A alma seria algo mais ou menos nesse estilo, totalmente imaterial, totalmente inatingível por qualquer coisa de ordem física, mas que tem poder sobre as coisas de ordem física. É meio "filosófico" isso, mas acho que dá para entender.
As ideias não são tão imateriais e intangíveis assim. Elas só existem na forma de certas configurações neuronais, nesse caso elas têm no cérebro seu suporte material no qual são codificadas - retire o cérebro e as ideias morrerão. Mas as ideias podem ainda ser traduzidas dessa codificação neurológica para uma outra qualquer, como a matemática ou a linguística - contudo permanecem necessitando de um suporte material para a sua existência (papel e tinta, ar e som, semi-condutores e eletricidade, etc). Não há nada de transcedental ou espiritual nas ideiais, são produtos de estímulos materias e têm na matéria seu suporte.
A matéria é o elemento essencial da informação - sem matéria, sem informação.
Sim. A informação precisa (em tese) do suporte material, tanto que o Espiritismo supõe o Espírito imaterial, mas não o concebe (segundo as luzes dos conhecimentos atuais) separado do perispírito, que seria o seu suporte material.
O papel, portanto, não se confunde com a informação que ele carrega, e se o papel for destruído, outro pedaço de matéria pode armazenar a informação, dos mais diferentes modos. Mesmo ondas eletromagnéticas podem armazenar informações. No caso do Espírito, o seu perispírito poderia se dissolver, mas a alma poderia construir outro. Aliás, segundo os Espíritos que ditaram a codificação, quando os espíritos se transportam de um mundo a outro, eles deixariam os seus perispíritos no mundo que abandonaram e construiriam outro no novo mundo em que chegam. Seriam como se apenas transferissem a consciência de um corpo para outro.
Então, finalizando, o que poderia ser destruído é o perispírito, mas não o Espírito.
Um abraço.
Para isso a alma teria quer ter a informação necessária a tal reconstrução. Mas sendo a alma pretensamente imaterial isso seria impossível, como você bem disse.
A respeito da alma, é interessante lembrar que o cristianismo e consequentemente também o espiritismo retiram sua noção da má interpretação da filosofia de Aristóteles.
Para Aristóteles a
substância seria constituída de dois elementos a que ele chama de
matéria e
forma. A matéria corresponderia mais ou menos a nossa definição atual, já a forma seria o elemento que informa a matéria fazendo com que as coisas sejam o que elas são. Assim, por exemplo, podemos ter duas coisas feitas da mesma matéria, mas que diferem quanto a forma - os exemplos reais são demasiadamente abundantes e por isso me abstenho de citar algum.
Usando uma analogia para melhor entender, imaginemos que um escultor tenha a sua frente um bloco de rocha com o qual trabalhará. Em um primeiro momento essa rocha se encontra informe (temos apenas a substância), mas a medida que o escultor executa seu trabalho ele passa a dar forma, a informar a matéria, transformando-a em um objeto, um animal ou uma pessoa, por exemplo. É obvio que não se trata de objetos, animais ou pessoas de verdade, aqui temos apenas uma analogia, mas o que importa observar é que é o elemento forma que diferencia essas coisas umas das outras. A forma é justamente esse conjunto de informações que possibilita diferenciarmos as coisas umas das outras. Como vimos, Para Aristóteles ela é parte integrande das coisas, diferentemente do que pensava Platão com o seu mundo das idéias. E sendo a forma informação não tem nada de transcedental ou subrenatural(ela necessita de matéria-energia).
Mas onde entra a alma nisso tudo? Acontece que para Aristóteles, a alma é simplesmente a forma dos seres vivos, ou seja, para ele a alma é tão somente esse conjunto de informações que faz com que chamemos algo de vivo. Por isso para ele as plantas e os animais também têm alma a que ele chama de almas vegetativa e sensitiva, respectivamente. A do homem ele chama de racional. Interessante que nesse classificação Aristóteles dá maior ênfase ao aspecto psíquico dos seres, deixando um pouco de lado os outros aspectos que caracterizam os seres vivos como tais.
Ainda para Aristóteles a alma seria eterna, não no sentido de eterna de fato, mas de potencialmente eterna. E isso é fácil de entender. Sendo a alma o mesmo que
forma, ela seria simplesmente informação e como tal poderia ser replicada quantas vezes se quisesse, como um livro ou um aquivo de computador que se podem copiar, por exemplo, sobrevivendo assim ao tempo.
Como disse, a idéia de alma como algo subrenatural é simplesmente uma má interpretação da filosofia de Aristóteles pelos cristãos que a quiseram moldar as suas crenças.
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ps - como você bem sabe, matéria e energia se equivalem e portanto o argumento se mantem também quanto às ondas eletromagnéticas.