Há economistas que tentam fazer comparações empíricas sobre quanto o comportamento das pessoas vai de acordo com aquelas teorias econômicas que assumem simplificações como que um centavo de diferença no preço das coisas já terá influência no consumidor, e o quanto esse por sua vez afetará o comerciante e a produção?
Sei que a "economia comportamental" basicamente questiona esse tipo de assunção de forma meio generalizada, mas me parece que na maior parte do tempo, mais do que tentar ajustar modelos razoáveis com essas informações, a coisa praticamente acaba nessas "pegadinhas" experimentais que mostram que as pessoas não se comportam tão de acordo com o que seria previsto. Em vez de tentar obter algo como um número da "sensibilidade" da produção ao feedback de consumo do consumidor, e como ele varia sob diversas condições.
Se bem que acho que existem mesmo coisas mais tradicionais da economia, que se aproximam um pouco disso, com "curvas de Engel", talvez.
O problema não é exatamente que existam essas curvas de oferta e procura como as mostradas nos livros (a exceção fica para o caso do "bem de Giffen"). O problema é pressupor que a oferta ou procura podem ser expressas em termos de linhas nítidas. Ademais, a economia tradicional presume que "os preços de mercado são definidos pelo equilíbrio de duas forças: produção a cada preço (oferta) e o desejo dos que têm poder de compra a cada preço" (Ariely, 2008). A economia comportamental tem demonstrado a falsidade dessas ideias. No livro
Previsivelmente Irracional, o psicólogo e economista comportamental Dan Ariely diz que seus experimentos demonstraram que (no capítulo "A falácia da oferta e da procura"):
"O que os consumidores estão dispostos a pagar pode ser facilmente manipulado, o que significa que os consumidores não têm, de fato, grande controle, sobre os preços que estão dispostos a pagar (...)
Embora a estrutura econômica comum pressuponha que as forças de oferta e procura são independentes, o tipo de manipulação para formação de âncora que demonstramos aqui indicam que , na verdade, são depedentes. No mundo real, a criação de âncoras provém dos preços de varejos sugeridos pelos fabricantes, dos preços anunciados, das promoções, das apresentações dos produtos, etc. - tudo isso são variáveis do lado da oferta. Parece que, então, que em vez da disposição dos consumidores de influenciar os preços de mercado, a relação de causalidade está um tanto invertida, e são os próprios preços de mercado que influenciam a disposição do consumidor de pagar. Isso quer dizer que a procura não é, de fato, uma força completamente independente da oferta."
Ariely cita acima o que os psicólogos cognitivos chamam de "heurística de ancoragem e ajuste". Para entender a heurística de ancoragem e ajuste, vale dizer que experimentos mostram que, ao tentar fazer uma estimativa rápida do produto de 8 x 7 X 6 X 5 x 4 X 3 X 2 X 1 e do produto de 1 X 2 X 3 X 4 X 5 X 6 X 7 X 8, as pessoas dão um valor médio de 2.250 para o primeiro caso e 512 para o segundo. Ou seja, é uma heurística "pela qual as pessoas ajustam suas avaliações por meio de pontos de referência chamado de âncoras de finalidade" (Robert Sternberg, 2010,
Psicologia Cognitiva, 5ª edição, CENGAGE Learning). Ou seja, preço é algo que pode ser influenciado por informações completamente espúrias em julgamentos com base no grau de facilidade com que podemos trazer à lembrança aquilo que percebemos como situações relevantes de um fenômeno.