos e serviços.

É devido a essa pequena desvantagem da mercadoria "gente" frente às demais mercadorias que eu defendo um salário mínimo.


Mas o que resulta disso não é menor compra da mercadoria "gente"?

Não necessariamente.

Não existe um aumento indefinido da quantidade de pessoas empregadas em função inversa ao valor do salário.

As empresas costumam precisar de X pessoas para determinada tarefa. Se o salário cair pela metade, elas não contratarão 2x pessoas (exceto se houver um aumento igual na demanda do produto/serviço dessa empresa), é mais provável que mantenham as X pessoas fazendo o mesmo serviço e essa queda no salário seja anexada aos lucros.

O inverso também ocorre: se a empresa precisa de um mínimo de X pessoas para produzir determinada quantidade de produto/serviço, ela não irá demitir ninguém se o salário aumentar enquanto este aumento não zerar seu lucro.

Estou pressupondo que a demanda efetiva pelo produto/serviço da empresa se mantenha inalterada. Se a demanda aumentar e ela não conseguir fazer os atuais X funcionários produzirem mais, ela irá contratar mais gente mesmo que o salário seja maior (enquanto não zerar sua margem de lucro, será vantajoso). Se a demanda cair, ela irá demitir funcionários e manter a mínima quantidade necessária para produzir o que está sendo demandado, mesmo que o salário seja menor.


A mercadoria "gente" demanda emprego de forma quase inelástica. Se a oferta de empregos for muito baixa e a oferta de gente for alta, é possível empregar pessoas em troca apenas da comida para mantê-las vivas para continuarem trabalhando.



 
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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #7 Online: 13 de Agosto de 2016, 01:28:58 »
O único argumento em prol da ausência de SM seria o aumento no capital de giro das empresas, possibilitando investirem mais e gerarem mais empregos, mas isso é algo que depende mais do 'aquecimento' da economia do que do SM. Quando a economia está aquecida e a demanda efetiva nas alturas, é fácil pra qualquer empresa captar empréstimos ou investimentos na Bolsa.

Além disso, o salário real não necessariamente segue o SM. As empresas podem repassar os custos de salários 'altos demais' (ou seja, acima da produtividade do funcionário) para os preços, de modo que o salário real não se altere muito ao final.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #8 Online: 13 de Agosto de 2016, 18:24:09 »
Eu sou a favor do salário mínimo porque a oferta de pessoas (mão-de-obra não qualificada e até mesmo algumas qualificadas) não pode ser reduzida ou mesmo cessada frente a preços excessivamente baixos, ao contrário dos demais produtos e serviços.

É devido a essa pequena desvantagem da mercadoria "gente" frente às demais mercadorias que eu defendo um salário mínimo.


Mas o que resulta disso não é menor compra da mercadoria "gente"?

Não necessariamente.

Não existe um aumento indefinido da quantidade de pessoas empregadas em função inversa ao valor do salário.

As empresas costumam precisar de X pessoas para determinada tarefa. Se o salário cair pela metade, elas não contratarão 2x pessoas (exceto se houver um aumento igual na demanda do produto/serviço dessa empresa), é mais provável que mantenham as X pessoas fazendo o mesmo serviço e essa queda no salário seja anexada aos lucros.

Eu não imagino que houvesse, mas parece inevitável que a tendência seja sempre de algum aumento ou menor redução de emprego, a menos que o SM calhe de estar mesmo muito próximo do que seria o valor real da mão-de-obra mais barata. O cenário parece assumir também que o desemprego tenha atingido um número "verdaeiro", "natural", e que as empresas julgam que aumentar a produção não será desejável, por terem atingido seu crescimento máximo e satisfeito plenamente a demanda, estando em coexistência harmônica com "concorrentes".



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O inverso também ocorre: se a empresa precisa de um mínimo de X pessoas para produzir determinada quantidade de produto/serviço, ela não irá demitir ninguém se o salário aumentar enquanto este aumento não zerar seu lucro.

Isso parece ser um caso bastante limítrofe, não entendo o quanto sua generalização para outros cenários diria algo favorável a SM. Ou mesmo nessa situação limítrofe. Se a empresa está a beira da existência/falência, parece que os empregos de quem quer que contrate -- e em especial da mão de obra mais barata, substituível -- estarão mais seguros se os custos de emprego podem ser reduzidos, mesmo que na forma de redução de salários*.

Saindo da situação limítrofe tem-se apenas a possibilidade de manter mais pessoas contratadas, reduzindo menos a produção, ou contratar mais, se esse custo é menor.


* o autor do artigo que eu citei no entanto sugere como alternativa a elevar o SM, maior desonaração para mão de obra de baixa qualificação. Isso também deve aumentar a segurança dos empregos, mas não é algo que seria da alçada do empregador.



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Estou pressupondo que a demanda efetiva pelo produto/serviço da empresa se mantenha inalterada. Se a demanda aumentar e ela não conseguir fazer os atuais X funcionários produzirem mais, ela irá contratar mais gente mesmo que o salário seja maior (enquanto não zerar sua margem de lucro, será vantajoso).

Levando isso para o cenário de um trabalhador individual, não é o mesmo que dizer que ele teria vantagem em reduzir seu salário, conforme mais trabalho pudesse fazer? Em vez de ser proibido de fazer trabalhos mais baratos, e então não ganhar nada, ou não acrescentar esse ganho.



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Se a demanda cair, ela irá demitir funcionários e manter a mínima quantidade necessária para produzir o que está sendo demandado, mesmo que o salário seja menor.


A mercadoria "gente" demanda emprego de forma quase inelástica. Se a oferta de empregos for muito baixa e a oferta de gente for alta, é possível empregar pessoas em troca apenas da comida para mantê-las vivas para continuarem trabalhando.

Esse excedente de mão de obra não desaparece com o SM, e a situação deles continua igual ou pior.

Ela só melhora com coisas como renda mínima e redução de custos para emprego da mão de obra mais abundante.



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O único argumento em prol da ausência de SM seria o aumento no capital de giro das empresas, possibilitando investirem mais e gerarem mais empregos, mas isso é algo que depende mais do 'aquecimento' da economia do que do SM. Quando a economia está aquecida e a demanda efetiva nas alturas, é fácil pra qualquer empresa captar empréstimos ou investimentos na Bolsa.

Além disso, o salário real não necessariamente segue o SM. As empresas podem repassar os custos de salários 'altos demais' (ou seja, acima da produtividade do funcionário) para os preços, de modo que o salário real não se altere muito ao final.

Acho que todas as defesas do SM, ao menos as dignas de consideração, tem sempre de forma mais ou menos "velada" a aceitação de todas as críticas, mesmo quando aparentemente as negam.

Mecanismos como esse repasse de aumento salarial para preços talvez possa ter efeitos "negligenciáveis", pouco sentidos, conforme o SM decretado se aproxima do que seria o valor real médio desse trabalho, mas acho que não seria possível se ir full-blown-PCO e dizer que então seria benéfico um SM de 10 mil por 4h/dia de carga horária.

Mas ao mesmo tempo, por mais que possa haver esses efeitos negativos mais próximos de negligenciáveis quando a presepada não é catastrófica, ainda não consigo enxergar quais seriam os benefícios, já que, com desemprego, que continua a existir e tende apenas* a ser maior com SM, a situação de "trabalho por comida" não simplemente desaparece, mas aumenta junto com ele, se não houver em paralelo algo como renda mínima. Que em tese, resolveria completamente essa situação, havendo tal verba, ao mesmo tempo em que poderia permitir que as empresas mais ruins das pernas empregassem as pessoas menos qualficadas, em relações mutuamente benéficas, e benéficas para a economia ao todo.


* em alguns textos, esbarro com afirmações de que o SM poderia aumentar o emprego; não sei se isso é apenas correlação incidental de empregos aumentando com SM, ou se haveria algum estabelecimento causal mesmo. Fico bem curioso com qual poderia ser, imagino que sejam em situações bem excepcionais.

Offline JJ

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #9 Online: 14 de Agosto de 2016, 08:05:37 »

* em alguns textos, esbarro com afirmações de que o SM poderia aumentar o emprego; não sei se isso é apenas correlação incidental de empregos aumentando com SM, ou se haveria algum estabelecimento causal mesmo. Fico bem curioso com qual poderia ser, imagino que sejam em situações bem excepcionais.



Peço que  informe os links para esses textos que você encontrou.





Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #10 Online: 14 de Agosto de 2016, 18:17:26 »
Bem, acho que se procurar por textos de defensores mais vocais do SM "sempre" vai encontrar algo próximo disso, nem que seja apenas a "teoria" de que quem recebe SM vai ganhar mais, então poder gastar mais, então aumentar a demanda, que aumentaria contratação (esquecendo que esse dinheiro extra deixa de potencialmente ir para um número maior de pessoas, que teriam maior propensão a consumo, e que os preços também vão se elevar, anulando em algum grau o próprio aumento). Além de mera correlação, "veja, aumentaram os empregos junto com o aumento do salário mínimo, logo a teoria da economia laboral é falsa", que é algo como "veja, o inverno foi frio, logo a teoria do aquecimento global é falsa".

Lembro especificamente de só um algo mais intermediário, pendendo ao "contra":

Citar
http://economistsview.typepad.com/economistsview/2013/02/the-minimum-wage-and-employment-when-employers-have-market-power.html

[...]   
 In contrast to that highly simplified theoretical model, there is a huge literature that has evolved in labor economics over the last 25 years, arguing that individuals have to spend time looking for job opportunities and employers have to spend time finding employees. In this alternative paradigm a range of wage offers co-exist in the market at any one time. That broader theory is, I think, pretty widely accepted in most branches of economics. The same idea is used to think about product markets where two firms that sell very similar products may not charge exactly the same price. The theory explains a lot of things that don't seem to make sense, at least to me, in a simple demand and supply model.

   For example, what does it mean for a firm to have a vacancy? If a firm can readily go to the market and buy a worker, there's no such thing as a vacancy, or at least not a persistent vacancy. During the early 1990s, when Alan and I were working on minimum wages, it was our perception that many low-wage employers had had vacancies for months on end. Actually many fast-food restaurants had policies that said, "Bring in a friend, get him to work for us for a week or two and we'll pay you a $100 bonus." These policies raised the question to us: Why not just increase the wage?

    From the perspective of a search paradigm, these policies make sense, but they also mean that each employer has a tiny bit of monopoly power over his or her workforce. As a result, if you raise the minimum wage a little—not a huge amount, but a little—you won't necessarily cause a big employment reduction. In some cases you could get an employment increase.

    I believe that that model of the labor market is correct. There are frictions in the market and some imperfect information. It doesn't mean that if we raised the minimum wage to $20 an hour we wouldn't have massive problems, if we enforced it. Realistically, of course, the U.S. is never going to enforce a draconian minimum wage, nor is one ever going to be passed. However, our results don't mean that minimum wages in other economies couldn't have some effect.

    I think economists who objected to our work were upset by the thought that we were giving free rein to people who wanted to set wages everywhere at any possible level. And that wasn't at all the spirit of what we actually said. In fact, nowhere in the book or in other writing did I ever propose raising the minimum wage. I try to stay out of political arguments. [...]

[...]



Possibilidade de efeitos heterogêneos dependendo do tipo de empregador (acho):
 
Citação de: WP/MW
[...]A 2011 paper has reconciled the difference between Card and Krueger's survey data and Neumark and Wascher's payroll-based data. The paper shows that both datasets evidence conditional employment effects that are positive for small restaurants, but are negative for large fast-food restaurants.[74][...]

Imagino que talvez em áreas com desemprego já baixo um aumento no SM deva fazer gente que não procurava emprego passar a procurar, mas não tenho a menor idéia se isso realmente se encaixa nesses achados.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #11 Online: 23 de Agosto de 2016, 20:59:16 »
Antes de responder a esse tal de Rodrigo Constantino, quero deixar minha opinião sobre um assunto que esclarecerá alguns pontos debatidos a seguir.Salário mínimo não fica “acima do nível de mercado”.Aliás, é razoável dizer que nenhum salário pago fica “acima do nível de mercado”.Quando falamos em “salário”, o que importa é o nível de salário real.Salário real é o quociente do nível de salário nominal (W) pelo nível geral de preços (P).No médio e longo prazo macroeconômico, o salário real depende APENAS das decisões de formação de preço dos capitalistas.OS TRABALHADORES E AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS NÃO TEM COMO AFETAR O SALÁRIO REAL!Eles podem, no máximo tentar fazê-lo através do salário nominal;mas como as empresas são livres para fixarem o preço que julguem adequado (limitadas, é claro, pela maior ou menor concorrência das demais empresas do mesmo setor), elas de fato controlam o salário real!Este é INDEPENDENTE da taxa de desemprego como veremos a seguir quando estiver respondendo diretamente a esse tal de Constantino.

Outra coisa, porque o aumento do salário mínimo pode aumentar o desemprego?Digamos que exista um país onde não exista legislação do salário mínimo.De fato, isso traria a tona à existência de um salário mínimo implícito praticado pelas empresas.Suponha agora que se baixe um decreto instituindo um salário mínimo que esteja acima do salário nominal de equilíbrio.Se mudanças institucionais aumentam o poder de barganha dos trabalhadores, os sindicatos sentem-se em condições de tentar obter salários mais elevados.Mas os salários nominais mais elevados elevarão os custos de produção, de modo que as empresas, visando restabelecer suas margens de lucro ao nível adequado, repassarão este aumento salarial aos preços.O processo espiral “salários-preços” poderia se repetir, mas os empregadores têm a disposição uma solução adequada para este problema de indexação.Eles diminuem o número de contratações, aumentando a taxa estrutural de desemprego.Isso faz com que o poder de barganha dos trabalhadores seja corroído num nível suficiente para forçá-los aceitar o novo salário real de equilíbrio.Nem é preciso ser economista para saber que trabalhadores aceitam um salário menor, quanto maior for a taxa de desemprego. Ou seja, salário mínimo que fica “acima do nível de mercado” no exemplo é o SALÁRIO NOMINAL, não o salário real.As equações dos economistas neoclássicos (novo-keynesianos, monetaristas e neoricardianos) dizem que o salário nominal é uma função direta do parâmetro que capta a influência dos fatores institucionais que afetam positivamente os trabalhadores nas negociações salariais (seguro-desemprego, salário-mínimo, bolsa-família).Se eles não existissem, os trabalhadores estariam dispostos a aceitar salários nominais ainda mais baixos para não ficar desempregados.


O Milagre do Emprego
Rodrigo Constantino

"O poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar." (Hayek)

Qualquer liberal entende que, por mais bem intencionada que seja, uma lei que tenta estabelecer um patamar artificial de retorno está fadada ao insucesso. É justamente este o caso do salário mínimo. Parece natural que as pessoas de bem observem os baixos salários de certas funções e fiquem revoltadas, defendendo que o governo passe a intervir para desfazer tal injustiça. Infelizmente, o inferno está cheio de boas intenções, e este é apenas mais um caso onde a boa intenção não consegue alterar a lógica econômica. O tiro sai pela culatra.

(…)Os empresários assumem um risco pela incerteza do futuro, e antecipam parte dos ganhos aos trabalhadores, através de salários fixados independente do lucro do negócio. Em outras palavras, os empresários estão reduzindo as incertezas dos trabalhadores, definindo a priori seus ganhos, enquanto o resultado dos acionistas é totalmente incerto, podendo variar de um prejuízo que leva à bancarrota até um lucro extraordinário.
 (…)
Com isso em mente, fica mais fácil entender porque o salário mínimo não ajuda os mais pobres. Ele costuma ser definido sempre acima deste nível de mercado, caso contrário não faria sentido existir. Mas isso faz com que empregadores desistam de contratar empregados com baixa produtividade, pois passa a não ser vantajosa tal contratação.

A citação acima tem uma tautologia embutida.Argumenta-se que pelo fato do governo acreditar que o salário-mínimo fica acima do nível de equilíbrio, então ele efetivamente está acima do nível de equilíbrio!

O Sr.Constantino está supondo que a “mercadoria trabalho” (no cenário do mercado de trabalho, os capitalistas são os demandantes!) tem esta curva de oferta e demanda:



Vejam que a curva de demanda de uma “mercadoria normal” é negativamente inclinada.Essa é uma característica da curva de demanda de uma mercadoria com utilidade marginal decrescente.Isso ocorre porque à medida que a mercadoria se torna mais barata, sua demanda aumenta.Isso ocorre porque à medida que o preço do produto baixa, maior a utilidade em formas de mercadorias o consumidor pode obter (ainda que de forma decrescente) e o seu “excedente de satisfação” aumentar.Isso NÃO OCORRE com a “mercadoria trabalho”.No longo prazo, a utilidade para de um trabalhador nunca decresce para um capitalista.Isso ocorre porque o empresário só maximiza seus lucros se igualar salário real do trabalhador ao valor do produto marginal do trabalho.Esse fenômeno é conhecido como “retorno constante do trabalho para produção”. Além disso, o nível de produção efetiva é maior quanto maior for a disponibilidade de mão-de-obra.

Assim, a curva de demanda do trabalho é quase que infinitamente elástica (reduções infinitesimais no preço, levam a grandes aumentos na quantidade consumida):



(Supondo que onde está escrito “preço” lê-se “nível de salário real médio” e onde está escrito “quantidade”, lê “nível de emprego ofertado”.)
 
No curto prazo, um aumento nos níveis de produção e emprego costuma ser acompanhado  por queda da produtividade do trabalho (máquinas mais antigas, trabalhadores menos qualificados e terras mais distantes são utilizados a medida que a economia se aproxima do nível de produção potencial).Como a queda da produtividade do trabalho aumenta custos, e como as empresas repassam tal aumento para os preços, então, dado o salário nominal W, o salário nominal cai conforme aumenta a produção e o emprego.PORÉM, com base em estudos econométricos, hoje em dia adota-se a hipótese (de longo prazo) de que o componente estrutural possa ser desprezado.Isso já aparece em manuais de Macroeconomia mais atualizados (como: Blanchard,O.2001.Macroeconomia,2 ªedição.Editora Campus, p.131) e já era antigo um argumento do famoso economista italiano Piero Sraffa.Como a razão que justificava a inclinação negativa da curva de demanda do trabalho era tão somente a produtividade marginal decrescente (Dornbusch & Fisher,1991.Macroeconomia,5ª edição.Editora Pearson,p.549), então não faz sentido dizer que o preço da mercadoria trabalho pode ficar “acima do nível de mercado”. Senão, vejamos.Um aumento no salário mínimo piora a situação dos demandantes da “mercadoria trabalho”.Essa mercadoria fica mais barata.Isso tem um efeito similar a um choque de oferta desfavorável, já que os custos que encarem a mercadoria ofertada diminui.Quando esta situação ocorre (choque de oferta desfavorável), a matemática garante que a curva de oferta se desloca para esquerda e para baixo.Imagine que isso ocorra numa mercadoria com uma curva de oferta e demanda "normal":



No gráfico acima, imagine que B se desloca para A (e não o contrário, como é mostrado).Vemos que um choque de oferta desfavorável aumenta o preço.Agora imagine que a curva de demanda desse gráfico seja horizontal.Neste caso, um choque de oferta desfavorável em nada aumenta o preço da mercadoria.Logo, conclui-se que um aumento do salário mínimo EM NADA AFETA o salário real no longo prazo.É uma impossibilidade matemática o preço dessa mercadoria (trabalho) ficar “acima do nível de mercado”, pelo menos em níveis significativos.Ficar “acima do nível de mercado” é uma coisa que só ocorreria se a curva de demanda e oferta do mercado de trabalho tivesse o formato que o Sr. Constantino implicitamente afirma que ela tem.


Neste ambiente de riscos e incertezas, os empregadores procuram pagar o mínimo possível aos empregados, e este preço será totalmente dependente da produtividade do trabalho.

Errado.O salário real depende também da margem de lucro média das empresas.A margem de lucro média afeta o nível de preços.E como todos sabem, este último afeta o salário real.Não conheço nenhum autor contemporâneo, ortodoxo e renomado, que defenda que salário real dependa apenas da produtividade do trabalho.
 
(again, porque quero fazer um comentário específico)

Todo preço será definido pela lei da oferta e demanda, não há como escapar disso. O salário é mais um preço, e segue o mesmo princípio.
(…)
Por outro lado, os empregados estarão buscando maximizar seus ganhos, como qualquer indivíduo. No encontro dessa oferta de trabalho com essa demanda pelo trabalho, ocorrerá uma troca voluntária, significando que aquele preço estabelece uma transação mutuamente benéfica, dado as circunstâncias. Fica claro que quanto maior a demanda por trabalho, ou seja, quanto mais competição houver entre empregadores, mais alto tende a ser o preço do salário. Em contrapartida, quanto maior for a oferta de trabalho, menor tende a ser o salário.


Esse é o argumento da Teoria do Equilíbrio no Mercado de Trabalho dos economistas neoclássicos das escolas mais ortodoxas (monetaristas e neoricardianos). Eles defendem que no mercado de trabalho, os trabalhadores negociam seus salários individualmente com empresas, sem que nenhum dos dois lados tenha poder de barganha no processo.As partes simplesmente aceitam ou não o salário real de equilíbrio estabelescido pelo mercado.Ou seja, sempre há emprego disponível no longo prazo para quem quiser trabalhar, porque no longo prazo a economia está em nível de produção potencial (Qp).Por causa desse "brilhante" raciocínio, chega-se a conclusão que alguns países da UE que estão com desemprego na faixa de 12%, tem 12% da força-de-trabalho que está desempregada "PORQUE QUER".Desemprego nem seria problema na Europa, porque a teoria supõe implicitamente que a situação do mercado de trabalho de lá é um resultado da vontade dos trabalhadores europeus.

Já os novos-keynesianos (ala menos radical da ortodoxia econômica e que são os representantes do pensamento hegemônico atual em Macroeconomia) defendem que o processo de negociação de salários se dá em um ambiente de barganha coletiva (acordos coletivos são tipo de negociação salarial mais comum na Europa, Japão e a maioria dos outros países).Se podem existir trabalhadores descontentes com o resultado das negociações salariais, logo pode haver desemprego involuntário.

Adotando o modelo de Mercado de Trabalho desses economistas ultra-ortodoxos vê-se que os exercícios de Estática Comparativa garantem que uma flexibilização na legislação trabalhista, ceteris paribus, implica num SACRIFÍCIO NO SALÁRIO REAL DOS TRABALHADORES.Senão, vejamos.Uma flexibilização na legislação trabalhista melhora a situação dos demandantes da “mercadoria trabalho”.Essa mercadoria fica mais barata.Isso tem um efeito similar a um choque de oferta favorável, já que os custos que encarem a mercadoria ofertada diminui.Quando esta situação ocorre (choque de oferta favorável), a matemática garante que a curva de oferta se desloca para esquerda e para baixo, exatamente como ocorre aqui:



Como vemos no gráfico acima, o preço da mercadoria diminui quando isto ocorre.O resto nem preciso comentar.


Em A Solução Liberal, Guy Sorman trata do tema, explicando que "os que trabalham e não querem dividir construíram em torno da cidadela uma muralha, a mais alta possível: ela se chama ‘salário mínimo’". Os trabalhadores ficam assim protegidos contra todos aqueles cuja produtividade não vale o salário mínimo, isto é, os mais jovens e os menos qualificados. Ele continua: "Os sindicatos só protegem os sitiados que constituem sua clientela principal, não os desempregados, que não militam e nem são contribuintes". Além disso, "esses defensores dos direitos dos trabalhadores criaram uma técnica que mantém os sitiantes à distância: o seguro-desemprego". Quanto mais alto for este, menos os assaltantes mostram agressividade. Em resumo, o salário mínimo seria uma conquista dos sindicatos e seus aliados à custa de todo restante, principalmente dos desempregados que aceitariam trabalhar por um pouco menos.

Eu já comentei sobre a questão do salário mínimo.Quanto a dizer “abaixo o salário mínimo e o seguro-desemprego”, acho que isso é uma jequice ideológica sem tamanho.Esses dois fatores têm influência como estabilizadores fiscais automáticos na economia.

As pessoas que resmungam contra este instrumento não sabem do status teórico do argumento dos que tentam apontar apenas as vantagens da flexibilidade salarial.

Suponha que exista onde país que não exista seguro-desemprego e outros encargos trabalhistas.Supondo que este país que a economia esteja em equilíbrio e de repente surge uma recessão, o que aconteceria na visão de economista ultra-liberal? Se uma empresa tem queda de receita, ela não pode manter a mesma massa salarial.Essa queda salarial, representará um menor custo de produção que mais cedo ou mais tarde será repassado aos preços, gerando uma inflação menor que a esperada.Se o governo mantivesse constante o crescimento da oferta monetária, então teríamos uma variação na oferta real de moeda.Oferta real de moeda é o quociente entre a oferta nominal de moeda pelo nível geral de preços (M/P).Se o denominador diminui da fração citada diminui, então a oferta real de moeda aumenta.Isso diminuiria o preço da moeda e aumentaria a taxa de juros nominal (efeito Keynes).Essa diminuição nos juros causaria um aumento no investimento, que por sua vez aumentaria a demanda agregada, que por sua vez aumentaria a produção, o emprego e os salários.A flexibilidade de preços e salários representaria um mecanismo de ajuste automática que serviria para alcançar o chamado Equilíbrio de Longo Prazo.

Seria assim, se não fosse os poréns.Keynes notou duas falhas neste argumento no livro “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936).Embora possam existir efeitos estabilizadores da flexibilidade de preços/salários que trazem a economia de volta ao nível de produção potencial, existam também os efeitos desestabilizadores.Em primeiro lugar, uma redução nos salários dos trabalhadores poderia fazer uma redistribuição de renda que traria uma fonte de instabilidade na economia.Como a propensão marginal a consumir dos trabalhadores é maior que a dos capitalistas, e o consumo agregado depende da propensão marginal a consumir média da economia, então poderia haver um queda na demanda agregada.Menos consumo, menos demanda agregada, menos investimento, menos produção e emprego.Ou seja, esse efeito desestabilizador poderia PIORAR a situação do nível de produção e do mercado de trabalho.Em segundo lugar, oferecemos uma colher de chá ao ultra-liberal do exemplo.Ainda que fosse verdade que os efeitos estabilizadores fossem maiores que os efeitos desestabilizadores, haveria o risco dos primeiros não serem significativamente mais fortes que os últimos.Haveria o risco desse “Equilíbrio de Longo Prazo” está tão distante, que na prática seria um desastre para os trabalhadores igual ao caso que se ele nunca ocorresse.É daí que vem a famosa frase de Keynes: “Longo prazo não existe.No longo prazo, todos estaremos mortos”.

Quando o desemprego aumenta e a economia entra em depressão, o valor pago pelos seguros-desemprego e outros encargos (como a multa do FGTS) aumentam.O aumento do pagamento desses valores seguram o consumo e a demanda agregada, diminuindo o risco de acontecer os efeitos desestabilizadores mencionados por Keynes. Do mesmo modo, o “salário mínimo” segura a demanda agregada porque impede que ,em tempos recessivos, os salários dos trabalhadores menos qualificados caiam.É por isso que para muitos economistas, a discussão é “efeitos estabilizadores vs. efeitos desestabilizadores” e não “aumentar encargos trabalhistas vs. não aumentar encargos trabalhistas”.






Sendo Guy Sorman um francês, ele escreve com conhecimento de causa. A rigidez das leis trabalhistas na França é enorme, e os sindicatos são muito poderosos. Recentemente, o desemprego entre os jovens estava na faixa dos 20%, e entre os jovens imigrantes chegava a 50%.

Bobagem.A taxa de desemprego da França não está muito acima da média da União Européia.Agora, virei aqui desmascarar o mito da “rigidez da legislação trabalhista européia como fonte essencial do aumento de desemprego na UE”.No início dos anos 80, a taxa de desemprego da União Européia era aproximadamente igual a dos EUA, a fortaleza de liberalismo do mercado de trabalho.De lá para cá, os EUA reverteram a situação (isso mesmo: o desemprego na União Européia já foi menor).Como explicar isso?Aumento na rigidez do mercado de trabalho?A rigidez da legislação trabalhista européia  (e a força dos sindicatos)  não veio a ser novidade nesta época:já vigorava desde os anos 60.Na verdade, nos anos 80 a legislação trabalhista da maioria dos países europeus se tornou MAIS FLEXÍVEL, incluindo medidas como a legalização de trabalhos de meio expedientes, entre outros.Isso fez alguns economistas mudarem a linha de argumentação, dizendo que embora a legislação inflexível dos países europeus não tenham sido novidade nos anos 80, há de se considerar que os efeitos da rigidez trabalhista tem pesos maiores em situação de mudança estrutural na economia.Segundo esta visão, uma coisa são os efeitos da rigidez numa situação de demanda crescente e pouca competitividade, outra coisa são os efeitos numa situação de concorrência predatória e disputa feroz por sobrevivência.Entretanto, o indicador do efeito da mudança estrutural na economia não mostra isso.Uma forma de saber se uma economia passou por uma mudança estrutural é ver as taxas de crescimento de diversos setores.Se há grande dispersão nestas taxas, então a economia está passando por uma mudança estrutural.Não há evidências decisivas que isso ocorreu na Europa .

Isso levou muitos macroeconomistas a explicar o desemprego europeu essencialmente com base no fenômeno conhecido como HISTERESE.Histerese é quando o trabalhador fica desempregado por muito tempo e devido a perda do hábito e da habilidade,os empregadores ficam relutantes em contratá-los em decorrência de sua menor produtividade do trabalho.Alguns autores se referem a estudos empíricos que tratam de tal fenômeno.Pior, a histerese tem um efeito colateral.Como os trabalhadores que estão há muito desempregados são menos produtivos, então os empregadores europeus não tiveram como “ameaçar” os que estavam empregados apresentando esses trabalhadores mais improdutivos como potenciais substitutos.Foi exatamente por isso que o salário real na França, Itália e Alemanha cresceram do fim dos anos 70 até os fim dos anos 80, a despeito do crescimento do desemprego neste mesmo período (desemprego alto, em tese, desestimularia pedidos de aumentos de salários).Como os sindicatos europeus são fortes, estes pediram aumentos salariais e foram atendidos justamente por causa da HISTERESE.Todos os dados mencionados aqui são vistos em:

Blanchard,O.(2001).Macroeconomia, 2ª edição.Editora Campus.p.477 a 481.

O caso brasileiro também é muito útil para exemplificar esta teoria. Com leis trabalhistas que datam dos tempos fascistas, além de sindicatos muito poderosos, o desemprego é elevado e a informalidade chega a praticamente metade do total de empregos. É o resultado claro do excesso de encargos e privilégios artificiais, eufemisticamente chamados de "conquistas trabalhistas". São conquistas sim, mas apenas daqueles dentro do sistema, que criam regras através do governo dificultando o acesso dos demais, mantidos no desemprego ou informalidade, sem benefício algum.

Sindicatos poderosos?Onde?A literatura econômica reconhece que os sindicatos brasileiros são FRACOS.Além disso, há o mito que existe uma ultra-rigidez na legislação trabalhista brasileira.Ao contrário do que muita gente pensa, os contratos de trabalho no Brasil são passíveis de negociação a posteriori.Isso acontece quando na Justiça do Trabalho, depois que a relação de trabalho foi rompida.Os trabalhadores podem recorrer a Justiça do Trabalho para reivindicar o pagamento dos encargos trabalhistas, mas eles geralmente não o fazem durante o período em que estão empregados, com medo de serem demitidos. Assim, a melhor estratégia para uma empresa seria não pagar os encargos trabalhistas durante o período que o trabalhador está empregado.Ela ganharia tempo, e ainda pagaria apenas uma parte dos encargos reivindicados quando por estes quando fossem reivindicar seus direitos na Justiça do Trabalho.Normalmente, isso ocorre porque quando o trabalhador vai apelar legalmente por seus direitos, um juiz do Trabalho usualmente propõe um acordo entre as partes (empregados e empregadores) na Justiça do Trabalho.Como a sentença final demora em média entre 3 a 4, 80% dos casos são resolvidos em primeira instância e o trabalhador se dispõe, em média, a receber apenas 40% do que demanda.Pior, a negociação é individual.Os sindicatos são fracos porque não tem o que negociar.Isso não que digo aqui não se baseia em análises subjetivas.São fatos mostrados em um estudo de vários economistas liderado pelo professor da Universidade de Princeton, José Alexandre Scheinkman:

http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Agenda%20Perdida.pdf (ver página 21 e 26). 

Outra coisa, se a taxa estrutural de desemprego depende quase totalmente dos fatores institucionais que afetam positivamente o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais (salário-mínimo, seguro-desemprego, bolsa-família), como explicar que a taxa de desemprego brasileira no início do Plano Real era aproximadamente igual a atual taxa de desemprego da “liberal-trabalhista” Grã-Bretanha (que atualmente está em 5,5%: http://institutomillenium.org/2007/04/03/os-sem-direitos/).


Enquanto isso, as leis trabalhistas dos Estados Unidos são consideradas como uma das piores do ponto de vista de direitos legais, por serem flexíveis demais, e no entando os trabalhadores ganham muito mais que a média do resto do mundo.

Os trabalhadores americanos ganham muito mais que no resto do mundo porque a renda por habitante dos EUA é muito maior que a média mundial.Nenhuma surpresa.

Ainda que a flexibilização trabalhista resulte em efeito positivo no nível de emprego, como ficaria a distribuição de renda?Todos sabemos que os trabalhadores menos qualificados tem menor poder de barganha nas negociações salariais, porque eles são mais facilmente substituíveis em relação aos mais qualificados.

Vejamos o que anti-trabalhismo Tchatcherista fez.Diga o nome “Margareth Thatcher” para trabalhadores das classes menos abastadas britânicas na década de 80 e reações alérgicas surgirão.Isso porque os dados macroeconômicos dos 25% trabalhadores menos qualificados do Reino Unido (em termos de escolaridade) apresentaram a seguinte evolução do final da década de 70 até o início a década de 90:

Crescimento do salário real:-14%
Taxa de desemprego:passou de 3,1% para 5,3%

Durante o mesmo período França, Itália e Alemanha (países de legislação trabalhista rígida), essa mesma categoria de trabalhadores tiveram crescimento positivo no salário real.No caso da Alemanha, o aumento do desemprego foi até menor que o visto na Inglaterra para essa categoria de trabalhadores (e a taxa de desemprego da Inglaterra para esses trabalhadores foi a maior dos países europeus componentes do G7, no início da década de 90). Por outro lado, os dados dos 25% trabalhadores menos qualificados (em termos de escolaridade) dos EUA entre o fim dos anos 70 e o fim dos anos 80, mostram o seguinte:

Taxa de desemprego:permaneceu estável em 3,5%
Crescimento do salário real:-13%.

Fonte:Blanchard 2001, ibid.



Offline Gauss

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #12 Online: 23 de Agosto de 2016, 21:11:34 »

Durante o mesmo período França, Itália e Alemanha (países de legislação trabalhista rígida), essa mesma categoria de trabalhadores tiveram crescimento positivo no salário real.No caso da Alemanha, o aumento do desemprego foi até menor que o visto na Inglaterra para essa categoria de trabalhadores (e a taxa de desemprego da Inglaterra para esses trabalhadores foi a maior dos países europeus componentes do G7, no início da década de 90). Por outro lado, os dados dos 25% trabalhadores menos qualificados (em termos de escolaridade) dos EUA entre o fim dos anos 70 e o fim dos anos 80, mostram o seguinte:

Taxa de desemprego:permaneceu estável em 3,5%
Crescimento do salário real:-13%.

Fonte:Blanchard 2001, ibid.

Foi legal. Mas a Alemanha não tinha salário mínimo na década de 80.
http://extra.globo.com/noticias/economia/gol-da-alemanha-pais-cria-salario-minimo-que-equivale-r-26-por-hora-trabalhada-contra-358-do-brasil-14958090.html
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #13 Online: 23 de Agosto de 2016, 23:20:39 »
O parâmetro de rigidez salarial no mercado de trabalho que está nas equações econômicas não envolve só salário mínimo. Economistas do trabalho não são burros, eles sabem muito bem onde enquadraram a Alemanha.

Atualmente, meu pensamento sobre macroeconomia mudou muito, considero obsoleto muitos dos posts que fiz há alguns anos atrás. E grande parte do que escrevi está incompreensível, pois a linguagem de estática comparativa com equações simultâneas não é compreensível para aqueles sem formação em economia matemática. Mas apesar de duvidar que a introdução do salário mínimo melhora as coisas, igualmente duvido que as coisas melhorariam exponencialmente com a retirada dele.

Existe um livro de 2000 chamado Macroeconomia de Jeffrey Sachs e Felipe Larrain que tem um capítulo só sobre mercado de trabalho, vale a pena dá uma olhada, mesmo quem não é economista (devido a linguagem acessível). Na parte que fala sobre salário mínimo, há a evidência de que cada aumento de 10% no salário mínimo faz decrescer a oferta de emprego em algo de 1% a 3%. Ou seja, havendo simetria, se se conseguir uma redução no salário real de 10% por causa da queda do salário mínimo, a oferta de emprego poderia aumentar, mas poderia aumentar proporcionalmente pouco, para infelicidade daqueles que esperavam uma revolução na questão da oferta empregatícia. Ademais, carece de validação empírica a teoria de que o único nível de salário sustentável é aquele que satisfaz a condição do equilíbrio do mercado e que implica, por exemplo, que salários ficarão caindo enquanto houver qualquer desemprego involuntário, não importa quão pequeno. E teorias, como teoria do salário de eficiência, foram criadas para explicar esse fenômeno:

"No caso de flexibilidade a longo prazo de salários reais, uma das pouquíssimas coisas com que economistas de trabalho de convicções muito diferentes parecem concordar é que em geral, mesmo na ausência de fortes sindicatos ou regulação salarial específica, salários não tendem cair indefinidamente em situações de desemprego involuntário(...)"

Fonte: https://franklinserrano.files.wordpress.com/2008/03/equilibrio-neoclassico-mercado-de-fatores.pdf
« Última modificação: 24 de Agosto de 2016, 05:10:49 por -Huxley- »

Offline Gauss

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #14 Online: 24 de Agosto de 2016, 00:29:01 »
O parâmetro de rigidez salarial no mercado de trabalho que está nas equações econômicas não envolve só salário mínimo. Economistas do trabalho não são burros, eles sabem muito bem onde enquadraram a Alemanha.
Como o Buck postou aqui, pensei que se tratasse do tema.



Huxley, quando economistas como Friedman afirmam que o salário mínimo é um dos principais fatores para o desemprego, eles estão certos ou errados? Se é, ele não aumentaria a desigualdade? Este livro fala sobre o assunto? Conhece algum texto ou estudo que fale sobre? Ou que mostrem dados correlacionando um e outro? O que achei na internet de textos é meio superficial, parece não haver estudo de caso.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #15 Online: 24 de Agosto de 2016, 22:29:44 »
O parâmetro de rigidez salarial no mercado de trabalho que está nas equações econômicas não envolve só salário mínimo. Economistas do trabalho não são burros, eles sabem muito bem onde enquadraram a Alemanha.
Como o Buck postou aqui, pensei que se tratasse do tema.



Huxley, quando economistas como Friedman afirmam que o salário mínimo é um dos principais fatores para o desemprego, eles estão certos ou errados? Se é, ele não aumentaria a desigualdade? Este livro fala sobre o assunto? Conhece algum texto ou estudo que fale sobre? Ou que mostrem dados correlacionando um e outro? O que achei na internet de textos é meio superficial, parece não haver estudo de caso.

Essa afirmação de que o salário mínimo é um dos principais fatores do desemprego involuntário fracassa como enunciado universal, pois existiu e ainda existem países sem legislação do salário mínimo e que mesmo assim sofreram ou sofrem desemprego involuntário. Da minha parte, eu não acho confiável estudos observacionais dos economistas do mainstream, em que o pesquisador analisa relações estatísticas socioeconômicas em seu computador. A razão eu já pus aqui: ../forum/topic=27601.225.html#msg880624 Esses estudos observacionais podem, efetivamente, ser usados para desmascarar, não para confirmar.
« Última modificação: 24 de Agosto de 2016, 22:37:50 por -Huxley- »

Offline Gauss

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #16 Online: 24 de Agosto de 2016, 22:56:20 »
Essa afirmação de que o salário mínimo é um dos principais fatores do desemprego involuntário fracassa como enunciado universal, pois existiu e ainda existem países sem legislação do salário mínimo e que mesmo assim sofreram ou sofrem desemprego involuntário. Da minha parte, eu não acho confiável estudos observacionais dos economistas do mainstream, em que o pesquisador analisa relações estatísticas socioeconômicas em seu computador. A razão eu já pus aqui: ../forum/topic=27601.225.html#msg880624 Esses estudos observacionais podem, efetivamente, ser usados para desmascarar, não para confirmar.

Pois é, a maioria dos estudos que encontrei demonstram de maneira observacional a vantagem de não ter salário mínimo. Mas usaram para comparar por exemplo a Suécia e os EUA. Para comparar estes dois países deve se ignorar muitas variáveis que certamente influenciam nos valores: como imigração, educação, leis e diretrizes legais de negócios sobre as empresas em cada país... Análise observacional soa muito artificial, não?
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline -Huxley-

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #17 Online: 24 de Agosto de 2016, 23:16:00 »
Essa afirmação de que o salário mínimo é um dos principais fatores do desemprego involuntário fracassa como enunciado universal, pois existiu e ainda existem países sem legislação do salário mínimo e que mesmo assim sofreram ou sofrem desemprego involuntário. Da minha parte, eu não acho confiável estudos observacionais dos economistas do mainstream, em que o pesquisador analisa relações estatísticas socioeconômicas em seu computador. A razão eu já pus aqui: ../forum/topic=27601.225.html#msg880624 Esses estudos observacionais podem, efetivamente, ser usados para desmascarar, não para confirmar.

Pois é, a maioria dos estudos que encontrei demonstram de maneira observacional a vantagem de não ter salário mínimo. Mas usaram para comparar por exemplo a Suécia e os EUA. Para comparar estes dois países deve se ignorar muitas variáveis que certamente influenciam nos valores: como imigração, educação, leis e diretrizes legais de negócios sobre as empresas em cada país... Análise observacional soa muito artificial, não?

Há o problema da insuficiência de a correlação sozinha indicar a direção de causalidade. Suponha, por exemplo, que exista correlação entre duas variáveis. Vamos chamá-las de fator A e fator B. Pode ser que o fator A cause B; pode ser que o fator B cause A; ou pode ser que um fator superior cause os dois. Em situações de epifenômenos, acabamos vendo A e B juntos. Porém, se refinarmos a nossa análise, podemos introduzir a dimensão tempo. O que ocorre primeiro, A ou B? Ademais, pode-se estudar as mudanças em A e B, e não apenas os níveis de A e B. Esse teste foi criado por um economista e percebam que, embora o método não dê plena certeza que A cause B, ele pode desmascarar ou por em dúvida uma alegação de causalidade:

“O teste de causalidade que ficou mais popularizado na literatura deve-se ao econometrista Clive Granger e assume que o futuro não pode causar o passado nem o presente. Por exemplo, se o evento A ocorre depois do evento B, sabemos que A não pode causar B. Ao mesmo tempo, se A ocorre antes que B, isso não significa que A, necessariamente, cause B. O exemplo clássico são as previsões de chuva do meteorologista. O fato de a previsão ocorrer primeiro do que a chuva não implica que o meteorologista cause a chuva.”

http://www.angelfire.com/id/SergioDaSilva/causal.pdf

Offline Gauss

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #18 Online: 24 de Agosto de 2016, 23:31:29 »
Há o problema da insuficiência de a correlação sozinha indicar a direção de causalidade. Suponha, por exemplo, que exista correlação entre duas variáveis. Vamos chamá-las de fator A e fator B. Pode ser que o fator A cause B; pode ser que o fator B cause A; ou pode ser que um fator superior cause os dois. Em situações de epifenômenos, acabamos vendo A e B juntos. Porém, se refinarmos a nossa análise, podemos introduzir a dimensão tempo. O que ocorre primeiro, A ou B? Ademais, pode-se estudar as mudanças em A e B, e não apenas os níveis de A e B. Esse teste foi criado por um economista e percebam que, embora o método não dê plena certeza que A cause B, ele pode desmascarar ou por em dúvida uma alegação de causalidade:

“O teste de causalidade que ficou mais popularizado na literatura deve-se ao econometrista Clive Granger e assume que o futuro não pode causar o passado nem o presente. Por exemplo, se o evento A ocorre depois do evento B, sabemos que A não pode causar B. Ao mesmo tempo, se A ocorre antes que B, isso não significa que A, necessariamente, cause B. O exemplo clássico são as previsões de chuva do meteorologista. O fato de a previsão ocorrer primeiro do que a chuva não implica que o meteorologista cause a chuva.”

http://www.angelfire.com/id/SergioDaSilva/causal.pdf

Entendo. Ou seja, quando se olha para dois países com legislação diferente em relação ao salário mínimo  estamos considerando um fator(A) para esta causalidade. Porém há outros fatores(B,C,D...), o que torna, como eu pensei, algo muito simplista ao se comparar somente neste fator(salário mínimo) uma causalidade complexa como o desemprego. É demagogia.

Exemplo do que estou falando(postei aqui nestes dias em algum tópico):

Somente considerar o salário mínimo para a causa seria um  erro.
« Última modificação: 24 de Agosto de 2016, 23:34:25 por Gauss »
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #19 Online: 25 de Agosto de 2016, 00:04:08 »
Acho que em vários dos países da UE sem SM, é bastante forte a ação dos sindicatos, que deve ter um efeito similar, talvez na prática criando SMs "de fato", apenas especializados para diferentes setores. Acho.

(Mas também possivelmente incluindo aceitar reduções de salário em vez de demissões)

Offline pablito

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #20 Online: 25 de Agosto de 2016, 09:31:46 »
Olá,

O salário mínimo afeta as pessoas de diferentes formas. Ele tem um papel redistributivo importante. No 'A economia das desigualdades', Picketty analisa esse papel, considerando-o mais relevante que políticas de assistência social - isso no contexto europeu, no contexto latino americano teríamos de ver quais as outras variáveis e seu peso.

Tem um artigo de um professor da UFRJ que analisa o impacto do salário mínimo na redistribuição de renda no Brasil.
Destaco um trecho:
Citar
"O SM é mais importante como padrão de remuneração para os trabalhadores jovens, do sexo feminino e com baixo nível de escolaridade.
Por outro lado, é também mais comum em regiões menos desenvolvidas, como a região Nordeste, que nas mais desenvolvidas, como no Sudeste. Em
termos setoriais, predomina no serviço doméstico. É ainda bastante encontrado no setor informal entre os trabalhadores sem carteira assinada,
mostrando seu efeito farol na economia informal. Apesar da importância do SM enquanto padrão de remuneração no mercado de trabalho do país,
grande parcela dos trabalhadores recebe menos de 1 SM, especialmente nas regiões rurais, na região Nordeste, na agricultura e no serviço doméstico. "

A íntegra pode ser lida aqui: http://www.ie.ufrj.br/datacenterie/pdfs/seminarios/pesquisa/texto2509.pdf

É importante lembrar que alterações no valor do mínimo têm impactos diferentes em setores diferentes da economia.

Eles afetam não apenas o emprego mas o nível de qualificação dos trabalhadores, o que também varia conforme o setor.

Ele impacta também no crescimento (ou decréscimo) do setor informal da economia, com consequentes impactos tributários.

Este outro estudo aqui indica que para o período entre 1994 e 2002 o aumento do salário mínimo aumentava a taxa de desemprego, mas esse efeito se estabilizava após 3 ou 4 meses. O interessante é que ele também tem um impacto na redução da informalidade, ou seja, o aumento atrai trabalhadores - Essas flutuações relacionam à substituição de trabalhadores menos qualificados ou produtivos por novos trabalhadores de qualificação ou produtividade superior. Note-se que o estudo abaixo não faz essa última correlação, que vi em outros trabalhos, limitando-se a verificar que há um aumento na oferta de trabalho, ou seja, na procura por um emprego formal.
O estudo está aqui: http://periodicos.ufpb.br//economia/article/viewFile/3841/3053

No livro "Política de Salário Mínimo para 2015-2018: avaliações de impacto econômico e social" há análises bem interessantes sobre o tema, adequadas à nossa realidade e não a teorizações ideais.
Num dos artigos, do Fernando de Holanda Barbosa Filho, se conclui:
Citar
O efeito sobre os rendimentos é direto e de pouca polêmica. Ou seja, elevações do salário mínimo tendem a elevar os rendimentos como um todo na economia. No entanto, quando se pergunta o impacto de aumentos do salário mínimo sobre o nível de emprego, o assunto é mais controverso.
Apesar de existir estudos que mostram uma elevação do nível de emprego acompanhando aumentos de SM, a literatura internacional mostra que o impacto de elevações do salário mínimo sobre o nível de emprego é não positivo. A maior parte das estimativas do impacto do salário mínimo sobre o nível de emprego mostra uma elasticidade negativa, porém baixa. A elasticidade estaria em um intervalo entre -0,1 e -0,4.
Os resultados das estimativas para a economia brasileira seguem a mesma direção com evidência a efeitos não positivos sobre o emprego, sendo em geral negativos. Estudos ainda mostram que elevações de salário mínimo estão associadas à redução do emprego formal e elevação do emprego informal.
Por último, a literatura sugere que podem existir efeitos do salário mínimo que “expulsariam” trabalhadores menos produtivos do mercado de trabalho. Nesse sentido, apresentamos evidência de que isso pode estar ocorrendo no país. Principalmente entre os mais jovens, fazendo parte dos fatores que podem ter contribuído para a elevação do grupo dos nem nem no Brasil nos últimos anos.

Esse trechinho ma parece interessante para que pensemos no SM como instrumento não só de empregabilidade, mas de qualificação, indutor de produtividade e redistributivo.
O efeito sobre o desemprego é baixo e pode ser compensado pelo valor redistributivo, por ganhos de produtividade e pela formalização.

Outros estudos indicam que o aumento de desemprego é maior em alguns setores, mas tendem a zero em outros (construção civil, por exemplo)

Enfim, além de pensar nas tantas outras variáveis que afetam o emprego (não se pode pensar em política pública em virtude de apenas uma variável) é necessário pensar nos outros impactos que o SM tem sobre a economia, seja sobre o consumo dos mais pobres (fico pensando no mercado de trabalho de bens inferiores [acho que dá um estudo]), a tributação, o efeito farol sobre outras formas remuneratórias etc. etc.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:O salário mínimo diminui a pobreza?
« Resposta #21 Online: 25 de Agosto de 2016, 14:07:20 »
Acho que devem ser poucos os que acreditam que seria a única variável, imagino que tendendo a ser esses os apoiadores do SM, em especial na "escola do PCO" ou simpatizantes da idéia.



O efeito redistributivo parece ser mais logicamente o de concentrar renda dentre os mais ricos, em detrimento dos mais pobres. O efeito rotulado como "indução de produtividade" é exemplo disso.

E é uma curiosa mescla de valores conservadores pró-laissez-faire/"anti políticas de bem-estar-social" com algo tipicamente esquerdista/"pró-bem-estar-social".


Os efeitos positivos correlatos verdadeiros (isso é, não desemprego/"estímulo a produtividade") a eventuais aumentos no SM devem na maioria ser independentes, devido a um crescimento "natural" da economia, que pode suportar uma pequena distorção arbitrária de efeitos mínimos. Isso é, passando quase batido na maior parte do tempo, devido à maioria dos trabalhadores que não recebem SM, apenas perto, acima ou abaixo, e de não ser um aumento muito grande para os que recebem.


O único benefício causal que imagino seria o aumento da demanda a partir do aumento implícito na aposentadoria, em especial com populações crescentes de aposentados, no caso do Brasil, onde essa indexação deve dificultar as análises de efeitos puramente decorrentes de aumentos do SM.



Talvez os efeitos sejam ironicamente parecidos com uma tentativa de controle estatal do preço do sal. Não pode ser muito mais caro do que seria de verdade e ter efeitos positivos*, e não conseguirá ser mais barato do que é realmente.


* desconsiderando efeitos na saúde pública

 

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