http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u716342.shtmlQuase 600 mil assistem a "Chico Xavier" e filme bate recordeO filme "Chico Xavier", que estreou na sexta-feira passada, foi visto por cerca de 590 mil pessoas, segundo a distribuidora Dowtown. A cinebiografia do médium se torna, assim, a maior bilheteria da história do cinema nacional desde 1995, nos três primeiros dias de exibição. O número de espectadores de um filme na estreia costuma ser determinante para o resultado global e serve de termômetro para a indústria.
O lançamento do filme, no dia 2, coincidiu com o centenário de nascimento de Chico Xavier.
Dirigido por Daniel Filho, "Chico Xavier" bateu "Se Eu Fosse Você 2" (2009), visto por cerca de 570 mil espectadores em seus três primeiros dias em cartaz. "Lula, o Filho do Brasil" (2010) fez 220 mil no fim de semana de estreia, e "Avatar" (2009) registrou mais de 800 mil.
O filme está em cartaz em 377 salas do país. Na noite de sexta, a reportagem da Folha passou por quatro cinemas da capital paulista e todos estavam com as sessões esgotadas.
"A última vez que vi lotar assim foi com 'Avatar'", disse a gerente Kátia Sousa, do Cinemark do Shopping D. Até as 21h, todas as sete sessões de "Chico Xavier", em duas salas, tinham esgotado. A outra única sessão do dia que encheu foi de "A Caixa".
No Frei Caneca Unibanco Arteplex 2 e no Cine Marabá, a mesma situação. "Sou católica e espírita, gostamos do Chico", disse a telefonista Cacilda Dias, 63, que ficou sem ingresso no Marabá. A última vez que ela esteve no cinema foi para ver "2 Filhos de Francisco" (2005). O estudante Jaime Almeida, 30, teve mais sorte. "Chico prega o amor, não fala só de religião", disse ele, que não tem religião e cujos pais são católicos, e as irmãs, evangélicas.
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http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u715455.shtmlAtor Nelson Xavier "encarna" espírito de Chico XavierHá, em "Chico Xavier", o novo candidato a blockbuster do diretor Daniel Filho, um fato que não carece de fé para ser partilhado: a impecável atuação de Nelson Xavier, 69. Representando o médium Chico Xavier na última fase da vida, o ator vive o personagem com uma semelhança que começa nos trejeitos e chega ao olhar.
"Foi tudo muito comovente", repete Xavier, a quem quer que lhe faça perguntas sobre o papel. O Xavier médium fez, curiosamente, com que outro Xavier ator surgisse. Ex-integrante do Partido Comunista, nome de proa do Teatro de Arena e do Cinema Novo, ganhou, após o filme, nova fala na vida real.
"Desde a leitura do livro, foi como se o Chico tivesse me invadido", diz, referindo-se à biografia "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior. "Mas era uma invasão feliz. No meu olhar ateu, identifiquei energia que só podia vir dele."
Instado a explicar melhor que energia é essa, Xavier, primeiro, impacienta-se, como se pressentisse, na pergunta, certa descrença. Aos poucos, porém, volta a descontrair-se e, ao lembrar das projeções em Uberaba e Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, fica com os olhos rasos d'água. "É uma energia que só pode vir dele e que me faz assim como você está vendo. Ultrapassa o trabalho de busca do personagem. É uma vivência."
O ator também tem repetido que esse foi o primeiro papel que desejou de fato fazer em toda sua carreira. Como todos os brasileiros, sempre ouviu falar de Chico Xavier, mas nunca prestou atenção, apesar de, quando menino, ter sido levado pela mãe a centros espíritas.
"Nunca neguei aquilo, apenas não me interessava. Mas agora entendi que minha vida espiritual é mais próxima de mim do que sempre admiti."
E então Xavier pronuncia, com a serenidade que é também peculiar à fala do personagem, uma frase que retornará, sob diferentes formas, em outros momentos da conversa: "É o amor que move os astros e as estrelas. Antes, eu considerava isso uma verdade poética. Hoje, sei que isso é uma realidade. É o amor que nos move em direção ao progresso da humanidade."
E assim ele liga o passado comunista ao presente espiritualizado. "Entrei para o partido porque acreditava no progresso da humanidade. Adoro Che, Trotsky, mas as revoluções ficaram no século 20. Hoje, só nos resta o caminho do amor."
Xavier não apenas integrava o PC como chegou a fazer curso de luta armada. Ainda hoje se lembra, com certa aflição, do dia em que se flagrou rastejando pelo chão num pequeno apartamento. Recorda-se também da alegria que sentiu ao saber do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969.
Sua politização está diretamente ligada ao Teatro de Arena. Ali, na convivência com Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, diz ter descoberto que, como artista, tinha também um papel social a cumprir. Convenceu-se tanto da lição que deixou o Arena e foi para Pernambuco trabalhar num movimento de cultura popular que usava o método Paulo Freire. "Montamos uma peça sobre o movimento camponês, achávamos que íamos mudar o país. Era tudo inocência nossa."
Do teatro camponês e de filmes como "Os Fuzis", de Ruy Guerra, e "A Falecida", de Leon Hirszman, guarda um país que, a seu ver, a ditadura calou. "Hoje, está tudo dominado pelo mercado. E se você não dialoga minimamente com o sistema, fica à margem. Não venci o sistema, mas também não me comprometi com ele."
Nem que seja comprado no camelô,pretendo dar uma olhada... 