Autor Tópico: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura  (Lida 9896 vezes)

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Offline West

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #25 Online: 23 de Maio de 2010, 15:20:53 »
Citação de: Aarcanjo Lúcifer
Muitos dos envolvidos admitem o que fizeram na época, já não existe censura há décadas e sim, a informação condiz com a realidade.

Guerra de informção e contra-informação eram algumas das táticas da ditadura para manipular a opinião pública. O caso mais famoso foi o da tentativa de atentado forjado do Rio Center, onde dois militares morreram quando o carro bomba que dirigiam explodiu:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/eleicoes/historia-1979.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u719214.shtml
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
Agora não se acham nem no céu."
__________
Provérbio Iídiche.

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não
existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento.
Entres elas, o fato de que eles nunca aparecem."
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Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #26 Online: 24 de Maio de 2010, 23:02:10 »
Citação de: Aarcanjo Lúcifer
Muitos dos envolvidos admitem o que fizeram na época, já não existe censura há décadas e sim, a informação condiz com a realidade.

Guerra de informção e contra-informação eram algumas das táticas da ditadura para manipular a opinião pública. O caso mais famoso foi o da tentativa de atentado forjado do Rio Center, onde dois militares morreram quando o carro bomba que dirigiam explodiu:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/eleicoes/historia-1979.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u719214.shtml

Não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem que tinham treinamento e verbas dadas por Fidel que só defendia os próprios interesses.

Não fez por caridade e não eram santos "defendendo a democracia" como querem vender e não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem hoje que participaram de sequestros, assaltos e assassinatos.




Offline CyberLizard

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #27 Online: 24 de Maio de 2010, 23:55:39 »
Isso não quer dizer que todas as organizações clandestinas que lutavam contra a ditadura eram financiadas por Cuba ou URSS. Nem que todas as pessoas torturadas e executadas pelo estado faziam parte de grupos armados. Sério, quando estamos em uma ditadura existem muitas pessoas dispostas a lutar para acabar com ela. A falta de direitos básicos é sufocante pra muita gente.

Na boa, se acontecer uma nova ditadura no Brasil que acabasse com a liberdade de expressão ou diminuísse o nível de democracia, eu simpatizo muito com a idéia de não ficar sentado no sofá de braços cruzados. Caso a oposição por meios legais fôsse impedida, eu simpatizaria muito com a idéia de acertar uma bala na cabeça de golpistas ou de explodir um quartel. Azar dos que acham que isso é a mesma coisa que um crime comum. A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

Offline Geotecton

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #28 Online: 25 de Maio de 2010, 00:42:16 »
[...]
 A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

Cite um só exemplo de que isto não tenha acontecido, seja em ditaduras de direita ou de esquerda.
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Offline Spitfire

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #29 Online: 25 de Maio de 2010, 00:59:45 »
Isso não quer dizer que todas as organizações clandestinas que lutavam contra a ditadura eram financiadas por Cuba ou URSS. Nem que todas as pessoas torturadas e executadas pelo estado faziam parte de grupos armados. Sério, quando estamos em uma ditadura existem muitas pessoas dispostas a lutar para acabar com ela. A falta de direitos básicos é sufocante pra muita gente.

Na boa, se acontecer uma nova ditadura no Brasil que acabasse com a liberdade de expressão ou diminuísse o nível de democracia, eu simpatizo muito com a idéia de não ficar sentado no sofá de braços cruzados. Caso a oposição por meios legais fôsse impedida, eu simpatizaria muito com a idéia de acertar uma bala na cabeça de golpistas ou de explodir um quartel. Azar dos que acham que isso é a mesma coisa que um crime comum. A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

E você julga valido matar um soldadinho, que vale menos que um peão (em uma visão macro), ao invés de lutar contra os verdadeiros ditadores?

É algo como ser anti-EUA e jogar uma Molotov em um McDonalds matando meia duzia de funcionários.

Inaceitável!

Coisa de moleque mesmo! MOLEQUE! Não encontro termo melhor.

Offline West

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #30 Online: 25 de Maio de 2010, 07:59:17 »
Citação de: Arcanjo Lúcifer
Não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem que tinham treinamento e verbas dadas por Fidel que só defendia os próprios interesses.

Não fez por caridade e não eram santos "defendendo a democracia" como querem vender e não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem hoje que participaram de sequestros, assaltos e assassinatos.

E daí? O regime militar não era apoiado pelos Estados Unidos e Igreja católica, por acaso? Que ao mesmo tempo eram condecendentes/apoiavam o controle da informação, supressão da liberdade de expressão, censura, prisões ilegais, torturas, assassinatos,....  em nome da segurança nacional? Qual o demônio maior nessa história toda? E que eu saiba, não vivemos hoje em um regime comunista "à la cuba". Como dito, nem todos que praticaram crimes políticos à época eram alinhados a qualquer movimento comunista que visasse implantar tal regime no país. A ditadura era motivo de descontentamento de muita gente. Tentar convencer que todos envolvidos na resistência à ditadura eram comunistas terroristas, assassinos e sequestradores de civis imbuídos do objetivo de implantar uma regime comunista no Brasil é mera falácia.



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Offline Spitfire

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #31 Online: 25 de Maio de 2010, 10:33:30 »
Eu cresci em meio ao período da ditadura militar e posso dizer que não foi nem 1/100 do quadro que pintam. Pessoas que estavam interessadas em trabalhar e criar suas famílias não sentiram nada disto que dizem. Agora o neguinho (sem nenhuma conotação racial... sempre tenho que explicar) que tava afins de fazer baderna, este sim, tomava choque... Fernandinhos Beira-Mar não se criavam... muitos se sentiam mais seguros.

Offline CyberLizard

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #32 Online: 25 de Maio de 2010, 11:35:28 »
[...]
 A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

Cite um só exemplo de que isto não tenha acontecido, seja em ditaduras de direita ou de esquerda.
Difícil dizer. Quando há conflito, sempre há também guerra de propaganda. A maioria dos grupos diria que não atacou alvos civis e a propaganda oficial seria de que muitos civis são mortos. Mas por acaso existe o caso de alguma guerra na qual as Convenções de Genebra realmente foram cumpridas? Mas só por causa disso, não acho que entrar em uma guerra é sempre errado e não acho que devemos menosprezar as Convenções de Genebra.

Citação de: Spitfire
E você julga valido matar um soldadinho, que vale menos que um peão (em uma visão macro), ao invés de lutar contra os verdadeiros ditadores?

É algo como ser anti-EUA e jogar uma Molotov em um McDonalds matando meia duzia de funcionários.

Inaceitável!

Coisa de moleque mesmo! MOLEQUE! Não encontro termo melhor.
Bem-vindo à vida real. Quem sai para lutar em guerras ou conflitos não são os chefes de estado, mas os tais "soldadinhos que valem menos que um peão". Eu não queria que fôsse assim, eu queria mudar as regras, mas acho que os chefes de estado não iriam concordar. Em uma guerra, o que se tem são um monte de "moleques" matando-se entre si. Isso acontece justamente porque os tais ditadores sempre ficam atrás destes soldadinhos que saem para defendê-los. Se hipoteticamente os tais ditadores pudessem ser mortos sem "efeitos colaterais", é claro que o melhor a fazer seria matá-los direto. Mas até chegar neste ponto, precisa passar por muitas defesas. Gasta-se muito tempo tentando enfraquecer o inimigo e acumulando armas.

Citação de: Spitfire
Eu cresci em meio ao período da ditadura militar e posso dizer que não foi nem 1/100 do quadro que pintam. Pessoas que estavam interessadas em trabalhar e criar suas famílias não sentiram nada disto que dizem. Agora o neguinho (sem nenhuma conotação racial... sempre tenho que explicar) que tava afins de fazer baderna, este sim, tomava choque... Fernandinhos Beira-Mar não se criavam... muitos se sentiam mais seguros.
Não importa o regime político em que estamos, não incomodar o status quo é sempre seguro e tranqüilo para a maioria da população. Seguir levando a vida sem se importar com a política é algo que ajuda muito regimes autoritários. Mas as pessoas que fazem isso não devem ser consideradas culpadas, pois não se pode culpar alguém por querer apenas levar a sua vida. As piores pessoas, na verdade, são aquelas que além de não fazer nada para melhorar, apenas atacam aqueles que fazem.

Offline Diegojaf

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #33 Online: 25 de Maio de 2010, 11:36:53 »
Isso não quer dizer que todas as organizações clandestinas que lutavam contra a ditadura eram financiadas por Cuba ou URSS. Nem que todas as pessoas torturadas e executadas pelo estado faziam parte de grupos armados. Sério, quando estamos em uma ditadura existem muitas pessoas dispostas a lutar para acabar com ela. A falta de direitos básicos é sufocante pra muita gente.

Na boa, se acontecer uma nova ditadura no Brasil que acabasse com a liberdade de expressão ou diminuísse o nível de democracia, eu simpatizo muito com a idéia de não ficar sentado no sofá de braços cruzados. Caso a oposição por meios legais fôsse impedida, eu simpatizaria muito com a idéia de acertar uma bala na cabeça de golpistas ou de explodir um quartel. Azar dos que acham que isso é a mesma coisa que um crime comum. A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

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Tsc, tsc... que falta de imaginação... :lol:
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline West

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #34 Online: 25 de Maio de 2010, 16:31:00 »
Eu cresci em meio ao período da ditadura militar e posso dizer que não foi nem 1/100 do quadro que pintam. Pessoas que estavam interessadas em trabalhar e criar suas famílias não sentiram nada disto que dizem. Agora o neguinho (sem nenhuma conotação racial... sempre tenho que explicar) que tava afins de fazer baderna, este sim, tomava choque... Fernandinhos Beira-Mar não se criavam... muitos se sentiam mais seguros.

Olha a falácia Spit! A insegurança de hoje não segue diretamente do processo de democratização, assim como a maior segurança nos anos da ditadura não segue diretamente do regime autoritário.

Acho que o CyberLizard já disse tudo. Desde que você fique caladinho no seu canto, aceitando tudo que lhe empurram de goela à baixo, não correrá nenhum risco. Acontece que se ninguém tivesse se sentido incomodado a ponto de representar uma ameça ao sistema, ainda estaria tudo como antes. Quem sabe nos moldes da Corea do Norte. Lá só existe um site - o do governo- onde você descobre que a Corea do Norte é o melhor país do mundo, o lugar perfeito, e os seus cidadãos o paradigma de felicidade para o restante da humanidade, ao mais fiel estilo "Orwelliano".
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Offline West

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #35 Online: 25 de Maio de 2010, 17:28:34 »
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Vladimir Herzog – 30 anos

Os 30 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog. A história de sua morte nos porões da ditadura militar.

HERZOG

25/10/2005 10:23
HERZOG – Para que jamais se repita

Há exatos 30 anos, o jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, despediu-se da mulher, Clarice, e saiu de casa na companhia de um amigo.

Era um sábado. Por volta das 8h ele se apresentou no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), no bairro Paraíso, 1030.

Ali funcionava o aparelho mais brutal de repressão da ditadura militar instalada no país desde abril de 1964. Ali se torturava e até se matava adversários ou supostos adversários do regime.

Havia outros jornalistas presos no DOI-CODI. Herzog imaginou que seria ouvido, responderia sobre a suspeita de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e voltaria para casa a tempo de almoçar com Clarice.

No início da noite, o comando do então II Exército anunciou que Herzog se enforcara em uma das celas do DOI-CODI.

Essa bárbara história começará a ser recontada aqui dentro de instantes. Para que jamais seja esquecida. Para que jamais se repita.

25/10/2005 10:30 HERZOG – Na “Cadeira do dragão” – Por Gustavo Noblat (1)

A voz do locutor no rádio informando que o general e ditador espanhol Francisco Franco havia recebido a extrema-unção se confundia com os gritos de dor e de pânico que vinham de uma sala pequena, sem janelas, com um armário, cordas, paus e outros instrumentos de tortura, uma mesa e uma cadeira.

Sentado na cadeira, com o assento e o encosto para os braços e para a cabeça revestidos de placas de metal, estava Vladimir Herzog, 38 anos, jornalista. Ou apenas Vlado, como era chamado pelos amigos e parentes.

Na sexta-feira, 24 de outubro de 1975, o diretor de jornalismo da TV Cultura havia sido intimado a depor na manhã do sábado, 25, no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, no Bairro Paraíso, 1030, em São Paulo.

A “Cadeira do Dragão”, na qual Vlado estava amarrado pelos braços, pés e tronco, era usada em sessões de choques elétricos para arrancar confissões durante a ditadura militar. Ele estava encapuzado para não poder identificar seus algozes.

Tinha uma equipe de torturadores na sala junto com Vlado – entre eles, um homem de 1,75 metro de altura e 65 quilos, tatuagem de uma âncora cobrindo quase todo braço, cabelo castanho-claro e 39 anos de idade. O nome dele: Pedro Antonio Mira Grancieri, investigador de polícia e funcionário do DOI-CODI.

Grancieri era o mais empenhado em arrancar confissões de Vlado. Em certo momento, os agentes apelaram para os companheiros de trabalho de Vlado que também estavam detidos no DOI-CODI.

Os jornalistas Rodolfo Oswaldo Konder e George Benigno Jatahy puderam falar por um breve momento com ele. Seguiram as ordens de Grancieri e pediram a Vlado para confirmar as informações que os agentes queriam ouvir.

Não adiantou. Ele disse que não sabia de nada – e voltou a ser espancado.

– Tragam a “pimentinha” – ordenou Grancieri.

Pimentinha era o nome dado à máquina de choque elétrico que se ligava à “Cadeira do Dragão”.

Foi nessa hora que os xingamentos e os gritos de dor se misturaram aos ruídos do rádio. Depois de alguns minutos, fez-se silêncio. Um silêncio tão pesado e perturbador que pôde ser ouvido em salas próximas daquela.

25/10/2005 10:45
HERZOG – O Brasil dos militares – (2)

Enquanto durou, de abril de 1964 a março de 1985, o regime militar produziu pelo menos 3,5 mil vítimas entre mortos, torturados, presos e banidos. Os três anos que antecederam a cena descrita na nota abaixo foram os mais brutais. Em 1972, morreram 33 homens e 5 mulheres nos porões da ditadura e em confrontos de guerrilha urbana. No ano seguinte, 28 pessoas foram mortas.

Em 1975 a imprensa entrou na mira do regime. Quando intimaram Herzog no dia 24, 11 jornalistas já estavam presos no DOI-CODI: Sérgio Gomes, Marinilda Marchi, Frederico Pessoas da Silva, Ricardo de Morais Monteiro, José Póla Galé, Luiz Paulo da Costa, Anthony de Cristo, Paulo Sérgio Markun, Diléia Markun, George Duque Estrada e Rodolfo Konder.

A maioria deles tinha ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). O aparelho de repressão do regime havia aniquilado com as demais organizações clandestina de esquerda que pegaram em armas contra a ditadura. O PCB não pegou. Defendia o enfrentamento pelos meios legais – ou quase isso. Nem por isso foi tolerado.

25/10/2005 11:00
HERZOG – Papel picado e choques elétricos (3)

Submetido a novos choques elétricos depois de ter se recusado a confirmar o que os investigadores queriam ouvir, Vlado acabou por admitir finalmente que todo mês dava uma quantia em dinheiro para o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e que recebera três vezes exemplares do Jornal Voz Operária.

Do lado de fora da estreita sala, no térreo do prédio do DOI-CODI, os jornalistas Rodolfo Konder e Duque Estrada podiam ouvir os berros de dor do colega.

Garncieri, o principal carrasco, continuou a sessão de pancadas, até que Vlado não suportou mais e decidiu escrever um depoimento de próprio punho, como era de praxe no DOI-CODI, admitindo ser militante do PCB:

“Eu, Vladimir Herzog, admito ser militante do PCB desde 1971 ou 1972, tendo sido aliciado por Rodolfo Konder”.

Uma vez assinado o documento, num gesto de indignação Vlado rasgou o papel em pedacinhos. Daí em diante foi torturado até não agüentar mais. Eram quase 5 da tarde quando ele sucumbiu de vez às torturas.

25/10/2005 11:15
HERZOG – De repente, a voz dele ficou abafada (4)

Rodolfo Konder estava num banco de madeira a poucos metros da porta de entrada da sala onde Vlado foi torturado. Ele acompanhou a agonia do colega.

“Vladimir estava lá, sentado numa cadeira, com capuz enfiado e já de macacão…”

“Tanto eu como Duque Estrada, de fato, aconselhamos Vladimir a dizer o que sabia, inclusive porque as informações que os interrogadores desejavam ver confirmadas já tinham sido dadas por pessoas presas antes de nós. Vladimir disse que não sabia de nada…”

“A partir de um determinado momento, a voz de Vladimir se modificou, como se tivessem introduzido alguma coisa em sua boca; sua voz ficou abafada, como se lhe tivessem posto uma mordaça. Mais tarde os ruídos cessaram.”

25/10/2005 11:30
HERZOG –O dia em que ele quase foi preso (5)

Já era fim de noite de sexta-feira, 24 de outubro de 1975. Vladimir Herzog dirigia o telejornal noturno da TV Cultura (Canal 2) quando dois personagens estranhos entraram na redação. Eram agentes da polícia e tinham ordem de levá-lo naquela mesma noite para o DOI-CODI.

Ele já esperava ser preso, pois colegas seus de trabalho estavam detidos por participarem de discussões políticas organizadas em sua casa. Sua detenção era uma questão de tempo e parecia que tinha chegado a hora.

Enquanto os dois agentes conversavam com ele, Paulo Nunes, jornalista da emissora que cobria a área militar, ligou para o coronel José Barros Paes, chefe da 2ª Seção do Estado-Maior do II Exército. Pediu que Vlado pudesse se apresentar no dia seguinte pela manhã.

Ficou acertada a apresentação dele às 8 horas do sábado. Vlado despediu-se confiante dos colegas do Canal 2: “Amanhã vou até lá, presto um depoimento e pronto. Não tenho nada a esconder.”

25/10/2005 11:45
HERZOG – A última manhã da vida dele (6)

Paulo Nunes dormiu na casa do Herzog na véspera da ida dele para o DOI-CODI. Nunes acompanhou Vlado até o bairro Paraíso, onde ficava o prédio do Destacamento. Fez isso a pedido de Rui Nogueira, diretor do Canal 2, e de Clarice Herzog, mulher de Vlado.

Às 6h30 da manhã, Vlado acordou. Levantou-se, fez a barba, tomou banho e depois deu um beijo na mulher que ainda estava deitada. Parecia calmo.

Clarice quis se levantar para fazer o café, mas ele não deixou. Os dois se despediram sem imaginar que o faziam pela última vez.

No caminho, Vlado, que era judeu, contou para Nunes histórias de torturas e perseguições nazistas vividos por sua família na Europa.

25/10/2005 12:00
HERZOG – “Você fica e você vai” (7)


Arquivo Agência Estado

No DOI-CODI, Herzog e Nunes foram recebidos por um guarda que exigiu os documentos de identidade. Pelo interfone, o guarda conversou com alguém e em seguida avisou apontando para o Herzog: “Você fica e você vai”. Eram 8 horas da manhã e a partir daquele momento ele teria de prosseguir sozinho.

Às 10 horas, Nunes telefonou para o coronel Paes e avisou que Herzog já estava no DOI. Na conversa, Paes afirmou que ele não era importante para a investigação. E para não interromper o trabalho no Canal 2, seria liberado provavelmente naquele mesmo dia tão logo fosse ouvido.

Nunes ligou às 3h da tarde para Clarice e deu a notícia que mais tarde não se confirmaria: “Seu marido está bem e deve retornar antes do anoitecer”.

25/10/2005 12:15
HEROZG – Para resgatar a credibilidade perdida (8)

Em 1974, o diretor de jornalismo da TV Cultura era Fernando Pacheco Jordão. Herzog integrava a equipe que tinha a tarefa de fazer do canal uma emissora pluralista que apresentasse opiniões conflitantes e contribuísse para uma sociedade democrática. Sua função era a de secretário de redação.

Canal público subordinado à Fundação Padre Anchieta, a Cultura irritou os militares com a sua proposta. Eles resolveram então mudar a direção de jornalismo da emissora, trocando Pacheco Jordão por alguém sintonizado com os ideais do regime.

Entrou Walter Sampaio. Não demorou e a equipe formada na época de Pacheco João foi sendo dizimada. Herzog, que antes de ir para lá havia trabalhado durante cinco anos no caderno Cultura da revista Visão, acabou demitido, mas por pouco tempo.

Em julho de 1975, Rui Nogueira, então Presidente da TV Cultura, convidou Herzog para coordenar o jornalismo da emissora. O canal perdera credibilidade. A contratação de Herzog era uma tentativa de recuperá-la.

Herzog aceitou a proposta e voltou a trabalhar na emissora em setembro de 1975.

25/10/2005 12:30
HERZOG – Delação de graça (9)

Desde quando assumiu a coordenação de jornalismo da TV Cultura no primeiro dia de setembro de 1975, Herzog começou a colecionar inimigos. Um deles foi Cláudio Marques, diretor do Diário Comércio e Indústria e autor de uma coluna nos jornais dominicais Shopping News e City News.

Marques ocupava 10 minutos diários na TV Bandeirantes de São Paulo patrocinados pela Construtora Adolpho Lindenberg. O dono da construtora, Lindenberg, era diretor tesoureiro da Tradição Família e Propriedade (TFP), organização de extrema direita que combatis o comunista e apoiava o regime.

Em 1975, Marques usou sua coluna nos jornais para delatar jornalistas. Herzog foi um deles. Uma das colunas disse:

– A TV Educativa continua uma nau sem rumo. Repercutindo – pessimamente – o documentário exibido pelo Canal 2, fazendo apologia do Vietcong. Eu acho que o pessoal do PC da TV Cultura pensa que isso virou um fio…( Shopping News,7/8/1975).

Outro jornalista que aderiu à campanha de delação iniciada por Marques foi Lenildo Tabosa Pessoa. No Jornal da Tarde do dia 23/9/1975, ele escreveu o artigo “Uma questão de horário”, falando da infiltração da esquerda nos meio de comunicação:

– A infiltração da esquerda contestatória no sistema e na democracia em vários escalões, só não vê quem é conivente e burro. O caso da TV VietCultura (uma referência à TV Culltura) extrapolou. E muito…”

25/10/2005 12:45
HERZOG – Demissão depois da viagem (10)

Quando começam os ataques à TV Cultura, Luiz Weis, editor-chefe de jornalismo, o segundo homem na redação depois de Herzog, foi à Brasília. Conhecia Humberto Barreto, assessor de imprensa do então presidente da República, general Ernesto Geisel. Queria saber quem estava por trás dos ataques à Cultura.

Barreto minimizou os fatos e levou Weis até coronel Vilberto Lima, da Casa Militar da Presidência. O coronel também não deu importância aos fatos. E para surpresa de Weis, lhe pediu a data de nascimento e filiação.

(Com essas duas informações era possível acessar todos os dados de uma pessoa na Central Nacional de Informação – CNI).

Poucos dias depois de sua ida a Brasília, Weis teve de pedir demissão por pressão do Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão de espionagem do regime. A alegação era de que ele era do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e por isso não podia trabalhar em uma emissora pública.

25/10/2005 13:00
HERZOG – O cheiro da morte (11)

Passava das 5h30 da tarde de sábado, 25 de outubro de 1975. Clarice, mulher de Herzog, perdera a esperança de ter o marido de volta naquele dia. Ela havia esperado até perto das 6 da tarde para contar à sogra, dona Zora, sobre a prisão do filho. Achava que seria melhor para a sogra ouvir a notícia da boca dele, quando já estivesse solto.

Às 6 da tarde ela contou a dona Zora que Herzog tinha ido depor no DOI. Tentou suavizar a notícia. Explicou que ele havia sido intimado na sexta e autorizado a se apresentar só no dia seguinte. Que esse tipo de regalia não era comum e que muitos outros jornalistas amigos dele também estavam presos.

Dona Zora balançou a cabeça discordando e profetizou:

– Vão matar o Vlado.

Herzog era ou único filho de dona Zora. Mãe judia e viúva há três anos, ela viu parte de sua família ser exterminada pelos nazistas. Quando Herzog tinha seis anos, ela e o marido fugiram da Iugoslávia para a Itália e depois para o Brasil.

A notícia de que o filho estava preso reavivou antigas e amargas lembranças dela. Dona Zora farejou a morte.

25/10/2005 13:15
HERZOG – “Fernando, o Vlado morreu” (12)

Às 10 horas da noite do dia 25 de outubro de 1975, o diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e amigo pessoal de Herzog, Fernado Pacheco Jordão, recebeu uma ligação estranha.

Era uma companheira de profissão da Rede Globo querendo marcar um encontro para tratar de um assunto urgente em um bar na Praça da República, em São Paulo. Ele não levou a sério e respondeu que estava ocupado.

Menos de dez minutos depois, ligou Hélio Oliveira, editor-chefe do Jornal Nacional.
– ‘Fernando, uma notícia triste para lhe dar, o Vlado morreu. O Lang (jornalista da Rede Globo que cobria a área militar) ligou agora há pouco e disse que o II Exército está preparando uma nota oficial dizendo que o Vlado se suicidou.”

Pacheco Jordão perdeu a voz por alguns segundos.

25/10/2005 13:30
HERZOG – “Mataram o Vlado” (13)

Às 11 da noite do dia 25 de outubro de 1975, tocou a campainha na casa de Herzog. Era o diretor da TV Cultura, Rui Nogueira. Clarice, mulher de Herzog, havia telefonado para ele duas horas antes e ele lhe dissera que precisava vê-la naquela noite.

Nogueira estava acompanhado de Armando Figueiredo, assessor de imprensa da Secretaria de Cultura, e de mais quatro homens que Clarice não conhecia.

– Olha, as coisas se complicaram – disse Nogueira sem levantar o tom da voz, assim como quem se prepara para dar uma má notícia.
– Ccomo assim se complicaram? – perguntou Clarice, nervosa.

Amando Figueiredo olhou para Nogueira que estava visivelmente constrangido. Queria dar a notícia, mas só conseguia repetir que as coisas haviam se complicado.

Foi então que Clarice desconfiou do que acontecera.

– Mataram o Vlado. Eles mataram o Vlado – gritou.

A campainha tocou novamente. Era Fátima, mulher de Fernando Pacheco Jordão. Ele já sabia da morte e havia alertado a mulher para procurar Clarice.

Chorando muito, Clarice informou à amiga sobre a morte do marido.

– Eles mataram o Vlado – repetiu. E era tudo o que ela conseguia dizer.

25/10/2005 13:45
HERZOG – “Foi suicídio”, anuncia o Exército (14)

Da nota oficial distribuída pelo comando do II Exército na manhã do dia 26 de outubro de 1975:

“Cerca dás 16 horas, ao ser procurado na sala onde fora deixado desacompanhado, (Herzog) foi encontrado morto, enforcado tendo para tanto utilizado uma tira de pano. (...) As atitudes do senhor Vladimir Herzog, desde a sua chegada ao órgão do II Exército, não faziam supor o gesto extremo por ele tomado”.


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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #36 Online: 25 de Maio de 2010, 17:30:04 »
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25/10/2005 14:00
HERZOG – Por um ato ecumêmico (15)

Nota oficial do Sindicato do Jornalista de São Paulo em resposta ao comunicado do II Exército sobre a morte de Herzog:

“O Sindicato dos Jornalistas, que ainda aguarda esclarecimentos necessários e completos, denuncia e reclama das autoridades um fim a esta situação, em que jornalistas profissionais, no pleno, claro e público exercício de sua profissão, cidadãos com trabalho regular e residência conhecida, permanecem sujeitos ao arbítrio de órgãos de segurança que os levam de suas casas ou de seus locais de trabalho, sempre a pretexto de que irão apenas prestar depoimento, e os mantêm presos, incomunicáveis, sem assistência da família e sem assistência jurídica, por vários dias e até por várias semanas, em flagrante desrespeito à lei.

Trata-se de uma situação, pelas peculiaridades, capaz de conduzir a desfechos trágicos, como a morte do jornalista Vladimir Herzog, que se apresentara espontaneamente para um depoimento”.

A nota foi assinada pelo jornalista Audálio Dantas, presidente do sindicato. Mais de 300 pessoas participaram da primeira reunião promovida pelo sindicato logo após o anúncio da morte de Herozg. Elas estavam tristes, indignadas e com medo.

Ninguém acreditava na versão oficial de que Herzog havia se suicidado. Mas ainda não dera tempo de surgirem as evidências de que ele de fato fora torturado e morto.

O primeiro gesto daquelas pessoas foi o de aprovar a proposta de batisar com o nome de Vladimir Herzog o auditório onde acontecia a reunião. Depois, o jornalista David de Morais sugeriu a realização de um ato religioso ecumênico em memória de Herzog.

O ato serviria para marcar o sétimo dia da morte do jornalista.

25/10/2005 14:15
HERZOG – Sob o império do medo (16)

Quem cuidou do enterro de Herzog foi a mãe dele, dona Zora. Ele era judeu e sua mulher, católica. A pedido de Clarice, a cerimônia foi marcada para a segunda-feira, 27 de outubro, ao invés do domingo, dia seguinte à morte, como desejavam os militares. Era para dar tempo de avisar às pessoas.

O corpo foi velado no Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Seguindo as tradições judaicas, foi feito o serviço de Tahara (lavagem do corpo) numa sala do necrotério do hospital.

Clarice, nesse dia ainda, tentou fazer uma necrópsia do corpo do marido antes da Tahara. Mas ela precisava que três médicos assinassem o exame para ter alguma validade jurídica – e apenas um havia se disposto a assinar. A necrópsia poderia constatar as marcas da tortura.

Foto: Elvira Alegre

No velório, Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas, chorou a morte do amigo.

25/10/2005 14:30
HERZOG – O velório (17)

Foto: Elvira Alegre

Dom Paulo Evaristo Arns, então Cardeal Arcebispo de São Paulo (centro) e Franco Montoro, líder da oposição ao governo no Senado (à esquerda), compareceram ao velório de Herzog no Hospital Albert Einstein.

25/10/2005 14:40
HERZOG – Enterro às pressas (18)

Foto: Elvira Alegre

Herzog foi enterrado no túmulo 64 da quadra 28 do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, ao som dos cantos do músico judeu Paul Novak e do barulho das sirenes dos carros dos órgãos de repressão do regime. Quase 600 pessoas, entre jornalistas, estudantes, artistas e parlamentares testemunharam o enterro.

A Congregação Israelita foi pressionada para enterrar Herzog o mais rápido possível. A pressa foi tanta que quando Dona Zora, mãe do jornalista, chegou ao cemitério o caixão já estava sendo coberto por terra.

Um ritual de enterro judaico costuma durar 2 horas em média. O de Herzog não durou 15 minutos. Clarice ficou revoltada.

A cerimônia foi marcada pela incerteza se o túmulo estava em local reservado para suicidas. O rabino-mor Fritz Pinkuss informou depois que o corpo de Herzog fora enterrado em área reservada para suicidas.

Na semana seguinte, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, o rabino Henri Sobel, que estava no Brasil há 5 anos, desmentiu a informação e garantiu que a quadra 28 do Cemitério Israelita era reservado a pessoas que tiveram morte natural.

25/10/2005 14:55
HERZOG – “Tanto horror perante os céus” (19)

As duas únicas testemunhas das torturas sofridas por Herzog foram os jornalistas Rodolfo Konder e Duque Estrada, que também estavam presos no DOI.

Ao encontrar dona Zora, mãe de Herzog, no enterro do amigo, Konder não se conteve. Abraçado a ela e aos prantos, ele acusou os militares:
– Eles mataram o Vlado.

Repetiu o que dissera Clarice ao saber da notícia.

Depois que o caixão desceu à cova, Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalista de São Paulo, declamou a poesia “Senhor Deus dos Desgraçados”, de Castro Alves, que a certa altura diz assim:

“Senhor Deus dos desgraçados,
Dizei-me Vós, Senhor Deus,
Se é mentira, se é verdade,
Tanto horror perante os céus”.

A atriz Ruth Escobar ensaiou um curto discurso: “Até quando vamos continuar suportando tanta violência? Até quando vamos continuar enterrando os nossos mortos em silêncio?”

A ditadura militar durava há 11 anos. Duraria mais 10.

25/10/2005 15:10
HERZOG – A dor de Clarice (20)

Foto: Elvira Alegre

Clarice Herzog (ao centro de cabelo curto) depois que foi jogada a última pá de terra sobre o caixão com o corpo do marido.

25/10/2005 15:15
HERZOG – Para combater a subversão (21)

Cinco dias após a morte de Herzog, a mídia foi obrigada a divulgar uma nota elaborada pelo Serviço Nacional de Informação (SNI) – o órgão de espionagem do regime criado pelo general Golbery do Couto e Silva, então ministro da Casa Civil do presidente Ernesto Geisel.

A nota sustentava a tese de suicídio. Por ordem do SNI, foi divulgada sem que se indicasse o seu caráter oficial, e sem que se pudesse dizer quem a elaborara. Foi para funcionar, digamos, como uma espécie de editorial dos veículos de comunicação, para que as pessoas pensassem que era a opinião deles.

“É por todos os motivos, profundamente lamentável o suicídio do jornalista Vladimir Herzog. Sua morte ocorre no contexto da crescente atividade desenvolvida pelo comunismo no Brasil, com sua ação de infiltração e de proselitismo.

As chamadas “prisões em massa” constituem parte da técnica desenvolvida pelas organizações comunistas para neutralizar ou impedir a ação dos órgãos de segurança. Não há “prisões em massa”, e sim prisões legais, para identificar e aprofundar os dados disponíveis sobre a ação comunista.

Situam-se dentro do quadro de combate a subversão, que motivou a nota circular do Ministério da Justiça.”

25/10/2005 15:25
HERZOG – Lembranças de Hitler (22)

Na mesma quarta-feira em que o SNI soltou para a imprensa a nota sobre a morte de Herzog (leia abaixo), o líder do governo no Senado, Petrônio Portela, defendeu os atos do regime:

– O governo prende e prenderá quantos estiverem envolvidos nas malhas da subversão (...) O Estado está vigilante e ativo em sua defesa, usando os mecanismos da lei para que tenhamos paz (...) A repressão é absolutamente necessária.

O senador Leite Chaves, da oposição, pediu um aparte a Portela e acusou a repressão militar pela morte do jornalista.

– O Exército é uma instituição respeitada pelo povo e que deveria ser intocável (...) “Hitler, quando desejava praticar atos ignominiosos, como os que estamos presenciando, não se utilizava do Exército, mas sim das forças SS, a polícia secreta alemã que praticou inúmeros crimes durante a Segunda Guerra mundial.

(Em abril de 1964, Portela era governador do Piaui e foi um dos poucos governadores a se opor ao golpe militar deflagrado no dia 31 de março em Minas Gerais pelo general Mourão Filho.

Depois aderiu. Quanto a Mourão Filho, esse se referiu a si mesmo como “vaca fardada”, desgostoso com os rumos do regime.)

25/10/2005 15:35
HERZOG – A farsa do inquérito (23)

No dia 30 de outubro, o general Ednardo d`Ávila Mello, comandante do II Exército, mandou instaurar um Inquérito Policial-Militar (IPM) para apurar “as circunstâncias em que ocorreu o suicídio do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do centro de Operações de Defesa Interna do II Exército”.

O IPM deixou claro o objetivo do regime de responsabilizar Herzog por sua própria morte. Ele poderia ter sido aberto para apurar “as circunstâncias em que ocorreu a morte do jornalista”. Mas, não: foi aberto para apurar “as circunstâncias em que ocorreu o suicídio” de Herzog. O regime não era nada sutil e não se preocupava em ser. Tinha a força das armas ao seu lado.

25/10/2005 15:45
HERZOG – In memorian (24)

O Culto Ecumênico, que havia sido marcado em reunião no Sindicato dos Jornalistas, aconteceu no dia 31 de outubro de 1975, na Catedral da Sé, em São Paulo.

O clima era de muita insegurança. A morte de Herzog serviu para fazer estremecer o governo Geisel. Qualquer tumulto que viesse a ocorrer durante o ato religioso daria fôlego à linha dura do regime que resistia à idéia de redemocratização do país.

Geisel defendia uma abertura política “lenta, segura e gradual”, mas admitia torturas e até assassinatos para defender a ditadura.

O culto contou com a presença dos dois líderes religiosos mais odiados pelos militares – Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Arcebispo de São Paulo, e Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife. Participaram também o pastor protestante James Wright e o rabino Henry Sobel.

O nome de Dom Hélder fora banido da mídia por ordem da censura. Nada podia ser dito a respeito dele – nem mesmo contra ele. Era como se ele tivesse morrido ou desaparecido.

Mais de 500 policiais foram escalados no dia do Culto Ecumênico para montar 385 barreiras armadas pela cidade de São Paulo. Era a Operação Gutemberg.

Em alguns bairros, o trânsito foi delimitado por cones e a passagem de carros se tornou difícil. Em outros locais, carros da polícia travavam as ruas.

A operação policial tinha o único objetivo de impedir o acesso do público à Catedral da Sé. Mesmo assim, oito mil pessoas compareceram. Muitas delas foram fotografadas e filmadas à distância por agentes da repressão dirfarçados de jornalistas.

Arquivo Agência Estado

25/10/2005 15:55
HERZOG – Censura ampla, geral e irrestrita (25)

Quem foi à Catedral da Sé passou por um teste de fogo. A polícia estava nas redondezas, pronta para agir.

Do lado de fora da catedral, agentes policiais provocavam quem chegava e quem ía embora. Filmavam e fotografavam. Às 16h, a catedral estava lotada.

O culto começou com atraso para que o pastor Jaime Wright pudesse chegar. Ele havia ficado mais de 4 horas preso nas barreiras montadas pela polícia.

Os veículos de comunicação foram proibidos de divulgar qualquer notícia sobre o culto.

Arquivo Agência Estado

25/10/2005 16:05
HERZOG – Mais um ato da farsa (26)

Na sexta-feira 19 de dezembro de 1975, foi divulgado o resultado do Inquérito Policial-Militar instaurado para apurar as circunstâncias que cercaram “o suicídio” de Herzog. O IPM concluiu que Herzog havia se enforcado com um cinto.

Em janeiro de 1976, o procurador Oscar Queiroz do Prado pediu o arquivamento do inquérito. Em seu parecer, considerou “uma irregularidade administrativa” a presença de um cinto no macacão de um preso.

Do parecer: “Não podemos deixar de lamentar a inadvertida entrega ao então investigado de um macacão com cinto, com o qual ele se enforcou, o que para nós constitui irregularidade administrativa, dado o perigo que pode oferecer”.

25/10/2005 16:15
HERZOG – “Em nome da verdade”(27)

Depois que conheceu o resultado do IPM sobre a morte de Herzog, um grupo de jornalistas escreveu o documento “Em nome da verdade”. Assinado por 1.004 jornalistas de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, o documento contestava as conclusões do IPM..

Os principais pontos do documento, mais tarde remetido à Justiça Militar:

Não havia cinto no macacão que Herzog foi obrigado a vestir tão logo chegou ao prédio do DOI-CODI. Os macacões usados pelos outros presos eram iguais ao dele – e não tinham cinto. A ausência de cinto era para prevenir um possível suicídio.

A posição da cadeira supostamente usada por Herzog para se pendurar na cela e em seguida se suicidar não permitiria tal ação. Na fotografia oficial de Herzog enforcado, a cadeira está na frente do corpo, em primeiro plano. Deveria estar atrás caso a cena fosse verdadeira.

O pescoço de Herzog apresentava duas áreas roxas, o que caracteriza morte por estrangulamento. Para que a tese do suicídio prevalecesse deveria haver uma única marca.

De resto, o laudo de exame do corpo que concluiu pelo suicídio foi assinado por dois legistas – mas um deles, depois, admitiria não ter examinado o corpo.

25/10/2005 16:25
HERZOG – O triunfo da verdade (28 – FIM)

Vladimir Herzog tinha dois filhos quando foi morto. Ivan, na época com nove anos, e André com sete.

No dia 20 de abril de 1976, Clarice e os dois filhos entraram na Justiça com uma ação declaratória responsabilizando a União pela tortura e morte de Herzog.

Era a primeira vez que havia uma ação desse tipo na história da Justiça brasileira. E seria o primeiro de uma série de casos de vítimas da ditadura a serem julgados por um Tribunal Civil.

Dois anos depois, a vitória da verdade – por mais brutal que a verdade tenha sido.

Em 27 de outubro de 1978, exatos três anos depois do dia do enterro de Herzog, o juiz Márcio José de Morais, da 7a. Vara da Justiça Federal de São Paulo, proferiu sua sentença.

Ele declarou a União responsável pela prisão, tortura e morte de Vladimir Herzog. Considerou imprestável o laudo médico-legal que amparava a versão oficial. E terminou afirmando que as autoridades não conseguiram provar que a morte foi por suicídio.

Foto: Elvira Alegre

Dona Zora, a mãe de Herzog (à esquerda), e Clarice abraçada com os filhos Ivan (à direita) e André no dia do velório de Vlado.

FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/arquivo01.asp

MAIS:

http://historia.abril.com.br/politica/vladimir-herzog-mataram-vlado-434343.shtml
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Herzog
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Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #37 Online: 25 de Maio de 2010, 22:48:52 »
Isso não quer dizer que todas as organizações clandestinas que lutavam contra a ditadura eram financiadas por Cuba ou URSS. Nem que todas as pessoas torturadas e executadas pelo estado faziam parte de grupos armados. Sério, quando estamos em uma ditadura existem muitas pessoas dispostas a lutar para acabar com ela. A falta de direitos básicos é sufocante pra muita gente.

Na boa, se acontecer uma nova ditadura no Brasil que acabasse com a liberdade de expressão ou diminuísse o nível de democracia, eu simpatizo muito com a idéia de não ficar sentado no sofá de braços cruzados. Caso a oposição por meios legais fôsse impedida, eu simpatizaria muito com a idéia de acertar uma bala na cabeça de golpistas ou de explodir um quartel. Azar dos que acham que isso é a mesma coisa que um crime comum. A única coisa com a qual não simpatizo é ataques à alvos civis com propósito de terrorismo.

Vc supõe que quem quer acabar com a democracia é do setor militar, mas e se for de algum partideco da esquerda que depois de alguns anos de governo quer mudar as leis para se beneficiar calando a boca de imprensa e comprando eleitor com todo tipo de adoça-bico travestido de "programa sociá" para se garantir eternamente no pudê?
 
E se for de um grupo que aceitava financiamento de algum ditador de merda para se impor aqui a força como tentaram fazer?

Vc sairia para a rua disposto e fazer a mesma coisa? Meter bala na testa de um esquerdista que tentou se perpetuar no poder?



Ou será que legislar em causa própria não é golpe ?

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #38 Online: 25 de Maio de 2010, 22:54:56 »
Citação de: Arcanjo Lúcifer
Não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem que tinham treinamento e verbas dadas por Fidel que só defendia os próprios interesses.

Não fez por caridade e não eram santos "defendendo a democracia" como querem vender e não muda o fato dos próprios guerrilheiros admitirem hoje que participaram de sequestros, assaltos e assassinatos.

E daí? O regime militar não era apoiado pelos Estados Unidos e Igreja católica, por acaso? Que ao mesmo tempo eram condecendentes/apoiavam o controle da informação, supressão da liberdade de expressão, censura, prisões ilegais, torturas, assassinatos,....  em nome da segurança nacional? Qual o demônio maior nessa história toda? E que eu saiba, não vivemos hoje em um regime comunista "à la cuba". Como dito, nem todos que praticaram crimes políticos à época eram alinhados a qualquer movimento comunista que visasse implantar tal regime no país. A ditadura era motivo de descontentamento de muita gente. Tentar convencer que todos envolvidos na resistência à ditadura eram comunistas terroristas, assassinos e sequestradores de civis imbuídos do objetivo de implantar uma regime comunista no Brasil é mera falácia.





Não vivemos em um regime comunista graças aos militares, não graças a gente como o Ilustre Timoneiro. Agradeça a eles.

Citar
A ditadura era motivo de descontentamento de muita gente. Tentar convencer que todos envolvidos na resistência à ditadura eram comunistas terroristas, assassinos e sequestradores de civis imbuídos do objetivo de implantar uma regime comunista no Brasil é mera falácia.

Falácia é afirmar que tais grupos lutavam contra a tal "ditadura" quando na verdade queriam era implantar a deles.




Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #39 Online: 25 de Maio de 2010, 22:58:16 »
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Bem-vindo à vida real. Quem sai para lutar em guerras ou conflitos não são os chefes de estado, mas os tais "soldadinhos que valem menos que um peão". Eu não queria que fôsse assim, eu queria mudar as regras, mas acho que os chefes de estado não iriam concordar. Em uma guerra, o que se tem são um monte de "moleques" matando-se entre si. Isso acontece justamente porque os tais ditadores sempre ficam atrás destes soldadinhos que saem para defendê-los. Se hipoteticamente os tais ditadores pudessem ser mortos sem "efeitos colaterais", é claro que o melhor a fazer seria matá-los direto. Mas até chegar neste ponto, precisa passar por muitas defesas. Gasta-se muito tempo tentando enfraquecer o inimigo e acumulando armas.

O que vc disse serve para turma do Fidel tb, ele joga com os peões e quem morre são os civis.

Portanto tb não vejo problema algum se mataram os peões dele, na verdade só acho que erraram ao não acabar o serviço.

Offline Spitfire

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #40 Online: 25 de Maio de 2010, 23:08:20 »
Toda esta baboseirada de ideologias políticas e lutar pelo direito de eleger os bandalhos que agora ocupam o cenário político (e aqui falo em sentido muito amplo, sem nenhum ranço anti-petista), esvai-se pinico abaixo quando nascem os filhos e as boquinhas para alimentar pedem comida.  :lazy:

Offline CyberLizard

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #41 Online: 25 de Maio de 2010, 23:28:54 »
Vc supõe que quem quer acabar com a democracia é do setor militar, mas e se for de algum partideco da esquerda que depois de alguns anos de governo quer mudar as leis para se beneficiar calando a boca de imprensa e comprando eleitor com todo tipo de adoça-bico travestido de "programa sociá" para se garantir eternamente no pudê?
 
E se for de um grupo que aceitava financiamento de algum ditador de merda para se impor aqui a força como tentaram fazer?

Vc sairia para a rua disposto e fazer a mesma coisa? Meter bala na testa de um esquerdista que tentou se perpetuar no poder?

Ou será que legislar em causa própria não é golpe ?
Se restringir liberdade de expressão ou acabar com eleições pra mim é tudo a mesma coisa.

Não vivemos em um regime comunista graças aos militares, não graças a gente como o Ilustre Timoneiro. Agradeça a eles.

Isso é o que eles dizem/diziam. Temos que agradecê-los por impedir a existência de uma suposta ditadura comunista que iria acabar com a democracia, já que para fazer isso, se sacrificaram impondo uma ditadura e acabando com a democracia.

Citação de: Palpatine


Siiim, eu concordo com isso. Eu sei como é. Eu e os militares brasileiros fizemos muito pela democracia no passado. Tanto no Brasil como na galáxia. Eu entendo tudo isso porque eu também nunca quis ser imperador. Mas infelizmente as coisas começaram a sair do controle, porque os comunistas e os jedis tentaram dar um golpe e daí eu, pelo bem da democracia que tanto amo, me proclamei Imperador, extingui a República e inaugurei um governo ditatorial que durou quase trinta anos. Só que foi tudo para impedir a ditadura dos comunistas e dos jedis, gente.


O que vc disse serve para turma do Fidel tb, ele joga com os peões e quem morre são os civis.

Portanto tb não vejo problema algum se mataram os peões dele, na verdade só acho que erraram ao não acabar o serviço.
Quais eram os tais peões? Todas as pessoas torturadas ou mortas durante a ditadura? Caraca, tem 2 professores meus que foram peões de Fidel Castro então! O tal do Vladimir Herzog era um agente cubano ou financiado por cuba infiltrado no Brasil também!?

Toda esta baboseirada de ideologias políticas e lutar pelo direito de eleger os bandalhos que agora ocupam o cenário político (e aqui falo em sentido muito amplo, sem nenhum ranço anti-petista), esvai-se pinico abaixo quando nascem os filhos e as boquinhas para alimentar pedem comida.  :lazy:
Então você seria à favor da continuidade da ditadura militar no Brasil? Desde que ninguém te incomode enqüanto leva a sua vida criando seus filhos? E se um de seus filhos acabasse tendo contato com idéias proibidas e fôsse levado por isso até o DOI-CODI para averigüações?

Offline Moro

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #42 Online: 26 de Maio de 2010, 00:11:38 »
O raciocínio normalmente usado é, já que o governo militar era ilegítimo, logo quem lutava contra ele era herói.

Vamos separar as coisas:

O regime militar foi fruto de um golpe. Fato e portanto, tecnicamente ilegítimo.
A maior parte dos guerrilheiros era composta por pessoas que lutavam CONTRA a democracia, não eram heróis porra nenhuma e estavam lutando pelo poder.
A luta armada era entre dois grupos anti-democráticos, lutando ambos uma luta suja mas de poder evidentemente assimétrico
E sim, a esquerda antes do golpe articulava seu próprio golpe, segundo historiadores como Elio Gaspari.

Então, o fato de ter havido crimes de ambos os lados não glorifica nenhum dos dois outros lados, e claro houve excessos fora do contexto da luta armada dos dois lados.
« Última modificação: 26 de Maio de 2010, 10:00:12 por Agnóstico »
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Arcanjo Lúcifer

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #43 Online: 26 de Maio de 2010, 05:27:15 »
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Isso é o que eles dizem/diziam. Temos que agradecê-los por impedir a existência de uma suposta ditadura comunista que iria acabar com a democracia, já que para fazer isso, se sacrificaram impondo uma ditadura e acabando com a democracia.

Não seria "uma suposta" ditadura comunista.

Seria uma ditadura comunista já que é comprovado que o Fidel dava treinamento, verbas e cobertura para guerrilheiros.

Não fazia por caridade , muito menos para garantir eleições livres aqui.

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Quais eram os tais peões? Todas as pessoas torturadas ou mortas durante a ditadura? Caraca, tem 2 professores meus que foram peões de Fidel Castro então! O tal do Vladimir Herzog era um agente cubano ou financiado por cuba infiltrado no Brasil também!?


Vc sabe qual era a vida particular deles FORA da sala de aula? Se não sabe , não tem como garantir que não eram mesmo.

Offline Spitfire

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #44 Online: 26 de Maio de 2010, 09:43:45 »
Toda esta baboseirada de ideologias políticas e lutar pelo direito de eleger os bandalhos que agora ocupam o cenário político (e aqui falo em sentido muito amplo, sem nenhum ranço anti-petista), esvai-se pinico abaixo quando nascem os filhos e as boquinhas para alimentar pedem comida.  :lazy:
Então você seria à favor da continuidade da ditadura militar no Brasil? Desde que ninguém te incomode enqüanto leva a sua vida criando seus filhos? E se um de seus filhos acabasse tendo contato com idéias proibidas e fôsse levado por isso até o DOI-CODI para averigüações?

Besteira... ninguém ia preso por conta de seguir esta ou aquela ideologia... eram presos para averiguação aqueles que alem de seguirem uma determinada ideologia, mantinham atividades ilegais, como por exemplo dar suporte a ações ciminosas e que fossem caguetados por membros destes mesmos grupos.

Se algum dos meus filhos (na verdade tenho 2 filhAs) estivesse, naquela época ou até mesmo atualmente, não importa, em alguma atividade criminosa, que responda pelos seus atos e assuma as consequencias. O fato de ser uma ditadura não justificaria seus atos criminosos. Não teve nenhum santinho na luta contra a ditadura, cometeram atos tão ou mais hediondos quanto  cometeram os instaladores da ditadura.

Além do mais vamos acabar com este blá-blá-blá furado de ditadura sanguinária... morrem mais pessoas atualmente, anualmente, nas filas de atendimento do INSS do que morreram ao longo de 20 anos nas mãos da ditadura. O número é 350... reinvindicado pelas próprias famílias dos desaparecidos. Se antes tinhamos um governo opressor, agora temos governos omissos.

Offline West

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #45 Online: 26 de Maio de 2010, 10:06:08 »
Citação de: Spitfire
Besteira... ninguém ia preso por conta de seguir esta ou aquela ideologia... eram presos para averiguação aqueles que alem de seguirem uma determinada ideologia, mantinham atividades ilegais, como por exemplo dar suporte a ações ciminosas e que fossem caguetados  por membros destes mesmos grupos.

O problema é quem definia o que era e o que não era atividade ilegal. Para a ditadura a simples liberdade de dizer o que se pensava era tida como ilegal!

Citação de: Spitfire
Se algum dos meus filhos (na verdade tenho 2 filhAs) estivesse, naquela época ou até mesmo atualmente, não importa, em alguma atividade criminosa, que responda pelos seus atos e assuma as consequencias. O fato de ser uma ditadura não justificaria seus atos criminosos. Não teve nenhum santinho na luta contra a ditadura, cometeram atos tão ou mais hediondos quanto  cometeram os instaladores da ditadura.

Ponto pacífico - já concordamos ateriormente que criminosos devem ser punidos independentemente de sua orientação  político-partidária.

Citação de: Spitfire
Além do mais vamos acabar com este blá-blá-blá furado de ditadura sanguinária... morrem mais pessoas atualmente, anualmente, nas filas de atendimento do INSS do que morreram ao longo de 20 anos nas mãos da ditadura. O número é 350... reinvindicado pelas próprias famílias dos desaparecidos. Se antes tinhamos um governo opressor, agora temos governos omissos.

Morte perpetradas pelo Estado "oficialmente justificadas" - que absurdo maior pode existir!?

O fato de morrerem mais ou menos pessoas hoje não justifica crimes do passado. Não há nenhuma relação entre as duas coisas.

Para mim, a impunidade só serve para abrir caminho à prática de novos crimes. Os militares fizeram o que fizeram e ficou por isso mesmo, então o que garante que outros não venham a fazer o mesmo?
« Última modificação: 26 de Maio de 2010, 10:08:44 por West »
"Houve um tempo em que os anjos perambulavam na terra.
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Offline Spitfire

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #46 Online: 26 de Maio de 2010, 10:43:19 »
Citação de: Spitfire
Besteira... ninguém ia preso por conta de seguir esta ou aquela ideologia... eram presos para averiguação aqueles que alem de seguirem uma determinada ideologia, mantinham atividades ilegais, como por exemplo dar suporte a ações ciminosas e que fossem caguetados  por membros destes mesmos grupos.

O problema é quem definia o que era e o que não era atividade ilegal. Para a ditadura a simples liberdade de dizer o que se pensava era tida como ilegal!


Besteira... programas humorísticos e compositores deitavam e rolavam sobre a ditadura e seus protagonistas... a ditadura era tão "severa" que cansavam de enrolar os censores.

Atualmente se conta muito bullshit sobre a ditadura militar de 60/70... principalmente por aqueles envolvidos criminalmente com a luta armada, querem sentir-se glorificados... BULLSHIT!

Offline Moro

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #47 Online: 26 de Maio de 2010, 10:55:04 »
O Cyber pensa que o regime implantado aqui era o Cubano. 99,99% da população não deve sequer ter sentido impacto em suas vidas, diferentemente da merda cubana.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline CyberLizard

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #48 Online: 26 de Maio de 2010, 11:34:25 »
Citação de: Spitfire
Besteira... ninguém ia preso por conta de seguir esta ou aquela ideologia... eram presos para averiguação aqueles que alem de seguirem uma determinada ideologia, mantinham atividades ilegais, como por exemplo dar suporte a ações ciminosas e que fossem caguetados  por membros destes mesmos grupos.

O problema é quem definia o que era e o que não era atividade ilegal. Para a ditadura a simples liberdade de dizer o que se pensava era tida como ilegal!


Besteira... programas humorísticos e compositores deitavam e rolavam sobre a ditadura e seus protagonistas... a ditadura era tão "severa" que cansavam de enrolar os censores.

Atualmente se conta muito bullshit sobre a ditadura militar de 60/70... principalmente por aqueles envolvidos criminalmente com a luta armada, querem sentir-se glorificados... BULLSHIT!

Então temos acordo de que haviam censores. E o que eles faziam afinal? Qual era a função? Dar mensagens de encorajamento para artistas? Serem musas inspiradoras? Você acha algo inócuo existir censores em um país? Existiu o caso do humorista Juca Chaves que foi preso, processado e afastado por causa de uma piada feita. Quando perguntado como fazer para medir um burro, a resposta dele foi "Médici dos pés à cabeça.".

O Cyber pensa que o regime implantado aqui era o Cubano. 99,99% da população não deve sequer ter sentido impacto em suas vidas, diferentemente da merda cubana.
Não tenho certeza se isso é "tu quoque" ou não. Mas tenho certeza que é irrelevante para esta discussão. A política Cubana é problema a ser tratado ou mudado pelo povo cubano, caso eles assim desejem, não por intervenções externas.

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Isso é o que eles dizem/diziam. Temos que agradecê-los por impedir a existência de uma suposta ditadura comunista que iria acabar com a democracia, já que para fazer isso, se sacrificaram impondo uma ditadura e acabando com a democracia.

Não seria "uma suposta" ditadura comunista.

Seria uma ditadura comunista já que é comprovado que o Fidel dava treinamento, verbas e cobertura para guerrilheiros.

Não fazia por caridade , muito menos para garantir eleições livres aqui.

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Quais eram os tais peões? Todas as pessoas torturadas ou mortas durante a ditadura? Caraca, tem 2 professores meus que foram peões de Fidel Castro então! O tal do Vladimir Herzog era um agente cubano ou financiado por cuba infiltrado no Brasil também!?


Vc sabe qual era a vida particular deles FORA da sala de aula? Se não sabe , não tem como garantir que não eram mesmo.
Eu sei, esta é a versão que os militares dão/davam para a história. Todas as pessoas presas e torturadas eram terroristas, baderneiros, ou pior, comunistas. O que eu acho impressionante nestas justificativas é a quantidade enorme de terroristas que haviam no Brasil nesta época, a quantidade enorme de pessoas que estariam mentindo falando de repressão e censura e também a naturalidade com que algumas pessoas assumem que certas pessoas merecem mesmo ser torturadas e mortas sem nem mesmo ocorrer julgamento.

Offline Hold the Door

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Re: Brasil vai a julgamento por crimes da ditadura
« Resposta #49 Online: 26 de Maio de 2010, 11:58:06 »
Eu sei, esta é a versão que os militares dão/davam para a história. Todas as pessoas presas e torturadas eram terroristas, baderneiros, ou pior, comunistas. O que eu acho impressionante nestas justificativas é a quantidade enorme de terroristas que haviam no Brasil nesta época, a quantidade enorme de pessoas que estariam mentindo falando de repressão e censura e também a naturalidade com que algumas pessoas assumem que certas pessoas merecem mesmo ser torturadas e mortas sem nem mesmo ocorrer julgamento.
CyberLizard, acho que a postagem do Agnóstico é bem esclarecedora sobre esse assunto, releia-a, por favor.

É verdade que a ditadura cometeu crimes e que nem todos os que foram torturados por ela eram terroristas, baderneiros ou comunistas. Mas a questão aqui não é essa, e sim o assunto do tópico, os que pegaram em armas contra a ditadura. Não me lembro de nenhum movimento revolucionário da época que tivesse por objetivo restaurar a democracia, e não trocar a ditadura de direita por outra de esquerda, você é capaz de citar algum (sem ironias, estou perguntando seriamente)?

Interessante esse depoimento dado por um ex-militante do MR-8 para o Elio Gaspari:

Citar
Em declaração ao jornalista Elio Gaspari, Daniel Aarão Reis, ex-militante do MR-8, professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense  e autor de Ditadura Militar, Esquerda e Sociedade, disse:

    Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática.

Sendo assim, qualquer justificativa de "crimes de opinião" ou "crimes políticos" perde qualquer sentido. Eram apenas dois grupos disputando o poder e o "peso do crime" é o mesmo para qualquer lado.
Hold the door! Hold the door! Ho the door! Ho d-door! Ho door! Hodoor! Hodor! Hodor! Hodor... Hodor...

 

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