Sim, eu me senti afrontado quanto ao laicismo. Porém, é diferente de uma afronta planejada como tal, em que temos um político com viés claramente religioso e que não esconde tal coisa. O que Serra e Dilma fizeram foi afrontar o laicismo e a minha cidadania ao não se definirem em questões importantes para o desenvolvimento do laicismo. Então, o que um teórico candidato abertamente religioso faria é afronta, mas o que os dois candidatos fizeram é afronta ainda pior.
Cara, se você insistir só mais um pouquinho, você vai acabar me convencendo a votar 42 no dia 31 de Outubro. Afinal, se o Serra e a Dilma me tratam como se eu não existisse, como se eu não tivesse importância, então talvez o meu voto não valha nada para eles, não é?
Uili, nós não importamos de qualquer jeito. Mas a dança das cadeiras ideológica que os dois praticam na tentativa desesperada de conseguir mais uns votinhos (ou desancar o outro, tanto melhor) é enojante. Tão enojante que, como se viu, até os religiosos estão achando ruim. O voto nulo não resolve nada por um detalhe legal. Mas é importante, eu creio, marcar que existe um grande número de eleitores de todo o espectro político-filosófico-religioso que não está muito incomodado com a campanha vazia de ambos. E por tudo isso eu digo que é importante não apenas anular o voto, mas protestar e criticar em todos os canais possíveis.
A defesa dos nossos (se me permitirem) valores como ateus é muito importante. De fato é o principal... para nós.
Mas a questão agora é muito mais ampla, pois estamos falando dos destinos do país para os próximos anos (quatro pelo menos), onde os governistas querem reduzir esta campanha a um plebiscito sobre qual foi o melhor entre os governos anterior (FHC) e o atual (Lula), não importando que a imensa maioria da população não saiba ler números econômicos e não lembre do contexto histórico dos respectivos governos.
Vou além.
Eu ficaria muito satisfeito como cidadão se a população pudesse comparar as informações e avaliar o caráter de cada partido pela coerência entre a teoria e a práxis de seu programa histórico de governo.
Também me reconfortaria se a população cobrasse daqueles partidos que não seguiram o seu programa histórico de governo, uma posição moral mínima que é o de reconhecer que estavam errados.
Por fim, eu entendo que é um equívoco achar que o voto nulo terá alguma influência no processo eleitoral ou na disposição da classe política em mudar a atual legislação, que lhes é amplamente favorável. A mudança deve ser solicitada, clamada, no dia-a-dia pela sociedade, seja pelas pessoas físicas ou por entidades que a representem.
Tenho conhecimento de causa em anular o voto e constatar o quão pouco efetiva é esta forma de protesto. Eu anulei o meu voto no segundo turno da campanha de 1989 (Collor x Lula), por que não tinha afinidade ideológica com o segundo e por saber que o primeiro era um fantoche da extrema-direita, que estava desesperada por não ter conseguido arranjar nenhum candidato de primeira linha. Na ocasião, eu me pus em uma posição de superioridade moral e com isto acabei por ajudar o candidato fantoche. Eu lamento a minha decisão, pois hoje eu sei que deveria ter votado no Lula, naquela ocasião.
Enfim, eu beneficiei um fantoche da extrema-direita em 1989. Não vou mais repetir o erro de ajudar fantoches, mesmo que o de 2010 seja do sexo feminino.